Introvertendo 96 – Como Seria um Autista no BBB?

O que você faria se a sua imagem e as suas atitudes repercutissem por todo o país 24h por dia? Como lidaria com o isolamento, o amor e o ódio dos fãs, além das estratégias das relações sociais durante um Big Brother? Pensando nestas questões relacionadas ao autismo, pensamos como seria se um futuro participante do reality show fosse autista.

Participam desse episódio Luca Nolasco, Mariana Sousa e Tiago Abreu. A arte é de Vin Lima.

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Transcrição do episódio

Tiago: Um olá para você que escuta o podcast Introvertendo, que é o principal podcast sobre autismo do Brasil e que sempre traz discussões interessantes para a comunidade do autismo. Meu nome é Tiago Abreu, sou jornalista, host desse podcast e eu queria dizer que eu não suportaria nenhuma prova de resistência no Big Brother.

Luca: Eu sou o Luca Nolasco, estou me formando em Biomedicina e, cara, provavelmente eu não ia conseguir sobreviver no Big Brother.

Mariana: Meu nome é Mariana Sousa e provavelmente eu seria aquela pessoa que é lembrada por ter batido uma panela 6h30min da manhã porque ninguém lavou o copo da noite anterior.

Tiago: E se você é autista e já assistiu o Big Brother, talvez já passou na sua cabeça em algum momento como é que seria uma pessoa dentro do espectro se estivesse lá dentro. É isso que a gente vai investigar. Vale lembrar que o Introvertendo é um podcast feito por 10 autistas e que conta com a assinatura da Superplayer & Co.

Bloco geral de discussão

Tiago: Toda época em que o reality show Big Brother começa a rolar, sempre tem as pessoas comentando positivamente ou negativamente nas redes sociais. Alguns “engajados” dizem que o Big Brother é uma boa distração, já tem aqueles que querem bancar de politizados e querem reclamar que o Big Brother é um “sinônimo da burrice da sociedade brasileira”. As pessoas ficam se degladiando entre si, mas todo ano vai ter um Big Brother e todo ano vai dar muita audiência nas redes sociais. O Big Brother surgiu na década de 90, é uma criação holandesa de um cara chamado John Júnior lá mais ou menos em meados de 1998 e essa produção acabou sendo replicada em diferentes países, incluindo o Brasil. Como a gente sabe, no início da década de 2000 nós tivemos o Big Brother Brasil na Rede Globo e também tivemos um experimento parecido que surgiu antes, a Casa dos Artistas do SBT. A Casa dos Artistas durou apenas três edições e o Big Brother acabou se consolidando como o principal reality show neste formato no Brasil. O Big Brother Brasil surgiu em 2002 com duas edições e a partir de 2003 se tornou uma produção anual. O nome Big Brother é inspirado no livro 1984, de George Orwell, que é um dos meus livros favoritos de todos os tempos. Só que 1984 fala sobre um regime autoritário que se desenvolve no mundo e a figura do Grande Irmão, o Big Brother, que basicamente vigia todo mundo e é a única relação das pessoas com o mundo. É muito curioso como esse conceito sobre um regime autoritário acabou sendo transportado para um reality show de entretenimento. Então, na minha opinião pessoal, eu penso que o Big Brother se move por dois grandes aspectos: Primeiro, o isolamento completo externo. Você não tem conexão internet, você não sabe de nada do que rola lá fora e você tem que ser obrigado a ficar confinado naquele lugar. Só que não é só uma questão de isolamento, também há uma obrigação de interação com pessoas que você não pode evitar. E, por fim, dentro de todo esse processo você acaba sendo vigiado 24 horas pelo público e eles dão feedback daquilo que eles querem assistir sem você saber disso de imediato. Você só sabe quando as coisas começam a se desenrolar com as eliminações, tudo acaba sendo uma surpresa. Para mim, o Big Brother é uma rinha de galo sofisticada. E qual a opinião de vocês?

Mariana: Fico tentando me colocar às vezes no lugar de alguma pessoa que tá no Big Brother porque eu não tenho a melhor das personalidades. Eu seria provavelmente a pessoa que sairia com 95% de rejeição ou então eu ia acabar ganhando, sabe? Só tem esses dois extremos, porque se há uma pessoa assim que chegou mais mais próximo possível da minha personalidade que eu consigo lembrar, se tratando do reality show, é aquela Ana Paula Renault. Ela batia panela, saiu e depois voltou, que todo mundo odiava e ao mesmo tempo todo mundo amava porque ela tinha uma personalidade explosiva… Parece que sempre tem um padrão nas pessoas que eles escolhem para ficar no Big Brother, e a maioria das pessoas aí eu ia acabar detestando profundamente de uma forma que eu não ia conseguir disfarçar. A pessoa diria: “Bom dia” e eu responderia: “Bom dia pra quem?”. Apesar disso, estar no Big Brother é uma coisa que eu sempre tive vontade desde criança. Provavelmente eu ia passar muito constrangimento, e é melhor se se resguardar quanto a isso. Gosto do formato do Big Brother, porque ao mesmo tempo são pessoas reais que estão ali. Por mais que alguns estejam atuando, em algum momento vão deixar escapar alguma coisa sobre a verdadeira personalidade, sobre o que ela realmente acha sobre isso ou aquilo. E se não deixa escapar, tem até mesmo a questão de atitudes, olhares ou forma de se portar. Em algum momento a pessoa vai acontecer um deslize e as pessoas vão saber realmente quem ela é. E eu gosto dessa dessa coisa de a pessoa não ter o feedback no momento, porque provavelmente ela tivesse o feedback ela ia continuar atuando até o final. É muito interessante, eu gosto muito desse formato de isolamento total, apesar de que provavelmente surtaria na primeira semana ou segunda. A gente agora tá vivendo praticamente num Big Brother dentro da nossa própria casa.

Luca: Já eu tenho que discordar de você Tiago, que eu não vejo como uma rinha de galo gourmetizada. Eu vejo isso como um experimento de convívio social, que eles estão tentando ao máximo fazer ter raiva do seu colega participante, ao mesmo tempo que eles tão querendo fazer você ter raiva só o suficiente para você não querer bater no outro. Eu achei curioso o modelo, apesar de achar insuportável caso tivesse de estar lá dentro… para pessoas que concordaram participar, acho bem curioso e bem interessante. Mesmo assim, as pessoas estão dispostas a conhecer pessoas completamente diferentes. Alguns querendo fazer amizade, querendo conhecer, outros querendo namorar e outros sinceramente não sei que fazem lá dentro. Acho interessante. Qual foi o primeiro BBB assim que vocês lembram ter acompanhado mesmo? O primeiro que eu vi foi o 10, mas eu lembro mais do 16.

Tiago: O que eu mais lembro desde criança foi o BBB5, que teve como vencedor o Jean Wyllys e eu lembro que em segundo lugar foi a Grazi Massafera. Foi o Big Brother que, eu acho, teve mais gente que acabou sendo relevante. Depois eu lembro do caso do Diego Alemão, o BBB7, porque nessa época o pessoal já fazia muita votação pela internet. Eu lembro que eu tinha algumas parentes que acompanhavam muito e elas iam para Lan House votar no Big Brother.

Mariana: O Diego Alemão foi uma das primeiras brigas de televisão que eu vi na vida e foi extremamente memorável. Eu lembro que tinha um participante que odiava tanto o Diego Alemão, que literalmente qualquer coisa que ele fazia já dava uma briga. Lembro que até a cor da cueca que o Diego Alemão usava fazia o cara se irritar muito. E era muito engraçado todo aquele ódio. Eu acho que depois que aquele cara saiu, ele deve ter feito muito tempo de terapia para conseguir superar a existência do Diego Alemão.

Tiago: Eu lembro que o Diego Alemão ia para todo paredão praticamente e sempre voltava.

Mariana: Eu achava que era proibido brigar na televisão. Então, quando eu vi aquilo, eu pensei: “Caramba, então pode!”. Foi muito bom!

Tiago: Então, quando você viu os programas da Márcia Goldschmidt, provavelmente você teve uma epifania.

Mariana: Nossa, total. Infelizmente, um dos meus tipos de entretenimento favorito é briga na televisão. Qualquer programa de qualquer espécie que tiver briga e esteja na televisão eu vou estar assistindo e acompanhando com muita força.

Luca: Essa edição de 2016, que tem essa Ana Paula que a Mariana falou, teve um homem acusado de estupro de menores e foi o que eu comecei a acompanhar. Eu sempre achava que Big Brother era pão e circo, para gente gente tosca que não tem o que ver, mas depois disso virei um fã, assisto todos. Eu comecei a ver porque eu tinha uma minha colega de escola que o pai dela tava no Big Brother. E toda vez que ele iria para o paredão ela pedia para o colégio inteiro votar na outra pessoa para ele não ir. E depois disso eu passei a gostar bastante do formato.

Tiago: É interessante que, quando a gente pesquisa Big Brother e autismo no Google, saem resultados muito variados. Encontrei uma notícia de um participante do Big Brother nos Estados Unidos que foi bastante rechaçado porque ele disse que se ele ganhasse o prêmio ele abrira um salão de beleza para pessoas com deficiência e supostamente ele trabalhava numa organização que cuidava de autistas. Mas aí ele falou o seguinte: “Assim os retardados poderiam se reunir e arrumar os cabelos”. Uma companheira rebateu e disse que aquilo não deveria ser dito. E aí ele acrescentou: “Crianças incapacitadas. Posso chamar elas do jeito que eu quiser, trabalho com elas todos os dias”. Então a gente vê que pessoas desprezíveis podem estar em qualquer país e em qualquer reality show, qualquer tipo de Big Brother. Também tem um outro caso relacionado o Big Brother de autismo que foi um ex-BBB que tem uma irmã autista. Ele fez um post no Instagram falando sobre como era a discriminação que ela sofria socialmente. Por fim, também a gente encontra muitos estudos acadêmicos. Nenhum faz uma relação direta entre Big Brother e autismo, só usa a palavra “autismo” como adjetivo e usavam o conceito do Big Brother como um “autismo social”. Porque a gente sabe que o autismo é um termo que vem lá da esquizofrenia e era definido como esse distanciamento do mundo que as pessoas supostamente tinham e hoje em dia (ainda bem) a gente não usa mais autismo como adjetivo. E, quando a gente fala sobre o Transtorno do Espectro do Autismo, lembramos duas características gerais que estão mencionadas no dsm-5, que são: Dificuldade de interação social e comportamentos repetitivos. Dificuldade de interação social, no contexto da Síndrome de Asperger, que é o nosso caso, pode ser manifestada de diferentes formas. As dificuldades podem ser para consolidar amizades, para fazer parte de grupos sociais, para entender esses códigos sociais e também um fenômeno lá do episódio 87, que é o chamado sincericídio. Comportamentos repetitivos podem envolver também uma série de comportamentos, por exemplo, apego a rotinas e as estereotipias/stims, e também temos a questão do hiperfoco. Com base nessas duas características gerais do autismo e já partindo do pressuposto de que cada autista é de um jeito, eu queria fazer algumas perguntas aqui para a gente pensar. A primeira questão é: Será que os autistas, de uma forma geral, conseguiriam lidar com as estratégias do jogo?

Luca: Eu vejo que sim, mas depende completamente de cada pessoa. Tem pessoas no espectro autista que não conseguiram ter um convívio social lá dentro, há outros que conseguiriam muito bem. Mas cada pessoa teria um problema específico lá dentro. A questão é o quanto esse problema afeta. Trazendo meu caso específico, eu tenho muita facilidade para fazer amizades, mas eu tenho extrema dificuldade de permanecer. E tenho quase certeza que seria visto como um cara chato que vem conversar super bem, mas não consegue tolerar mais do que duas horas junto com ninguém. E isso às vezes é mal visto. Fora isso, todos os aspectos do programa eu acho que eu conseguiria conviver bem dependendo das pessoas que estivessem lá. Eu acredito que é possível, mas não pra todo mundo.

Mariana: Cada pessoa tem uma visão de si muito específica. Eu já tendo outra visão do Luca e eu tenho absoluta certeza que ele não aguentaria ficar 1 semana dentro do Big Brother, porque ele ia discordar de tudo, discordar das provas, discordar das pessoas e basicamente seria o Luca. Ia ser muito engraçado e muito interessante acompanhar. No meu caso, especificamente falando de mim, eu tenho muita dificuldade em manter interações sociais. Eu não faço questão de ter interações sociais porque eu não gosto de todo o ritual do: “Oi, tudo bem? Meu nome é esse”. Eu não gosto disso. Provavelmente as pessoas iriam falar comigo e eu responderia: “Não quero conversar, então por favor me deixa em paz”. Eu também sei que eu não duraria muito, ou sei lá, talvez ganhasse uma fama estilo Pyong de ser um estrategista genial e saísse no meio do programa. Eu faria no máximo uma amizade ou duas e iria tentar pensar no jogo de uma forma mais racional. Mas se as pessoas, por exemplo, tivessem armando contra mim, eu jamais iria desconfiar porque eu tenho dificuldade de entender esse tipo de coisa.

Tiago: É interessante isso que você falou, Mariana, porque eu acho que ela responde uma questão muito importante dessa pergunta que eu fiz. Quando a gente assiste o Big Brother de fora, temos acesso a todas as câmeras, a conversas que um ou outro ali dentro da casa não tem acesso. Eles estão num contexto totalmente diferente, não sabem exatamente tudo o que o outro pensa ou fala sobre as pessoas. Eu penso que existem várias formas de você jogar ali dentro do Big Brother. Ser meio amigo de todo mundo, ou ter duas, três, quatro caras, focar em resolver todas as atividades e conseguir a liderança e o anjo… mas eu entendo que, dentre todas essas formas de jogo, seria muito difícil para pessoas dentro do espectro que tem essa dificuldade de fazer parte de grupos e de manter relações como o próprio Luca falou. Eu enxergo essas características de uma forma muito frequente na maioria dos autistas. Sei que existem exceções, mas eu acho que essa dificuldade de interação social ia ser um componente que diferenciaria uma pessoa dentro do espectro de qualquer outra pessoa que tenha feito parte de qualquer outra edição do Big Brother. E aí entra uma questão também muito importante: Se você tem dificuldade de interação social e tem compreensão disso, sabendo até que nível é essa sua dificuldade de interação em relação às outras pessoas, será que é possível você criar um estilo de jogo próprio, que você consiga se sobressair ali dentro daquela casa?

Luca: Eu acho que talvez sim ou não. Tem gente que me conhece e acha que eu sou uma pessoa carismática e outros acham que eu sou insuportável.

Mariana: Eu não me considero uma pessoa capaz de fazer um jogo próprio nessa situação, não considero uma pessoa calculista ou fria, mas eu tenho uma habilidade que eu venho notando de uns tempos para cá que é basicamente conseguir prever tudo que as outras pessoas vão fazer se eu convivo com elas um mínimo de tempo possível.

Tiago: Eu também acho que eu não conseguia criar um estilo de jogo próprio, porque eu particularmente entendo que ter um jogo dentro do Big Brother envolve também uma questão de contexto. Para ser amado ou odiado, depende muito da situação, dos seus atributos pessoais, depende muito talvez a postura que você vai ter no início do jogo e que vai te marcar para o resto da trajetória. Então eu particulamente tenho uma dificuldade de prever essas coisas nos comportamentos das pessoas, não tenho essa leitura social muito boa. E dentro dessa casa, isolado, sendo observado pelo público 24 horas, naquela pressão de você ganhar um milhão e quinhentos, será que autistas teriam estabilidade emocional dar conta da situação? Claro, partindo do pressuposto de que muitos autistas tem problemas com depressão e ansiedade.

Luca: Eu só consigo dar um exemplo pessoal e eu tenho certeza que eu não conseguiria pelo motivo de tomar remédio psiquiátrico e aparentemente eles não deixam você manter um remédio.

Mariana: Muito provavelmente não conseguiria mesmo ficar também porque faço uso de remédios psiquiátricos. E, quando eu estou sem eles, eu tenho crises extremamente violentas. Então se eu não saísse por vontade própria, por não conseguir lidar com aquela situação, provavelmente eu sairia por agressão. Eu tenho que assumir isso, porque é uma coisa muito fácil de acontecer, tanto por descuido meu ou até por vontade própria. Sem os remédios eu não não vejo nenhuma esperança de ficar lá mais de duas semanas.

Tiago: Eu também considero que eu não conseguiria, mas por motivos diferentes. Eu não tomo medicação desde 2018, mas ao mesmo tempo eu imagino que eu ficaria pensando muito em como seria a minha vida depois daquilo e o que que as pessoas estariam pensando de mim. Eu pensaria também na questão da estratégia do jogo, se eu estivesse no paredão ficaria tenso, não ia fazer as coisas direito, então eu acho que é muito estresse dentro de um ambiente que você é obrigado a conviver com pessoas. E ser amado ou ser odiado pelo público é muito variável. Tudo depende também do espírito do tempo. Se pegássemos as pessoas que ganharam e as colocasse essas pessoas dentro de uma casa hoje, talvez elas teriam sido eliminadas rapidamente. Então tudo depende também daquilo que o público espera da gente e aquilo que a sociedade está discutindo de forma mais frequente. Se a sua personalidade, se seu comportamento bater, a sua chance de ganhar é muito maior. Vocês concordam com isso ou discordam?

Luca: Eu concordo plenamente, nem tenho o que dizer sobre isso.

Mariana: Não sei. Eu, às vezes, paro para pensar. Porque acontece muito disso, tá acontecendo nesse Big Brother agora mesmo, de uma pessoa que era muito odiada e de repente ela começa a tomar outras atitudes. Aí as pessoas começam a apoiar ironicamente e depois elas se veem apoiando de verdade. É muito complexo dizer que seria amado eu seria odiado. Porque pode ser que a pessoa entre sendo amada e acaba sendo odiado, depois termina sendo amado, então é muito imprevisível isso.

Tiago: Considerando que temos autistas em todos os lugares, cada vez mais nas produções culturais e que os aspectos socioculturais do autismo também são muito fortes, será que ter alguém autista num futuro BBB seria uma boa “representatividade”?

Mariana: (risos)

Luca: Tendo em vista as discussões que permeiam em grande parte da internet, eu não sei. Porque uma coisa que eu consigo ter certeza é a quantidade de informação que haveria em volta e a quantidade de gente desinformada que traria comentários horríveis em volta da pessoa, trazendo um capacitismo voraz. Então eu tenho medo do que poderia acontecer. Poderia ser um participante super tranquilo, mas só pelo fato de ter o diagnóstico a maneira pela qual as pessoas perceberiam talvez seja diferente. Isso seria preocupante, na minha visão.

Mariana: Uma coisa que eu percebo muito é que as pessoas acham que sabem ou acham que conhecem o autismo mesmo sem ter convivido com ninguém no espectro. Quando eu falo convivência, é uma convivência massiva. Então eu acho que isso influencia muito, sabe? Isso pode ser usado tanto para o bem quanto para o mal, porque às vezes as pessoas acham algo sobre autismo e, quando elas tem realmente o contato com aquilo, elas veem que é uma coisa completamente diferente. Pode ser muito pior ou pode ser muito mais complexo do que o que elas pensavam anteriormente. É muito relativo, mas eu acho que seria uma boa representatividade, porque querendo ou não poucas pessoas sabem realmente o que é o autismo. Então eu acho que de alguma forma ajudaria.

Tiago: Também entendo que poderia ser algo muito variável. Eu penso que talvez seria algo agridoce. Se você pegar, por exemplo, o BBB 20, a gente teve por exemplo a figura do Victor Hugo, que foi um cara que chamou a atenção por ser assexual. Você quase não vê pessoas assexuais dentro da mídia. E ele foi bastante criticado. Primeiro, por uma questão de comportamento dele dentro da casa, e segundo pela incompreensão que as pessoas tinham sobre a sexualidade. Alguns diziam que era desculpa, forçação de barra, então eu tenho um pouco de dúvida, se entrasse uma pessoa dentro do espectro do autismo com “autismo leve” e as dificuldades dela fossem tão sutis a ponto das pessoas encararem as suas atipicidades como desvio de caráter, sabe? Então eu tenho um pouco dessa dúvida. A gente já falou durante o episódio inteiro, mas mesmo dadas as dificuldades, vocês teriam curiosidade em um participar do BBB?

Luca: A comunidade vai ter que me perdoar, mas eu nunca participaria por essa razão.

Mariana: Eu lembro daquele vídeo de um participante do Big Brother que temperou errado o feijão e começou a chorar. E esse vídeo vai estar na internet para sempre, sabe? E eu fico pensando que eu teria um momento desses ou vários momentos muito ligados ao autismo. Então eu fico pensando se vale a pena ter vídeos meus na internet para sempre, ter pessoas lembrando de mim de formas que eu considero muito mais pessoais, de coisas que eu não quero que as pessoas saibam sobre mim. Eu preciso fazer a mesma coisa todos os dias, em todos os momentos corretos, eu tenho muito apego das minhas atividades e a minha privacidade. Seria difícil, mas é uma uma experiência que eu ainda acho que vale mesmo que seja só por uma semana. Nem que seja para depois trabalhar como digital influencer e fazer alguma coisa em festa de 15 anos.

Tiago: Eu, particularmente o Tiago de abril de 2020 não toparia em hipótese alguma e nem teria motivos muito específicos para justificar essa escolha. Mas eu acho que seria algo que eu não daria conta de lidar depois ou antes. Mas é aquela coisa: eu posso bater a cabeça futuramente e possa acabar topando isso, sei lá, a gente nunca sabe e acaba consumindo muito no prato que come. Eu não sei como é que é o futuro, mas eu particularmente não participaria.

Luca: Já vou escrever seu nome para você fazer a propaganda do podcast em rede nacional (risos).

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Equipe Introvertendo Escrito por: