Introvertendo 76 – The Good Doctor Comentado por Autistas

Exibida pela ABC desde 2017 e sucesso também no Brasil, a série The Good Doctor aborda a vida de um médico residente autista chamado Shaun Murphy. Com base na premissa da série e no desenvolvimento de seus personagens, os podcasters do Introvertendo discutem a qualidade da produção, a representação de características do autismo e curiosidades por trás da série.

Participam desse episódio Tiago Abreu e Yara Delgado.

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Transcrição do episódio

Tiago: Um olá pra você que escuta o Introvertendo, que é o primeiro podcast do Brasil (e um dos primeiros no mundo) formado exclusivamente por autistas. E hoje, seguindo aí algo que a gente fez lá no episódio 36, nós vamos falar sobre mais uma série que traz autismo como tema, que é The Good Doctor. Meu nome é Tiago Abreu. E hoje estou com Yara Delgado.

Yara: Fala, galera, tudo bem? Aqui é Yara Delgado, falando diretamente de Sorocaba para vocês. E a série é muito boa, pode assistir, é muito legal.

Tiago: Nesse episódio, nós vamos tentar não passar nenhum tipo de spoiler ou se passar será algo que não atrapalhe a sua experiência ao assistir The Good Doctor. Se você não assistiu a série ainda, recomendamos que, talvez, você assista, pelo menos, os primeiros episódios antes de ouvir o nosso episódio. E se você já assistiu, pode continuar no play aí que é garantia. Vale lembrar que Introvertendo uma produção independente, formada por oito autistas cujo podcast está disponível nas principais plataformas digitais.

Bloco geral de discussão

Tiago: Talvez algumas pessoas que estejam ouvindo a gente não saibam o que é Good Doctor a princípio. Good Doctor é uma série lançada originalmente em 2017. E que no momento, está em sua terceira temporada. Ela é uma adaptação de uma série de mesmo nome que já existia na Coreia do Sul. Esta série é exibida pela ABC e produzida em parceria com a Sony e que traz como destaque um protagonista que é autista.

Yara: The Good Doctor é uma produção de um seriado que não era americano, né? Os direitos dele foram adquiridos e aí foi feito uma regravação e uma continuidade numa versão da americana que foi lançada em 2017. No final do ano, por volta de setembro. E se encontra na sua terceira temporada. Essa é uma série que está valendo muito a pena assistir, eu estou na terceira temporada, assistir todos os episódios, até o segundo episódio da terceira temporada e todos são bons, incrivelmente! Série às vezes cai a qualidade e a gente fica desapontado, mas eu não senti isso com The Good Doctor.

Tiago: A série tem uma grande quantidade de personagens. Tanto principais quanto secundários, mas o protagonista da história é um médico chamado Shaun Murphy, que é protagonizado pelo ator Freddie Highmore, que também foi personagem de uma outra série chamada Bites Motel. O principal destaque desse personagem é o fato dele ser anunciado como um personagem autista. E aí começa o primeiro tema de debate com relação a série que eu acho muito relevante a gente falar aqui que é sobre a caracterização do autismo do personagem. 

Yara: Lembrando também que o doutor Shaun não é só autista, ele tem Savantismo. Que é aquela síndrome que traz essa genialidade fora do comum pra ele e que acaba deixando muito mais aparente as questões autísticas dele. Ele não consegue, por exemplo, disfarçar o autismo dele de forma alguma, é altamente perceptível, mas ele tem esta premissa de ser extremamente brilhante.

Tiago: Originalmente o plot original, que foi inclusive recusado pela CBS, era de um médico com síndrome de Asperger e aí eles entraram na questão do savantismo pra dar aquele toque a mais na série. E aí que começa o primeiro ponto. Eu não sei se a série acaba sendo muito boa nesse sentido. A série original, sul coreana, ela é muito mais focada no autismo em si, e a representação do Shaun Murphy, pra mim, ela é muito verossímil quando se trata de autismo, ele representa muito bem o caso de autismo, mas a questão do Savantismo eu já tenho um pouco de pé atrás, por quê? Porque o savantismo, geralmente, inclui uma alta habilidade em uma área, algo extraordinário, mas ao mesmo tempo um prejuízo muito significativo em outras áreas. E a socialização do personagem é muito Asperger em certo sentido, talvez em algum momento ou outro ali possa dar um entender de um autismo grau 2, mas no geral ele é 1 pra mim assim. No meu ponto de vista pessoal, ele é um personagem Asperger que possui altas habilidades. Eu não consigo ver muito a questão do savantismo dentro da série, tanto é que ao longo das temporadas eles param de falar do savantismo, mais pra frente eles só falam de autismo. Creio que o Savantismo entrou um pouco mais só pra justificar o fato dele ser um personagem brilhante. Mas, ao mesmo tempo, eu acho ele um personagem autisticamente muito bom. E outra coisa que eu acho muito boa na série é que a série, de forma recorrente, incluiu outros personagens autistas como pacientes. Então, você vê diferentes pessoas em diferentes pontos do espectro. De certa forma, a série acaba não caindo num risco que outras séries sobre autismo caem, de você ter um personagem autista ele só representar uma parte do espectro, porque afinal é muito difícil você colocar personagens autistas que representam todas as pontas do espectro. É algo muito variado.

Yara: Eu diria que a caracterização do autismo no Shaun é muito mais interessante, por exemplo, do na forma como foi feito com o que o Atypical. Lá não é mostrado tanto assim a questão das crises e estereotipias e tal, sei lá, eu acho muito mais realista na personagem do Shaun. E quando ele está, vamos dizer, incomodado com alguma coisa, aquilo fica de uma forma muito real. Também o olhar, que ele consegue fazer, assim, quando ele está pensando sobre algo ou concentrado. É muito específico. Eu acho que o ator tá representando de uma forma brilhante. 

Tiago: É muito interessante essa correlação que você fez entre Atypical e The Good Doctor. Porque as comparações são inevitáveis. São duas séries que tem protagonistas autistas, mas o ponto de vista delas é totalmente diferente. Atypical eu entendo como uma série de autismo em família, é uma série que tem como eixo central o autismo como pauta na vida de todos, tanto do Sam Gardner, que é o protagonista, quanto do pai, quanto da mãe, quanto da irmã, bem como dentro do ambiente escolar. É uma série muito didática. Em certo sentido. E é focada em Asperger, claro. Enquanto The Good Doctor me entra em cena como um exemplo típico de autistas no mercado de trabalho. E para mim esse é o grande ponto da série. Pessoalmente eu detesto séries médicas. Mas esta traz esse tema com uma certa leveza. Tem muitas críticas, muitas temáticas sérias a cada episódio e ao mesmo tempo consegue trazer então essas dificuldades, do autismo dentro do mercado de trabalho, que é um tema muito caro. Muito difícil falar sobre autismo no mercado de trabalho.

Yara: Sim, eu acho muito legal essa questão da abordagem moral que existe, os dilemas morais que existem em cada episódio. E eu acho muito legal o contraste que é apresentado. Não serve só pra você conhecer como é o autista. Serve pra nós, autistas, conhecermos como são os neurodiversos. Você vê todo aquele, vamos dizer assim, aquele jogo de como lidar um com o outro e a questão de você falar as coisas de uma forma. Para ter autoridade, pra conquistar confiança, pra conquistar os objetivos que você quer e tal que é sempre muito presente no mundo neurotípico. E que a gente que tá num mundo neurodiverso, acaba tendo que aprender aquilo por observação. Não é tão simples pra gente. Então acho que é uma série assim que tanto o neurotípico pode aprender sobre o neurodiverso, quanto o neurodiverso aprender sobre o neurotípico, acho muito rico nesse sentido.

Tiago: Sobre a série, eu queria te perguntar uma coisa, quando eu comecei a assistir a primeira temporada, os flashbacks que são presentes de uma forma muito significativa nos primeiros episódios incomodaram bastante, porque pra mim. Me soou muito perturbador ver as cenas de bullying, cenas de conflito familiar. Porque indiretamente você começa a fazer panoramas e comparações com a sua vida. Os flashbacks te incomodaram também? Você achou que eles fortes?

Yara: Achei, mas eu consigo lidar com isso sabendo que é uma história. O que me incomodou nos flashbacks é que ele começava e parava e aí tipo, voltava para ordem das coisas. Tipo, eu queria que o flashback fosse contínuo para a coisa ficar numa certa ordem, bem uniforme e depois continuar sem a história. Obviamente que o negócio não ia ser do jeito que eu quero. Até acho que perderia se fosse assim, dessa forma, mas é engraçado, eu acho que por eu ter essa coisa de buscar o padrão, me incomodava, essa coisa de ficar cortando. Sabe? Uma hora eu estou nesse tempo, daqui a pouco eu estou no passado. Daí tá de novo nesse tempo e depois volta pro passado. Isso me incomodava. É um aspecto absolutamente diferente desse que te incomodou. Mas essa questão empática. Eu tive em alguns episódios que, cara, segura aí pra não chorar. Sério mesmo, doeu. Porque eu tenho esses olhos que tratam, assim, de questões, né, mãe, filho, pai, filho. coisas da vida. E o fim da vida, que às vezes é muito repentino ou de uma forma muito violenta. E aí o bicho pegava pra mim. Teve um episódio que eu fiquei assim, meu Deus, tudo de ruim tá acontecendo nesse episódio.

Tiago: Já que a gente tá falando é importante a gente dar um cenário geral do que a série se trata. De uma forma geral, porque a gente não falou sobre isso ainda.

Yara: É verdade.

Tiago: Então, a série é sobre um personagem que a gente já falou, que é o Shaun. Ele é residente no hospital, na área como cirurgião e ele entra dentro de um programa de residência junto com mais quatro médicos. A série aumenta isso para um total de cinco pessoas. E ele entra por indicação do presidente do hospital que é o doutor Glassman que é um dos principais personagens da série. E ao mesmo tempo então eles têm que lidar com esse desafio. Já que a gente tá falando sobre o Glassman, a gente tem que falar sobre os personagens a série. E uma coisa que eu acho muito legal é que, pelo menos, os principais personagens da série têm muitas camadas, eles são muito bem desenvolvidos. E a relação entre o Murphy e o Glassman pra mim, é o grande ponto da série.

Yara: É primeiro voltando na questão dos flashbacks, a história do doutor Shaun é que ele é um autista que ele sofre maus tratos pela família. E aí existe todo um drama que vai sendo retratado nos flashbacks, o que aconteceu com ele a partir desse momento. De que se tratavam os maus tratos e o que aconteceu daí pra frente, ele acaba tendo o relacionamento com o doutor Glassman. Ela retrata como que aconteceu, que é, na verdade, o médico que conseguiu, por ser de presidente, indicar o doutor Shaun pra ser um residente de cirurgia no hospital. E aí, a equipe do hospital, ela é uma equipe altamente competitiva, porque os quatro integrantes que estão fazendo residência, eles estão competindo porque no final só fica um. Então é muito interessante, porque em algum momento eles percebem que eles precisam se ajudar pro sucesso da equipe e pro bem dos pacientes. Mas o tempo todo tem aquela questão de tipo, “cara, mas sou eu que quero conseguir essa vaga pra ser o efetivo.”. Então, essa diferença entre os residentes, eu acho que é muito legal de observar.  Eu gosto de observar a Claire Browne, porque ela é muito, muito empática em relação das pessoas, como ela faz as coisas. A doutora Morgan já é parece que ela é o antônimo disso, ela é super competitiva e ultra prática. Só que a série vai mostrando que ela também tem sentimentos, embora ela seja muito forte e esconda isso. A série mostra que ela tem sentimentos, ela também sente o que tá acontecendo. E é muito legal essa diferença entre os personagens como um é retratado. Como aquela que sabe viver a vida, é a Lea? Eu acho muito legal o jeito dela. Nossa, toda maluquinha assim, solta, livre. Né? E um acaba aprendendo com o outro. Muito interessante isso.

Tiago: Sim, sim. Então, tem três grandes eixos dos personagens que são os residentes. Que estão junto com o Shaun, começam com quatro, incluindo ele, depois passam a ser cinco. E também tem a parte então dos profissionais acima dele, então tem os cirurgiões que já são fixos, como Melendez e também a Lim. Tem aquela parte que tá acima deles, que são os os chefes de cirurgia. E o outro eixo da série. Fora esses dois grandes núcleos, você tem também os personagens que são de fora do hospital, e aí eu acho que o mais forte mesmo, a mais forte seja a Lea. Começa com uma vizinha do Shaun e os dois vão desenvolver uma amizade aí que, enfim, o restante é com quem assistir, quer acompanhar a série, porque detalhe é spoiler.

Yara: sim, é legal também, a gente observar como o Shaun vai melhorando. Os desafios o impulsionam a ter que melhorar. Mesmo quando ele não quer.

Tiago: Mas ao mesmo tempo a série lida com um dilema muito grande e isso acaba sendo o argumento da série num episódio específico que não se sabe muito bem se é ele que tá se adaptando ou se é a equipe médica que tá se adaptando a ele também. A série lida um pouco com essa tensão quando a gente fala, por exemplo, de inclusão. Há pessoas que defendam que a inclusão deva ser do ambiente totalmente adaptado aquele indivíduo, já tem gente que tem um discurso que que o indivíduo deve se adaptar ao ambiente e tem gente que diz que existe, na verdade, uma troca de interesses nesse sentido, que o indivíduo se adapta ao e ao mesmo tempo o ambiente que ele vive também se adapta. Que que você acha? Você acha que é ele que tá se adaptando ou é a equipe que tá se adaptando? É todo mundo que tá mudando ali naquele cenário?

Yara: Eu acho que é impossível uma pessoa ser marcante na vida de outra e não causar nenhum tipo de efeito. Então ali, cada personagem serve pra representação de um tipo de aprendizado. Então todos estão aprendendo com todos.

Tiago: E só um parêntese também quando a gente fala sobre Savantismo. E eu falei que que o personagem do Shaun ele parece muito mais um personagem Asperger, com altas habilidades. Eu também preciso afirmar que há possibilidade de uma pessoa ser Asperger e Savant também, mas é tão raro, mas tão raro que é pouco verossímil para realidade. Então, eu só preciso fazer esse adendo.

Tiago: Nesse bloco, a gente vai falar um pouco especificamente sobre os personagens e a nossa opinião sobre eles. Então, a gente já falou sobre o Shaun, que rendeu quase um bloco inteiro sobre ele. E aí, a gente vai falar sobre os outros. E o primeiro personagem que eu queria falar era sobre o Melendez. Ele é o um dos caras da cirurgia. Que tá ali na orientação, que tá avaliando os residentes. Que vão sobrar apenas dois. E ele é um personagem que, no início da série, me parece um pouco antipático, mas ao longo da série, eu acho que a pessoa que assiste, vai começando a gostar um pouco dele. Qual que foi a sua opinião sobre o personagem, o Melendez?

Yara: A minha opinião é a mesma do Shaun. Ele é um cara arrogante. E só que ao meu ver, é a convivência com o Shaun que dá uma mudada nele. Ele se torna mais sensível, mais respeitoso. Também tem aquele lance, vamos dizer, tomar cuidado pra não dar spoiler. Que rolou dele acabar aprendendo sobre a questão de não fazer tanta diferença entre doutores e doutoras. E que a série também aborda isso. Essa diferença como o hospital tratava os doutores e como o hospital tratava as doutoras. Então, eu acho que ele teve um crescimento bem legal nesse sentido humano.

Tiago: É, eu acho que um desses pontos, assim, de diferença de gênero, ocorre com a personagem Audrey Lim, né, que tá no mesmo ponto hierárquico, dentro da empresa, que é o hospital. É uma médica também. ela tem que se afirmar dentro da série. Principalmente na primeira temporada, ela vai ganhando mais espaço com o passar do tempo, mas ela é uma personagem que, a princípio, parece que o telespectador simpatiza um pouco mais. Porque ela tá pronta desde o início, ela não passa por grandes mudanças, tirando algumas coisas aí que acontecem durante a segunda temporada.

Yara: É, verdade, e ela é, vamos dizer, mais solta e permite que as pessoas fiquem mais à vontade também perto dela, enquanto o doutor Melendez, pela forma como ele trata as coisas. Acaba deixando os residentes sempre como se fosse pisando em ovos.

Tiago: Sim, uma coisa também. Essa série tem muitos personagens asiáticos. Muitos atores asiáticos. Eu acho que isso tem uma certa influência com o fato dela ser uma adaptação de uma série sul-coreana.

Yara: Pode ser, inclusive, os coadjuvantes aparecem também.

Tiago: Sim, bastante. E falando sobre essas pessoas mais o alto da hierarquia. Um personagem que eu gosto bastante é o Glassman que é o presidente do hospital. Ele tem um jeito muito empático de interagir com as pessoas, mas ao mesmo tempo muito rabugento.

Yara: É, ele é ranzinza.

Tiago: Sim. E no início da série, isso inclusive faz parte do plot, isso não é, necessariamente, um spoiler, ele e o Marcus Andrews, que é o chefe de cirurgia, eles são quase que arquirrivais. No cenário da série. E aí você fica com aquela coisa assim, o Glassmann é o cara que acredita no Shaun, é o cara que basicamente vê todo o potencial e o Andrews é o cara pragmático, o cara que talvez numa situação social seria visto como o “capacitista”. Porque ele sempre dúvida, pelo menos no início da série, da capacidade de ser um bom cirurgião.

Yara: É, o Shaun teve que conquistar o espaço. Ele foi conquistando através da capacidade dele. Ele foi conquistando o respeito dos colegas profissão, vamos dizer assim.

Tiago: Sim, sim. Agora, sobre os residentes dos personagens, eu acho que é meio natural as pessoas se identificarem mais com a Claire Browne, porque ela é a personagem que acaba se destacando mais tanto do aspecto de desenvolvimento de personagem, quanto de interação com o próprio protagonista. Ela é a que está mais próxima dele emocionalmente.

Yara: É porque ela tem essa visão empática. Que faz com que ela se aproxime dele, valorize ele e ela busca entender. Tem um episódio que ela chega a tentar reproduzir como ele faz só pra ver se ela consegue a mesma sensação e a mesma sacada que ele tem. Ela quer entender como ele funciona. E existe uma, não é só uma empatia, mas ela admira o doutor Shaun. Enquanto, por exemplo, a doutora Reznick, ela tá o tempo todo olhando já como pessoa que pode pegar a vaga dela.

Tiago: Enquanto o Shaun não compete com ninguém.

Yara: Então, enquanto o próprio Shaun, de uma forma geral, não compete com ninguém. Para ele, ele tá fazendo o trabalho dele, ele não tá nem preocupado, assim, com o que vai dar no final, se ele vai ficar na equipe. O que ele quer a cada dia poder estar na cirurgia.

Tiago: Outro residente que aparece na série é o Alex Park. Que era um policial e depois ele entra na carreira médica. E o Alex Park, ele é um personagem interessante, porque ele, talvez, seja o residente que ajuda, ao mesmo tempo, junto com a Claire Browne, a desenvolver a personagem da Reznick né, que é essa personagem durona, que é essa personagem que aparece como uma rival da Claire, mas ao longo da série você vê que ela tem camadas. Então, ele é um personagem, também, muito interessante, porque, ao mesmo tempo, que ele é muito aberto, um contador de histórias. Ele tem muitos sentimentos guardados que ele não abre pra ninguém.

Yara: E ele é altamente desconfiado.

Tiago: Como um típico policial.

Yara: Tem aquele faro investigativo. Outra personagem que eu gosto, também, é a Debbie. Eu acho que ela transmite um olhar, assim, muito doce, um jeito muito doce de ser, acho bem legal isso. E eu acho que também o doutor Jared lembra? No início da série ele e a doutora Claire estavam juntos, tal, e sempre ele estava mais envolvido no relacionamento que ela. Ela tá o tempo todo tentando se proteger. Porque ela tem uma história diferente e na história de vida, assim, mais complicada. Então, o tempo todo ela busca se proteger e é justamente essa história de vida que faz com que ela seja uma personagem muito empática com a dor do outro. Ele já é colocado mais como se fosse o cara que veio de uma situação bem favorecida. E só que no fundo ele é uma pessoa carente. Então é interessante essa, essa coisa dúbia. De, de tipo, “putz, o cara que, vamos dizer, tem tudo ele é o carente e a moça que veio de todas as dificuldades, ela é forte, mas ela tá o tempo todo tentando se proteger”. Então, eu acho interessante essas peculiaridades da série.

Tiago: E uma coisa que a gente precisa falar muito é sobre os outros personagens autistas que aparece e é isso aí vai ter que ter um certo spoiler aí porque você tem uma figura da comunidade do autismo internacional muito relevante que aparece como personagem da série que é o Alex Plank. O Alex Plank é o cara que criou o fórum Wrong Planet. Que basicamente foi o cara que fez a Síndrome de Asperger se tornar popular entre pessoas diagnosticadas em fóruns na internet. Porque até hoje é o maior fórum formado por autistas no mundo e ele aparece num personagem com um par romântico de outro autista e aí é muito curioso ver um cara que é da comunidade do autismo aparecer como personagem na série médica sobre autismo.

Yara: É, eu achei muito legal esse episódio em específico pelo seguinte, eu não lembro o que foi, acho que eu me distraí aqui cuidando do Luan e eu perdi os primeiros minutos. E aí a moça que faz par com ele, nesse episódio, ela fala uma frase, aonde eu parei pra ver o que estava acontecendo. E eu só via aquela frase e eu pensei assim, acho que essa moça também é autista. Tipo, outra autista aparecendo na série. Mas se a gente parar pra ver, é interessante como nós que somos autistas, a gente parece que fica muito mais treinado. A identificar os outros, assim, por uma simples frase que ela falou, eu já falei, “um neurotípico nunca falaria isso tão abertamente”. Já falei, “não, acho que ela é autista”. E aí depois aparece ele, aí eu tive certeza, é um casal autista.

Tiago: E essa questão do espectro é tão significativa muitas vezes nas críticas. Que as produções midiáticas sobre autismo recebem, que tanto Atypical quanto The Good Doctor introduziram ao longo do seu conteúdo outros personagens autistas pra interagir com os autistas. Assim como Atypical ou fez isso a partir de uma temporada. Que tinha um grupo de apoio com autistas em diferentes pontos do espectro, Good Doctor também faz isso com os personagens recorrentes e é muito interessante ver o tanto que o Shaun Murphy às vezes se identifica, como às vezes ele não se identifica. Isso mostra muito bem que não é necessariamente só porque uma pessoa é autista que você vai se achar parecido com ela.

Yara: É verdade. Na verdade, eu acho interessante. Tem um outro episódio em que acho que é a doutora Claire que ela pergunta assim pro Shaun. “Você não tem vontade de conhecer outros autistas, outras pessoas como você?”. E ele fala, “não”.

Tiago: E isso de certa forma tá intrincado com alguns autistas que não estão na internet. Porque a gente tem um costume aí de falar muito sobre autismo na internet, sobre os grupos de autismo, mas tem uma galera que tá fora desses grupos e não tá nem aí pra discutir autismo. Agora chegou o momento mais importante que todos estavam esperando. O momento de dar a nota pra série. De zero a dez ou com estrelas, quanto que você dá pra série aí?

Yara: De zero a dez? Daria, um oito. Um oito mas com ressalvas, pelo seguinte, ressalvas positivas. E dou um oito porque em comparação com outras produções, tal, eu acho que em termos de arte, dá pra, dá pra melhorar. em termos de linguagem e tal. De filmografia, dá pra melhorar. Eu não vejo nenhuma outra série que retrate o autismo como melhor do que The Good Doctor. Então, nesse sentido, eu daria dez. Portanto, é um oito com uma ressalva muito positiva.

Tiago: A minha nota, eu gosto de dar notas estrelas. De zero a cinco estrelas. Então, eu daria três vírgula cinco estrelas de cinco, eu acho que a série poderia ser melhor em termos de narrativa, mas ao mesmo tempo você tem um protagonista e um ator, que interpreta esse personagem de forma acima da média, eu acho que o Fred, ele forma geral, carrega Good Doctor nas costas. Grande parte do êxito da série está direcionado a ele, mas ao mesmo tempo é uma série que eu gosto bastante, então recomendo bastante.

Yara: Gosto também, gostei demais, vou continuar assistindo, acho que também vale bem a pena, porque ela faz a gente pensar em excesso de conflitos morais, eu fiquei pensando no assunto.

Tiago: É, e principalmente traz a temática do mercado de trabalho. De que forma autistas podem e devem estar no mercado de trabalho, não só em vagas PCDs, mas penso também em carreiras, em construir realmente caminhos que sejam os sonhos deles. E você, qual a sua opinião sobre Good Doctor? Mande um email pra gente ou comente em nossas redes sociais qual é a sua opinião sobre a série. A gente volta na próxima semana. Até mais.

Robô: Alerta de spoiler.

Yara: Muito específico, eu achei também muito cômico que no final do episódio, o personagem aí do Alex Plank, ele fala assim, “eu acho que eu te amo”. E a moça responde, “eu também”. E eu fiquei assim, tipo, um tempo parado, assim, tentando entender. Tipo, e no fim, até agora, eu estou na dúvida. Eu não sei se ela falou, eu também, no sentido também te amo? Eu também acho que eu te amo? Ou tipo, eu também acho que você me ama? Até agora eu estou com isso na minha cabeça, assim, tipo, o que será que ela quis dizer? Foi uma coisa ou foi outra?

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Equipe Introvertendo Escrito por: