Uma das fases mais marcantes e dramáticas da trajetória humana é a adolescência. Neste período de mudanças, mudam as concepções, muda-se o corpo e aumentam as responsabilidades. Por isso, abordamos esse período complicado em várias esferas, incluindo estudos, desilusões amorosas, relação com os pais, tecnologia e o pré-vestibular.
Participam desse episódio Paulo Alarcón, Thaís Mösken, Tiago Abreu e Yara Delgado.
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Transcrição do episódio
Tiago: Olá pra você que escuta o podcast introvertendo, este meio que traz neurodiversos para entreter neurotípicos e neurodiversos, e com vocês mais um tema dessa sequência, dessa jornada imensa que a gente faz aqui, falando sobre autismo e temas relacionados à sociedade. Hoje nós vamos falar sobre cravos e espinhas, choradeira e muito melodrama, ou seja, a adolescência. Meu nome é Tiago Abreu, e a adolescência é a pior fase que existe do ser humano, o ser humano fica mais insuportável nesse período.
Thais: É, aqui é Thais Mösken, e eu tomaria mais cuidado com essas definições simplesmente baseadas em idade.
Paulo: Aqui é o Paulo Alarcón, e a adolescência não é tão ruim, exceto pelos outros adolescentes.
Thais: Podemos falar a mesma coisa da infância, né?
Yara: Aqui é Yara Delgado e adolescência, cara, é tão simples quando a gente fica mais velho, mas quando a gente tá passando por ela é horrível.
Tiago: Pra gente falar sobre adolescência, eu acho que primeiro é bom a gente situar quando é que começa e quando que termina a adolescência. Porque hoje você tem várias definições, você tem a definição de infância que ia até uma um certo período, aí você tem a chamada pré-adolescência, que não é infância e ao mesmo tempo é, e não é adolescência, ao mesmo tempo é. O que eu acho que basicamente é um consenso é que a adolescência termina aos dezoito, né? Embora também eu veja algumas pessoas falando em adolescência aos dezoito, dezenove, que eu não consigo entender. Pra vocês, quando é que começa e onde que termina esse período?
Thais: Eu gosto bastante da definição em inglês, apesar de, como eu falei, eu acho que só uma definição baseada em idade pra definir comportamento é uma coisa bem vaga. Mas se for pra definir a adolescência, eu gosto da definição em inglês do “teenager”, que “teen” é como terminam todos os números desde os treze até os dezenove. Estou certa? Falei besteira? Não, né? (Risos) Então eu acho que acaba ficando mais claro quando a gente pensa desse jeito, pela sonoridade, pelo final de como escreve o número mesmo.
Paulo: É, concordo com a definição, até porque isso não acontece em todas as pessoas, mas as mudanças fundamentais da adolescência começam e terminam por volta dessas idades mesmo.
Yara: E a gente tem também uma questão bem atual, que é questão hormonal que está acontecendo muito, que envolve as meninas desenvolverem mais cedo, então, por exemplo, na minha época, só pra se situar, hoje eu estou com 36 anos. Na minha época uma menina tinha a primeira menstruação por volta dos 13, 14 anos, e hoje tem meninas menstruando aí com 10 anos, então talvez, só talvez, essa nossa definição de adolescência baseada em idade realmente já não seja o melhor jeito de enquadrar, porque os hormônios estão funcionando parece que de forma mais rápida para essa geração atual.
Tiago: Eu acho também curioso porque ao mesmo tempo que você tem essa questão hormonal, que muitas vezes é derivada da alimentação, uma alimentação com muito hormônio, existe também uma certa noção social e carregada por alguns grupos de como o ser humano está cada vez mais longevo em termos de idade, o fim da adolescência social seria teoricamente aos 24 anos, eu já cheguei a ler isso, então são duas coisas que ao mesmo tempo que parecem aumentar tanto esse período que ele meio que esvazia um pouco de sentido também, às vezes.
Thais: Pra mim essa questão hormonal é um pouco diferente, porque eu nasci com uma disfunção hormonal, começou a ser tratada quando eu tinha um ano, e eu tomei remédio pra segurar a menstruação, pra não atrapalhar o meu meu crescimento, que a partir do momento que a menina menstrua ela começa a reduzir absurdamente a taxa de crescimento, né? Então, como a gente costuma ter aquele estirão na adolescência, de crescer mais enquanto é adolescente, isso podia não acontecer comigo e eu terminar com uma altura, com desenvolvimento corporal muito menor do que eu deveria. Então, teve essa questão de ter que segurar mesmo com base em remédio. Mas além disso, eu acho que tem também a questão cultural, social, do que as pessoas esperam que vocês façam, do que as pessoas esperam que você seja quando você chega em determinada idade. Então às vezes sair pra uma festinha, mesmo que seja festinha na casa das pessoas, quando você é criança, teoricamente você pode fazer determinadas brincadeiras e a partir de certa idade aquilo já não é mais considerado normal, aceitável, aquilo é considerado infantil demais, ou algumas outras atitudes que são consideradas adultas demais. Então, eu acho que além da questão física, biológica, tem também essa noção cultural do que é o adolescente, do que se espera do adolescente, até de esperar que o adolescente seja mais rebelde, que eu também tenho outras considerações sobre isso.
Paulo: Sobre isso de considerar os adolescentes mais rebeldes, existem comportamentos que são típicos, né? Que é a tendência é que tenha a questionar, igual tem a idade dos porquês, por volta dos quatro anos nas crianças, isso volta também quando chega na idade mais ou menos na adolescência. Isso pode tá um pouco na raiz do porquê que tende-se a ser mais rebelde na adolescência, mas isso também varia de pessoa pra pessoa. Conheço pessoas que continuam sendo rebeldes depois dos 25 anos, então.
Thais: É, eu acho que tem muito a ver também com quanto você conversa com as pessoas ou descobre informações fora da sua casa. Porque, em geral, claro que existem diversas instruções, mas em geral, quando a gente é criança, os nossos pais, os nossos avós, ou quem quer que cuide da gente, sejam pais biológicos ou não, os nossos tutores, nossos tios, quem quer que seja, são as nossas referências. Então a gente pode fazer uma pergunta e eles serem nossas referências. Em alguns outros casos vão ser os professores. Obviamente existem casos em que são pessoas de fora da família, o que também não é problema nenhum. Mas com o tempo eu acredito que a gente vá ampliando cada vez mais esse número de referências, sejam outros colegas, sejam coisas que se vê na televisão ou que se lê em um livro, às vezes simplesmente você parar pra pensar sobre um comportamento faz com que você tenha ideias diferentes de quem tá ao seu redor, e acho que isso acaba levando a essa “rebeldia”, não concordo totalmente com esse termo também.
Tiago: Eu acho que aí a gente chega numa questão muito importante, que como pessoas dentro do espectro têm trajetória de vida até um pouco atípicas no sentido social de interações, a identificação sobre esse período da adolescência varia muito, então por exemplo, eu tive uma infância bem distinta, no sentido mais lúdico, sabe? Tive até a impressão que eu não tive tanta brincadeira, tanta coisa quanto a maioria das crianças. E a adolescência também foi um período um pouco devagar. Então, eu tenho impressão que dependendo da sua própria identidade, da sua personalidade, do ambiente familiar, se você mora num ambiente em que as pessoas têm uma certa posição com relação às coisas, uma visão de mundo, religião e tudo mais. Então, tudo isso também vai moldando o indivíduo conforme seus contatos, a como ele vive esse período.
Paulo: Pra mim, adolescência teve algumas fases. A primeira fase é que eu queria continuar sendo criança. A segunda fase foi que eu queria me enturmar com as outras pessoas e ser uma pessoa normal. E a terceira fase foi quando me aceitei e toquei o foda-se, e desde então não tive muita muita mudança em relação a agora.
Thais: É, no meu caso, a minha adolescência, o que eu me lembro mais, na verdade, foi mais uma continuidade da parte da infância, eu sempre ficava muito focada em estudar, e na adolescência eu mudei de escola pra uma escola que tinha um curso de astronomia, que era na época meio hiperfoco. Então, o que eu me lembro muito bem era de todo mundo ficar falando em sair, ir pra festinha, mesmo que fosse umas festinhas mais suaves, digamos assim, e eu achava meio besteira, queria saber só de estudar mesmo, até o momento que eu acabei me apaixonando, assim, e aí tive lá meu primeiro relacionamento e aí fiquei muito sem uma rota, sem saber o que fazer, sem saber o que seguir. Porque foi muito brusco, mas a maior parte da minha adolescência, que eu me lembro, era focada em estudos, especialmente em astronomia mesmo, e achando as outras pessoas muito idiotas por terem outros interesses.
Paulo: Eu tenho isso em comum com você. Eu também achava as pessoas meio idiotas por darem tanta importância pra festas e esses eventos sociais, nunca vi muita graça em balada, então enquanto meus colegas, isso já vinha desde o desde a sexta série ali, quando eu tinha meus doze anos, queriam ir pra balada, e eu não via graça nisso.
Thais: Pra mim também, era vontade zero, as pessoas falam “ah, mas você não tem vontade de saber como é isso, saber como é aquilo?”, e eu olhava assim, “não, por quê? Eu deveria ter?”
Yara: É engraçado, isso lembra aquela fase da infância que a criança vê um casal se beijando e fala, “credo, que nojo”. E aí depois cresce, entra nessa fase, né? Então parece que é preciso ter um amadurecimento de alguma coisa que mistura o emocional com o biológico pra ver esse avanço de etapas. A minha adolescência foi completamente conturbada, completamente conturbada. Eu quase me suicidei com dezesseis anos. Assim, ao ponto de todas as manhãs eu levantava e pensava “eu vou entrar na frente de um carro, porque eu não quero viver assim.” E é, foi horrível, horrível. As coisas aconteceram bem rápido pra mim, eu fui bem criançona até os catorze anos, com catorze anos eu comecei a trabalhar e eu comecei a namorar, só que era engraçado porque eu namorava e ainda brincava com as meninas de pular elástico, de pega-pega, esconde-esconde, e aí teve até umas moças mais velhas, chegaram em mim, eu me lembro e falaram “você não pode mais fazer essas coisas, essas coisas são de criança.” E eu lembro que eu saí de lá dando risada e pensando “nossa, mas que pessoas idiotas por imaginar isso, se eu gosto de brincar, vou brincar.” Então foi uma fase em que eu misturei as coisas muito, até por mais ou menos um ano, assim, era essa coisa louca de ao mesmo tempo que eu trabalhava, namorava, eu também tinha aquela coisa ainda imatura de brincar bastante, ir pra escola e ficar observando tudo e tal. E eu era bem isolada, no sentido de que um colega de escola era uma, duas e eu simplesmente não tinha a menor vontade de me envolver com o resto também e achava que o único tipo de evento interessante que tinha era na balada que rolava que era numa danceteria e que era um dia fechado pra escola. Aí aquele dia eu achava legal e simplesmente era como se no outro dia não tivesse acontecido nada. E aí eu me lembro que eu fiquei com uma depressão muito forte, muito forte, porque eu odiava a minha casa e tinha muita briga na minha casa e foi mais ou menos um ano sofrendo assim com esse negócio de depressão, foi a primeira vez que eu desenvolvi depressão que foi na adolescência.
Tiago: Eu tenho um pouco de dificuldade de pessoalizar coisas assim publicamente por meio do podcast, então vocês me desculpem se alguma coisa ficar meio superficial, mas a adolescência eu acho que o período que eu mais lembro, a impressão é que o acúmulo de responsabilidades foi até um pouco rápido em certos aspectos, então eu lembro que com 14 anos eu já estava trabalhando, fazia uns freelas consertando computadores. Eu lembro que eu peguei um anúncio de formatação de PCs e imprimi vinte reais em cópia xerox na instituição que eu trabalhava, e isso a cópia lá eram sete centavos, sabe? Sete, cinco centavos. E aí eu fiz muitas folhas, eu distribuí isso dentro de dois bairros, um deles é de mais de sete mil pessoas, e aí começaram a aparecer alguns serviços e tudo mais, e a instituição que eu estudava tinha uma carga muito pesada, então minha adolescência foi muito focada em manter o equilíbrio no ensino médio, foi basicamente assim durante grande parte do tempo. Então essa parte mais lúdica de diversão e tudo mais acabou sendo, digamos assim, adiada pra vida adulta, então foi só com 18 anos, pra frente, que que eu comecei a ficar um pouco mais livre. Mas a minha adolescência foi bem chata e bem monótona, no geral, então nem tenho muito o que falar sobre ela, só mais as referências culturais.
Thais: Essa parte que ‘cês falaram de diversão, na minha adolescência foi quando eu já tinha um computador razoável com uma internet que, pelo menos pra época, era considerada razoável também. Então eu comecei a baixar muito anime, eu assistia bastante anime mesmo, e eu também comecei a baixar jogos, crackear, né, porque era caríssimo. Até hoje em dia alguns são muito caros, mas na época ainda não tinha nem dinheiro pra comprar, sei lá, um caderno que fosse, e não ia gastar dinheiro comprando jogo também. Então crackeava um monte de jogo e passava horas e horas jogando, virava a noite e eu estudava de manhã, às vezes eu tinha astronomia tarde, mas o meu padrão era sempre que eu pudesse chegar da escola de manhã, dormir à tarde, depois passar, ficar acordada à noite e de madrugada, porque era, sempre foi minha preferência. E na minha casa, basicamente, funcionava assim, enquanto eu tirasse notas boas, eu estava cumprindo a minha função, por assim dizer. Então, eu tinha essa liberdade de fazer esse tipo de coisa. Mas agora, outra coisa que eu tava me lembrando também, eu sempre tive um pouco disso, mas na adolescência acho que foi bem mais claro, um lado bem mais arrogante, sabe, de detestar todas as outras pessoas. Não todas, mas a grande maioria, achar todo mundo muito idiota, muito burro. Tá bom, eu ainda acho isso, mas hoje em dia eu falo de forma diferente, e essa arrogância total me levou também pra um outro lado, querer me desenvolver em várias coisas, ter algumas referências de pessoas que eu considerava muito inteligentes, muito mais inteligentes do que eu, e com certeza elas tinham o mesmo ponto de vista com relação a outras pessoas, né? E esse tipo de referência eu acho que é interessante. Hoje em dia eu acabei mudando um pouco de ponto de vista. Eu já não considero notas, por exemplo, notas escolares, uma coisa tão relevante, mas na época pra mim isso era muito importante e além disso, outra coisa que eu me lembro bastante é que foi a época em que eu aumentei muito a minha agressividade como forma proteção, como forma de defesa contra bullying, esse tipo de coisa. Na escola em que eu estudei quando eu era criança era um ambiente mais tranquilo. Quer dizer, nessa escola nova também era um ambiente tranquilo, porque as duas foram particulares, eu era bolsista, e por incrível que pareça, não tinha nenhum preconceito com relação a bolsistas, eu acho até quando eu entrei, achei que teria, mas tinha muito bullying com quem era mais nerd, com quem gostava de ficar estudando, com quem não era muito sociável, e aí que eu comecei a desenvolver esse lado de defesa agressiva. Funcionou muito bem na minha adolescência inteira.
Tiago: Eu achei muito legal você falar sobre a questão da internet, porque isso me fez lembrar umas coisas da adolescência que estavam escondidas no porão, e eu lembrei agora eu só fui ter internet banda larga em casa com 18 anos, porque eu comecei a trabalhar e coloquei internet banda larga. Até aquela época eu usava internet 2G, 3G. Eu tinha um chip Tim Beta em 2013 – Tim, patrocina a gente, por favor – e aí eu usei esse chip Tim Beta durante um período, até o momento que o chip estragou e a Tim não quis me dar um outro, aí eu tive que voltar pros planos normais, e até hoje eu fico recebendo e-mails de rodadas beta e tudo mais. E aí nessa época, eu acho que a internet tem um impacto muito grande pra quem tá na faixa dos vinte e poucos anos atualmente, com relação à adolescência, porque é o período que se você não tem uma vida muito social na vida real, você pode desenvolver muitos contatos pela internet, e nessa época, então, por exemplo, da adolescência, eu virei wikipedista, então muito do meu tempo ocioso, que eu não saía, não fazia nada, eu ficava na Wikipédia, e depois isso também acabou se migrando pras comunidades virtuais, então na época do Orkut mesmo eu amava participar de comunidades, conversava com o pessoal, tretava também com todo mundo. No Facebook também tinha os grupos, e também com isso vinha os podcasts que eu acompanhava e as comunidades de podcasts, então essa era a vida social que eu tinha durante o processo da adolescência.
Paulo: Ô, Tiago, você ainda estava bem com com dois a maior parte da minha adolescência foi na internet discada. 56 KBPS.
Yara: Nossa. E eu ainda fui pior que isso, porque eu só pude ter um computador e uma internet por volta dos 22 anos. Eu já estava na faculdade, e aí foi o cara do trabalho que ele não acreditou, disse “você faz faculdade de sistemas e não tem um computador?”
Falei “não, eu uso o computador no trabalho.” E ele falou “não, eu vou te ajudar a comprar um computador”, e ele parcelou pra mim eu fui pagando pra ele, e aí eu consegui ter o meu primeiro computador, fiquei feliz da vida.
Tiago: Qual o sistema operacional que era ele?
Yara: Era um Windows, cara, acho que era Windows XP. E assim, eu fui muito cagada, desculpa falar, mas eu peguei o vírus logo no primeiro dia, tive que formatar o PC, ainda bem que eu sabia fazer essas coisas, pelo trabalho eu fuçava bastante, eu era muito interessada, então eu aprendi o máximo que eu podia mesmo, mas eu me lembro de que eu fiquei morrendo de raiva logo no primeiro dia de ter o meu computador e eu peguei um vírus.
Tiago: Saudades do Windows XP.
Thais: Meu, só uma observação, que aí a Yara falou, ah, eu só tive computador aos vinte e dois anos, e pra gente pode parecer um pouco absurdo, mas a gente tem que lembrar que eu tinha, tipo, treze anos nessa época. Então, não é uma coisa tão absurda.
Tiago: Sim, e você falou XP, saudade do XP. O primeiro Windows que eu usei foi o 98. Eu tinha uma prima que tinha um PC bem antigo que ela usava o Office 97 com Windows 98. Ele tinha um Translator e eu achava a coisa mais moderna da humanidade. E eu usava muito disquete também. Só que como eu não tinha computador em casa eu ficava usando disquete na lan house, e aí no caminho de casa até a lan house o disquete estragava, era um inferno.
Paulo: O meu primeiro computador foi o Windows Millenium, tá?
Tiago: Nossa, que inferno (risos). Odeio Windows Millenium com toda a minha força.
Yara: Olha, pra mim o Windows XP ainda é o melhor.
Thais: Por muito tempo eu usei o XP também, só por gostar dele.
Tiago: O XP foi o mais estável, eu acho que até hoje que a Microsoft já fez, mas o Millennium também disparado era o pior de todos. Na época do ensino médio eu era muito apaixonado por usar sistemas operacionais antigos, então eu usava o Windows 2003, fazia um monte de testes, e eu lembro que eu instalei o Millenium no emulador e a primeira vez que eu usei ele demorou meia hora pra abrir, e aí uma vez ele deu tela azul e não funcionou mais, ele era muito horrível.
Paulo: É, eu não tive esse azar da tela azul eterna, não, mano. E eu tive meus perrengues com meu computador
Tiago: Eu acho que o caso do Millenium é muito parecido depois que acontece com o Vista, né? As pessoas usavam o novo sistema, achavam o lixo e fazia o downgrade para a versão anterior, então as pessoas voltavam pro XP e no caso do Millenium as pessoas voltavam pro 98, porque o 98 era maravilhoso.
Yara: Eu gostei do Windows NT. Ele não dava muito problema também.
Tiago: É o 2000?
Yara: Eu tive um Windows Vista e eu não tive problemas. Não, o 2000 era outro, né? Tinha o 2000 e tinha o NT.
Tiago: Ah sim, eu não cheguei a conhecer o NT, eu achei que o 2000 era o NT também.
Thais: Eu acho que o NT foi antes.
Yara: É, eu acho que o NT antes do 2000.
Tiago: Aham. Eu tenho um computador aqui bem antigo que ele tem umas peças de 1999 e 1998, que eu estava usando Windows 2000 nele. O 2000 é muito estável também. Era muito bom. O problema do Vista é porque era muito pesado. Eu lembro que na época quando ele saiu em 2006, pra um computador rodar o Vista bem você tinha que ter 1GB de memória RAM, o que era muito pra época, o meu PC mesmo que eu tinha em casa que eu tinha acabado de comprar era 512MB. Então era um negócio assim extremamente pesado, e o próprio Windows 7 que saiu depois é muito mais leve, né? O Vista até hoje quando eu vou usar em algum emulador pra ver como é a interface dele, até hoje ele é muito pesado, o que eu acho assim, bizarro.
Thais: Então, eu acho engraçado falar que naquela época ele precisava de 1GB de RAM, porque eu lembro que naquela época era muito raro alguém ter 1GB de RAM, pelo menos no meio em que eu vivia.
Tiago: Pior é 2 GB!
Thais: Nossa, é engraçado que eu ainda lembro quando eu coloquei 1GB de HD, que pra mim era incrível, eu não lembro qual era a RAM naquela época, devia ser 256MB, sei lá.
Yara: Era um pentinho de memória assim, que era o tamanho de um dedo, né? Uns pente de memória assim quase do tamanho do nosso dedo.
Thais: E isso, essa conversa aqui me lembrou, sei que não tem a ver com a adolescência, me desculpem, mas é que eu achei engraçado quando minha mãe me contou, porque minha mãe ela passou isso em um concurso público pra analista de sistemas, quando ela nunca tinha visto um computador na vida, tinha perguntas sobre computadores na prova de concurso, aí ela leu o que era um computador, leu como funcionava um computador e fez a prova.
Tiago: (Risos) E ela passou, caramba, ela é muito boa, então.
Paulo: Mas voltando um pouco pro assunto de como foi a adolescência, né? Porque gente tá saindo do foco, né?
Yara: Não existe adolescência sem computador (risos). Não sei como eu sobrevivi, se eu sobrevivi foi por isso.
Thais: É, eu não sei como teria sido minha adolescência sem um computador, porque como o Tiago falou, essa questão de comunidades virtuais, pra mim sempre foi muito mais fácil me relacionar com comunidades virtuais, seja na época de fóruns, Orkut eu não usei muito, eu usei bastante aqueles fóruns mesmo de internet que eu gostava bastante. Não costumava ter muita treta nos que eu frequentava, mas às vezes eu resolvia ficar enchendo o saco de alguém assim mais na brincadeira, e aí como que era? Era flooder que o pessoal chamava, só que eu nunca era a mais flooder do fórum, mas era sempre na brincadeira, nunca fui expulsa de lugar nenhum. E depois eu participando de jogos online, especialmente quando eu comecei a conseguir falar um pouco melhor, escrever um pouco melhor em inglês, então eu acabei me juntando a comunidades nesse sentido também, as comunidades de jogos específicos, sempre foram essas as comunidades com quem eu convivi, nunca foram comunidades físicas.
Paulo: É, eu peguei o início e o auge do Orkut na minha adolescência.
Tiago: Nossa, grandes tempos.
Yara: Eu peguei também, você lembra, Paulo, quando teve aquela mudança de visual do Orkut que todo mundo odiou?
Paulo: Sim, eu era um dos que odiaram também.
Tiago: Nossa eu lembro muito.
Thais: Só podia entrar por convite no Orkut, você precisava ser convidado, engraçado também.
Tiago: E o novo leiaute também era um convite, você esperava um tempo até você receber o convite e eu lembro que a primeira vez que eu usei o Orkut na internet da Lan House, demorou trinta minutos pra página de login entrar definitivamente no perfil. E o meu login era muito engraçado, eu não sei se eu contei isso já em algum outro episódio, mas o meu login era djtesoura@hotmail.com, porque veio de uma história de uma festa de aniversário em que eu atrapalhava a diversão das pessoas pulando as músicas que elas mais gostavam. E era um negócio assim tão infantil o meu Orkut que a foto de perfil era eu do lado dum aparelho de som, porque eu amava coisas relacionadas a áudio, até hoje, né?
Thais: É, teve um episódio, mas eu acho que a gente num tava participando ainda, deve ter sido um episódio sobre festas, que cê contou essa história do DJ Tesoura aí.
Tiago: Ah, é verdade.
Thais: Outra coisa que cê comentou foi da Wikipedia, que eu lembro que logo do início, assim, foi criada a Wikipedia eu cadastrei, na época você podia editar com mais facilidade, hoje eu sei que tem que ter algumas permissões e tal, pelo menos algumas páginas, mas naquela época não tinha isso e eu lembro que eu escrevi ou pelo menos fiz parte de vários artigos de astronomia, eu ficava fazendo tabela de objetos pra colocar na Wikipedia. Eu passei muito tempo na Wikipédia, mas eu nem sei se ainda tem o meu login daquela época, porque sei lá, foi quando eu tinha uns quinze anos, então faz uns doze anos.
Tiago: Se você tinha uma conta registrada, provavelmente ela existe, até porque tem muitas contas antigas que são, digamos, abandonadas, que as pessoas editavam antigamente e que estão lá, mas elas não são apagadas, elas só estão lá esperando que a pessoa retorne. E é engraçado você falar sobre astronomia, porque muitos artigos dessa área de astronomia foram exatamente a primeira área que começou a desenvolver artigos na Wikipédia em português.
Nota do editor: Depois desse episódio, a Thais foi atrás do login dela na Wikipédia e ela achou! Ela não editava desde 2009, voltou a editar em 2019 e agora nós temos mais uma integrante do Introvertendo que é Wikipedista. Se você também for um usuário ou uma usuária antiga da Wikipédia, procure o seu login de novo e colabore na maior enciclopédia virtual do mundo.
Paulo: Ah, eu não colaborei com a Wikipedia, mas eu lá pra parte final da minha adolescência eu comecei a frequentar e ajudar na Desciclopédia.
Tiago: Olha só!
Thais: Nossa.
Tiago: E olha que precisa de muito senso de humor pra poder conseguir escrever artigo lá, né?
Paulo: É, ajudar com piadas otaku e zoando também o rock, apesar que eu gosto muito de rock até hoje, mas eu fazia algumas piadas lá também.
(Transição com música)
Yara: Eu queria voltar nesse tópico da importância da música na adolescência, acho que nunca teve uma fase onde eu consumi tanta música quanto a adolescência. E engraçado que eu conseguia ouvir música alta, a minha avó saía de casa, eu falava “tô sozinha!” e eu aumentava o volume estrondosamente, eu não consigo entender hoje como eu conseguia ouvir música alta daquele jeito.
(Risos)
Paulo: A questão da música na minha história tá muito ligada a minha adolescência. Eu comecei a gostar de música de verdade na adolescência, comecei pelo New Metal, ouvindo Linkin Park, Limp Bizkit, depois System of a Down, Slipknot…
Thais: E engraçado que na minha adolescência eu praticamente não ouvi músicas diferentes, eu baixava só música de anime mesmo, mas eu não tinha vontade de ficar pesquisando coisas. E eu demorei muito pra ter um MP3, na época era caro.
Tiago: É engraçado que nenhum de vocês falou de emo aqui, né? (Risos) 2006, 2007, isso não é a minha adolescência ainda, mas naquela época um monte de gente era emo, hoje em dia muitos escondem, inclusive, mas tem uma música que me faz lembrar muito e não é da adolescência, mas como eu sou o mais novo aqui, provavelmente deve ter feito parte de algumas adolescências de vocês, é a música do Kasino, o Kasinão, aquilo ali foi icônico em 2005, então também foi uma música muito marcante.
Thais: Engraçado que eu tinha colegas que eram chamados de emo às vezes pelo tipo de cabelo que eles usavam, coisas assim, mas eu nem sabia direito o quê que era isso, aí falavam que era um estilo de música, e tinha gente que falava que era um estilo de vida e eu como o meu contato social era muito baixo, eu só tinha contato com o pessoal da escola e não gostava da maior parte das pessoas lá, conversava mais com três meninos que eu converso até hoje, e tinha duas meninas que eu conversava também, que eu já perdi contato. Mas eu só ouvia o pessoal falar isso, achava tudo muito besta e falava que eu tinha outras coisas pra pensar e ignorava. Então, os emos fizeram parte da minha adolescência, mas eu passei reto por isso.
(Risos)
Paulo: Ah, os emos estiveram presentes na minha adolescência, só que eu zoava eles no Orkut, nas comunidades, e na verdade a minha primeira namorada era emo. Mas na época eu tomei um caminho diferente. Eu comecei na New Metal e fui pegando música cada vez mais pesada. Então, no final da minha adolescência, eu tinha voltado pros clássicos do metal e tava ouvindo coisa de nível de Sepultura pra cima.
Tiago: (Risos) Ah, sim, então cê tava ouvindo um canibal Corps e coisa assim.
Paulo: É. Eu ouvia as bandas de Black Metal norueguesas. Aliás, eu cresci na cidade de Ubatuba, no litoral de São Paulo, uma cidade que é composta em grande parte por surfistas e maconheiros, muitas vezes com interseções, aí eu nunca fui muito bem aceito. Então na primeira fase da minha adolescência eu sofria muito bullying, e quando eu tinha lá pra 13 anos eu comecei a me interessar por música e comecei a ouvir New Metal, até que eu cheguei no Slipknot meio que mudou minha vida e levou pro lado mais metal da força, e aí nessa época eu mudei meu estilo de me vestir, comecei a usar preto, comprei os coturnos, essas coisas, e foi nessa época mais ou menos que pararam de me de me zoar, passei a sofrer menos bullying. Não sei se funcionou bem a minha ideia de tentar ser mais intimidador, mas…
Tiago: (Risos) A minha adolescência foi marcada por Pink Floyd, basicamente, era a banda que eu mais ouvia. E isso porque tinha um monte de pessoal da minha turma que gostava. Minha turma de ensino médio era muito atípica. Então eu vinha de uma escola mais elitizada, o pessoal era muito sem religião, sabe? O pessoal gostava muito de rock, tinha um cara que era extremamente fã do Led Zeppelin, de bandas clássicas e tudo mais. E aí eu comecei a desenvolver até um certo interesse por Pink Floyd, mas Infelizmente essa droga chamada Progressivo ficou muito tempo na minha vida até a adolescência e depois quando eu cheguei na idade adulta eu fui partir pra outras coisas.
Yara: Uma coisa que eu notei também da minha a minha adolescência, como eu comecei a trabalhar aos 14 anos eu passei a estudar a noite e pra mim isso foi a glória porque eu detestava a minha sala de aula, adorava a escola mas eu detestava os colegas da sala.
Quando eu fui pro período noturno foi como se eu ganhasse uma nova oportunidade. Pensei “ah, vou começar tudo de novo”, então cheguei conversando, o que é super difícil pra mim, na verdade, mas ninguém sabia disso, eu disfarcei bem, e funcionou. E logo depois que eu consegui me apresentar e não ficar parecendo alguém estranha, consegui fazer mais amizades, porque estudando à noite eu conheci pessoas muito mais velhas. E aí foi drástica a mudança, porque eu simplesmente não sentia nenhuma vontade com pessoas da minha idade. Acho que por isso que eu era tão assim de ficar mais isolada. Mas com pessoas mais velhas eu conseguia desenvolver as conversas e eu gostava e me sentia bem. Foi só aí que eu comecei a me entrosar. Daí pra frente foi mais progresso. E também essa questão na adolescência, do namoro, é uma fase que é muito legal, porque você começa a namorar, cê dá o primeiro beijo e, nossa, isso aí é que é beijar, que legal! E eu, cara, cês vão dar risada, mas eu lembro que eu treinei na mão (risos) pra aprender a beijar. Falei, não pode babar. E aí rolou o primeiro beijo e foi legal pros meus namoradinhos. Aí cê descobre umas coisas novas um pouco mais ousadas e sente o primeiro arrepio, coisa muito louca. E é uma descoberta, e é uma coisa que eu acho que é muito legal da adolescência.
Paulo: Ah, eu não tenho boas lembranças dessa parte.
Tiago: Talvez uma palavra que resume muito bem a adolescência chama intensidade. É tudo muito intenso, tudo que seja positivo, seja negativo, então talvez o sentido nostalgia ande muito intrincado com a questão da intensidade. Tudo é muito louco, tudo é muito novo…
Thais: É, eu eu já não tive essa sensação de tudo muito novo, exceto realmente meu primeiro beijo foi na adolescência, mas pra muitas pessoas que eu conheço não foi, então se você está ouvindo isso e está chateado porque fala “pô, mas eu passei adolescência sem isso”, eu conheço muita gente que não teve isso. O meu, na verdade, foi bem inesperado, até hoje eu lembro que ele tinha gosto de ovo, mas eu achei bom de qualquer forma, e eu não tinha nenhuma curiosidade…O quê?
Tiago: Que horror!
(Risos)
Thais: Mas é que eu me lembro. Até hoje eu relaciono com gosto de ovo. E como eu falei, não achei ruim.
Tiago: Não é pior do que aquele que eu contei, acho que no episódio de sofrência, né? Então é, eu não posso julgar.
Thais: (Risos) É cada um com o seu, né? Mas eu não tinha uma curiosidade tão grande, tanto que o pessoal me perguntava às vezes, “ah, Thais, você não tem curiosidade de começar a beijar?” e eu dizia “não, não tenho”, mas pra mim foi um relacionamento conturbado, porque esse rapaz aí que eu me interessei tinha namorada, só que era um relacionamento aberto, o que pra mim já era muito confuso eu entrar no meio de um relacionamento aberto, os dois eram bem mais velhos que eu e aí eu achei tudo muito estranho, eu passei bastante tempo com essa pessoa, a gente se encontrava de vez em quando, ele era do Rio de Janeiro, eu de São Paulo. Então a gente só se encontrava quando ele viajava pra São Paulo. Na época eu gostava muito dele, fiquei muito, muito louca mesmo, aquela coisa extrema de apaixonada e bem idiota, mas eu acabei terminando, mesmo gostando dele, que eu percebi que aquilo não tava me fazendo bem, eu tava ficando muito desfocada de tudo. Mas do jeito que eu falo parece que foi rápido, mas foram mais de dois anos, quase três anos nessa história, e depois que eu terminei ele chegou a falar comigo de novo, eu até tive vontade de voltar, mas felizmente a gente não voltou e cada um seguiu pro seu canto.
Paulo: A parte do primeiro beijo pra mim não das meus melhores experiências, e na verdade essa parte romântica durante a minha adolescência foi bem ruim, porque basicamente todas as meninas que eu gostava nunca me deram bola ou pior, participavam do bullying, então eu só fui conseguir uma namorada na segunda metade do último semestre do último ano do ensino médio.
Thais: É, eu na verdade não namorei também. Essa pessoa com quem eu saía, como ele tinha já outra pessoa que era mais relevante, vamos dizer assim, apesar de ter um relacionamento aberto, ela me conhecia e tudo, mas eu só fui namorar a primeira vez depois que eu entrei na faculdade.
Yara: Eu acho que essa diferença que acontece muito, eu acho que pra mulher é muito mais fácil, é muito mais fácil porque eu me lembro que eu nunca precisei fazer nada pra ter um namorado, porque você não precisa ter iniciativa quando você é mulher. A outra pessoa que demonstra interesse, e aí você pode ver se vai ser mútuo ou não, mas eu acho que pra mulher é bem mais tranquilo, agora passar a adolescência entre meninos, nossa, eu imagino que deve ser terrível, porque fica essa coisa entre meninos, uma espécie de disputa, e se você não consegue ter pelo menos um “rolinho” é como se fosse um sinal de incompetência, deve ser uma autocobrança muito ruim.
Paulo: É, de fato é horrível.
Thais: É, eu acho que as mulheres precisam mudar essa atitude também, eu não gosto dessa história de só homem tem que ter iniciativa, eu acho que foi uma coisa muito ultrapassada que as pessoas mantêm até hoje, então, por exemplo, esse meu último namorado com o qual eu terminei, acho que eu já conversei, mas talvez a gente volte porque a gente se dá muito bem… mas eu que fui falar com ele. Então, eu que tomei a iniciativa nisso. Nos outros casos não, foram rapazes. Mas eu acho que podia ser uma coisa igualitária. Acho que as mulheres têm muito medo de fazer muitas coisas e eu acho que a gente só vai conseguir acabar com o preconceito, em diversos níveis, não só preconceito contra a mulher, mas fazer o mundo se tornar um pouco mais igualitário mesmo, se as pessoas pararem de jogar responsabilidade só de um lado pro outro. Então, o sei lá, o homem achar que só a mulher tem que cuidar da casa e dos filhos e a mulher achar que só o homem tem que tomar iniciativa pra isso, ou que ele tem que sustentar. Então eu acho bem importante as mulheres também tomarem essas iniciativas. Você gosta da pessoa? Não tem problema nenhum ir lá falar com ela. Esse medo de ficar tomando um fora, poxa, quase todo mundo aí que tomou a iniciativa já tomou fora, mas uma hora você tomou dentro, o que é bom, ou não né? Às vezes dá mal depois, mas essa é outra história.
Tiago: Então, isso me faz pensar em duas coisas: a primeira é que quando vocês falam de relacionamentos e também de hormônios e tudo mais, me lembrou uma série que eu gosto pra caramba que é Big Mouth, da Netflix, que é uma série que lida com isso com humor, ao mesmo tempo que é uma série muito divertida, muito polêmica também, mas eu gosto pra caramba, e essa questão de iniciativas eu acho que é algo que está aos poucos em mudança. É óbvio que isso é um processo lento, mas eu acho que um dos pontos que ajudou muito nisso, dessa diferenciação, de você repensar o comportamento do flerte vem com a eclosão das relações homoafetivas. Então, não existe agora só o relacionamento entre um homem e uma mulher, você vê várias formas, e isso também eu acho que ajuda um pouco a desprender os papéis, mesmo em relações heterossexuais.
Thais: É, bem pensado, eu não tinha pensado por esse ponto de vista.
Yara: O meu modo de pensar é bem aberto, pra mim acho que tanto faz, o lado que vai chegar ou não. Mas no meu caso era engraçado, porque basicamente não rolava o interesse anterior da minha parte, as pessoas estão lá e você só dá mais atenção quando a pessoa chega pra conversar com você, era bem nesse sentido. Então eu basicamente não dava atenção pra ninguém. A pessoa só recebia alguma atenção minha se chegasse efetivamente pra conversar comigo. Então era muito engraçado nesse ponto, porque, sei lá, minha cabeça estava girando em torno de outras coisas, outras questões, mó problema em casa, mó depressão, e nossa ter que gerenciar, e essa questão de relacionamento só aconteceu na minha adolescência porque aconteceu, porque se dependesse de mim, eu fazer acontecer, não sei quanto tempo ia demorar não pra eu me relacionar com alguém.
Thais: Acho que também depende do nosso contexto todo. Porque como eu falei, na minha adolescência eu não tava interessado em nada disso, mas depois que eu terminei com aquela primeira pessoa, eu fiquei com vontade de ter outra pessoa, porque eu fiquei me sentindo muito mal, a história é meio longa, então não vou ficar me alongando nisso, mas basicamente eu depois queria encontrar outra pessoa pra sair, no início da faculdade. Então, quando eu comecei a faculdade, eu meio que tava buscando. Então, eu cheguei a falar com uma pessoa, mas aí essa primeira pessoa falou “ah, eu já gosto de outra”, fazer o quê? Acontece. E aí no final do primeiro ano que eu comecei a sair com um rapaz que veio até mim, depois quando eu tava solteira de novo que eu fui pra procurar esse outro rapaz que eu vi, eu sempre gostei muito de homem de cabelo longo, aí eu vi aquele cara, esse de cabelo longo no laboratório sem ninguém no grupo dele, a primeira coisa foi assim “ah, vou fazer grupo com essa pessoa”, aí comecei a conversar, achei a pessoa legal e aí eu chamei ele pra sair. Mas é basicamente isso.
Yara: Corajosa, hein? (Risos)
Paulo: Do do meu lado uma coisa que foi mais chata assim é que eu tinha poucos amigos e os poucos amigos que eu tinha começaram a arrumar namoradas também. Aí eu ficava de lado.
Tiago: No meu caso todas essas questões mais específicas só vieram um pouco mais tarde com a vida adulta, então eu não tenho o que dizer.
(Transição de som)
Paulo: Ah, aí no final da adolescência teve a questão dos vestibulares.
Tiago: Ah, verdade.
Paulo: Eu comecei a me preocupar de verdade com o vestibular no terceiro ano e comecei a estudar pra valer, pra tentar passar em alguma faculdade, e aí que terminou a fase de tentar me enturmar com as pessoas e que eu comecei a ficar cada vez mais nerd, que até então eu não gostava desse rótulo, mas eu comecei a abraçar isso.
Thais: Como eu tinha comentado, eu sempre fui muito focada em estudar, tanto na minha infância quanto na minha adolescência. Então, pra mim o vestibular quando chegou era uma coisa tranquila, eu na verdade comecei a fazer vestibular na oitava série, porque eu queria já saber como era. Então, na oitava série eu fiz o curso mais fácil possível pra ver se eu ia pra segunda fase, eu não fui. No primeiro ano do ensino médio eu consegui ir pra segunda fase, pra ver como era a segunda fase mesmo. No segundo ano, eu queria ir pra segunda fase na área de exatas. Então, eu peguei o curso mais fácil de exatas, só pra ver, de novo, como era a segunda fase de exatas. E aí no terceiro ano eu passei porque, bom, quando você passa dez anos estudando pro vestibular é bem diferente de quando você faz um ano no terceiro ano do ensino médio, ou um ano de cursinho. Então pra mim era uma só mais uma prova no meio da minha vida, só que entra naquilo também que foi um ano conturbado já que eu tinha terminado lá com o meu primeiro relacionamento, justamente pra aquilo não me atrapalhar pro vestibular.
Paulo: O vestibular que eu tentei fazer de cara no ano em que eu tentei estudar por conta própria foi o do ITA.
Thais: Ah, é, ITA é foda mesmo.
Paulo: É. Mas eu tentei outros também. Até que no ano seguinte consegui entrar até a faculdade por bolsa de estudos. Eu cheguei a fazer algumas aulas de curso pro ITA que a minha escola dava essas aulas pra quem era bom aluno, porque a minha escola tinha um cursinho também, então eles deixavam a gente frequentar as aulas do cursinho, se a gente quisesse, até porque é muito bom pra propaganda deles a gente sair direto pro vestibular e entrar direto na faculdade e eles noticiarem isso por aí. Então, eu cheguei a ver algumas aulas do ITA, eu achava interessante, achava bem difícil e no final eu só prestei Poli mesmo, eu não tentei no ITA, mas provavelmente não teria passado de qualquer forma.
Yara: Pra mim essa transição foi muito tranquila porque quando eu terminei o colegial, eu não me interessei em fazer faculdade, eu me interessei em fazer técnico. Então, você fazer o vestibulinho de um curso técnico é totalmente diferente, a pressão é muito menor, é muito mais tranquilo, e eu só fui prestar faculdade depois do técnico, mas aí eu já estava mais velha e aí você está mais adulto, já trabalhava fazia tempo, então a cabeça é bem mais tranquila, não tem aquela pressão de quando você está no final da adolescência e se cobra muito. E ó, qual vai ser a sua vocação? E existe toda essa dúvida. Eu não passei por esse processo. E acho que foi bom não ter passado, porque iria ter me dado talvez uma crise de ansiedade enorme.
Tiago: É, o meu caso foi um pouco parecido com o da Yara, sobretudo pelo fato de eu ter estudado em IF, em IF você escolhe um curso antes, então, eu entrei no IF com quatorze, escolhi área de TI, não dei certo na área de TI e acabei escolhendo depois o jornalismo que era algo que eu já tinha um certo interesse desde a infância, e no meu caso foi o seguinte: o ano do final do ensino médio foi exatamente o último ano que teve vestibular na UFG, que foi 2013, e aí eu nem cheguei a fazer o vestibular da UFG porque eu tava muito cansado na época do ensino médio e eu falei “vou ficar um ano parado, vou fazer outras coisas e vou fazer um cursinho e focar”. E aí eu só fiz o ENEM depois e entrei direto, então o vestibular foi um negócio que meio que passou batido na minha vida depois e, sei lá, isso acabou ficando postergado um pouco pra idade adulta, porque quando eu fiz o ENEM que eu entrei na universidade eu já tinha dezoito, quase dezenove.
Paulo: Eu entrei logo seguido do ensino médio, só que eu fui fazer mecatrônica porque eu queria trabalhar com robôs, eu gostava de robôs. Apesar que eu também vontade de fazer engenharia aeronáutica, mas eu sabia que num só tinha no ITA e eu não ia conseguir passar lá, então pensei “ah, talvez conseguisse algum trabalho nessa área”, mas só depois de formado mesmo eu peguei gosto das matérias de computação e só depois que eu pivotei pra TI. Mas isso depois de formado já.
Thais: Ah, uma coisa que aconteceu na minha adolescência também foi que no meio dessa história aí de astronomia eu fui pra Índia, na Olimpíada de Astronomia, e aí tudo pago pela escola, uma maravilha nesse aspecto, e aí na época o meu inglês ainda era uma desgraça, então eu fiquei muito chateada no sentido de não conseguir aproveitar tão bem, não consegui falar o idioma pra entender melhor como as outras pessoas de outros países pensavam, eu acho que é o tipo de experiência que é bem interessante, eu sei que não tá relacionado diretamente à adolescência, isso aconteceu na minha, no caso, mas eu acho que a gente procurar falar com pessoas de outros países pra entender contextos diferentes é sempre muito válido.
Tiago: Toda vez quando você fala de outro país, sempre tem muitas especulações, às vezes até algumas coisas bem preconceituosas, é verdade que a água da Índia é insalubre a ponto que você ao viajar pra lá, você tem que levar água? Olha, a gente não levou nossa água não, mas lá na Índia o pessoal, os indianos que nos receberam, falavam muito especificamente pra gente não tomar água de nenhum lugar, eles davam garrafinhas pra gente de água fechadas e falavam “ó, cê pode pegar quantas garrafinhas aqui você quiser levar, mas não tome água por aí.” Então, eu me lembro bastante dessa instrução. Eu lembro até que eu trouxe pro Brasil, acho que até hoje eu tenho guardado lá na casa da minha mãe a garrafinha da água da Índia. E uma coisa que eu acho interessante, na época eu fiquei muito irritada com a viagem, até porque as outras olimpíadas, os outros anos tinham sido na Rússia, outros países que eu achava mais interessantes. Mas uma coisa da Índia que me marcou e eu só reparei muitos anos depois, é que o pessoal cuidava muito da gente, assim, eles se preocupavam muito que a gente ficasse bem e que a gente tivesse o que a gente queria. Então, uma coisa que aconteceu uma vez, é que eu gostava muito de tomar leite gelado com Sucrilhos de manhã. E lá o leite era fervido na hora, ele não era pasteurizado que nem o nosso. Então, não dava pra eles terem o leite gelado geralmente. Eles pegavam o leite, ferviam e serviam pra gente. E aí, eu falei, fiquei um tempão explicando pro moço que eu queria leite gelado e ele não tava entendendo. Aí, ele falou, ah, beleza, agora entendi. E sumiu e não voltava nunca e falou que ia trazer o tal do leite gelado. Ele tinha colocado o leite no freezer pra trazer pra mim, eles chegaram a esse ponto, pelo menos lá onde eu estava o pessoal chegou a esse ponto de ter todo esse trabalho que foi, mas ele não me avisou, né? Porque eu tava atrasada inclusive, então não dava pra ficar esperando, mas eu hoje em dia acho muito, muito legal olhar pra trás e ver como eles se preocupavam em fazer as coisas pra gente, apesar de eu ter achado a comida horrível.
Tiago: (Risos)
Thais: Nossa, sério, eu emagreci muito, muito lá. Eu não lembro quanto tempo a gente ficou, mas não foi tanto assim. E eu praticamente não comia nada, fui comendo cada vez menos, teve alguns dias que eu me alimentava, tipo, de chocolate, que eu tinha trazido do Brasil e de manhã eu comia torrada com manteiga só e passava o resto do dia sem comer. Então, teve um dia que eu cheguei ao ponto de colocar comida na boca, eu não aguentei engolir, eu tive que colocar de volta no prato, o tipo de coisa que eu não faria em uma situação normal, mas era tipo “não, eu não aguento, se eu engolir isso eu vou vomitar tudo então eu acho melhor colocar de volta”, então foi bem difícil nesse aspecto.
Tiago: OK, então agora eu não tenho vontade de conhecer a Índia, obrigado.
(Risos)
Thais: É, leva uns marmitex aí. (Risos)
Yara: Uma pergunta, vocês sentem saudade da época da adolescência?
Paulo: Eu sinto saudade de não ter conta pra pagar. (Risos)
Thais: Eu fui muito feliz nesses anos aí de estudar astronomia, então foram anos em que eu me sentia extremamente satisfeita comigo mesma. Pra mim, naquela época, o que era importante eram as notas. Então, pra mim eu estava fazendo exatamente o que eu achava que devia ser feito, porque as minhas notas eram muito boas. Hoje em dia, por exemplo, que eu já enxergo de uma forma diferente, eu já não acho que nota seja uma coisa tão importante e que elas não necessariamente vão espelhar os seus conhecimentos ou sejam resultados assim tão importantes, tão significativos, hoje eu já tenho mais dificuldade de me sentir satisfeita com alguma coisa que eu faço. Então, naquela época eu posso dizer que eu tinha essa satisfação quase plena, não plena, porque eu não consegui atingir todos os resultados que eu queria ter tido.
Tiago: No meu caso, uma coisa muito interessante sobre essa sua pergunta, que eu achei muito boa, é que eu sou uma pessoa no geral extremamente nostálgica, quem convive comigo mais pessoalmente sabe que eu gosto de muita intensidade sobre períodos, então músicas que me fazem lembrar uma época vão me fazer pensar, de forma que tem coisa que aconteceu comigo em 2018 que já ecoa com uma certa saudade, só que de adolescência como um período geral, pensando no processo geral, eu não sinto saudade, porque não foi uma época muito boa, no geral foi uma época muito negativa em termos acadêmicos, porque minhas notas despencaram, na minha turma todo mundo era melhor do que eu. Então, assim, foi um período de muita crise, muita coisa negativa. Então, no fim das contas, eu acho que eu só comecei a viver de verdade depois que eu atingi a vida adulta.
Paulo: Ah, pra mim uma coisa assim que eu acho bem nostálgica é a parte da música, principalmente porque foi aquela época que eu de fato comecei a me interessar por música e a música começou a fazer parte da minha vida, e eu também sou bem nostálgico com a internet na adolescência e depois no início da faculdade também, que foi um mundo completamente novo e que pelo menos eu me adaptei muito bem à faculdade, na verdade é num lugar que antes, no ensino médio, a regra era ser medíocre e na faculdade eu me sentia desafiado a ser melhor e eu e não era taxado de aberração por ser o melhor.
Thais: Engraçado que pra mim foi o oposto. Na escola, eu ia muito bem e na faculdade eu fui muito mal. Então, foram outros extremos pelos quais eu passei.
Tiago: Nossa, é engraçado que no ensino superior eu tive um sucesso acadêmico muito grande, e isso também diz um pouco por causa da escolha de áreas, porque no início eu tinha uma empolgação muito grande com TI, mas eu comecei a me dar muito mal em programação e, principalmente, matérias relacionadas às exatas, que era algo que eu não tinha dificuldade na época do ensino fundamental, mas do ensino médio pra frente foi um desastre. E aí, quando eu entrei na graduação, eu tive, sim, alguns problemas, até pensei em trancar jornalismo pra ir pra engenharia, que é um período bastante obscuro do início da minha graduação que eu acho que eu nunca tinha contado, mas depois eu deslanchei muito bem no jornalismo, consegui criar uma certa individualidade dentro de um curso que tudo é feito de forma muito coletiva e, sei lá, hoje eu acho que eu consegui, a diferença do ensino médio pra graduação, é que eu consegui encontrar o meu perfil, o meu lugar. Então quando eu encontrei a área de pesquisa, que é um negócio que eu dou muito certo, que é uma atividade bastante analítica e bem particular, aí as coisas começaram a andar um pouco mais. Talvez se eu tivesse sido uma pessoa um pouco mais madura durante o ensino médio, por isso que eu não olho essa época com tanta saudade, talvez eu teria tido um desempenho muito melhor e um aproveitamento social também, porque a minha turma era muito diversa e tinha pessoas sensacionais.
Thais: É, eu já acredito que se eu tivesse feito a escolha do curso com base na minha vontade mesmo, que naquela época teria sido ir pra astronomia, tinham criado o curso de astronomia da USP no ano anterior, se eu não me engano, acho que foi em 2008, não, não sei, se não foi no ano anterior foi no outro, mas era um curso recente e eu tinha muita vontade de ir pra lá, mas eu acabei sendo um pouco guiada pela ideia da minha mãe de, ah, mas e aí, no que que você vai trabalhar? Como que é o mercado de trabalho nisso? E claro que isso é relevante, eu acho que isso tem que ser levado em consideração, mas especialmente pra gente que é aspie, que tem lá os nossos hiperfocos e que tem uma dificuldade imensa de estudar uma coisa que não é do nosso interesse, foi uma escolha ruim eu ter seguido no final esse conselho, no final foi engraçado que hoje eu olho pra trás e penso assim de muitas escolhas que eu fiz foram me baseando no seguinte: ah, todo mundo fala que os adolescentes são rebeldes e não seguem os conselhos dos seus pais. Então, como geralmente isso faz com que eles se deem mal, eu vou seguir os conselhos da minha mãe. E assim, às vezes, as coisas dão certo quando a gente segue conselhos e às vezes, não. Se você ignorar o que as pessoas falam, às vezes vai dar certo, às vezes vai dar errado. Eu acho que é muito importante a gente parar e avaliar muito bem as coisas. E às vezes, a gente comete essas cabeçadas aí, mas não tem jeito, a gente não tem como saber como vai ser o futuro, a gente tem que testar e às vezes vai se dar mal mesmo e a gente nunca vai saber como teria sido se fosse diferente, mas eu ainda tenho essa essa vontade de um dia voltar pra essa área de algum modo. Acho que a dificuldade da minha graduação se baseou muito nisso. E aí depois, sobre sentir saudade ou não da adolescência, apesar da minha satisfação toda que eu tinha naquela época, eu acho importante também ressaltar que a vida adulta traz pra gente autonomia e pra mim pelo menos eu até enxergo isso como aspie, autonomia é uma coisa muito importante eu poder ter minha casa sozinha e cuidar das minhas coisas, é muito bom.
Paulo: Oh, Thais, até uma sugestão pra você. é que se você quiser um dia voltar pra área de astronomia você pode começar pela cívica, né?
Thais: Então, era o mais comum, né? Porque antigamente, pelo menos na USP, não tinha o curso de astronomia, o pessoal fazia física e aí fazia, eu não sei se é extensão que chamava ou… acho que era especialização em astronomia, e aí depois fizeram o curso de astronomia em si. Mas aí eu teria que pensar se eu faria isso para trabalhar na área, e para trabalhar com o quê? Porque eu não iria querer ser professora, e é uma área que é basicamente formada por pesquisadores e professores. Eu já não gosto dessa interação.
Tiago: E também de certa forma quando você chega a esse estágio da vida em que você está, você tem que fazer escolhas do ponto de vista financeiro. Porque pra você fazer um curso como esse, você precisa de tempo e pra você ter tempo precisa trabalhar pra você poder equilibrar as contas. Então, inclusive essa é a principal crise que eu tenho com relação ao mestrado, porque era algo que eu já devia ter entrado, mas como é que eu vou fazer mestrado sem trabalhar?
Paulo: Você pode fazer por bolsa, eu fiz mestrado trabalhando, e é difícil, mas não me arrependo.
Thais: É, a minha antiga chefe, quando eu era estagiária de engenharia, fazia mestrado também e trabalhava. Realmente é difícil, é bem puxado, mas dá, dependendo de como é sua vida, do que mais você faz, porque tem isso às vezes, a pessoa “só trabalha e faz mestrado”, claro que não é um só, mas se você tem várias outras atividades que às vezes fica pesado. Então a gente sempre tem que fazer as coisas assim, pensando, planejando pra dar certo. Acho que é normal, né? Nós somos pessoas que em geral se planejam muito pras coisas.