Introvertendo 260 – Extrovertendo

O episódio mais difícil de ser feito, mas que é o destino de tudo que existe vida. Neste episódio, nossos podcasters relembram o que mudou ao longo de 5 anos de Introvertendo, como imaginam o futuro e outros detalhes de como ficarão as redes e materiais bônus do podcast, e com a participação ilustre de nossa ex-integrante Yara Delgado. Participam: Carol Cardoso, Luca Nolasco, Michael Ulian, Paulo Alarcón, Thaís Mösken, Tiago Abreu e Willian Chimura. Arte: Vin Lima. 

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Agradecemos a todas as pessoas que apoiaram o Introvertendo no PicPay ou no Padrim ao longo desses 5 anos: Nossos patrões finais: Caio Sabadin, Claudia Barcellos, Francisco Paiva Junior, Gerson Souza, Luanda Queiroz, Luiz Anisio Vieira Batitucci, Marcelo Venturi, Marcelo Vitoriano, Nayara Alves, Otavio Pontes, Priscila Preard Andrade Maciel, Tito Aureliano, Vanessa Maciel Zeitouni e outras pessoas que optam por manter seus nomes privados.

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Transcrição do episódio

Tiago: Quando a sessão de terapia chegava ao fim, nos levantávamos das nossas cadeiras e íamos em direção ao corredor do Saudavelmente. Cada um fazia seu trajeto de retorno. Uns pegavam ônibus, outros andavam de carro e tinham aqueles que, como eu, faziam alguma disciplina antes de ir para casa. Era curioso. Dentro da terapia era identificação total, várias histórias e conversas que fora dela não existiam. A Tatiana, que era a terapeuta, tinha uma expectativa de que laços fossem formados fora  da UFG. E esse laço, mais tarde, se chamou Introvertendo.

(Abertura)

Luca: O que mudou na sua vida desde que você passou a gravar o Introvertendo?

Paulo: Eu, inclusive, este mês é o mês da minha primeira participação no podcast no episódio sobre mercado de trabalho.

Willian: Eu consigo me lembrar das primeiras participações, a primeira call que eu fiz com o Tiago. Na época eu não iniciei o projeto, juntamente ao Tiago, não tive esse prazer e essa honra.

Carol: E a sensação que eu tinha era de estar numa roda de amigos, falando de assuntos que a gente tinha em comum e isso era uma coisa relativamente rara para mim nesse momento.

Paulo: E a gravação mais difícil que eu já fiz, porque aí já se vão 5 anos de podcast e muita coisa aconteceu nesse meio tempo.

Michael: Tanta coisa mudou nesses últimos 5 anos…

Thaís: O que mudou na minha vida desde que eu passei a gravar o Introvertendo? Bom, quando eu comecei a gravar o podcast, tinha acabado de começar minha carreira, tinha também acabado de me mudar para um estado longe de todo mundo, de tudo que eu conhecia. Estava em um local novo, não sabia absolutamente nada das redondezas, não conhecia absolutamente ninguém por perto que pudesse me ajudar ou me dar indicações do que fazer, de onde ir. Eu estava em uma fase de várias mudanças acontecendo de forma um pouco caótica. E eu estava também em um momento de confiar muito pouco na qualidade do meu trabalho, no que eu fazia, principalmente por conta do período ruim da faculdade e do desemprego, como eu já comentei em alguns episódios.

Eu não gostava de praia, não gostava de sol e apesar disso tudo, eu estava bem mais feliz do que antes na época da faculdade e do período desemprego. Então esse foi o momento do meu início do podcast.

Luca: Bom, eu era menor de idade quando comecei a gravar, eu ainda era muito jovem.

Michael: Logo depois que a gente começou a Introvertendo, a minha vida acabou e eu não tenho resolvido isso até então. Indo um pouco mais a fundo, porém, bem, eu fui de estar em Goiânia, fazendo Geologia lá, exatamente onde eu queria que minha vida estivesse do jeito que eu estava fazendo para… E apesar de eu voltar de Paraná, ter perdido a faculdade, ter perdido o rumo completo da minha vida, os próximos anos, o resto de 2018, a maior parte de 2019, tentando me reestruturar, tentando botar o pé no chão para poder voltar com as coisas e falhando miseravelmente (risos) a maior parte do tempo.

No finalzinho de 2022, eu finalmente comecei a botar as coisas no eixo. E, eu admito, tem sido bem mais lento do que eu estava esperando, mas as coisas estão indo. Um passo de cada vez, eu tenho restabelecido, pois eu posso dizer que eu finalmente estou voltando, talvez seja uma palavra forte, mas estou voltando a ter as ambições que eu sempre tive, as ambições que eu tinha antigamente. Minha vida, então, nesses cinco anos de Introvertendo, teve baixos, baixos, baixíssimos, depressões, fossas, mas pelo menos terminou com um pouco de esperança no fundo, não é mesmo?

Paulo: Comecei a me entender como autista junto com o podcast. Lá em 2018, quando eu tinha começado, eu recebi o diagnóstico de autismo, de Síndrome de Asperger, que foi o primeiro diagnóstico que eu tive.

Willian: Me lembrando de todo esse tempo, o que na verdade é muito tempo comparado, pensando na escala de produção de conteúdo na internet, com certeza é muito tempo, mas pensando o que muda, o que mudou isso na minha vida, e eu vejo claramente que o Introvertendo me acompanhou principalmente na formação do Willian Chimura como um ativista, e também, claro, como um produtor de conteúdo.

Carol: Eu não sei nem como começar a dizer o que mudou na minha vida desde que o podcast começou, desde que eu comecei a participar. Eu posso dizer só que talvez o Introvertendo seja o projeto do qual eu mais me orgulho.

Luca: Se não fosse o Introvertendo, provavelmente me contentaria com um diagnóstico de autismo e pronto. Talvez nem buscaria entender melhor o que é o autismo.

Thaís: Eu conheci várias pessoas autistas nesse período, eu comecei a atuar de verdade contra o meu próprio preconceito em relação a várias coisas e a várias pessoas.

Willian: Mas principalmente eu vejo como foi importante o Introvertendo nessa minha empreitada como ativista, porque o Introvertendo é um projeto, e eu me arrisco dizer aqui que não existia e talvez vou me arriscar a dizer que não existe até hoje um projeto que seja tão abrangente quanto foi o Introvertendo. No sentido de trazer diversas perspectivas, diversas ideias diferentes, de bolhas diferentes, de sub-bolhas na verdade, diferentes dessa grande bolha que chamamos de comunidade do autismo.

Luca: Nós como coletivo buscamos compreender não só as questões do neurodesenvolvimento que englobam o autismo como toda gama de deficiências.

Willian: Como o Introvertendo foi acompanhando esses desdobramentos, essas discussões na comunidade, então certamente é uma sensação de dever cumprido neste projeto.

Carol: Por trás dos episódios prontos, existe muita dedicação, muito cuidado, principalmente do Tiago. Eu acho que o Tiago fez tanta coisa na minha vida mudar, porque eu aprendi tanto com ele. Eu acho que esse jeito metódico de fazer as coisas, essa atenção aos detalhes, a rigorosidade que não é grosseira, às vezes é grosseira sim (risos). Mas eu entendo de onde isso parte, eu acho que vem de muito cuidado com tudo que ele faz. E às vezes eu ficava observando esse jeito dele de lidar com o Introvertendo e eu percebia que apesar dessas dificuldades que a gente tem de comunicação e de tudo, todo o resto… Olha, eu não quero dizer isso de uma forma de superação e tal, mas eu acho que o Tiago me ajudou a acreditar nas minhas habilidades, porque ele acreditava em mim também. E era a primeira vez que eu me expunha para o mundo. Eu sempre fui muito tímida, muito medrosa e de repente eu tive um lugar seguro para falar o que eu pensava do mundo.

Luca: Tendo contato com todas essas pessoas, com todas essas particularidades, eu acho que foi importantíssimo para mim, foi o que mais mudou. Essa compreensão maior do mundo, essa compreensão do que envolve ser uma pessoa com deficiência, que não é só o meu microcosmo, é de todas as pessoas.

Paulo: Quando eu tive esse diagnóstico foi um período muito difícil para compreender e me aceitar como autista. Nesse meio tempo eu aprendi muito estando aqui com o podcast.

Carol: Nessa época eu tinha passado por um período depressivo muito pesado e eu estava começando a me recompor, eu estava começando a acreditar de novo em mim. E o Introvertendo era a coisa que eu mais ansiava, era a coisa que era a melhor parte do meu dia, principalmente porque a gente começou a gravar mais durante a pandemia. Foi um período de grande solidão coletiva, que a gente se viu diante de um cenário que era inimaginável, qualquer momento, qualquer pessoa que falasse isso anos antes da pandemia a pessoa iria achar que era loucura, que isso nunca seria possível.

Luca: Com certeza foi o que mais mudou para mim.

Paulo: Eu tenho conhecido a vivência de muitas pessoas, a nossa troca de experiências foi fundamental para mim, eu acho. E eu vejo que essas gravações de cada um dos episódios foi quase como uma terapia em grupo. E foi dessa forma que o podcast mudou minha vida.

Luca: Eu tenho certeza que é até muito bobo, parece aquelas histórias de desenho animado falar que o Introvertendo são os amigos que fizemos no caminho. Mas nesse caso eu realmente acho, são os amigos que fizemos no caminho porque são as histórias que ouvimos no caminho, são as pessoas que conhecemos, são todos os cenários que fomos apresentados e que apresentamos aos ouvintes. Então para mim isso foi o que mais mudou. Eu não teria a menor dimensão de tudo isso caso não tivesse participado desse projeto.

Thaís: Eu mudei de casa, mudei de casa sozinha duas vezes, eu nunca tinha mudado de casa antes de mudar de estado. Então eu só tinha feito uma mudança com a ajuda da minha mãe, foi completamente diferente. As outras duas mudanças eu estava sozinha.

Carol: E o Introvertendo foi a coisa que me acompanhou, foi o senso de estabilidade que eu tive quando eu tive que mudar de cidade. Então eu sabia que mesmo mudando de cidade, mesmo sendo uma coisa totalmente diferente para mim, um cenário totalmente diferente, esse choque cultural de ter saído da região norte e mudado para o sudeste, eu tinha uma coisa que era segura, que era o Introvertendo.

Thaís: Eu estou com uma vida muito mais estável, estou organizando uma viagem para o Japão e jogo e mestro RPG quase todos os dias, estudo RPG quase todos os dias, certamente penso sobre RPG todos os dias, várias vezes, ao dia. E uso inclusive o RPG para tentar entender um pouco melhor as pessoas, como elas se divertem, como eu posso criar um momento legal para elas e para mim. Uso isso para me aproximar das pessoas, para criar alguns laços, digamos assim, e tem funcionado dentro do seu nicho.

Paulo: Eu aprendi tanto até em que momento eu tenho que me adequar à sociedade, mas também a impor que as pessoas aceitem do jeito que eu sou. Durante quase toda a minha vida, eu tentei me adequar ao que as pessoas queriam, ao que as pessoas consideravam normal. E eu não conseguia, por mais que eu tentasse. Tive dificuldades para fazer amigos na escola, já compartilhei isso em vários episódios.

Carol: E por eu conseguir falar dessas coisas, gravar áudios, eu comecei a fazer isso também na vida real. E com isso eu passei a acreditar que eu conseguia ser essa pessoa que fala. Eu participei de algumas palestras, alguns eventos e algumas que foram remuneradas, algo que eu nunca imaginei que fosse possível. E hoje toda vez que eu vou falar de experiência profissional, eu nunca deixo de falar do Introvertendo. Mas então, entre o tempo que eu comecei a gravar até agora, teve muita coisa que mudou, mas não tanto assim. Eu acho que eu ainda sou um pouco da mesma pessoa.

Michael: As coisas realmente não mudaram. Pessoalmente, eu continuo realmente sendo a mesma pessoa.

Carol: Mas com certeza eu fiz mais amigos. E antes eu ficava triste por não ter com quem sair. E hoje eu preciso achar espaço na minha agenda para dar conta de todo mundo. E eu mudei de cidade duas vezes e isso me ajudou a me cuidar melhor, a ter mais autonomia. Eu sinto que ter esse senso de uma comunidade que também sente e passa pelas mesmas coisas, vencer os mesmos desafios do capacitismo, me faz entender que eu não estou sozinha.

Tiago: Esses últimos 5 anos para mim foram a continuação de um processo muito maior que começou em 2013, que foi o ano em que eu ouvi pela primeira vez falar sobre autismo. E desde que eu ouvi falar sobre o autismo, a minha vida mudou para melhor, quase sempre. E quando o Introvertendo surgiu em maio de 2018, eu estava exatamente na metade desse processo que hoje já completam 10 anos. Naquela época eu estava lidando com um turbilhão de emoções, eu estava perto do meu TCC, próximo de me formar, já tinha um círculo de amigos, incluindo o pessoal do podcast, já trabalhava muito tempo na internet mas queria uma coisa nova, estava pela primeira vez saindo de forma séria com algumas pessoas.

E tudo que veio depois na minha vida ao longo desses 5 anos, esteve intrincado de alguma forma ou outra com o Introvertendo. Todos os sucessos, todos os fracassos. E eu posso fazer uma lista muito rápida aqui. Todas as minhas conquistas profissionais, os altos e baixos dos meus dois relacionamentos, a minha mudança de Goiás para o Rio Grande do Sul e agora, como se eu estivesse voltando para o começo de volta a Goiás, minha pesquisa do mestrado, meu segundo livro e agora o meu projeto de doutorado, em tudo o Introvertendo e autismo está.

Eu acho que o Tiago, lá de 2018, era uma pessoa muito curiosa, com muita vontade, com muita garra mas ao mesmo tempo muito cansado, mas que tinha uma ideia, acreditava nisso e que teve o auxílio de pessoas que ajudaram a criar e depois pessoas para dar continuidade a essa ideia. Eu sou muito grato a todo mundo que fez o podcast junto comigo e eu continuei o mesmo em certa medida, ao mesmo tempo que com outros contornos. Eu acho que eu continuo cansado e curioso, só que o meu cansaço agora é um pouco diferente. É um cansaço que tem a ver com realização, é um cansaço que já vem com os primeiros cabelos brancos, apesar de ter sido apenas 5 anos.

Do ano passado para cá eu lidei com muitas crises pessoais sobre a minha vida, muitas vitórias ao mesmo tempo com uma sensação muito grande de esgotamento e o Introvertendo também estava relacionado a isso. Eu abri mão de muita coisa da minha vida pelo podcast e isso juntando com a pandemia eu me dediquei de uma forma intensa a esse projeto. Não me arrependo. E eu estive muito mal nesse primeiro semestre de 2023 e agora desde que veio esse anúncio do fim do Introvertendo para cá, a minha vida começou a dar uma melhorada, voltei a andar em certa medida.

Eu não tenho que reclamar com esses últimos 5 anos que representaram uma parte da faixa dos 20 e poucos anos meus. Eu acho que se o Tiago, quando era adolescente, olhasse tudo que eu fiz junto com o pessoal aqui do Introvertendo e fora dessa dimensão da internet, estaria feliz, estaria orgulhoso e eu estou feliz com a minha vida.

(Transição)

Yara: Olá para você, aqui é a Yara e espero que esteja tudo bem com vocês que estão nos ouvindo. Privilégio em voltar aqui ao Introvertendo para fazer parte desse momento em que nosso querido podcast está preparando seus últimos episódios. Caramba, eu confesso que não esperava por essa não. Mas eu sei também, é trabalhoso fazer parte dessa equipe com tantas ideias, tantos compromissos e novos voos vão surgindo aí. E a gente tem que administrar tudo ao mesmo tempo, então eu entendo. Eu entendo.

E algumas pessoas podem se lembrar de mim, outras não. Então só para contextualizar, eu sou Yara Delgado, autista, recém diagnosticada TDAH também, olha só, às vezes a gente tem umas surpresas aí comorbidades que estavam lá e a gente não enxergava. E continuo sendo a recordista do Introvertendo a super mãe, porque até agora ninguém teve coragem de ter filhos como eu. E para bater o meu recorde vai ter que ter seis filhos, porque cinco eu já tenho. Então acho que a galera não vai topar os desafios não.

E bom, eu comecei no Introvertendo em março de 2019, no episódio 39 sobre mulheres autistas, olha só hein, comecei bem. E meu último episódio foi o EP de número 176, Aventuras Autistas na Cozinha. E sim, eu continuo sendo desastrada na cozinha, esquecendo de colocar sal no arroz e deixando alguma coisa queimar, mas eu melhorei um tanto, né? Melhorei um tanto. A ritalina que está dando efeito, meu TDAH é bem louco, mas eu estou aprendendo a lidar com ele. E diagnóstico tardio é sempre complicado, né?  Para não falar um palavrão.

E bom, quem se lembra sabe que eu acabei precisando sair do Introvertendo por problemas de saúde. Foi um momento bem tenso para mim, foi difícil. Eu fiquei doente por vários meses, acho que mais de um ano na verdade. E aí finalmente acharam o problema que na real era uma pansinusite, porque uma sinusite só não bastava para mim, tinha que ser uma pansinusite. E aí, olha, foram vários altos e baixos, e chorar pra caramba com o pessoal que foi top também para me ajudar a sair dessa. Mas hoje está tudo bem, meu marido foi mágico nesse processo todo.

E aí agora, saúde está legal, alegria alegria, cuidando da filharada, que são cinco lindos de viver. E eu estou curtindo o maridão lindão também, meu companheirão, sempre comigo pra gente jogar Magic: the Gathering e pra gente enlouquecer com mil coisas pra dar conta. E a novidade, bom, eu arrumei uma coisa mais pra dar conta, que é minha pós-graduação em neuropsicopedagogia, que é um lance bem legal, eu estou curtindo pra caramba. Acho que eu estou naquelas fases ótimas, sabe, em que a gente quer fazer um monte de coisas e… Quem diria, né, que eu estaria nessa minha melhor fase aos 40. É, galera, eu entrei nos 40. Que loucura. Uma hora a gente chega lá, né? E é isso aí.

Caramba, Introvertendo pra mim foi uma coisa especial. Sem palavras pra agradecer essa galera, essa equipe sempre é alto astral. Eu desejo sucesso pra todos esses podcasters, artistas que trazem temas que vão de comédia à tragédias, trazendo informação, opinião e fazendo o nosso mundo atípico girar mais legal, né? Sucesso pra todos do Introvertendo e sucesso pra você também que está nos ouvindo. É isso, galera. Fui!

(Transição)

Thaís: Vamos lá. (Respiro) Pergunta número 2. Como eu acho que vai estar a minha vida daqui a 5 anos?

Paulo: Esse é o tipo de pergunta que eu não gosto, sinceramente, porque nos últimos 5 anos muita coisa mudou. Alguns planos não saíram como eu esperava, outros saíram melhores do que eu esperava. No fim das contas é difícil prever o futuro.

Tiago: Eu acho que estou num momento muito importante de definição de algumas coisas da minha vida, principalmente relacionadas às relações, que foi talvez o aspecto da minha vida que eu mais negligenciei ao longo desses anos. Eu tive relacionamentos muito importantes pra mim e eu acho que eu não me dediquei a eles da forma como eu gostaria. Então, o que eu tenho feito agora e que eu acho que vai se refletir pros próximos anos é que eu tenho tentado cuidar um pouco mais de mim, cuidando da minha saúde física, principalmente, conhecendo mais pessoas, estando de volta mais próximo aos meus amigos, fazendo aquilo que a pandemia e o excesso de trabalho tirou de mim. Eu espero que daqui a 5 anos eu esteja com isso muito mais bem desenvolvido, mais amadurecido, mais velho com as pessoas com quem eu tenho andado na vida.

Luca: Como você acha que estará sua vida em 5 anos?

Thaís: Essa é uma pergunta bem comum entrevista de emprego pra quem já fez entrevista de emprego e eu nunca gostei dela, porque tem muita coisa que pode mudar nesse período, tem muitas variáveis. Em 5 anos tem muitas coisas que podem acontecer que eu nem imagino, tanto que se eu fosse dizer há 5 anos como eu estaria hoje eu certamente teria errado muito em tudo.

Paulo: Mas uma coisa que hoje já está nos meus planos junto com a minha esposa, a Bella, é em breve ter um filho. Eu acredito que assim que eu conseguir um tempo melhor, eu me atolar menos de coisas, eu devo começar um outro projeto em podcast, porque eu amo podcast, mas não exatamente na linha do Introvertendo, mas eventualmente terão seus crossovers aí.

Michael: Daqui a 5 anos a única coisa que vem na minha mente é que eu já esteja no meu mestrado. Eu realmente espero que nesses 5 anos eu consiga voltar para faculdade, que eu consiga terminar a graduação o mais rápido possível, que eu consiga me estabelecer financeiramente, que eu consiga voltar a ter minha independência, eu poder voltar a morar sozinho. E dessa vez eu não tenha problema de vulnerabilidade socioeconômica, que realmente eu consiga me sustentar de uma forma de que eu fique tranquilo, que daqui a 5 anos eu já tenho terminado essa graduação e eu já tenho dado entrada no processo para pleitear uma vaga de mestrado, e que com muita sorte eu já esteja trabalhando na minha pesquisa de mestrado.

Carol: Daqui a 5 anos eu imagino que a minha vida passe por outra grande mudança. Eu vim para cá para o Sudeste para estudar, eu estou fazendo mestrado e eu pretendo depois fazer o doutorado e depois disso eu imagino voltar para minha região, talvez trabalhar dando aula em alguma universidade da região norte. E agora que eu já vi como ter certa autonomia, morar sozinha, eu acho que eu estou sentindo falta de morar mais perto da minha família. Isso é algo muito importante para mim, eu sinto muita falta da convivência familiar, de ter uma comunidade e também já estou cansada de ter que ficar me mudando. E claro que muita coisa pode mudar, eu posso mudar de ideia, mas eu tenho em mim hoje esse grande desejo de retorno para minha terra. Eu espero que daqui a 5 anos isso já tenha acontecido.

Tiago: Profissionalmente eu acho que se eu seguir a linha do que eu já tenho seguido nesses últimos 5 anos já vai estar bom demais. Eu quero muito estar com doutorado completo, continuando a contribuir na comunidade do autismo porque eu tenho certeza que isso eu quero continuar fazendo só que em outras frentes, criando outras coisas, outros projetos, palestrando, viajando, escrevendo artigos, que é algo que eu também já tenho voltado a fazer e eu não estava dando conta. E eu quero ter uma vida mais tranquila também, porque esses últimos anos foram muito intensos, de muito trabalho, muita sobrecarga e eu tenho aprendido, ou pelo menos tentado aprender a andar de forma mais devagar. Eu espero que o Tiago daqui a 5 anos esteja nesse ponto da vida.

Thaís: Já que hoje eu estou em um momento mais estável da minha vida, eu espero que daqui a 5 anos estar planejando a compra de um apartamento maior do que o atual. Estou indo morar com o meu namorado agora, mas a gente optou por ir para o apartamento dele, apesar de ser pequeno, porque isso aí é muito caro comprar um apartamento do tamanho que eu gostaria que seria um apartamento razoavelmente maior, que se for só um pouquinho maior, não faz sentido a gente gastar um monte de dinheiro para ganhar 10 metros quadrados. Pelas nossas estimativas, até lá a gente deve ter dinheiro para isso, tomar que isso se mantenha verdade.

Eu espero estar em um emprego em que o meu foco seja a parte técnica do sistema, então eu quero estar tanto executando quanto ensinando outras pessoas a lidarem com o sistema em específico. E eu quero até lá ver os resultados de ter compartilhado o meu conhecimento com as pessoas, então pessoas que estão hoje aprendendo coisas comigo, pessoas que eu estou de certa forma treinando hoje, eu espero que até lá elas já tenham se desenvolvido para ter uma autonomia em trabalhar nas coisas que eu ensino atualmente e que elas estejam realmente conseguindo se desenvolver, às vezes treinando outras pessoas também.

Paulo: Eu planejo também em breve montar uma escola de programação para ajudar aqui crianças da comunidade, do bairro onde eu moro.

Tiago: E a minha expectativa é que o Tiago de 2028 esteja tão feliz e tão satisfeito com o êxito nas coisas como eu me sinto nesse momento. Porque eu sinto que eu fiz muito mais do que talvez eu daria conta ou que eu imaginaria que eu daria conta. Fiz coisas incríveis com o pessoal que marcaram a vida de outras pessoas que eu não faço nem ideia. E bem, para quem está na vida acadêmica vindo de uma família que não tem muito dinheiro, que teve que ser autônomo financeiramente muito cedo acrescentando o fato de ser uma pessoa com deficiência que faz parte de outras minorias, chegar ao doutorado com menos de 30 anos é uma baita de uma vitória.

Michael: Quando esse ano de 23, 24, 25, 26, 27, 2028 chegar, eu finalmente possa ser o cientista que eu sempre quis ser. Um dia se esse magnus opus da minha vida de estar lá.

Thaís: Espero também ter aprendido a lidar melhor com algumas situações um pouco mais complexas em relação às pessoas. Então agora a pouca gente estava falando dos sistemas, que é fácil, agora tem as pessoas que são complicadas. Então por exemplo ter algumas conversas mais difíceis em que eu consigo expressar os meus pontos de vista sem ser agressiva e também sem ser soft demais eu não sei hoje em dia calibrar esse tipo de coisa. Eu tenho muita dificuldade em ter percepção sobre isso. Eu tenho tentado treinar um pouco. De novo, o RPG me ajuda um pouco nisso. Mas para mim é algo difícil e eu espero daqui a cinco anos pelo menos conseguir fazer isso razoavelmente melhor do que hoje.

Tiago: E eu acho que isso não vai se cumprir, é mais um sonho. Mas eu gostaria muito que as coisas que me doeram a vida inteira e que ainda doem deixem de doer. Eu acho que isso é apenas um sonho não realizável porque acho que elas vão doer o resto da vida. Mas eu acho que a gente pode sonhar, não é verdade?

Paulo: Esses são os meus planos para o futuro, espero que daqui a cinco anos esteja tudo bem estabelecido e a gente continue a crescer.

Luca: Eu não tenho exatamente a imaginação mais robusta do mundo (risos). Nunca conseguiria conceber tudo o que ocorreu até agora cinco anos atrás no projeto do Introvertendo. Também não consigo imaginar o que vai acontecer comigo em cinco anos. Mas se fosse para desejar, eu desejo muitas coisas mas o principal desejo que todo o conhecimento que eu adquiri aqui no Introvertendo nos últimos anos seja posto em prática que eu e muito provavelmente cada um dos participantes aqui possamos nos engajar em projetos diferentes e trazer todas essas experiências que a gente adquiriu para coisas nossas também, ensinar coisas, eu gosto muito disso.

Willian: E pensando o que eu quero para os próximos anos, na verdade. E aqui eu vou fazer na verdade uma ponte com um vídeo do Tiago Abreu que eu acho excepcional que foi o vídeo de conclusão falando sobre essa conclusão do Introvertendo. E não somente é excepcional no sentido de que ele explica o Introvertendo. Mas eu acho que o Tiago ali conseguiu refletir tão bem os desafios, as nuances, detalhes que quem interage superficialmente pela internet conhece a bolha do autismo pela internet muitas vezes não para para sequer pensar e nem consegue, na verdade, entender e supor que existem tantos desafios tantas complexidades e desgastes nesse processo.

E nesses últimos meses que eu tenho principalmente feito minha atuação na internet por meio do Introvertendo e não tanto pelo YouTube ou pelo Instagram eu tenho notado melhorias em relação à qualidade de vida e por consequência a minha qualidade de vida sendo melhor eu tenho mais possibilidade de ajudar outras pessoas que estão ao redor. Creio que seria mais ou menos a mesma lógica de “coloque a sua máscara primeiro em caso de despressurização e depois ajude a pessoa ao redor”.

Penso eu que para os próximos anos eu ainda continuarei nessa tendência de ter menos atuação online apesar de que o online é ótimo, o online me conectou me possibilitou diversas oportunidades, conhecer pessoas excepcionais excelentes, amigos e colegas de ativismo que com certeza vou levar para toda a vida. Mas ao mesmo tempo inevitavelmente a lógica das redes sociais e do ativismo e da internet no mínimo flerta com uma certa relação tóxica, de cobrança, uma certa até desumanização, eu diria.

Então conforme a gente vai amadurecendo, hoje eu tenho 30 anos de idade já, e a gente vai notando o que vale a pena na vida, o que realmente vale a nossa atenção, nosso esforço e etc, eu noto que existem outras formas super válidas também de se contribuir além do ativismo pela internet, além dos projetos online. Obviamente eles são excelentes, eles são de extrema importância, mas talvez para minha vida eu vejo que uma atuação mais offline faça sentido.

Luca: Mas eu não sei. Eu acho que essa é a beleza da coisa de esperar que aconteça eu não sei o que esperar mas eu tenho toda certeza que vai ser muito bom (risos), os próximos cinco anos eu tenho toda certeza que vou gostar muito.

(Transição)

Tiago: Um momento muito rápido para informar vocês sobre o futuro do Introvertendo. O podcast vai continuar online nas plataformas digitais. O nosso site também vai se manter ativo. Mas nós não vamos atualizar as nossas redes sociais, tampouco nossos endereços de e-mail. Se você enviar um e-mail para a gente a partir do dia 1º de outubro de 2023, é bem provável que esse e-mail sequer chegue para nós. E se você mandar pelas redes sociais uma mensagem também nós não poderemos nem ver nem responder. Nós vamos manter tudo no ar por um fator histórico, mas nós não vamos mais atualizar. Se você quiser fazer qualquer tipo de convite específico a integrantes do Introvertendo, procure-os de forma individual a partir das suas redes.

E se você tem acompanhado o Introvertendo nesse processo de despedida, você sabe que nós temos um pacote de 20 episódios bônus que nós vamos entregar aos fãs que patrocinaram a gente no Padrim e para pessoas que fizeram contribuições de 20 reais ou mais no PIX. Se você quiser ter acesso a esses episódios que nós estamos esperando a entregar hoje até o dia 31 de dezembro de 2024, é só você fazer um PIX de 20 reais ou mais para o e-mail Introvertendo@gmail.com. Quando você fizer essa transferência, você envia um e-mail para esse endereço avisando da sua transferência com seu endereço de e-mail que nós vamos entregar os episódios. Lembrando que essa chave que representa esse e-mail vai servir apenas para essa prestação de contas. Nós não vamos responder mensagens, e-mails por meio dos nossos canais.

E nós estamos fazendo isso porque a gente precisa nos mover para outros aspectos da vida. A tranquilidade que vocês podem ter é que os episódios que um dia vocês ouviram vocês vão poder ouvir quando vocês quiserem.

(Transição)

Luca: Número 3. O que você diria para uma pessoa que nos ouve e ficará órfão do podcast?

Paulo: Esses episódios que foram gravados até hoje vão ficar para posteridade. Você e eu inclusive vou ouvir sempre que eu precisar, sempre que eu lembrar que tem alguma coisa ali que eu estou precisando ouvir. Eu vou ouvir esses podcasts e eu acho que vocês podem ouvir também.

Michael: As coisas mudam, elas sempre mudam, elas sempre tem coisas começando, sempre tem coisas acabando. Pessoalmente eu fico feliz com a decisão de que vamos acabar o podcast entre abre “no auge”, que nós chegamos a um ponto que OK, o trabalho que nós fizemos aqui está bom, a gente pode ficar satisfeito com isso. E que principalmente o Tiago não tem as intenções de tentar prorrogar o podcast além da data de validade dele.

Carol: Esse encerramento do Introvertendo é uma coisa boa porque eu já não tenho mais tantas histórias para contar (risos). Eu percebi que eu estava me esforçando mais do que antes para gravar bons episódios porque no começo isso serviu muito mais como uma forma de me entender, me entender nesse lugar, fazer as pazes com o passado, com as coisas que eu passei, que eu vivenciei quando eu não tinha um diagnóstico e essa ausência de me entender, de saber por que eu era desse jeito.

Agora que eu sinto que eu consigo me entender melhor, consigo fazer as pazes com a pessoa que eu fui e a forma como eu agia que antes eu não entendia, eu acho que é bom eu fechar esse ciclo e abrir espaço para outras pessoas. E também eu acho que eu estou muito mais envolvida em outros tipos de movimento, principalmente hoje o movimento indígena, além da da associação multiétnica Wyka Kwara que eu faço parte.

Paulo: Hoje, em 2023, há muito mais gente do que em 2018 fazendo conteúdo sobre autismo, conteúdo muito bom e eu diria que o Introvertendo está terminando aqui no seu auge, num dos melhores momentos do podcast. Tem muita gente que vai falar sobre autismo em outras mídias, em outros podcasts. A gente foi um dos primeiros, foi provavelmente o primeiro podcast de autistas no Brasil e talvez no mundo, mas a gente hoje não é o único. E isso é a parte mais legal.

Michael: Pode ser uma decisão que ironicamente pareça disheartening e sem alma, sem coração, lógica demais, frio demais, e em contraparte é perfeito para um podcast sobre autismo se parar para pensar. Honestamente, para mim, é a decisão mais humana possível que a gente poderia fazer. E a gente decidiu parar, onde a gente viu que era a certa de parar.

Carol: Eu fui fã do Introvertendo por muito tempo antes de ser integrante e depois que eu virei integrante eu continuei sendo fã. Hoje em dia eu não escuto mais tanto o Introvertendo porque eu acabei ficando com uma agonia de me escutar (risos). Antes eu tinha isso, mas eu acabava superando isso de certa forma, então eu escutava mesmo assim, mas hoje eu acho que não consigo mais tanto.

E eu lembro que eu senti um vazio quando não tinha episódios novos, então eu sempre escutava os episódios antigos, eu escutei mais de uma vez o podcast inteiro, mas eu acho que vale a pena os nossos ouvintes refletirem sobre o que vocês admiram na gente e nesse projeto que a gente construiu e que hoje está acabando.

E olhar para como a comunidade do autismo amadureceu, quando o Introvertendo começou eram muitos poucos projetos que tinham como centralidade falar do autismo a partir dos autistas, eram poucas mídias que falavam sobre isso, a gente não tinha tantos influencers nesse segmento, muitos canais no YouTube e até hoje a gente não tem tanto assim, mas a gente tem muito mais do que foi antes e eu acho que olhar para essas outras questões que surgiram na comunidade é uma forma de lidar com essa nossa ausência.

Michael: Mudanças são assustadoras, mudanças são horríveis, mas ao fim do dia mudanças são mudanças e elas sempre vão acontecer, elas sempre estão aí. Essa é mais uma mudança. A partir de agora, nas próximas semanas não haverá mais um episódio do Introvertendo novo e nas próximas semanas depois dessa, nas próximas semanas depois dessa, as coisas serão assim a partir de agora.

Luca: Eu sei que tem diferentes ouvintes com diferentes gostos e diferentes objetivos, para cada um deles tem algo que talvez não se encaixe no que eu vou falar. Para algumas pessoas eu recomendo procurar outros podcasts, já tem vários podcasts que falam sobre neurodiversidade, sobre perspectivas de pessoas com deficiência, não só o YouTube, e cada um deles vale muito a pena escutar. Mas se você gosta de podcasts que são divertidos, como o Introvertendo é em alguns episódios, tem diversos podcasts muito engraçados, muito divertidos.

Se você gosta da parte explicativa do Introvertendo, de exposição a questões assim, eu recomendo um livro de um cara muito legal chamado Tiago Abreu, tem um livro chamado O que é Neurodiversidade (risos) que vale muito a pena ler, eu realmente gostei bastante. Mas se você está aqui no Introvertendo, cada um está por uma razão diferente. E eu não acho que é algo triste o podcast acabar ou algo triste não ter mais episódios, os episódios vão continuar lá e sempre dá para escutar de novo. Eu tenho alguns podcasts dos quais eu sou órfão e escuto vez ou outra, porque é um conforto para mim.

Carol: Mas eu também encorajo vocês a falarem das suas experiências, porque mesmo que isso não seja publicamente, mesmo que seja só para você, porque pode ser pela escrita, pode ser pelo desenho, pelas artes em geral, por áudios gravados por você mesmo de forma amadora, mesmo que ninguém vá ouvir.

Luca: Eu acho que é interessante buscar algo novo, se você buscar um podcast e não tem aquela ideia que você queria muito ouvir, vale a pena testar, gravar, tentar, porque vai que a sua ideia também é interessante para os outros.

Carol: Porque olhando para nossa equipe, eu vejo que cada um tem o seu talento e a sua dinâmica e o seu ritmo próprio, e vocês podem descobrir isso em vocês mesmos, como eu descobri os meus. E quem sabe vocês tenham vontade de compartilhar isso com outras pessoas depois, e essas pessoas se identifiquem e a gente se sinta menos sozinho no mundo.

Antes eu não acreditava em mim, e até hoje eu sinto um pouco disso. Mas sempre que eu penso que eu não sirvo para nada, eu lembro do Introvertendo. Eu lembro das vezes que eu falei de mim e sem querer ativei em diversas outras pessoas uma compreensão mútua, porque elas também sentem as mesmas coisas. E também ajuda a pensar que a gente não está sozinho, ajuda a pensar que a gente não é descartável nesse mundo.

A gente que é autista sempre sofre com a saúde mental, e é comum a gente sempre questionar nosso valor. E eu gostaria muito de poder alcançar os nossos ouvintes de um jeito que eles não se achem mais descartáveis nesse mundo. Mas eu não posso fazer isso, a gente recebe muitos e-mails e às vezes a gente não sabe como responder. A gente só consegue fazer o que está no nosso alcance, que foi fazer esse projeto para vocês, e dividir nossas histórias e de alguma forma sentir que tinha alguém que ouvia, porque a gente liga com muito cuidado todos os e-mails de vocês e mesmo que a gente não soubesse o que responder, pode ter certeza que eles tocaram a gente de alguma forma.

Willian: Certamente gostaria que vocês soubessem que eu dei o meu melhor. Tiago Abreu se dedicou muito, e eu vou puxar um pouco o saco aqui do Tiago, apesar de que outros integrantes são excelentes também, eu gosto muito da Carol, da Thaís, por exemplo. Infelizmente não tive oportunidade de conhecer presencialmente todos os integrantes ainda, então inevitavelmente um projeto com tantas pessoas você acaba tendo mais proximidade com alguns em relação a outros. O Luca também desde o início do podcast, mas eu acho que o Tiago merece sim uma menção honrosa. Espero que os outros também não tenham feito isso para não ficar tão repetitivo, na verdade, neste último episódio, mas espero que vocês saibam que foi colocado muito esforço por parte do Tiago, por minha parte, todos os episódios que eu participei, espero que vocês saibam que eu realmente, pelo menos da minha parte, eu tenho certeza disso, que eu dei o meu melhor, eu pensei muito sobre tudo que eu falei, sobre tudo que seria importante de produzir, de tudo que poderia atingir mais pessoas e contribuir, então essa é uma mensagem que eu gostaria de passar, eu espero que isso tenha atendido às expectativas de vocês.

E o segundo ponto é, a comunidade precisa de mais criadores de conteúdo, com certeza, mas ela precisa, na minha opinião, na minha interpretação, ela precisa também de criadores de conteúdo com responsabilidade, eu acho que esse é o maior diferencial que alguém pode ter, e isso é um pouco paradoxal, porque muitas vezes a responsabilidade vai contra a mão de coisas que são reforçadoras, vamos dizer assim, coisas que são importantes para o criador de conteúdo, como por exemplo, followers, seguidores, likes, enfim. Eu vejo que as redes sociais, eu sinto isso, eu noto com vários produtores de conteúdo ao meu redor, como realmente essa lógica, o algoritmo é perverso mesmo, nesse sentido de influenciar os criadores de conteúdo a cada vez mais produzir uma determinada forma de conteúdo, se envolver em polêmicas, chamadas sensacionalistas, enfim, não que isso seja de todo ruim, pelo contrário, na verdade, quem é da área do marketing sabe que existe toda uma ciência por trás disso, enfim, da comunicação e tudo mais.

Eu entendo que isso é necessário, mas ao mesmo tempo eu acho que precisa existir um pouco mais de razoabilidade e sempre nos esforçarmos para lembrar do que realmente importa, nesse ativismo, nessa criação de conteúdo, lembrar esse espectro, a própria natureza, na verdade, do espectro autista, ela é muito variável por si só, e aí a gente adiciona essa complexidade social da comunidade, de classes sociais, de realidades diferentes, enfim, e você tem mais variabilidade ainda. Incentivo a todas as pessoas que assistiram a produzir o seu próprio conteúdo, mas não necessariamente seguir a lógica das redes sociais, não necessariamente seguir a mesma receita, tanto é que você está escutando aqui essa mensagem por um podcast, e sabemos que, ok, existiu uma hype, uma pequena hype recentemente sobre podcasts, enfim, mas hoje em dia, apesar dessa hype, não é realmente o melhor veículo de se entregar conteúdo, existem os reels, os stories, enfim. E talvez existirão pessoas que estarão me ouvindo daqui 2, 3, 5 anos, que não fará mais nenhum sentido isso que eu estou falando nesse momento, desses formatos de mídia.

Só que eu acho que todas as pessoas, e sempre quando eu vou palestrar, enfim, eu sempre tenho essa sensação, de que eu olho para a plateia e vejo que, eu tenho certeza que todas as pessoas que estão na plateia poderiam estar no meu lugar, como palestrante, trazendo uma narrativa interessante sobre a sua vida, sobre algum fato, uma reflexão, algum tópico de interesse, ou enfim. Então eu tenho certeza disso, não que seja fácil, na verdade, de encaixar isso em narrativa, ou enfim, fonoaudiólogos sabem muito bem do que eu estou falando aqui, mas no sentido de que certamente existe algum conhecimento, alguma mensagem que vale a pena passar para frente, e não se apegue aos veículos, essa seria uma mensagem que não se apegue aos veículos tradicionais e as formas tradicionais e convencionais de se fazer conteúdo e fazer como todo mundo está fazendo.

Muito provavelmente, você não seguir esses métodos convencionais, você vai falhar, no sentido assim, falhar no sentido convencional da coisa, no sentido de você não ter followers, você não ter seguidores, você não ter likes, etc. Pelo menos esse é o meu insight, que vale muito mais a pena você ajudar duas ou três pessoas e ter, sei lá, cinco likes, num post que você pode ter certeza que essas cinco pessoas que assistiram o conteúdo, elas ouviram, elas assistiram a toda a mensagem, do que você ter um alcance de 5 mil, 10 mil, 20 mil, e em diversas mensagens que essas pessoas assistem um ou dois minutos e não conseguem entender, ou não prestam atenção no resto, algo nessa lógica massificada das redes sociais.

Então eu acho que para este momento e para os próximos três anos, enfim, do ativismo, do autismo, a gente precisa desse nível mais aprofundado de discussão e eu acho que a gente conseguirá só alcançar este nível mais aprofundado de discussão, tentando fugir um pouco dos métodos convencionais de produção, de conteúdo e disseminação de mensagens importantes.

Thaís: E de forma mais geral, tente encontrar coisas que vocês gostam de fazer, que motivem vocês, no final, isso acaba trazendo alegria para o nosso dia a dia, assim como eu acabei encontrando RPG depois de muito tempo, depois de adulta, não pare de procurar só porque você acha que já procurou por muito tempo e tenta parar para pensar em quais coisas vocês gostam de verdade, de quais vocês não gostam, é tão importante saber do que você não gosta, quanto é importante você saber do que você gosta, para você conseguir tirar uma conclusão daí. E tirem um momento para se conhecerem, porque a partir disso fica bem mais fácil você se direcionar para o que tem mais potencial de te fazer feliz.

Carol: Mas eu preciso confessar que eu estou um pouco aliviada com o fim do Introvertendo, não porque é um fardo, mas por reconhecer que não dava mais para continuar. Dá muito trabalho e a gente é autista. A gente só consegue ir até certo ponto na interação social, é muito exaustivo e eu sinto que hoje eu consigo ter uma vida social bem ativa e isso já toma muito da minha energia. E eu não queria que o Introvertendo ficasse de escanteio, a gente não quer fazer uma coisa jogada, porque a gente respeita muito esse trabalho.

Eu ainda gosto muito de todo esse processo, toda vez que eu pego meu microfone eu ligo e eu começo a gravar, eu testo a qualidade do áudio, eu pergunto para o Tiago se está bom, é uma coisa muito prazerosa para mim e eu adoraria fazer parte de outros podcasts com pessoas como o Tiago, porque fazer o que ele faz é muito difícil, começar um podcast do zero é muito difícil, principalmente quando a gente não tem apoio financeiro, não tem equipamento, não tem nada. E eu acho que por mais que eu tenha aprendido muito com ele, eu não consigo ser ele, de fazer uma coisa do zero assim. Eu estou muito feliz de ter tido essa oportunidade, de ter sido vista de alguma forma e de ter conseguido compartilhar a minha visão do mundo um pouco e de ter essa confiança das pessoas que escutam a gente.

E eu confesso que também adiei muito para fazer essa última gravação, em parte porque eu adoeci, mas também porque significaria que é o fim, e isso ainda não entrou direito na minha cabeça. Mas eu agradeço a todos os ouvintes pelo carinho de vocês e por acreditarem na gente, eu percebo que o entusiasmo dos convidados dos fãs no Introvertendo é igual, é como se fosse um espelho de mim quando eu gravei pela primeira vez.

Willian: Introvertendo para mim, da forma como eu vejo, muito mais do que um podcast, muito mais do que autistas compartilhando suas vivências, é um projeto que certamente fez parte de todo esse movimento social, essa vertente mais específica do autismo, dentro do movimento anticapacitista, dentro do movimento dos direitos das pessoas com deficiência, aqui no Brasil. E não necessariamente que também exista nenhuma honra no sentido de ter sido maior, ou ter sido mais duradouro, etc. Mas eu me sinto lisonjeado por ter feito parte de um projeto que, na minha visão, na minha perspectiva, foi crucial para dar esse primeiro passo, que seria um precursor, vamos dizer assim, e que já foi na verdade um precursor, e ainda será, espero eu, de outros projetos que virão por aí, e que superem o Introvertendo em diversos outros aspectos, e que a gente entenda e se reconheça como companheiros de caminhada para um mesmo objetivo em comum.

Tiago: O mais incrível, não só sobre o Introvertendo, mas sobre fazer qualquer coisa, de um ponto de vista artístico, poderia dizer, é que cada pessoa que ouve, cada pessoa que tem um contato com uma obra, com um projeto, como o próprio Introvertendo, tem as suas próprias interpretações e uma certa forma de como esse projeto impactou sua vida. A gente poderia gastar a vida inteira tentando imaginar, ou descrever, ou pensar as formas como esse projeto marcou, e que talvez vai marcar a vida de outras pessoas que vão conhecer isso depois. E é exatamente por isso que eu me sinto totalmente incapaz de trazer palavras que sejam adequadas, ou que tenham realmente o impacto que eu acho que merecem. Então, por isso eu posso falar sobre o podcast na minha vida em relação aos demais colegas.

Eu acho que o Introvertendo me ensinou o quanto a disciplina é um fator, de um ponto de vista pessoal, que me engrandece. Esse podcast não existiria sem compromissos, sem organização, sem sistematização, já que dinheiro, por exemplo, sempre foi pouco. E esses episódios que nós fizemos, eles captam um pouco do estado da arte da comunidade do autismo nesse momento, que é o momento que eu encaro com uma clara transição. Não é um momento só que a gente fala mais sobre autismo na vida adulta. É o momento em que as expertises em relação ao autismo começam a se cruzar na cara de todo mundo. Autistas não são mais apenas autistas. Existem autistas profissionais, existem familiares que se descobrem autistas. Todo saber sobre o autismo vai se construindo a partir da ligação desses diferentes grupos que nós achávamos que eram totalmente separados.

E quem ouve o Introvertendo já tá de saco cheio de eu falar isso, que eu já devo ter dito isso em dez episódios. Mas eu acho que o Introvertendo representa isso. Quando nós começamos apenas falando “oi, eu sou autista” e blá, blá, blá e agora nós chegamos numa dimensão do podcast. Nós amadurecemos junto com todo mundo em que a gente começa a falar sobre autismo tecnicamente. E a gente começa a falar sobre autismo em âmbitos que as pessoas jamais imaginariam, ou que as pessoas talvez não achariam intuitivo.

Já parou pra pensar o quão desafiador é conseguir 260 temas de episódios sobre um tema ultra restrito como é o autismo? Pois é, a gente conseguiu. A gente falou de saudade, a gente falou de veículos, a gente falou sobre a vida e acesso à cultura nas cidades. Mesmo falando sobre as características do autismo, que são os temas mais esperados. Quando eu tenho acesso com alguma questão da cultura e isso me impacta, me atravessa, mexe comigo de alguma forma, eu acho que o sentimento que eu tenho ao relacionar aquilo com a minha vida, mesmo que eu não verbalize pras outras pessoas, é mais belo e é mais incrível do que qualquer coisa que eu possa dizer, qualquer coisa que eu possa escrever, até mesmo pras próprias pessoas que criaram aquilo.

Nós não vamos saber quem vocês são, nós não temos o controle sobre o que o podcast vai virar. Eu acho que o nosso sentimento de gratidão basta e aquilo que vocês experienciarem a partir do podcast também basta. Nós não temos o controle sobre o tempo. E a gente sabe que por mais que a gente faça um projeto incrível, ele vai ficar datado. Ele vai desaparecer nesse mar de conteúdo que é a internet. E é exatamente por isso que eu particularmente me revolto com a própria lógica da criação de conteúdo. Eu acho que não só eu, mas os meus colegas de podcast não se enquadram como criadores de conteúdo padrão. A gente não entra todos os dias nas redes sociais pra acompanhar qual é a próxima trend de autismo. E a gente sabe que essa guerra, de certa forma, pela lembrança, pela relevância, considerando a própria história do mundo, é uma batalha perdida. Nós seremos esquecidos.

Eu falei muito tempo atrás em um episódio que o mundo que a gente vive morre junto com a gente. O Introvertendo tá indo e algumas das memórias, algumas das sensações também vão embora. Em algum momento todos nós seremos substituídos, a comunidade será transformada. Mas se eu puder pedir apenas uma coisa pra você que ouve a gente, pra você que em algum momento teve o contato com esse podcast e esse podcast mudou a sua vida, eu peço pra que você não esqueça da gente. Lembrar é a coisa mais bonita que você pode fazer. Assim como provavelmente a gente vai lembrar pelo resto da vida, por tudo que nós fizemos nesses últimos 5 anos. Até mesmo porque eu acredito que se o podcast ficar datado e ele vai, algumas coisas que você pensou, algumas coisas que você viveu, elas vão permanecer contigo.

Alguém pode se perguntar se o nome “Extrovertendo” desse episódio é uma brincadeira com o título do podcast, realmente é. Só que quando nós decidimos o nome “Introvertendo”, isso tinha muito a ver com a própria experiência de ouvir um podcast. Que é aquele momento que muitas vezes você está com fone de ouvido, você não compartilha essas histórias com as outras pessoas, mas você se sente parte da conversa. E se ao longo desses 260 episódios tiveram coisas que vocês acham valiosas, eu queria te convidar agora nessa reta final do Introvertendo, a você pegar tudo que você aprendeu com esse programa e levar com você ao longo da sua vida. Então sim, esse é o nosso momento extrovertendo.

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