Durante os processos de avaliação médica de seus filhos, alguns pais são abordados com a hipótese de também serem autistas. Neste episódio, nosso podcaster Tiago Abreu traz a participação dos ouvintes e membros da Liga dos Autistas Cristiano Forte e Fábio Cordeiro, que são pais de autistas e também autistas. A conversa aborda temas como terapias, convivência familiar, abandono parental e ativismo.
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Transcrição do episódio
Tiago: Olá pra você que escuta o podcast Introvertendo e o nosso retorno triunfal após um mês de pausa. Meu nome é Tiago Abreu e aqui nós reunimos geralmente pessoas diagnosticadas com autismo para poder falar não só sobre autismo mas também temas relacionados à cultura e sociedade. E hoje, semelhantemente ao que fizemos no episódio quarenta e nove, sobre mães diagnosticadas com autismo. Agora nós também temos o episódio de pais autistas em comemoração ao dia dos pais. E eu estou com dois convidados que se encaixam no tema e eles vão se apresentar pra vocês.
Cristiano: Eu sou o Cristiano, sou aqui do Distrito Federal diagnosticado com autismo, tenho um filho com quatro anos, também com.
Fabio: Olá, pessoal, eu sou o Fábio, trinta e nove anos aqui de Curitiba. Eu também sou autista e tenho dois filhos, um neurotípico e um autista.
Bloco geral de discussão
Tiago: Na história do autismo de uma forma geral, nós tivemos ao longo de muitas décadas um ativismo exercido por pais de autistas. Até nós chegarmos em um certo momento que ainda é incipiente falar de pais que têm filhos autistas mas que também são autistas. E vocês se encaixam de certa forma nessa categoria. Só que antes de falar de vocês eu queria que vocês falassem um pouco sobre os filhos de vocês e como eles chegaram ao diagnóstico.
Cristiano: O Joaquim chegou no diagnóstico numa consulta num posto de saúde aqui no Gama, no Distrito Federal. Em que o médico viu que ele estava muito nervoso, muito imperativo e ele diagnosticou ele como hiperativo e passou para neuropediatra ver essa questão. Ela fez todos os exames, perguntou algumas coisas pra nós assim ela falou “não seu filho tem autismo”. E na rede pública não falam assim olha “seu filho tem autismo e com tratamento ele pode ser assim”, não. Só falam “olha seu filho tem autismo ele vai ser uma criança eterna”. Então foi meio que um choque aqui em casa. Mas agora está bem tranquilo. Particularmente depois de dois anos.
Tiago: Ele tem quantos anos atualmente?
Cristiano: Quatro anos. Ele foi diagnosticado com dois anos.
Fabio: E no caso do meu filho Breno foi um pouco diferente. Ele passou por todo aquele processo da saga do diagnóstico, por ser um caso leve. Então desde pequeno, desde os dois anos de idade ele teve atraso de fala, atraso motor. E nós levamos ele na época aos médicos, para fazer avaliações e acabava que não tinha uma opinião muito especializada sobre o assunto. Foi passando o tempo e quando ele começou na escola começaram a aumentar as dificuldades e na verdade ele foi diagnosticado já com onze anos de idade. Quando finalmente conseguimos uma clínica especializada em autismo. E aí entra um pouco a minha história também. Por eu ser autista, na época estava avaliando ele e eu acabei me julgando um pouco. Como que eu não percebia os sinais dele e foi quando ela falou que de fato pra mim era mais difícil perceber mesmo que tudo que ele fazia pra mim era muito comum né? Então acabou que eu acabei não percebendo por achar muito comum o que ele fazia. Não tinha estranhamento. Talvez até a mãe dele tivesse esse estranhamento maior e auxiliou um pouco nessa busca aí. Mas ele foi diagnosticado tardiamente e hoje ele está com treze, vai fazer catorze já e foi diagnosticado aos onze anos de idade apenas.
Cristiano: Fábio, né? Comigo foi bem semelhante, o Joaquim também tem atraso na fala. Eu também comecei a falar com cinco anos, então pensei que é normal ele não falar nessa idade “ah ele é um pouco antissocial”, “ah é normal, eu na idade também não falava”. É bem semelhante. eu fui diagnosticado conversando com a neuropediatra. Ela viu os traços em mim e falou “não espera aí deixa eu fazer uns exames contigo também pra ver talvez você também tenha autismo”.
Tiago: Então no caso de vocês dois o diagnóstico veio na mesma época que o filho de vocês ou ou algum antecedeu o outro?
Cristiano: Não, o meu foi junto com o filho junto com o Joaquim.
Fabio: Comigo na verdade, quando eu tinha vinte e poucos anos. Já tinha ido num psicólogo e ele comentou sobre isso, como uma possibilidade. Mas eu já estou com trinta e nove, então naquela época nem que falava em autismo, eu mesmo acabei por ignorar. Só dei relevância mesmo a isso quando o meu filho foi diagnosticado. Daí eu resolvi mesmo. até para poder compreender melhor e tudo, “eh vamos aceitar”. Porque quando me falaram de autismo quando tinha vinte e poucos anos. Para mim aquilo era uma coisa totalmente impensável. Eu tinha aquela mesma visão do autista que hoje em dia ainda muita gente tem né. Aquela visão estereotipada de filme que a gente vê. Então na época eu continuei vivendo e não dei muita atenção. Esse caso do Cristiano que achava que era anti-social mas que era normal. Eu nem achava isso. Para mim o normal era assim mesmo. Para mim ele era simplesmente parecido comigo e está tudo certo.
Tiago: E isso é curioso pra gente pensar o quanto que às vezes é difícil você entender o autismo mesmo você sendo um né? É uma condição às vezes tão complexa e que às vezes se manifesta de uma forma tão singular em um indivíduo. Que pra você enxergar características no outro é um pouco complicado né?
Fabio: E a importância dos pais principalmente. E eu falo como pai e como autista. É de estudar mesmo sobre o autismo para poder compreender o filho, porque como você disse é muito complicado entender e se a gente mesmo que vive às vezes não enxerga. Você imaginou um pai que não sabe nada, que não estuda, é importante, né? Essa busca de conhecimento pros pais, para poder ajudar os filhos, né?
Cristiano: Uma coisa que me ajudou bastante nesse estudo, foi um curso online na Academia do Autismo, que é o curso ABA, que tá me ajudando bastante a perceber algumas coisas e colocar em prática com o meu filho. E até comigo mesmo em alguns casos.
Tiago: Eu ia chegar exatamente nesse ponto. Vocês dois vêm de situações com relação aos filhos que são um pouco diferentes. Que o Cristiano vem de um diagnóstico entre aspas precoce, né? Um diagnóstico bem no início da infância que está mais perto do diagnóstico adequado em termos de tratamento. Enquanto o Fábio com o filho dele, vem de um diagnóstico tardio. E aí eu queria perguntar primeiro para o Cristiano. Quais são as intervenções, quais são os tratamentos que o seu filho faz e aquilo que tem dado certo com ele nesse aspecto.
Cristiano: O primeiro mesmo foi a estimulação precoce, né? Na rede pública aqui no Gama, aqui no GDF. Ele fez os dois anos na estimulação precoce que ajudou. Aí quando saiu já foi na fonoaudióloga e na psicóloga também. Numa associação que tem aqui, que ajudou bastante. E hoje ele está estudando uma escola normal, escola clássica, uma turma reduzida só com dois alunos voltada também a autista. E isso tem melhorado bastante. Nas próximas semanas ele já vai fazer a terapia ocupacional de alguns detalhes. Isso que tem acontecido cedo, foi muito bom em questão do acompanhamento da neuro também. Que ela fez o exame da auto acústica. Para mim e para minha esposa foi ótima essa questão. Ver ele falando com dois anos.
Tiago: Fábio, e com relação a você e o seu filho, como você falou que ele vem de um histórico de diagnóstico tardio, o que que você percebe que pode ter sido prejudicado nele por conta desse diagnóstico tardio?
Fabio: É, no caso dele eu acho que teve muito prejuízo na social, mesmo escolar, quer ver? Não tem amiguinhos, não tem uma vida social muito ativa, que é coisa que já se perdeu assim, né? Mas mesmo assim, com o diagnóstico sendo tardio. Foi uma mudança da água pro vinho, ajudou até a me dar um direcionamento para ele, quando mudou… Pela quinta série, começa a ter vários professores. E veio a maior dificuldade e ali também ativa mais a socialização da escola e onde ele não se enquadra mais. Começou a ficar bem mais evidente e com a intervenção. Hoje em dia ele faz acompanhamento com psicopedagoga e com a psicóloga mesmo e muda muito, é essencial para ele se desenvolver. Ele mudou de colégio por causa disso, foi para um colégio que tem uma inclusão melhor. Então, a intervenção muda muito, mesmo sendo tardia. Faz dois anos que ele tá nessa, toda semana, as terapias e mais terapias. Mas mudou muito o social dele, ele não conseguiu ainda melhorar muito essa parte dele, porque já muita parte que era incrustada, né? Na personalidade dele, por isso da intervenção precoce sempre é muito melhor obviamente. Mas em questão escolar, em questão de convívio mesmo, ele está melhorando muito. E nesses dois anos em terapia toda semana, intenso. Tem coisas ali que é difícil recuperar por ele estar com onze anos. Deveria estar com um convívio social bem ativo, mas isso ele não consegue executar bem. Não vai em festinha, sair com os colegas, aquela coisa, né? Ele é bem isolado. Mas a gente está trabalhando nisso.
Tiago: Vocês falaram bastante sobre tratamentos e eu queria perguntar pra vocês uma questão muito importante para a comunidade do autismo. De que tratamentos relacionados ao autismo envolvem multiprofissionais e eles são caros né? Eles são muito custosos e tem muitos pais que não tem condições para poder pagar esses tratamentos. Aí eu queria perguntar pra vocês: vocês dependem muito da rede pública ou vocês têm renda o suficiente para dar conta disso?
Cristiano: No meu caso eu dependo bastante. Estou correndo bastante atrás do dos auxílios dele. Da previdência social e essas coisas. Mas como eu falei aqui no Gama tem uma associação, a Tudo Azul que faz essas consultas bem mais baratas, por exemplo consultas que seriam um absurdo de caro e aqui na associação sai cento e cinquenta, cento e quarenta. Por mês. Então fica bem tranquilo nisso. Mas se fosse na rede particular eu acho que o Joaquim estaria um pouco mais atrasado. Porque ou eu fazia alguma ou outra, né? Não faria os dois juntos.
Fabio: E no meu caso aqui essa já é a parte mais complicada de fato. Essa questão monetária mesmo, porque a rede pública aqui é difícil o acesso e então nem posso julgar a qualidade assim, né? Da rede pública, porque o acesso é difícil. Então, quando você tem o acesso complicado, já complica tudo. Então eu faço com ele numa clínica especializada mais particular mesmo. Claro que eles fazem um preço mais amigável, um pacote melhor, mas é a parte mais complicada. Porque você percebe, a partir do momento que começa com as terapias e tal, que não tem como ficar sem mesmo. Então a gente tem que ter aquela coisa, a gente tem que se virar e pedir ajuda aos avós e tal e poder dar conta. Mas no meu caso está sendo pago mesmo no particular.
Tiago: Eu queria perguntar ao Cristiano agora mais especificamente. Porque ele disse que estava estudando análise do comportamento aplicada, né? Que é o famoso ABA. Ele é um tema considerado controverso entre alguns grupos relacionados a autistas, não necessariamente pais, né? O ABA é largamente aceito no mundo inteiro como ensino mesmo, né? E em vários aspectos, mas aí eu queria te perguntar, você já verificou algum tipo de resistência por parte de outros autistas pelo fato de você trabalhar ABA com o seu filho?
Cristiano: Não, até hoje não. Mas quando eu falo assim por exemplo no meu serviço ou um grupo de amigos ele fala “ah mas eu já estudei esse sistema e é furado. Ainda vi que isso aí não dá certo”. Aí eu falo “não, dá certo. Com meu filho dá certo”. Toda vez a questão alimentar dele é de tudo que ele faz quando eu aplico as técnicas de lá dá certo. Mas ficam meio com o nariz torto, mas depois aceitam né? Mas a questão do mundo do autismo mesmo de outros autistas eu não enfrentei ainda nenhum preconceito ainda e nenhuma crítica. Nessa associação mesmo eles já fizeram a introdução do ABA para trabalhar com os filhos eles fazem palestras mensais e nenhuma dessas falou disso. E onde eu fiquei sabendo e corri atrás pra saber mais.
Fabio: É eu vejo muito isso dentro do ABA e o Cristiano Textura pode dizer. E claro que tem profissionais e profissionais que aplicam e as vezes as pessoas aplicam porque eu tenho um engajamento maior, tem até uma página aí no Instagram aí, então eu converso com pais, converso com autistas e eu vejo os dois lados e eu como pai e como autista então eu vejo muito essa confusão, essa briga porque tem profissionais que aplicam o ABA que falam em querer inibir comportamentos que não são prejudiciais para o autista. Então isso dá muita briga,
Cristiano: Isso aí já vai direto ao contrário do princípio do ABA mesmo.
Fabio: E tem gente que que fala que ABA isso que daí que quer diminuir os estímulos. Tenho muito disso de ver gente é o que eu mais recebo pergunta “ah meu filho fica balançando a mãozinha, como é que eu faço pra parar?” Eu falei “mas por que você quer parar?”. É uma briga muito grande desse povo aí, só que do outro lado tem os autistas que repudiam o ABA e também não é por esse lado eu vejo né? Quando você é só autista, eu por exemplo, você vê certas coisas e crítica logo de cara. Mas quando você tem um filho e vê que aquilo ajuda seu filho de verdade você tem um outro olhar sobre aquilo.
Cristiano: Depois que eu vi realmente fazer efeito, aí eu sou aba futebol clube.
Fabio: Eu estou sempre a favor da evidência científica né. Eu fujo dessas coisas que povo de falácias e tudo mais né?
Tiago: Cristiano eu queria te perguntar sobre a associação que você faz parte, que é a Associação Tudo Azul. Primeiro, como é que você conheceu eles e qual é a sua principal participação dentro dessa associação?
Cristiano: Eu conheci eles na estimulação precoce. No colégio especial aqui do Gama aí falaram olha tem uma associação que ajuda bastante. Ai minha esposa foi lá, fez toda a inscrição e já matriculou ele na nas terapias. Eu acompanho como pai. Todo pessoal da presidência tem filhos autista. A presidente por exemplo tem dois filhos. E lá também tem uma advogada que tem dois filhos gêmeos que ajuda nessa questão, jurídica, né? De você correr atrás das coisas, então lá realmente dá um apoio muito grande.
Tiago: Fábio, você participa de alguma associação assim de pais de autistas?
Fabio: É, não, de associação não. E eu já fui pra outro lado do ativismo. quando você começa a buscar informações, pela internet livros e tal, você começa a achar muita coisa legal, mas começa a achar muita coisa que que também não é legal, que você não concorda.
Cristiano: É, sempre.
Fabio: Então, eu resolvi criar uma página no Instagram onde eu ia falar como autista adulto, como pai de autista. Começou como que do nada a página foi crescendo e lá eu falo as coisas mesmo assim sem floreios, muitas vezes as pessoas não gostam. Mas gostando ou não é a visão de um autista adulto, né? Que é o que precisa hoje em dia, não tem muito essa visão e eu consigo me dar bem com pais e tanto com autistas por causa que eu tenho os dois lados da moeda, né? Eu sou pai de autista e sou autista, então consigo mudar alguns preconceitos aí e aprender também por ali. Então eu fui para o outro lado do ativismo. Faço parte do grupo da liga dos autistas mas quando eu falo, onde eu tenho voz mesmo é ali mais pelo Instagram mesmo, o pessoal segue, participa e tal.
Tiago: Como é que você conheceu a liga dos autistas, né? Essa pergunta no caso para vocês dois que fazem parte da liga.
Cristiano: Eu fui pesquisando. Atrás de alguma coisa um outro grupo de autistas em Brasília, aí eu fiquei sabendo do Moab né aqui do DF. E depois que eu entrei no grupo do WhatsApp do MOAB, a Viviane me convidou pra entrar na Liga dos Autistas. A Viviane é uma das líderes do MOAB. Movimento do Orgulho Autista Brasileiro. Ela falou dessa questão do grupo, né? Da Liga dos Autistas, me passou o contato se eu não me engano da Érica. E estou lá no grupo.
Fabio: No meu caso foi pelo Instagram mesmo quando eu criei a página. Começou o pessoal a seguir, eu comecei a conhecer outros autistas adultos. Aí até a Josi que faz parte da liga também que já fez alguns episódios aqui pro Introvertendo. Ela me convidou daí pra entrar se eu queria conhecer um grupo de autistas adultos e tal. Uma beleza né? Você conhece mais pessoas como você, né? Porque há pouco tempo os autistas adultos estão tendo voz né? Antigamente você só ouvia a voz dos pais dos do dos autistas. Então achei muito interessante, daí conversei com a Érica e logo entrei e falei com os autistas no grupo da Liga dos Autistas.
Tiago: É engraçado que a forma então que eles entraram em contato contigo foi bem parecida que eles entraram em contato com o Introvertendo, porque foi mais ou menos assim né? Da Liga dos Autistas a Jéssica né? Que é uma das integrantes da Liga dos Autistas, ouviu o Introvertendo, entrou em contato com a gente e aí iniciou essa essa relação. E eu acho isso fundamental assim, as pessoas construírem essas relações porque às vezes o ativismo é muito individual, né? A gente está fazendo uma série de coisas, a gente já está mergulhado numa rotina que às vezes é cansativa e etcétera. Então quando a gente consegue criar essas relações a gente meio que que também até partilhar experiências e aprender coisas novas, né, com as outras pessoas.
Cristiano: Foi o lado positivo da rede social.
Fabio: Sim, sim. A gente consegue ter uma voz mais unida, né, uma voz mais forte quando a gente começa a estreitar as relações.
Cristiano: Sim. É, aqui, recentemente aqui no DF uns pequenos movimentos, né? Para o autismo entrar senso dois mil e vinte e quando eu cheguei lá no no Senado por exemplo e tinha cinco, seis grupos ativistas do autismo aqui em Brasília que eu não tinha noção. Tanto de Brasília quanto do entorno. E eu perguntei como eles ficam sabendo um do outro. “Não, só o WhatsApp, falo daqui eh conversa e vai conversando e vai chegando no grupo unido”.
Tiago: É interessante você falar sobre a questão do autismo no senso porque isso acabou movimentando muitos grupos ativistas do autismo. Não só no Distrito Federal como em Goiás. Eu moro em Goiânia eu conheço uma associação aqui de pais de autista chamada FAG, que é se não me engano a maior associação de pais de autistas até onde eu me lembro. E na FAG várias vezes que eu visitei lá e fui muito bem recebido eu percebi uma coisa até relativamente um pouco preocupante, dos pais de autistas. Quem faz realmente movimentar as coisas são as mães. Eu quase nunca vejo pais, homens nesses espaços. E aí muitas vezes também é discutido, né? Que tem muitas famílias em que pais abandonam os filhos. Eu queria perguntar pra vocês assim, como é que vocês enxergam o abandono parental? E vocês conhecem vários outros pais já autistas ou vocês acham que o movimento é feito mesmo de forma massiva pelas mães?
Cristiano: Assim na associação realmente eu só vejo basicamente as mães irem até a líder a Lady, ela falou uma coisa interessante que recentemente de uns meses pra cá que os pais começaram a participar mais. Vai muito disso que você falou Tiago. Tipo ela faz mais que guia ou só as mães que corriam atrás? As mães levavam os filhos. Os pais só deixavam na frente e depois iam fazer outra coisa. Só voltava na hora de pegar. Mas hoje não. Estão indo mais umas reuniões, estão participando mais, estão levando os filhos. Então é uma visão positiva que ela está vendo. Que os pais agora estão se entrelaçando mais. Na questão do abandono eu não conheço realmente nenhum caso da pessoa que foi a algum filho que foi abandonado pelos pais ou algum pai que abandonou. Mas o meu critério é que isso é vergonhoso. Realmente a pessoa se assusta só porque o filho tem autismo ou alguma outra deficiência do tipo.
Fabio: A minha experiência que eu tenho com isso é que as mães são as mais presentes mesmo. E eu vejo ali pela estatística dos seguidores ali do do meu Instagram. Oitenta e seis por cento são são mulheres, a maioria é mãe, claro que tem os homens que são tem autistas, país são poucos e tendo contato com as mães ali que cuidam, tem muitos casos assim desse abandono parental, depois do diagnóstico. E quem toca mesmo, quem faz quem briga, quem luta são as mães. Então é uma coisa bem vergonhosa para nós pais aí. E eu orgulhosamente crio o meu, moro com meu filho aqui, autista, o meu filho mais velho foi há um ano me pouco morar com a mãe dele por opção nossa, conversa nossa, não tem intriga quanto a isso, mas eu sou pai, atuo. Mas infelizmente eu vejo muitos casos em que os pais abandonam mesmo. Quem hoje em dia ainda vê que são as mães que levam nas costas aí todo o ativismo e toda briga a favor do autismo aí.
Cristiano: Uma coisa que aconteceu aqui em casa foi que por exemplo, depois que eu arranjei um emprego estável, lá no STF eu falei pra minha esposa, olha pode sair do emprego, seu tempo vai ser do Joaquim e a questão financeira fica comigo. Ou seja, pra ela realmente focar no meu filho, né? No Joaquim. Nas questões do autismo, correr atrás, levar tratamento, essas coisas todas. Talvez esse seja um modelo que que tenha, para que as mulheres sejam mais ativas. É uma visão que eu tenho, pelo menos é o que aconteceu aqui em casa.
Fabio: Continua sendo a exceção, Cristiano. Porque eu vejo e converso com as mães e é abandono mesmo. Os pais saem de casa e as mães ficam cuidando mesmo. Teu caso é um acordo e tudo muito certo, né? Você cuida da parte financeira, ela cuida e tal. Mas eu vejo ainda esse abandono que o Tiago falou e é muito real ainda.
Cristiano: É realmente eu não não tenho experiência disso, né? Não via até o momento.
Tiago: É tão às vezes assustador, que eu também vejo de uma forma muito comum. As vezes em mães, que desenvolvem algum tipo de transtorno por causa da jornada pesada com relação aos filhos. Então é muito frequente às vezes mães de autistas que têm depressão, que enfim. Inclusive uma situação que me chocou bastante ocorreu em dois mil e dezessete. Teve uma audiência pública sobre autismo na Assembleia Legislativa de Goiás. E aí juntaram várias associações, juntaram pais, juntaram até alguns dois ou três autistas e eu fui convidado pra ir nesse evento pra poder falar sobre a o processo de inclusão de estudantes universitários na UFG. E aí eu lembro que logo no início do evento fizeram uma espécie de denúncia sobre uma situação muito chata que tinham ocorrido que era de uma mãe que tinha se suicidado junto com a criança. Porque não tinha aguentado a pressão. Parece que o marido a abandonou há um certo tempo e ela no ato desesperado se jogou do apartamento junto com a criança, sabe? E aquilo ali acendeu um start assim em mim e aí de tempos em tempos né? De dois mil e dezessete pra cá eu venho sentindo uma certa preocupação com relação a isso com a questão emocional. Eu queria saber de vocês então com relação a isso se a própria questão da trajetória. Tanto pessoal de vocês com autismo quanto com relação à questão familiar, se vocês se sentem sobrecarregados às vezes?
Cristiano: Olha, às vezes acredito que sim, mas acho que tudo se alivia quando eu vejo a melhora dele, quando eu vejo o crescimento dele. Às vezes eu fico pensando assim, “putz, esse dinheiro aqui que eu estou pagando tratamento dele eu poderia estar investindo em alguma outra coisa pra ele, né? Se ele não tivesse isso”. Mas tudo quando eu vejo uma melhora dele eu falo, não, esquece, está ótimo.
Fabio: É isso que o Cristiano aí é importante. Porque no meu caso eu me sinto sim, sobrecarregado às vezes, mas é como o Cristiano falou. A gente vê uma melhora, e se anima e tal. Então, acho que o importante de tudo aí é a pessoa saber que é normal a gente cansar, tanto pai quanto mãe. É normal você ter um desânimo de vez em quando, porque parece quando se fala tanto de pai quanto de mãe autista é que você tem que ser sempre forte, sempre está ali e pronto pra tudo. E a gente não é assim, ninguém é assim. Então eu apesar de me sentir sobrecarregado, às vezes. A gente continua, a gente segue, a gente se anima e a gente vê a evolução dos filhos, mas não tem problema de se sentir sobrecarregado e não tem problema em buscar ajuda. Eu sempre falo que pode ser que pais eh tenham que também buscar ajuda terapêutica, que é uma coisa que não se fala muito. Mas não é uma carga fácil, tem sobrecarga sim, E talvez tem que ser falado mais nisso mesmo, dos pais procurarem ajuda para ter até pra poder apoiar o filho melhor. De forma mais estável. Porque de vez em quando a gente tem essa sobrecarga assim como todo mundo tem e não é uma vida muito simples essa correria, essa rotina. No caso da gente que é pai de autista e autista, a gente tem a nossa rotina que a gente tem que seguir com aquela rigidez. A ao mesmo tempo tem que seguir a rotina deles de terapia. Então na verdade essa sobrecarga existe sim, mas a pessoa tem que entender que também não é nada de outro mundo.
Tiago: Fábio eu queria te perguntar uma coisa interessante sobre a sua configuração familiar porque você tem um filho que é altíssimo mas você tem um filho que é neurotípico eu queria te perguntar como é a relação entre os dois?
Fabio: Os dois são adolescentes agora né? Um de dezesseis, outro de treze anos e na verdade eles se dão muito bem, mas muito bem mesmo. Até esses dias conversando com eles e perguntando sobre como eram essas diferenças entre eles, como eles lidavam com isso? E a resposta que eu tive foi um pouco surpreendente, para eles esse era o único irmão que eles tinham, então para eles esse era o jeito de serem irmãos. Então eles talvez não sintam tantas dificuldades e como eu às vezes noto que para eles a dificuldade que eu noto nem é tão grande assim porque eles se entendem do jeito deles né? E a mesma coisa acontece comigo quando eu perguntei pro meu filho mais velho que é o neurotípico como é ter um pai autista. E ele respondeu que o único modelo de pai que ele conhece sou eu, né? Porque eu sou o pai dele então para ele é comum ter um pai autista. Nessa parte ficou bem tranquila essa relação tem na verdade não há uma aceitação muito grande que é natural como deveria ser qualquer aceitação da diferença deveria ser natural né? Mas como crescemos em família então é uma aceitação muito natural entre eles. Não tem atritos assim, são irmãos com um relacionamento bem comum assim vamos dizer, bem tranquilo.
Cristiano: Agora realmente teve uma uma certa explosão sobre o autismo, de ter reportagem e mais reportagens na televisão. E uma da e uma dessas propagandas o cara olhou pra mim e falou assim “Cristiano, eu não vou falar isso com preconceito, nada. É só realmente questão de dúvida. Você sente assim, meio que vergonha ou falta do seu filho ser normal chegar, falar contigo e te abraçar, te olhar no olho, falar papai te amo, essas coisas?”. Falei pra ele,”Cara, às vezes sim. E muitas vezes não”. Porque às vezes sinto falta realmente dele olhar pra mim e conversar comigo, falar, vamos correr, ele corre junto. Mas quando eu vejo ele me olhar, tipo, quando um pelo menos eu sinto isso com um abraço autista é um abraço verdadeiro que ele te aperta bastante. Eu esqueço de todos os problemas que eu tenho e é meu filho, eu vou criar e vou ter todo amor por ele. Acho bom ele ser autista assim, esse ser o foco dele Então, eu respondi pra ele, “Prefiro ele ser autista menos do jeito que ele é. E um abraço dele me conforta bastante. Sensacional”.
Tiago: Cristiano e Fábio, muito obrigado por participarem do Introvertendo, agradeço também a Liga dos Autistas por mais um episódio que é feito em parceria com o pessoal da liga e queria que vocês aí falassem se alguém quiser entrar em contato com vocês se tem algum canal, algum espaço que que vocês podem conversar, se algum ouvinte nosso se identificar, tiver filho e for autista também.
Fabio: eu tenho o instagram lá o @aspiesincero que é onde eu faço bastante publicações lá e converso bastante, interajo com seguidores. Até tenho umas sessões de pergunta e respostas lá que são bastante divertidas e informativas. e procura de uma forma bem humorada informar sobre o Aqui conscientizar eh e até mesmo eh humor é bom porque você pode dar uns puxões de orelha aí nos pousos no certos conceitos às vezes com humor você consegue penetrar assim com um buraco aí então quem quiser seguir segue lá.
Cristiano: Eu, particularmente, eu não tenho nenhuma rede social assim pra gravar, nenhum canal do YouTube, Instagram. Pois eu particularmente eu não tenho muita paciência. Mas se for pelo Instagram é @cristiano.forte. Chama lá e a gente vai conversando particularmente, mas não tenho nenhum canal ativista realmente.