Maior banda galesa de todos os tempos, o Manic Street Preachers fez enorme sucesso na cena do rock alternativo britânico na década de 1990, mas no Brasil nunca foi um grupo muito conhecido. Em compensação, os podcasters do Introvertendo passeiam pela história e pela discografia do trio, incluindo polêmicas, mortes, sucessos e fracassos. O episódio inclui também trechos de algumas músicas.
Participam desse episódio Luca Nolasco e Tiago Abreu.
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Transcrição do episódio
Tiago: Olá pra você que escuta o podcast introvertendo e conhece todas as novidades e antiguidades da música. Meu nome é Tiago Abreu.
Luca: Eu sou o Luca Nolasco
Tiago: E hoje nós vamos falar sobre uma banda galesa chamada Manic Street Preachers. Talvez você nunca ouviu falar, porque eles não são muito famosos no Brasil. E se você conhece, conferir esse material em português sobre a banda e viaje com a gente.
Bloco geral de discussão
Tiago: O seu conhecimento sobre bandas britânicas dos anos 1980 e noventa já não é tão grande.
Luca: Não, e eu não costumava escutar Manic Street Preachers, então vai ser uma experiência de aprender muito aqui, porque eu não conheço quase nada.
Tiago: Mas chegou a ouvir um disco.
Luca: Sim, eu escutei, o…
Tiago: Se não me engano, foi o Everything Must Go.
Luca: Não, foi aquele que tem as duas moças numa praia.
Tiago: Send Away the Tigers!
Luca: É, eu escutei só esse e nenhum outro completo, os outros só uma música ou outra.
Tiago: E eu conheci um por uma razão muito básica. Além de ouvir música, muita música, eu gosto muito de ler sobre música e aí tinha um site que eu costumava ler, que é um site que até que hoje em dia eu só olho de vez em quando, porque, enfim, nem tudo que eles publicam me agrada muito, que é chamado Consultoria do Rock. Eles são um site de caras mais velhos, colecionadores de discos que eles publicam listas, às vezes, de vez em quando, de melhores discos do ano e eles faziam uma série de melhores álbuns por ano. E aí eles faziam uma votação e aí sempre dava briga nessas votações nos comentários, porque obviamente o pessoal tendia a ir pra um gosto. É muito difícil você desviar dos melhores álbuns quando você tá em 1972, 1978, porque os grandes clássicos, muita gente já sabe de cor. Mas aí, quando a lista chegava na década de 1980 e nos anos 1990, ficou só metal ou alguma coisa super obscura e aquela rejeição ao rock alternativo, sabe aquela coisa? E aí eu lembro que chegou um momento que pra comentar e pra questionar as escolhas, eu tinha que conhecer os discos. E aí, eu lembro que quando eles chegaram no ano de 1996, eu fui pesquisar sobre melhores álbuns do ano. E aí, eu achei uma lista da Folha de São Paulo pegando os melhores discos do ano, segundo as revistas estrangeiras. E aí, eu percebi que Everything Must Go aparecia na maioria delas e eu fui procurar, tanto essa banda, quanto outras bandas, por exemplo, Wilco, que eu não conhecia. E aí, de imediato eu gostei de uma música chamada A Design for Life, que é, inclusive, um dos maiores sucessos da banda. E aí, eu comecei a ouvir esse álbum específico. Aí, desse álbum fui para os outros. Então, foi até um processo meio natural, assim. Eu não gostava, a princípio, de muitos dos discos mais recentes, aí chegou um momento que eu estava ouvindo a discografia inteira e acabei apaixonado. Até hoje, se brincar, eu só não gosto do álbum de estreia deles, mas o restante tudo eu gosto.
Luca: Então, você basicamente começou a escutar Manic Street Preachers por pirraça, só porque queria contradizer, foi lá e pesquisou e… Esse é o tipo de coisa que eu não faria, eu não daria ao trabalho.
Tiago: Eu acho que grande parte do que me fez gostar de rock dos anos 1990, britpop, começou com base nisso. O Manic Street Preachers, apesar de não ser uma banda britpop, abriu as portas pra eu conhecer as tudo que tinha de cena britânica dos anos 1990 e que por um tempo foi o meu foco musical. Então, vamos fazer um resumo, basicamente, sobre Manic Street Preachers. É uma banda britânica, que surgiu num país de Gales, o País de Gales não é um ambiente que revela muitas bandas, além dos Manics, bandas internacionalmente famosas, eu acho que só existem mais duas, que é o Stereophonics, que eu acho que eles são muito mais famosos no Brasil do que o os próprios Manics, mas os Manics tem uma tradição de sucessos maior. E tem outra banda que é o Super Furry Animals, que inclusive fizeram um álbum colaborativo com os Beatles em 2000. Eles fizeram disco de colagens junto com Paul McCartney e uma galera toda. É um negócio super obscuro assim.
Luca: Eu não tenho palavras, eu nunca tinha ouvido falar da banda ou disso, de nada (risos).
Tiago: Então, uma hora a gente conversa sobre isso. Essa banda surgiu no País de Gales em 1986, a banda inicialmente era um quarteto, era formada pelo James Dean Bradfield, que era o guitarrista e vocalista. Você tinha também o Sean Moore, que é o primo do James, que toca bateria e você tinha o Nicky Wire, que tocava guitarra, ele era tipo a segunda guitarra. E também um cara chamado que ele tocava baixo chamado Miles, ele saiu da banda logo no início, antes de lançar o primeiro disco, porque eles começaram com uma banda punk e eles, naturalmente, foram se afastando do punk. Uma obsessão que a banda sempre teve foi o The Clash, a banda de cabeceira, digamos assim, dos Manics. Só que, na década de oitenta, eles começaram a ouvir outras coisas, por exemplo, o James treinava guitarra ouvindo o primeiro álbum do Guns n’ Roses, o Appetite for Destruction. Ele era viciado naquele álbum. Então, algumas influências norte-americanas foram pegando no som, eles foram se aproximando do hard rock também. E isso desagradou o antigo baixista. O Nicky virou baixista e aí ele ficou fixo como baixista. Essas histórias se repetem muito entre baixistas.
Luca: É curioso, eu desconheço como tocar instrumentos. Então, eu realmente não sei dizer, mas, pô, é, realmente, estranho que uma pessoa trabalhe como algo, sempre, sempre, sempre, sempre, do nada, toca baixo aqui, porque dá.
Tiago: E aí, eles fecharam essa formação como um trio em 1988, eles foram gravar o primeiro totalmente independente, ele foi limitado a mil ou duas mil cópias, que era uma música chamada Suicide Alley e o fotógrafo, que fez a capa do disco, foi um cara chamado Richey James, que, logo após o lançamento desse single, virou o guitarrista base da banda. Richey era uma uma pessoa muito interessante, porque ele era um cara extremamente criativo, ele escrevia letras, só que ele tinha um temperamento muito explosivo, muito deprimido e, enfim, isso tudo constituiria o que os Manics iam se tornar. Em 1990, eles lançaram o primeiro EP, que se chama New Art Riot, de forma independente e aí eles lançaram o primeiro sucesso deles no no território britânico, que se chama Motown Junk, e é uma música extremamente polêmica, que basicamente pega várias coisas horríveis que aconteceram na humanidade e comemora elas, como se elas fossem boas. E uma delas foi sobre o assassinato de John Lennon. Inclusive, em muitos anos depois, eu acho que foi em 2010, o James gravou um vídeo com Paul McCartney, entrevistando o Paul e a galera nos comentários xingando o James por causa dessa música. O Manic Street Preachers era uma banda polêmica no início. E aí, o momento mesmo que eu acho que, que levou a ser conhecido em todo o território britânico ou pelo menos como um ato polêmico, foi uma entrevista que o Richey cedeu a um jornalista da revista New Music Express, que é a NME. E aí, esse jornalista tava bastante assim, desconfiado dessa banda polêmica, e perguntou pra ele sobre a sinceridade da música da banda, da posição artística deles. E aí, o Richey pegou não sei se foi um canivete ou foi uma faca, ele cortou o braço, escreveu “4 REAL”. E isso deu dezessete pontos no braço dele, ele teve que ser hospitalizado. E esse episódio tem fotos na internet. Ele rodou as revistas de música e foi notícia durante um bom tempo, porque foi algo extremamente ousado pra alguém fazer isso com o próprio braço.
Luca: Eu tô vendo aqui, óbvio que não era o objetivo, até porque isso não existia no tempo, mas lembra duas coisas, primeiro é, ele me lembra muito o vocalista do aqui e me lembra um pouco o visual de The Cure, do Robert Smith. Isso me lembra que ele, basicamente, queria chocar por chocar, não tinha objetivo ali. Nas posturas dele do início da banda como um todo. Eles basicamente queriam chocar pra ter atenção e pra ser uma banda subvertida. Muitas vezes o punk acaba nisso, mas ainda bem que eles conseguiram mudar o foco um pouco, porque eu acho que estaria fadado ao sumiço se continuar assim porque o povo ia simplesmente ignorar.
Tiago: Bandas punk são naturalmente autodestrutivas e quando os caras chegam aos trinta anos estão mortos ou estão totalmente ridicularizados. E os Manics já estavam nesse nível antes do primeiro álbum. E é isso chamou a atenção imediatamente da Columbia Records, que é braço da Sony e contratou a banda pra fazer o primeiro disco, e aí eles começaram a trabalhar com um cara chamado Steve Brown e o primeiro disco deles que se chama Generation Terrorists saiu em 1992, é um disco de 18 faixas, é um disco gigantesco e tem um som muito norte-americanizado. Eles falaram assim que iam lançar esse primeiro disco, se esse disco vendesse 6 milhões de cópias, eles iam anunciar o fim da banda. Mas é claro que não vendeu seis milhões de cópias, porque isso era um, um nível muito alto, até pra algumas bandas grandes. É um disco que eu, particularmente, não gosto tanto, como eu falei no início, eu acho que é um disco muito norte-americanizado, você ouve umas coisas muito ali do rock dos anos 1980, tipo o próprio Guns N’ Roses, mas tem elementos, principalmente das letras do Richey, que ele é um cara extremamente aficionado e aprofundado em termos de política e história internacional. Então, as músicas da banda sempre exploram um lado político muito grande, é uma banda que você vê que da carreira, eles vão atendendo uma política bem de esquerda, assim, bem nas letras, usando toda a política internacional para tecer esse pano de fundo. E tem umas músicas legais nesse álbum, por exemplo, o maior sucesso da banda até hoje vem desse álbum, que é Motorcycle Emptiness em que é uma música bem na base do rock alternativo dos anos 1990, eles fizeram também outras outros singles como Slash ‘n’ Burn, eles regravaram as que eles tinham lançado de forma independente, e foram regravações que depois o próprio James falou em entrevistas de que foi uma estupidez eles terem feito isso, porque as músicas perderam a vibe punk e ficaram naquele som mais industrializado, norte-americanizado.
Luca: Eles fizeram quase um cover de si mesmos ali, porque perdeu completamente o propósito da música, eu acho. Se ela foi produzida em em tal maneira, é compreensível que façam a remasterização, mas eu acho que quando o objetivo da música é ser punk, é ser agressivo, chocar e coisas assim, é melhor deixar do jeito que tá e não tornar ela mais engomadinha e mais bem produzida.
Tiago: Eles tiveram que regravar as músicas no fim das contas e aí o próprio episódio do braço do Richey teve umas gravações em áudio com entrevista dele explicando a motivação e tudo disso e isso acabou virando o lado B de um single que eles lançaram em 1992 chamado Suicide Is Painless. E aí, logo depois que eles fizeram isso, justamente pelo sucesso do disco, receberam um valor bom de dinheiro e a gravadora Sony investiu pra eles gravarem um disco de qualidade melhor ainda do que o primeiro, continuando com a produção do Steve Brown e aí eles fizeram o segundo álbum, aquele teste do segundo álbum pra ver se você sobrevive ou não, chamado Gold Against the Soul, um disco que a própria banda não gosta muito, eles renegam esse álbum, apesar dele não ser tão ruim. Eu não acho ele um álbum ruim, mas ele não tem o impacto do primeiro e aí a própria banda acha ele muito limpo, muito certinho, ele é um disco que tem a influência hard rock do primeiro disco, talvez ao extremo, com uma certa pitada de melancolia grunge, que estava muito em alta na época. Mas esse disco tem algumas músicas que eu acho até legalzinhas.
Luca: Não, nunca escutei esse disco não, mas dá pra fazer um paralelo exatamente com o que aconteceu antes das músicas produzidas independentemente terem ficado engomadinhos, a própria música deles ficaram engomadinhas demais depois até ficarem um pouco receosos com isso.
Tiago: Eu acho que algumas letras desse álbum são legais assim do ponto de vista da da melancolia e umas músicas lado B que eu gosto pra caramba desse álbum. Tem muitos fãs que tem uma admiração muito grande por esse álbum, mas a banda sempre desvalorizou esse álbum. Na verdade, é o único desses álbuns mais antigos dos Manics que nunca teve uma edição especial, comemorativa, remasterizada. Eles simplesmente renegam de forma geral. Embora algumas músicas desse álbum ainda sejam tocadas em shows como From Despair to Where e La Tristesse Durera (Scream to a Sigh). Nessa época, então, eles começam a ter um certo incômodo com essa questão norte-americana muito forte no álbum deles, porque pegava mal, eles eram um grupo que tava ali na cena britânica em geral, mas com o som totalmente norte-americanizado. E aí esse disco mesmo, esse segundo álbum da banda, eles iniciam uma parceria com o produtor chamado Dave Eringa que é um cara que trabalhou com um monte de artistas até hoje, como, por exemplo, Suede, que é uma das maiores bandas do Britpop, o vocalista do The Who, o Roger Daltrey, mas ele acabou ficando conhecido mesmo por trabalhar com os Manics. A gravadora chegou a uma proposta de gravar o disco seguinte num estúdio em Barbados. Cê sabe onde fica Barbados?
Luca: Sim, só achei uma decisão estranha, por que não próximo deles?
Tiago: Então, eles queriam que eles gravassem num estúdio bem caro, luxuoso e tudo mais. Pra quem não sabe, Barbados é o país onde a Rihanna nasceu e tudo mais. E vai ter uma coisa sobre ela aqui neste episódio, mas enfim… é muito engraçado ver a cara de expressão do Luca assustado com essas informações.
Luca: Cara, eu não consigo associar Rihanna a uma banda melancólica dos anos 1990, mas vamos lá.
Tiago: Aí eles contrariaram a decisão da gravadora, viajaram pro país de Gales, entraram num estúdio podrão, amador. Foram só a banda, junto com um engenheiro chamado Alex Silva, se trancaram nesse estúdio e começaram a escrever o próximo disco. Durante essa época também, com o fato deles já serem famosos, eles viajaram também para alguns lugares e algumas experiências deles acabaram culminando na experiência do álbum que se chamaria The Holy Bible. Uma delas, inclusive, foi uma visita que eles fizeram a um campo de concentração nazista e isso mexeu muito com a banda e, principalmente, o Ritchey. Ele já era uma pessoa que tinha um comportamento extremamente autodestrutivo, isso, inclusive, trazia vários problemas financeiros para a banda. Mas esse disco é a imersão completa do Ritchey na melancolia, na depressão dele e da banda com o som britânico mesmo. Então, esse disco resgata essa obsessão que eles têm com The Clash, com outras bandas. E aí, esse disco é é muito interessante, porque ele é um disco bem indie mesmo, assim, ele tem a pitada do pós-punk, a capa desse álbum é muito perturbadora, porque ela é uma ilustração de um cara chamado Jenny Saville, ele fazia algumas ilustrações artísticas, o Richey conversou com ele no telefone, e eleí tinha a ilustração que bateu corretamente. E aí virou a capa do disco, que é uma capa que, como se fossem três fotografias de um cara com obesidade mórbida. E é uma capa branca, que tem os nomes das faixas do disco e ele inaugura, assim, de forma oficial, uma fonte bastante conhecida que o R deles é o lado contrário. E é uma capa muito legal, assim, eu gosto bastante.
Luca: Me lembra um pouco a história da capa do primeiro álbum do King Crimson. Eu lembro que eles tinham produzido todas as músicas, foram conversar com o ilustrador para fazer a arte do álbum, aí o ilustrador deixou cair de uma pasta um desenho, que era aquele desenho horrendo do cara assustado, assim, eles achavam o desenho ótimo e pegaram o desenho pra fazer a capa. Ficou muito icônico. No final a capa do álbum deles veio sem querer e ficou muito boa. Me lembrei um pouco dessa história. Foi parecido.
Tiago: É, o, os Manics até aquele momento faziam umas capas interessantes mas nada supera assim, até aquele momento. E é um disco, assim, muito variado em temas, mas, como eu falei, extremamente político, é um disco que aborda os seguintes temas de forma geral: nazismo, o holocausto, racismo, consumismo, imperialismo, suicídio, fascismo e também anorexia nervosa. E dizem sobre o processo de produção desse disco, que foi um negócio, assim, tão perturbador, que o Richey não participou da instrumentação em si. Na verdade, dizem que até que ele não sabia tocar guitarra, que ele só aparecia nos shows tocando guitarra só de pose e ele fazia as letras, maior parte das letras da banda era ele e o Nicky. Só que nesse disco, dizem que o Richey fez 90% das letras, só tem uma música escrita pelo Nicky, que é justamente a busca mais positiva do álbum, a única música esperançosa, coisa que as músicas do Richey já não tinha esperança nenhuma sobre nada. Tem uma música, por exemplo, chamada que o título dela em português é Morrer no Verão. Tem uma música que é tudo junto, sem ter nenhum espaço: Ifwhiteamericatoldthetruthforonedayit’sworldwouldfallapart. Inclusive, eu amo essa música. Esse título, se ele fosse traduzido em português, seria mais ou menos assim: se a América branca contasse a verdade, o mundo estaria enojado.Todas as músicas ou maior parte das músicas desse álbum são introduzidas por algum discurso, alguma coisa histórica, algum discurso político. É um disco muito documental e é um disco muito agressivo do ponto de vista da sonoridade. Aí, como eu falei, o Ritchie escreveu 90% das letras. Só que ele não participou da gravação. Dizem que ele estava tão deprimido que ele passava os dias deitado no sofá, dos dias da gravação enquanto a banda gravava, chorando, bebendo refrigerante e comendo salgadinho. E aí o James fez todas as guitarras desse disco, ele é um disco muito técnico, é tão técnico que uma entrevista dele pra Vice de 2015 pra ranquear os álbuns dos Manics, do que ele menos gostava ao que ele mais gostava, o Holy Bible ficou em segundo lugar. E perguntaram pra ele qual que era o sentido de tocar aquelas músicas perturbadoras em show. E aí ele falou que nem pensa muito nisso, é tão técnico, mas tão técnico, que fica mais preocupado em tocar o álbum certo. Ele é uma experiência sonora e lírica, assim, extremamente pesada, as letras são muito bem construídas. Tem uma quantidade gigantesca de temas e esse álbum é considerado um dos 1001 álbuns para você ouvir antes de morrer daquele livro famoso, é um álbum extremamente cultuado. A crítica caiu apaixonada nesse disco, inclusive os Manics é uma banda muito elogiada pela crítica. Apesar do culto, é um disco que foi um fracasso comercial. Isso causou um certo problema a princípio, porque só tinha uma música gravada com produção do Steve Brown, o cara lá que tudo mais, que foi exatamente o primeiro single, chamado She Is Suffering. E mesmo sendo o single, é uma música muito pesada, ainda, de certa forma. Mas aí, esse disco tem um monte de músicas, assim, que acabaram ficando nos shows da banda com o tempo, como Revol que é, na verdade, Lover, ao lado contrário. Ele é um disco impecável, do início ao fim, mas muito perturbador, acho que ele é um dos álbuns mais perturbadores dos anos 1990. Ele é um disco muito pesado.
Luca: Eu não consigo me lembrar de nenhum álbum dos anos 1990, assim, tirando sei lá, algumas coisas do Nirvana, mas o Nirvana não chegava a ser tão pesado, assim, então, de fato dos anos 1990 deve ser um dos álbuns mais pesados da música, porque assim, existem atos punks dos anos 1990, mas não chegam com a produção técnica desse nível que te colocam extremamente pra baixo.
Tiago: Sim, com certeza. E foi muito legal você citar o Kurt porque o Richey gostava muito. Ele era muito fã do In Utero, que foi o disco que o Nivaldo lançou exatamente um ano antes do Holy Bible e o suicídio do Kurt Cobain mexeu muito, provavelmente, com ele. Quando eles fizeram essa turnê, desse disco, eles tiveram um prejuízo enorme, porque teve um show que eles fizeram no que a banda destruiu todos os instrumentos, um prejuízo de vinte e seis mil libras. E eles fizeram uma turnê conjunta com o Suede, que foi a banda que eu já tinha falado, a banda do Brett Anderson, e eles fizeram, inclusive, um show com participação do Bernard Butler, que era o guitarrista da Suede, só que ele já tinha saído da banda nessa época. Então, foi um show especial. E os membros até fizeram um cover de Suede, com The Drowners. E eles também tocaram em grandes festivais, nessa época. Eles tocaram num concerto antinazismo em Londres, no Glastonbury, e eles foram nessa turnê junto com e uma outra banda chamada Therapy. E teve um um episódio bastante marcante na história da banda. Durante esse período, que eles foram se apresentar naquele programa Top of the Pops, que é basicamente o programa que vitrine de todos os singles que faziam sucesso, os Manics foram tocar nesse programa, fazendo uma apresentação que até hoje é uma das mais polêmicas da história da BBC, que eles estavam vestidos de terroristas, cantando Faster. O James Dean Bradfield tava usando um um capuz, tampando todo o rosto e eles com roupas militares e coisas assim.
(Mudança de bloco)
Tiago: E aí, a gente vai no segundo momento da banda, fora desse primeiro bloco, que foi o momento que os Manics viram que eles poderiam ser um sucesso fora do território britânico. Eles receberam o convite para fazer uma uma trilha sonora para um filme que, inclusive, foi um fiasco de crítica, chamado Judge Dredd, fizeram uma música que era pra trilha sonora desse filme, que música chamada Judge Yr’self, e não foi lançada no fim das contas. E essa música não foi lançada por um motivo muito básico: os Manics cancelaram a sua turnê nos Estados Unidos, porque o Richey desapareceu. Então, em fevereiro de 1995, há relatos que ele tirou o dinheiro da conta dele, ele tava no hotel, pegou um carro e esse carro dele depois foi encontrado perto de uma ponte no País de Gales. E o corpo dele simplesmente desapareceu. As pessoas achavam que ele poderia ter se jogado na ponte, mas ao mesmo tempo não tinha nenhum registro do corpo dele, começaram a fazer as buscas, aí começaram a surgir teorias da conspiração, que tinha uma tendência de artistas de rock se matando. Então, começou essa discussão do que as mortes do Kurt e a provável do Richey tinham em comum. E aí aconteceu de que começaram a receber várias teorias da conspiração, várias ligações de pessoas falando que tinham visto ele em outros lugares. Inclusive uma das mais recentes que saiu, não sei se foi em 2018 ou 2019, que foi que ele sumiu voluntariamente, porque ele não estava aguentando a pressão da indústria musical, que ele foi diagnosticado com Síndrome de Asperger, que ele não lidou bem com a questão do diagnóstico e quis se isolar completamente. Isso assustou muito a banda e eles já preparavam um disco seguinte, o James diz que a última vez que ele se reuniram eles tavam trabalhando uma música, uma música acústica super leve, bem diferente do anterior, a própria banda tava caminhando naturalmente nessa direção e fazer alguma coisa mais pé no chão, porque o Holy Bible foi muito soturno, muito agressivo assim, muito triste. E aí, eles estavam trabalhando essas músicas, mas o Ritchey desaparece. E aí, eles cogitaram encerrar a banda, totalmente. E aí, eles procuraram a família do Richey e a e a família falou pra continuarem. E aí, eles deixaram uma conta separada, caso ele voltasse algum dia e todos os lucros da banda continuaram sendo dividido entre quatro e essa parte indo pra ele. E ficou guardado lá com ele enquanto a banda tivesse isso. E aí eles continuaram trabalhando nesse trabalho. E aí esse disco seguinte, que se chamaria Everything Must Go, ele é um disco que ao mesmo tempo o grande sucesso da banda, o primeiro grande sucesso, na verdade, não é o disco mais vendido deles, mas foi o primeiro o disco que deu a base pra ele se tornarem sucesso internacional. E ao mesmo tempo, ele é um pedido de desculpas, porque esse título é derivado de uma música da banda, cuja letra do Nicky, que teve que assumir essa função sozinho. E o refrão dessa música é um pedido desculpa. Metade das músicas ainda são do Richey e eles pegaram algumas músicas que tinham temas muito pontuais, que não dava pra guardar essas músicas e deixar abandonadas. E eles pegaram outras composições que ele tinha escrito no caderno, e guardaram. Decidiram não usar pra não ganhar publicidade em torno de um cara que talvez poderia estar morto. E aí, eles começaram a compor músicas novas. A primeira foi A Design for Life, que pra mim tem uma das melhores frases, que é “Bibliotecas nos deram poder”, uma frase bastante atípica para você começar um hit. E é uma música que já tem um tom mais leve. Se a gente pegar o ano de 1996, é o ano que as tensões em torno do britpop estão ali no auge, se você parar pra pensar o Blur tinha lançado o The Great Escape em 1995 e o Oasis lançou o Morning Glory que é simplesmente o disco que vendeu 20 milhões de cópias. Então a leveza no som deles acabou levando eles um pouco a serem associados com assim como o Radiohead, que também não tinha nada a ver com britpop em certo momento. Esse disco torna um sucesso, A Design for Life chega a segunda posição nas paradas britânicas, nesse período também, esse single vendeu mais de quatrocentas mil cópias, ou seja, eles venderam com single mais do que o primeiro álbum e fez com eles conseguiram fazer todos os outros álbuns deles entrarem nas paradas, e eles eram considerados, basicamente, a banda britânica do momento. Esse disco foi produzido pelo Dave Eringa junto com Mike Hedges, que trabalhou em vários discos dos anos 1980. Nesse momento, eles ganharam o prêmio de melhor banda britânica e de melhor álbum britânico no Brit Awards. E aí, com isso, a banda se tornou um um fenômeno, inclusive, eu acho que é nesse momento que eles fazem a as primeiras viagens em outros países mais distantes, quando eles chegaram no Japão tinha uma legião de fãs absurda que eles ficaram surpresos com a quantidade de fãs que eles tinham no Japão. Eles gravaram um disco ao vivo chamado Everything Live, que inclusive foi só lançado só em VHS e esse trabalho teve as músicas do disco com as músicas mais antigas.
Luca: O Japão tem um fenômeno de audiófilos muito bizarro e único que são de pessoas extremamente viciadas em música que usam todo o dinheiro pra comprar equipamentos para reprodução de som perfeitos e tem um caso bizarro que até lembrei de um cara que ele pagou muito dinheiro pra ter um poste de eletricidade instalado direto na casa dele, pra não precisar dividir a eletricidade com as pessoas porque dizia que a eletricidade ficava poluída se se outras pessoas usassem, queria o som dele da melhor forma possível.
Tiago: Eles gravaram esse disco na Arena Manchester e o próprio Nicky Wire cogitou sair da banda. Ele estava de certa forma atormentado com o sucesso. Era algo que eles não esperavam, eles fizeram esse disco pra ser um meio termo e eles acabaram chegando a isso nesse momento, mas ele decidiu ficar na banda. E eles partiram pra trabalhar num disco seguinte, que o título ia se chamar Manic Street Preachers, apenas. E aí eles continuaram com essa parceria, Mike Hedges e Dave Eriga. Na produção, o Mike, de certa forma, ele foi um cara também que deu um certo lampejo pop no som da banda. Essa coisa mais popular, que não foi algo intencional, porque na época dos anteriores eles queriam trabalhar com Mike, mas ele estava ocupado trabalhando com outros artistas. E aí, eles começaram a fazer um disco mais leve do que o Everything Must Go, chamado This Is My Truth Tell Me Yours, cujo título foi inspirado pelo discurso de um político, se não me engano, social democrata, do País de Gales. E esse disco, ele foi uma coisa, assim, absurda, porque o seguinte, vamos, vamos fazer um panorama do que era a música britânica em 1998, que foi o ano que esse disco saiu, certo? O Oasis tinha caído numa derrocada, desgraçada, com o Be Here Now em 1997. O Blur estava muito mais preocupado com o som indie, que estava estourando os Estados Unidos. O que a gente chama de britpop tava começando a ser desmontado, isso a gente falou até do episódio 70 e naquele momento, o Manics era um dos maiores fenômenos de massa, por incrível que pareça, do cenário britânico, apesar das letras politizadas e de uma coisa autoconsciente que eles tinham, diferentemente de outras bandas. O Radiohead chegava a um status parecido com o OK Computer, que foi um disco que revolucionou a década de 90. E é aí, em 1998, com esse disco, que eles iam lançar, eles seriam pela primeira vez a maior banda britânica do momento, porque eles já estavam perto de alçar esse título. Eles fizeram esse disco e o Dave Eringa, como produtor, estava na expectativa de ser o primeiro álbum dele com o produtor, que ia chegar ao número um. Eles sempre chegavam ao segundo lugar das paradas. Nunca chegava ao primeiro com o disco. Só que This Is My Truth estreou direto no primeiro lugar. E ficou três semanas no primeiro lugar dos discos mais vendidos no Reino Unido, inclusive é o disco mais vendido da banda. Os Manics vendeu no mundo, de toda a sua discografia, 10 milhões de cópias, desses 10 milhões de cópias, 5 milhões foi o This Is My Truth, que é uma venda, assim, gigantesca pra uma banda que, no Brasil, quase ninguém conhece. Imagina uma banda que vende 5 milhões de cópias de um só disco. E esse disco catapultou o sucesso da banda. O disco vendeu bem na Rússia, vendeu bem no Japão, vendeu bem na Europa, no geral. Então, é um disco que foi muito popular. Singles desse álbum também foram muito populares. Foi com esse disco pela primeira vez a banda debutou no primeiro lugar com single que foi a música If You Tolerate This Your Children Will Be Next e que fez muito sucesso, inclusive, ela entrou pro Guinness Book, como o single de maior nome a fazer sucesso. E nessa época, também, que eles começaram a ter mais dinheirinho pra investir nos clipes, então eles pegaram um dinheiro enorme que eles tinham ganhado pra fazer clipes e fizeram clipe muito bom que é dessa música, em que os personagens do clipe aparecem sem rosto. Então, assim, a banda tinha um sucesso, mum som mais leve, mas ainda assim não deixava de lado o seu lado político. E tem uma coisa também muito importante sobre esse álbum, que é sobre as letras do Nicky nesse disco, porque ele assume 100% as letras dos Manics. Porque o disco anterior ainda tinha coisas do Richey e nesse disco ele não cai numa lamentação sobre a ausência do Richey brega. Dá pra perceber a ausência dele em vários aspectos nesse disco, ele é um disco muito cheio de vazios, é melancólico, e as letras, às vezes, falam de alguns temas, como depressão, e é um disco que eu gosto muito de muitas músicas, eu gosto de Black Dog on My Shoulder, é um disco que foi muito bem recebido pela crítica. Eles ganharam o prêmio de melhor banda no Brit Awards e de melhor álbum de novo.
Luca: Você tinha comentado antes que o álbum tinha diversas lacunas, cê acha que isso era algo proposital?
Tiago: Não é um vazio literal. É um vazio simbólico, digamos assim. Você vê que algumas músicas são mais carregadas individualmente de instrumentos. Tem uma música que a bateria é mais ativa, tem música que você entra um piano, um teclado. É um negócio assim, é a música que instrumentalmente respira mais do que o Manics antigo. Você percebe a ausência do nessa questão conceitual, mas não que isso fique explícito. Toda a construção do disco é bem racional, inclusive o James não gosta muito desse disco, ele fala que é um bom álbum, mas ele acha um álbum muito limpo, muito certinho pros padrões da banda, inclusive foi um disco que eles quase relegaram. Depois que o disco ficou pronto, inclusive a banda ficou muito se sentindo culpada, começaram a se sentir vendidos. Mesmo não sendo vendidos teoricamente. E isso preocupou um pouco a banda. E aí, em 1999, eles continuaram lançando singles de músicas desse álbum, o álbum fez muito sucesso. E eles fizeram um show que foi a virada de 1999 pra 2000 num estádio no País de Gales que reuniu 50 mil pessoas e aí eles fizeram o show da virada do país e lançaram em DVD. E aí eles começam a trabalhar num novo disco. E aí, nesse momento, eles decidiram voltar às raízes punk. Eles chegaram com essa ideia pro Mike Hedges e pro Dave Eringa. Dizem as línguas da própria banda que o Mike falava pra trabalhar um pouco melhor sobre essas músicas. Já eles queriam um negócio mais cru e mais direto possível. E isso começou a ser um certo problema. Mas, a princípio, parecia, OK, o que que eles fizeram primeiro? Eles lançaram na virada de 2000, logo após esse show, uma música chamada The Masses Against the Classes, que foi o segundo deles número um nas paradas. A capa do single é a bandeira de Cuba e é uma música comunista, assim, escancarada, e a música foi um sucesso e tudo mais. Em 2001, eles fizeram um show em Cuba. Eles foram a primeira ocidental a fazer um show em Cuba, tem as cenas de Fidel Castro junto com a banda e tudo mais.
Luca: Bom, não tem muito o que falar a não ser que os Rolling Stones em 2016 foram desonestos pra caralho com isso de ser a primeira banda, porque não é uma coisa que assim, todo mundo desconhece.
Tiago: Além disso, depois dos Manics, tiveram outras bandas como Audioslave, por exemplo, que é super famosa, que tocou em Cuba. Então, os caras reivindicaram o título de sacanagem mesmo. Eles fizeram esses singles, o single deu tudo certo e eles pensaram em seguir essa direção. Nesse show em Cuba, eles lançaram várias músicas, tocaram várias músicas que iam sair nesse disco seguinte. E isso pegou mal pra banda no cenário ocidental. No Brasil repercutiu, assim, saído nos jornais. Porque era algo muito atípico, uma banda fazendo show em Cuba. E eles lançaram esse disco, esquisito pra caramba, com dezoito faixas, se não me engano, dezoito ou dezesseis, eu acho que a edição geral do disco com todas as faixas bônus são dezoito e a edição normal é dezesseis, chamada Know Your Enemy, com letras garrafais, como se tivesse um sangue escorrendo. É um disco direto, barulhento, bem desordenado, assim, que eles tentam de tudo. Se eles tivessem deixado as músicas respirarem mais, ele teria sido um disco bem recebido, mas esse disco foi escrachado pela crítica, foi muito mal recebido, embora tenha debutado no segundo lugar nas paradas britânicas, mas foi um disco mal recebido, inclusive. E isso assustou a banda. Em 2002 eles decidiram fazer uma coletânea de maiores sucessos pra comemorar os dez anos de discografia e juntou com um single novo que eles tinham lançado chamado There by the Grace of God, que é uma música que, inclusive, tem uma referência a uma música do Marilyn Manson, chamada Coma White, que é um dos maiores sucessos dele, inclusive, se não me engano. E eu amo o clipe dessa música. E aí, enquanto eles não produziam nada, em 2003 eles resolveram lançar uma outra coletânea. Um bom álbum comemorativo é quando ele conta a história, quando ele tem uma função quase como documentário. Eu acho isso muito legal. E aí, eles fizeram uma coletânea, que é um álbum duplo, chamado Lipstick Traces, são só de músicas lado B, e eles pegaram de quase todos os lados dos Bs que eles tinham feito. Inclusive, tem algumas músicas que eu gosto pra caramba. Eles lançaram a inédita Forever Delayed, que tinha ficado pronta na época e eles lançaram também Judge Yr’self, que foi aquela música que eles fizeram com o Richey que eles não quiseram lançar por causa da letra, e eles lançaram algumas músicas de outros discos que eu gosto bastante. duas, inclusive, que eu sou apaixonado dessa coletânea, que uma se chama Donkeys e tem outra que se chama Mr. Carbohydrate. E o disco dois são covers. Então, eles fizeram, pegaram tudo que eles já fizeram de cover na época e que não tinham e que tinham saído como lado B de singles. Depois disso, eles partiram para a produção de um disco seguinte. E eles fizeram um disco um pouco na vibe do This Is My Truth, mas eles estavam extremamente inseguros na hora de fazer. Então, por exemplo, teve música que parece que eles gravaram três ou quatro vezes, quatro versões diferentes e gravaram instrumentos separados. Foi um negócio que a banda, coletivamente, não estava muito envolvida. Um disco chamado Lifeblood, cuja produção tem a participação do Dave Eringa, mas também tem a participação do Tony Visconti, que foi o principal parceiro do David Bowie. E é um disco recebido melhor do que o disco anterior, mas o próprio James diz que é o pior álbum da banda. Ele é um disco que tem uma vibe mais pop rock, eles falam que é um rock elégico. Um rock melancólico, triste e tem uma influência pop. Tem um single chamado The Love of Richard Nixon, que é uma música que faz uma abordagem assim, diferente do Nixon. A capa do single são os três integrantes com a máscara do do Nixon. E eles falam que essa música na verdade ela foi feita com uma uma espécie de referência entre eles e o Radiohead, que eles falam que, digamos assim, Radiohead, por mais de todas as loucuras que eles fizeram, eles se mantiveram, assim, com um estrelato internacional, como ícone. Então, tipo, Radiohead é Kennedy, e os Manics são Nixon, o patinho feio que tem que se esforçar várias vezes pra poder chegar no mesmo lugar e não conseguir chegar no lugar que os outros chegaram. E uma coisa que eu esqueci de falar é If You Tolerate This, que é um dos maiores sucessos do dos Manics, era cantado pelo Tom Yorke na turnê do Kid A, ele cantava essa música. Mas nesse momento, eles lançaram este álbum e não foi lá grandes coisas.
Luca: Já é a segunda ou terceira vez que você comenta que eles estavam com muito receio do fato de que eles tavam declinando e queriam parar porque estava com a impressão de uma mancha no próprio legado. Não sei se isso era uma paranóia coletiva presente na banda, ou é um sentimento que toda banda tem, mas eu tenho certeza que muita banda não tem esse tipo de percepção sobre si mesma. Mas pelo visto eles tem mais do que devia.
Tiago: Sim. E a estratégia que eles fizeram foi a seguinte: depois deles fazerem esse disco que é bem pessoal, que fala sobre morte, solidão, uma série de coisas assim, eles decidiram parar e trabalhar em outras coisas. O James fez o primeiro disco solo dele, o Nicky fez o primeiro disco solo dele, inclusive o disco solo do James foi tão bem recebido, que a crítica falou que ele era melhor do que os dois discos recentes dos Manic Street Preachers. É um ataque e ao mesmo tempo um elogio. Porque eles estavam justamente em busca de renovação. Então, isso era um bom sinal. E eu gosto muito desse disco solo do James, o The Great Western, porque ele é um disco mais simples, mais direto. O James, como eu falei, ele não é o cara das letras, ele é o cara que faz as melodias da banda junto com o Sean Moore. Então, ver ele no processo completo da composição, é legal. Já o Nicky é um cara, assim, punk demais. E ele gosta de fazer umas coisas experimentais e ele não é um bom vocalista, ele é um péssimo cantor e, inclusive, e todas as músicas que ele canta da banda sempre são mal recebidas pela crítica. E, enfim, aí o disco do James foi um sucesso, o disco dele não. Em 2007, eles voltaram a se ver, os três integrantes começaram a se reunir na casa um do outro e começar a fazer música de forma mais livre e direta. Foi aí que eles pegaram o rumo de novo e aí eles falam que eles escreviam uma música rapidão e botava ela pra tocar, gravavam e já partiam pra escrever outra, e escreveram trocentas músicas assim, pra escrever um negócio mais direto, mais orgânico e aí eles começaram a formar esse disco produzido pelo Dave Eringa, que se chamou Send Away the Tigers, o disco exatamente que você ouviu. Quais são suas impressões sobre ele?
Luca: Cara, a minha impressão sobre ele é que, pelo que cê tá descrevendo até agora, ele foi o ápice, pelo menos foi uma recuperação de um declínio que estava havendo. Porque eu gostei bastante do disco. E a descrição que você deu até agora, é de que tava numa decaída muito grande. Então, ele deu uma recuperada e voltou. Não é o melhor disco que eu já ouvi na vida, mas, com certeza, parece ser muito melhor do que cê tá descrevendo agora. Então, ele deve ter sido de algum sucesso pra banda.
Tiago: Do ponto de vista criativo, sim, inclusive o James colocou como o quarto disco favorito dele da banda, ele inclusive disse que a banda, inclusive, eles têm uma paixão tão grande com esse disco, que quando o disco completou dez anos em 2017, eles fizeram uma edição especial deste álbum. Esse álbum é um pouco mais aquela coisa mais antiga que eles tinham antes, mas eles têm algumas experimentações, tem uma música desse álbum que eu gosto muito, chamada Indian Summer, ela tem uma melodia muito legal. Você percebe uma vocação muito grande pra coisas melódicas que a banda faz, assim, que, muitas vezes, soa bem radiônico, mas é muito bom do ponto de vista melódico. E esse álbum chegou a segunda posição nas paradas britânicas, nunca mais em primeiro lugar, tá? Foi sempre o segundo lugar. E é engraçado que, o que separou eles do primeiro lugar, foi simplesmente uma banda chamada Arctic Monkeys, que tava no auge, o primeiro lugar, com diferença de 690 cópias de discos. Então, assim, por pouco eles não chegaram ao primeiro lugar de novo para uma banda que já tava aí com quase vinte anos de carreira. E esse disco foi um sucesso, e trouxe o maior sucesso dos Manics desde 2000 que é a música Your Love Alone Is Not Enough, que é uma música que eles fizeram um dueto com a cantora Nina Persson, que é de uma banda chamada The Cardigans, que é uma banda também bastante conhecida nos anos 1990. É uma música baseada numa carta de suicídio. É, parece que era alguma pessoa próxima à banda que se que se suicido suicídio. E a banda fez uma música a partir dessa carta.
Luca: Queria perguntar aonde é que a Rihanna se encaixa nisso, que até agora eu não consigo entender.
Tiago: Ela entra exatamente agora.
Luca: (Risos) Isso não foi combinado, eu realmente estava curioso. Eu perguntei, não sabia.
Tiago: Então, a NME faz prêmios anuais de destaque da música e a NME fez um disco de covers que eles convidaram alguns artistas para fazer gravações específicas e eles pediram para o Manic Street Preachers fazer um cover de um hit da época e eles fizeram um cover de Umbrella.
Luca: Isso é algo que me deixa desconfortável.
Tiago: E pior, eu amo o cover dele porque ficou muito legal. É claro que não tem aquela parte do rap. E aí, eles pegaram a música e virou uma música de rock, basicamente. E tem uma versão acústica, também, na voz do James. Eu conheço um cara, ele foi meu colega da universidade, até hoje a gente conversa bastante e ele gosta muito, diz que o cover ficou melhor do que a versão original.
Luca: Eu vou fazer questão de escutar, porque eu gosto muito de Rihanna também, então é algo que eu tô interessado em ver.
Tiago: Em 2008, Ritchey foi oficialmente declarado morto. Depois de tantos anos de investigação e depois de tantos anos, a banda decidiu pegar do baú uma coisa que eles tinham guardado, que era um caderno de letras do Richey e dar um destino final para essas letras que ele tinha escrito. E aí, eles pensaram em fazer toda uma forma para homenagear o Richey. Eles entraram em contato com o Steve Albini, que foi o cara que produziu In Utero do Nirvana, que era um disco que o Richey amava e pediram pra ele produzir esse disco seguinte. E aí, Nicky saiu da função de compositor e partiu pra melodia também. Naturalmente, esse disco tá muito próximo entre o Holy Bible e o Everything Must Go, é um disco muito ligado aos dois. Tem gente que fala que ele é muito parecido com um ou tem gente que fala que já ele já é uma ponte entre os dois. E ele foi um disco muito elogiado pela crítica. Foi um disco muito bem recebido, porque as letras do Ritchey são sensacionais. Justamente pra não fazer publicidade, assim, é um disco que musicalmente também não é um disco comercial, apesar de ter uma música desse álbum que foi enviada pras rádios, que é Jackie Collins Existential Question Time. E é um disco que eu gosto pra caramba. Mas o próprio James, anos depois, ele foi falar que tipo, o disco não tem tanto significado pra ele como um disco de carreira da banda. Eles nem fizeram turnê direito desse álbum. Eles tocaram algumas coisas desse álbum, mas o que ficou mais marcado foi a capa. Porque a capa foi feita pelo mesmo cara que fez a ilustração do Holy Bible. Ele cedeu pra banda uma ilustração que ele fez em 2005 que era de uma criança com o rosto sujo que parecia ser sangue ou alguma coisa assim. É tipo, uma capa muito bonita, inclusive, pra mim é uma das capas mais bonitas, assim, que eu já vi de bandas, só que a capa foi banida de algumas redes de supermercados porque eles acharam violenta demais e foi uma polêmica que ocorreu no Reino Unido.
Luca: O que faz um pouco de jus até ao Ritchie, porque o espírito dele era muito polêmico com tudo. Então, acho que se tivesse vivo, ele faria questão de escolher essa capa também.
Tiago: É, e eu acho que toda referência a um mesmo ilustrador e tal, tinha muito significado naquilo tudo. Eu acho que eles não levaram a sério esse disco de um jeito, que em 2010 eles já estavam prontos pra pra lançar outro, que é um disco totalmente diferente do Journal. Ele é um disco que o Nicky, em entrevista, disse que ele era tão emocional e tão melódico, que ele parecia explodir de tão melódic. E é um disco mesmo no sentido musical, ele é um disco de power pop, assim, ele tem muito aquela coisa melódica, tem muito arranjo de cordas. É um negócio bem alegre, o disco mais positivo que a banda já fez. É um disco relaxamente alegre a nível de ter uma participação do baixista do Guns N’ Roses nesse álbum, que é o da formação original mesmo, o cara lá da formação clássica, esqueci o nome dele, é Duff McKagan, alguma coisa assim. Eu sei que ele acabou criando uma relação com os integrantes dos Manics, uma amizade assim, porque ele participou desse disco, o James era um fã da banda nos anos 1980 e tudo mais, é que esta época o Guns já tava totalmente desmoralizado também.
Luca: O Guns já tava basicamente o tiozão velho, gordo, então.
Tiago: É, era só o Axl Rose que tinha sobrado e aí eles lançaram esse disco, e ele começou a mostrar, de certa forma, que as bandas de guitarra já estavam fora de moda, porque foi o primeiro disco cujos singles começaram a sair do top 10 das paradas. O próprio Nicky, quando ele disse que o disco era a última tentativa pop da banda, era basicamente, nisso, assim, de que as bandas de guitarra estavam fora de moda e eles estavam confortáveis com isso, porque eles eram uma banda de 20 anos de carreira, eles estavam completando ali um um momento significativo. Depois disso, eles decidiram lançar uma coletânea de de novo, só que dessa vez, de uma forma mais organizada. Eles fizeram um cover da música This is the Day, uma banda chamada The The, um hit dos anos 1980. E aí, eles juntaram músicas dos outros álbuns e essa coletânea foi muito bem recebida. A coletânea foi muito bem feita, eu gosto bastante dela e aí eles fizeram uma turnê chamada National Treasures, que é exatamente o nome da coletânea. E eles fizeram um show, se não me engano, na arena O2, uma apresentação comemorativa de vinte anos, que foi gravada e nunca foi lançada, inclusive, até hoje. E aí, eles disseram que com essa coletânea, eles estavam dando um encerramento de uma era na carreira deles e que eles iam entrar num momento novo depois disso.
(Mudança de bloco)
Tiago: E aí, a gente vai pra última fase da banda, que é a fase atual, que começa no ano de 2013, em que eles foram pro estúdio, na verdade, eles viajaram para Berlim. A viagem deles a Berlim foi inspiradora, do ponto de vista que eles começaram a trabalhar o disco lá. Tinham 12 músicas, se não me engano, que eles fizeram a princípio. Dessas 12 músicas, digamos assim, metade ia para uma direção totalmente diferente, como uma coisa mais acústica e outra coisa bem futurista. E aí, o James até disse assim: “qualquer banda que tenha o mínimo de noção vai pensar assim: vamos produzir um disco”. Não, eles pensaram em produzir dois discos ao mesmo tempo e pouco importa. E aí, o James disse que desde a época do eles discutiam em fazer algum dia um disco acústico estilo Nebraska do Bruce Springsteen, que é um disco bastante conhecido dele. E aí eles chegaram a conclusão que aquele era o momento, eles compuseram muito mais músicas e aí eles fecharam os dois discos, o primeiro se chamou Rewind the Film, que é o disco acústico e o outro disco que eles fecharam também e fizeram, se chama Futurology, esse ficou arquivado pra eles lançarem no ano seguinte. Então, em 2013, eles lançaram o Rewind the Film, que foi um disco bem recebido pela crítica, porque foi um disco muito diferente do que a banda tinha feito. Eles gostam de fazer coisas diferentes cê pode vir aqui pela discografia, é sempre uma coisa nova. E aí, foi um disco bem recebido e tudo mais, mas é um disco bem fora da curva da banda, o James ao invés de tocar guitarra, ele toca violão na maioria das músicas. É um disco bem acústico mesmo. E aí, eles fizeram o lançamento de Futurology. E Futurology foi assim, que o próprio James, ele diz que é o terceiro álbum dele favorito da banda. Primeiro lugar, segundo e terceiro esse, que é o disco que ele diz que, talvez, foi o primeiro disco da banda que o Richey poderia ter comprado, que ele falou que o Ritchey gostaria do som e que acharia interessante. E tem muitas influências dos anos 1980. Então, aquela coisa pós-punk também, muitos sintetizadores, é uma coisa que tem muita influência de uma banda que o James gostava muito dos anos 1980, que era o Simple Minds, e é um disco que, tematicamente, é sobre arquitetura. Então, é um disco muito imersivo, do ponto de vista musical, que ele vai falando sobre questões de cidades e tudo mais. Então, tem muitas músicas sobre essas coisas, assim. E eu gosto muito das músicas desse disco. Esse disco tem uma música chamada Europa Geht Durch Mich que ela é cantada, se não me enganei três línguas, é o inglês, alemão, e eu acho que o francês. Que eles têm uma atriz que canta na música junto com James, esse disco tem várias participações, inclusive. E as letras são muito boas, as sacadas são muito boas. E na mesma época eles lançaram a versão comemorativa dos vinte anos do The Holy Bible, então eles tocaram todas as músicas na íntegra, foi nessa época que o James disse que estava muito mais preocupado em tocar o álbum certinho, de tão difícil que é. Eu acho que nessa época, agora, que apesar deles terem inaugurado um momento novo com o Futurology, que foi considerado o melhor disco da banda desde 1996 só procê ter uma ideia do peso que esse álbum representa pra discografia da banda, que eles começaram a a relembrar algumas coisas do passado, então eles trabalharam com um diretor chamado Kieran Evans e produziram um documentário e uma edição comemorativa de vinte anos do Everything Must Go, que saiu em 2016. Em 2016, eles foram convidados para fazer a música oficial da seleção do País de Gales para a Copa UEFA, foi engraçado que foi o ano que o País de Gales chegou mais longe na Copa UEFA, eles chegaram a semifinal e perderam pra Portugal. Portugal ganhou esse ano. E eles fizeram uma campanha que eles nunca tinham conseguido fazer. Inclusive, o País de Gales só chegou a uma Copa do Mundo uma vez. E quem tirou o País de Gales da competição da Copa do Mundo foi o Brasil. Porque se não me engano foi a copa de 1958 que o Brasil ganhou. Então na música dos Manics eles citam tudo isso, que o país foi derrotado pelo Brasil e tudo mais. Então, eles fizeram um clipe, inclusive, muito engraçado, porque o clipe é eles com jogadores. E assim, foi um negócio bem diferente, assim, mas meio patriótico.
Luca: Achei interessante eles terem participado disso e a amargura com o Brasil. Eu achei legal mesmo.
Tiago: E aí, em 2017, como eu já falei, eles lançaram a edição de 10 anos do Send Away the Tigers, lançaram DVD, fizeram um negócio assim, bem complexo. Em 2018, eles anunciaram o lançamento de um disco novo, eles passaram por vários problemas pra lançar o Resistance is Futile, que foi o disco que eles lançaram. Primeiro pra começar porque o Nicky Wire disse em entrevista, que saiu inclusive na Rolling Stone, que o disco seguinte que eles fariam seria o último da banda. E eles ficaram sem estúdio, eles tinham um estúdio, se não me engano, aí foi vendido, aí eles tiveram que arrumar um novo estúdio. Então, eles ficaram sem lugar pra tocar. Então, eles demoraram bastante tempo pra fazer o seguinte, e aí o Nicky disse que seria um disco mais melódico, numa pegada meio parecida com o que foi lançado 20 anos antes, que ele disse que o James tava ouvindo muito Electric Light Orchestra, que é uma banda que ele gosta bastante. E que ia ser um negócio, assim, bem melódico. E aí, eles fizeram esse disco, que é, de certa forma, desencantado com a política internacional. Todos os artistas falando sobre Trump e tudo mais. Eles falaram muito mais da forma como eles se sentiram nesse disco, eles falam que eles se sentiram traídos, que não abraçaram esse discurso de fascismo, de ascensão do fascismo, literalmente, porque eles dizem que eles se sentiram traídos pela própria esquerda, que a esquerda é grande parte culpada disso, então eles se sentiram desencantados de uma forma geral. Eles falam que esse disco é uma espécie de misantropia a todos os espectros políticos, de certa forma. Não, eles não abandonam a posição deles, que é de esquerda. E esse disco recebeu atenção dividida, digamos assim. Ele foi predominantemente elogiado. Ele recebeu críticas positivas. Mas teve algumas publicações dizendo que a banda não quer se tornar um cover de si mesmos, mas eles abaixaram um pouco o nível da qualidade que eles tinham alcançado em futuro, que eles não repetiram o feito de lançar um dos melhores discos da carreira, depois de 30 anos tocando e gravando o disco junto. Mas falaram que é um disco bom, eu gosto muito de uma música, que pra mim é uma das minhas músicas, a minha música favorita do disco, que é People Give In, que é uma música basicamente que a vida medíocre a maior parte do tempo e se a gente se contentar simplesmente em viver, ela fica muito mais fácil. E eu gosto muito dessa letra que foi feita pelo Nicky, porque eu acho que é uma das letras mais simples, ao mesmo tempo mais substanciais que a banda já fez. E esse disco também teve muitas influências do Bowie pela morte dele. Então tem eu acho que duas ou três músicas que eles falam que a que foi muito influenciado pelo Bowie. Inclusive o single desse álbum, não sei se é o single ou se é outro single principal desse álbum, que é a música Internacional Blue, que é direcionada a um artista Yves Klein. E e tem um clipe super legal. Assim, eu gosto muito dos clipes desse disco. As músicas que são boas desse álbum são muito boas mesmo. E as outras coisas que eu não gosto muito, elas são medianas. E aí eles foram convidados a fazer o show de abertura do Guns N’ Roses, da reunião da formação clássica, justamente por causa da amizade que a banda tem com o baixista lá do do Guns N’ Roses. E aí, eles fizeram dois dos shows no Reino Unido, eles fizeram abertura. Considerando que é uma banda que cujas bandas do nível, por exemplo, do The Coral, que é uma banda bastante influente dos anos 2000 no no cenário britânico, abrem os shows dos Manics, então, eles abriram o show dos Guns N’ Roses. Então, isso mostra um pouco da hierarquia entre as bandas. E aí, em 2018, eles fizeram uma edição de vinte anos do This Is My Truth, porque muitos fãs pediram. Eu não gostei muito do relançamento que eles fizeram, tem umas coisas legais, eles fizeram uma capa diferente pro álbum, mas é baseada na capa original. Foi uma fotografia parecida, só que tirada de outro ângulo, tem gravações demo, mas não tem os shows ao vivo que eles fizeram na época. Eles fizeram muitas gravações ao vivo nesse período, saiu exclusivamente na versão japonesa. Então, dava pra eles terem lançado e eles não lançaram. E eles anunciaram o lançamento pra 2019, que inclusive eu vi o lançamento dele oficial no no YouTube, tá lá no canal da banda na VEVO, o documentário chamado Truth & Memory, feito pelo também pelo mesmo diretor do outro documentário, que pegou os arquivos da turnê da banda nessa época e fez uma compilação, mostrou um pouco do processo criativo, é um documentário muito legal. Logo que eles lançaram o Resistance Is Futile, eles disseram que o próximo disco não vai demorar pra sair, mas eu tenho uma preocupação que a voz do James Dean Bradfield decaiu bastante, ele não baixa o tom das músicas nos shows, mas dá pra ver que ele não tá conseguindo cantar como ele cantava antigamente, as músicas dos Manics são muito agudas. E isso me faz pensar bastante o quanto é ruim, às vezes, quando as bandas envelhecem. E eu me preocupo um pouco com a voz do James, porque, tipo, ele não é um cara tão velho, mas a voz dele tá envelhecendo mal pra caramba. A voz dele tá ficando rouca, tá ficando gritada. Quando você ouve um disco de estúdio, OK, não fica tão evidente, mas a voz dele tinha muito mais cor nos anos 1990, no início dos anos 2000. A voz dele é boa até 2007. De 2009, você já começa a ver esse envelhecimento da voz dele e isso vai influenciando. Quando eles fizeram o Futurology em 2014, eu acho que o tom do álbum é bem a ver com a voz dele, porque as músicas ficaram mais graves e tudo mais, mas esse disco novo, como ele tem músicas são agudas, os shows ao vivo quando eu vi os vídeos, é um pouco triste. Manics, venham pro Brasil antes que vocês acabem com essa carreira, porque pelo amor de Deus.
Luca: O show vai ter você e mais quatro pessoas.
Tiago: É engraçado que o canal da banda na VEVO, quando eles lançaram esse documentário de 2019, um dos comentários principais que aparece em destaque é de uma fã brasileira, que falou graças a uma música chamada Born a Girl que começou a pensar a condição dela como trans. É, realmente, tem poucos fãs do Brasil. Se você pesquisar pela palavra Manic Street Preachers, tirando as notícias que saem às vezes, alguns textos e artigos são da minha autoria. E quando eu busco por eles no Twitter, é sempre algumas pessoas específicas que falam que é a banda mais subestimada do planeta, ou gente falando questionando quando esses caras vão pro Brasil. E você, qual é o seu disco favorito? E se você conheceu o Introvertendo hoje, porque você pesquisou sobre Manics e achou uma coisa nacional falando sobre a banda, somos um podcast formado por pessoas dentro do espectro autista e, às vezes, a gente fala de música, como o próprio Manic Street Preachers. E acompanha a gente aí, vai ser bem legal.