Introvertendo 25 – Homossexualidade

Depois de serem perseguidos durante muitos séculos, gays e lésbicas começam a visionar um mundo que, aos poucos, deixa de considerar suas orientações sexuais como um crime. Com continuidade a série sobre sexualidade, iniciada no episódio 16, nossos podcasters falam das tensões históricas em torno da homossexualidade, o porquê esta orientação sexual ainda é um tabu social e o lugar de autistas homossexuais na comunidade do autismo.

Participam desse episódio Marcos Carnielo Neto e Tiago Abreu.

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Transcrição do episódio

Tiago: Olá pra você que escuta o podcast Introvertendo e todas as suas ramificações. Meu nome é Tiago Abreu, hoje estou com Marcos Neto e vamos falar sobre o primeiro tema da série sobre sexualidade que prometemos aqui em nosso podcast que é homossexualidade. 

Marcos: Olá pessoal, eu sou o Marcos e hoje o assunto vai ser homossexualidade. Eu como viado do grupo tenho bastante experiência nesse assunto, então. (Risos) E se você for um viado bonito, e gostar de mim, pode mandar também seu contato no WhatsApp. Aceito nudes, pode mandar tranquilamente. 

Tiago: Homossexualidade é uma orientação sexual bastante presente, eu acho que talvez seja a mais comum depois da heterossexualidade, é claro, existem também controvérsias com relação se a bissexualidade não é parte da maioria da população, mas tirando isso ainda as prevalências sociais não são tão grandes. É uma orientação que passa por vários eixos da história e também de preconceito, exclusões e até um período de aceitação e que talvez ainda tá a caminho. 

Marcos: Importante notar que mesmo na população Aspie também há uma prevalência de sexualidade diferente, inclusive se você for no grupo Aspie World na internet, você vai ver muita gente discutindo a possibilidade de que talvez a sexualidade no Aspie seja ainda mais diversa do que a da população comum. Com orientações diferentes, homosexualidade, uma bissexualidade, pansexualidade, enfim, todas as orientações possíveis. Aqui a gente vai focar só na homossexualidade. 

Tiago: É interessante você falar isso porque até um certo tempo no passado eu lia que a maioria dos aspies eram heterossexuais ou assexuais. Não se admitia essa presença de homossexualidade, bissexualidade e outras orientações dentro desse contexto, mas hoje em dia tem até grupos brasileiros, eu não vou mencionar um aqui específico porque eu não lembro o nome e também porque eu não sei se é correto trazer o link deles no post, mas tem um grupo de autistas que estão dentro do grupo LGBT e aí enfim isso é bastante interessante. 

Marcos: Conhecendo o nosso grupo também, só nosso grupinho de cinco pessoas, já se diria que 25%… tem oito pessoas no podcast, então você tem oito pessoas, dessas, três tem tendências homossexuais aqui no meio, então são 3/8, isso já mostra, não é uma amostra muito considerável, não é significante, mas enfim, isso já mostra que tem diversidade no grupo mesmo num grupo pequeno. Exclusivamente homossexual, só eu mesmo, mas bissexuais temos pelo menos dois no grupo e a gente não tem certeza dos outros. 

Então, né? Quando a gente fala de homossexualidade a gente sempre vem na mente, o preconceito que vem com o assunto, o preconceito que as pessoas têm em relação aos homossexuais e as orientações sexuais diversas, na verdade. Então não tem como falar de homossexualismo sem mencionar a não-aceitação da sociedade. 

Então a gente vê que a homossexualidade era crime sujeito a punição em vários países diferentes, por exemplo, na Inglaterra a homossexualidade era considerada um crime que podia levar pra prisão, às vezes passar a vida inteira na prisão, até 1965, se eu não me engano. Nos anos 1960, no meio dos anos sessenta, o que é recente, bastante, era considerado crime até 1965. E você vê que os anos 1960 não foram nem tanto tempo atrás, tem muitas pessoas dessa geração ainda vivas até hoje. No Brasil eu não sei se já foi considerado crime, mas com certeza o Brasil é uma sociedade ainda mais homofóbica do que na Inglaterra, devido a eu diria a influência católica na cultura. A parte sul da Europa, o Sul Europeu, por ser católico, é bem mais homofóbico do que o resto da Europa e que essa influência carregou pro resto da América Latina e pra todos os países da América em geral, essa influência religiosa acabou influenciando o jeito que a sociedade vê os homossexuais, como sendo um pecado, uma transgressão e algo pra ser condenado, e essa mentalidade prevalece ainda até hoje. 

A gente luta pra tentar mudar a mentalidade das pessoas quanto a isso e a gente vê que na América Latina ainda isso é um problema, principalmente por causa da influência católica na população carregou homofobia, e hoje em dia a homofobia carregou também nos grupos protestantes na América Latina, que estão crescendo bastante na América Latina inteira. O que é preocupante, porque os grupos protestantes são muito mais extremistas quanto à posição deles contra homossexuais. A gente vê pastores que são abertamente, extremamente homofóbicos, que em alguns países na Europa seriam categorizados como sendo um crime de ódio, de incitação ao ódio, por exemplo o pastor Silas Malafaia é um, e o Marcos Feliciano, são dois pastores superfamosos influentes no Brasil que têm influência política também. O Marcos Feliciano por estar no poder e o Malafaia por ter contatos com políticos, e que abertamente incita um ódio e segregação contra homossexuais e o grupo LGBT. 

A gente tem isso no Brasil, e eu diria na América Latina inteira, a homofobia é um problema, e o Brasil com questão da homofobia é um dos países mais violentos do mundo, é o país é um dos países que mais agride homossexuais, tem mais agressões a homossexuais registradas e é o país, de longe, que mais mata pessoas transgênero no mundo, de longe. 

O segundo lugar não chega até metade do número de crimes que acontecem aqui. Eu vi que nessa semana uma transexual foi morta no Nordeste, foi encontrada na cama… a gente vê esse tipo de notícia praticamente todo dia, então é um país que a homofobia ainda é um problema bem sério. Eu acho que a gente tem que aceitar que a religião aqui ainda é prevalente, e a visão que a religião tem sobre esses assuntos carrega pro resto da sociedade. 

É irônico você ver o comportamento das pessoas, porque você vê que eu, na minha opinião, eu acho que pelo menos bissexualidade está presente, eu diria, 30% da população. É um número razoável. Nos Estados Unidos você vai ver que tem estatísticas falando o que? Apenas 3.2% das pessoas se declaram como homossexuais, que é um número muito pequeno, mas eu sinceramente acho que esse é um número que é muito mais baixo do que o número real, por causa da homofobia. Nem todo mundo se sente confortável em se assumir perante a sociedade nessas estatísticas. 

Esse número de 3.2%, principalmente você considerando a realidade numa cidade grande igual Goiânia, você vê que esse número é muito pequeno pra representar realmente a população homossexual local. Eu diria que homossexual mesmo chegaria a 10% tranquilamente em cidades grandes, a prevalência de homossexualismo. E bissexualismo mais alto ainda, com tendências bissexuais até 30% da população, um terço da população teria tendências bissexuais. A gente sabe que, entre mulheres, por exemplo, isso seria bem próximo da realidade, de 30% de tendências bissexuais, não necessariamente de pessoas que agem no instinto, mas que a orientação não depende do ato. Porque a gente tem, é importante notar que existem pessoas héteros que acabam tendo relação homossexuais, por exemplo uma pornografia gay, a maioria dos atores na verdade são héteros, ou então bi, mas muitas vezes héteros mesmo, que acabam indo pra pornografia gay por vários motivos, então existem pessoas hetero que praticam atos homossexuais sem necessariamente possuírem a orientação homossexual, e do mesmo modo existem pessoas que têm orientação, mas não agem no impulso. Muitas pessoas bissexuais reprimem o lado homossexual e se consideram hetero, principalmente pelo fato de só manifestarem um lado heterossexual. Às vezes reprimem a orientação de verdade, a gente vê isso pelo fato do Brasil, apesar de ser muito homofóbico e ser o país que mais mata transgêneros no mundo, é o país que mais consome pornografia transexual no mundo. Essa é a ironia. Como que é um país que odeia tanto esse tipo de pessoas é o país que mais consome esse tipo de pornografia? 

A gente presume, então, que muitas pessoas se reprimem socialmente da orientação real delas e isso é bastante devido à influência social, né? E a gente sabe que o Brasil ainda é uma sociedade patriarcal machista, muitos lugares ainda são bem machistas. Goiânia, por exemplo, ainda é um lugar bem machista. Então você tem que orientação sexual é vista como tabu ainda, bastante. Na comunidade universitária isso é um pouco melhor porque as pessoas têm mais acesso a informação então as pessoas estão mais acostumadas com isso, mas quando você sai do ambiente universitário, a situação em Goiânia ainda é bem homofóbica. Dentro das famílias, por causa da religião e da cultura, você tem muitas pessoas que se reprimem.

Tiago: Agora pensando na questão do autismo, existe uma noção muito impregnada de que pessoas com deficiência, no geral, e se a gente for considerar o autismo e a Síndrome de Asperger segue dentro desse eixo, são pessoas que não têm sexualidade, ou que não expressam sua sexualidade. Eu acho muito incômodo as pessoas pensarem que os autistas que se relacionam geralmente relacionam de forma heterossexual. E eu fico pensando: qual o impacto de ser uma pessoa autista e ter relacionamentos homossexuais? 

Marcos: Pois é, né? Essa é uma pergunta interessante, porque pelo que a gente vê, pelo menos no nosso grupo e pelo que eu vejo também na internet, do pessoal se expondo ali, a sexualidade aspie é complicada. Não tem como ignorar o fato de que a gente tem bastante problema, é um assunto complicado pras pessoas com Asperger, porque a gente tem problemas de relacionamento, sociais. Eu percebo que no meu caso tem uma dificuldade de relacionamento, de conexão, até às vezes física também, com pessoas, por serem pessoas, devido ao fato de ser aspie. Então a sexualidade no aspie, pelo que a gente vê, é bem complicada, é uma questão bem mais complexa. Eu não diria que a maioria dos aspies é assexual, as pessoas têm essa mania de classificar os autistas como sendo assexuais, mas o que eu acho que na verdade ocorre é o problema de manifestar a sexualidade no autista, a manifestação da sexualidade que é um problema no autista, por causa dos problemas sociais. Sexo é o tipo de relacionamento mais íntimo e mais profundo que você pode ter. Você vai se expor completamente e está exposto também a uma outra pessoa. Isso pra um autista é bem complicado, porque a gente tem problemas com conexão com outras pessoas e eu acho que o nosso problema não é o fato de não possuir a sexualidade, é possuir a sexualidade mas ter problemas de manifestar ela por causa dos nossos problemas sociais.

Tiago: E também dá pra pensar que existe uma diferença entre as pessoas dentro do espectro que foram diagnosticadas muito cedo e os que foram diagnosticados depois de adultos. Percebam que aqueles que foram depois de adultos, como nós, eles têm uma noção de aprender sobre sexualidade, sobre a sua própria orientação sexual que caminha nos mesmos passos da população em geral. Então, puberdade, todo esse processo, são entendidos de uma forma autoexplicativa, eu poderia usar esse termo. Agora as pessoas que nascem e são diagnosticadas dentro do espectro desde pequenas, eu tenho impressão que os pais e as mães muitas das vezes tendem a reprimir a sexualidade da criança, achando que isso não vai acontecer ou que a sexualidade deles vai ser diferente. 

Enquanto tem outros casos de que os pais sabem dialogar esse tema com os filhos, que eu acho que pode ser uma tendência crescente visto que muitos pais e muitas mães acabam lendo e querendo saber mais sobre o assunto, mas o risco de enxergar uma pessoa com deficiência sem sexualidade, sem permitir que a pessoa conheça sobre sexualidade, me parece muito comum. 

Então, por exemplo, eu já li na web alguns relatos de crianças de onze anos, por exemplo, a mãe pedindo “ah meu filho tá se masturbando com o negócio aqui, que aí eu não sei o que fazer” ou “eu vi meu filho fazendo isso ou fazendo aquilo na frente de outra pessoa e tudo mais” e aí os pais ficam naquela coisa assim de uma tensão sexual que não é direcionada a uma pessoa, mas às vezes é direcionada a objetos ou é direcionada a si mesmo, como é no caso da própria masturbação. 

Eu acho que envolve tanto essa dificuldade de relacionamentos, que a gente tem nos casos mais leves, e nos casos mais graves de entender qual é o sentido técnico das manifestações sexuais, aí já que isso é tão complicado, pensar o fato de um autista ou uma autista se relacionar ou gostar do mesmo sexo, é um negócio que já é muito mais difícil ainda do que aquilo, entendeu? 

Então, eu penso assim, será que essa discussão sobre autistas que gostam de pessoas do mesmo sexo, é uma discussão que tá tão inacessível em relação a tudo mais, porque pensa, os compêndios médicos que geralmente, infelizmente, não trazem autistas pra discutir os temas que são dos seus próprios interesses, e é por isso que eu desisti já de muitos desses eventos de autismo, porque a minha decepção pessoal é muito grande, mas com relação a esses eventos, muitas vezes eles são interessados em discutir métodos de educação, às vezes discutir o envelhecer do autista, sem falar exatamente desses processos, porque muitas vezes eles não conhecem casos de autistas adultos pra conversar. Ou quando eles têm casos de autistas adultos, são extremamente leves como nós que temos uma trajetória bem fora da curva do que esses eventos trazem. Então no fundo no fundo eu penso: qual é o espaço de um autista homossexual na comunidade autista, no geral? E a minha impressão é que eles estão totalmente excluídos, totalmente de fora…

Marcos: Excluídos, cê fala, da comunidade, cê fala, eles não tem visibilidade?

É, talvez. Eu diria que ser um autista homossexual ou com tendências homossexuais é o que complica algo que já é complicado, por causa da resposta social que a gente tem contra o homossexualismo. Então, cê já tem um problema de relacionamentos sociais com autismo, já vem com todas essas dificuldades em se relacionar com pessoas e o fato de ser homossexual ou ter tendências homossexuais complica o que já é complicado, bastante. 

A comunidade homossexual projeta sempre essa imagem de que é um grupo de pessoas extrovertidas, que a gente é família e que… sempre tive uma comunidade, quando na verdade pro autista isso é extremamente assustador, né? Que é o último coisa que a gente gostaria é de ter uma comunidade e ficar no meio de pessoas extrovertidas, porque isso assusta a maioria da gente, eu diria, os aspies, pelo menos. 

Então isso adiciona dificuldade pra gente né, isso complica bastante a dinâmica de interação, e eu acho que isso realmente aliena a gente, exclui a gente da comunidade, deixa a gente mais afastado, mais marginalizado dentro da própria comunidade LGBT, e principalmente da sociedade, mais ainda, né? 

Tiago: Sim, eu concordo totalmente, é como se a comunidade fosse exatamente o oposto do que um autista homossexual provavelmente é, então ele é duplamente excluído, excluído entre os autistas muitas vezes que não fazem parte da maioria e dentro da própria comunidade. 

Marcos: Bom, é, e como toda parte na vida, a gente pode aprender a se adaptar à situação, né? Que é o que a gente aprende a se adaptar em todos os ambientes sociais, por ser aspie, por ser uma forma mais leve de autismo, muitas vezes a gente consegue adaptar a realidade local, então a gente, como um autista homossexual, precisa aprender a lidar com a sociedade, no geral, e além disso lidar com a comunidade LGBT, que muitas vezes a gente é muito diferente da maioria dos outros LGBTs. 

Então a gente não tem muita coisa em comum, que exclui a gente bastante, aliena, marginaliza bastante, então acho que é bom, seria bom o acompanhamento pros aspies, um acompanhamento pra desenvolver e entender melhor sobre a sexualidade. Acho que isso é importante pra um aspie, porque é uma área complicada, e é importante também encontrar pessoas que sejam compatíveis, porque a nossa sexualidade geralmente se manifesta de uma forma diferente. 

Então, mas isso não significa que não existam pessoas na comunidade geral que que tenham uma sexualidade parecida. Geralmente existem pessoas assim, só é um pouco complicado encontrá-las, mas elas existem. Por experiência própria, eu posso falar, tem pessoas compatíveis sexualmente, é só a mais difícil encontrar. 

Tiago: E neste momento, o Marcos, que não participou do nosso episódio de sofrência, aliás eu queria agradecer a galera que curtiu esse episódio, porque ele é um dos mais ouvidos da história do nosso podcast, ele veio contar algumas histórias de alguns casos ou coisas que nem chegaram a ser casos, mas pra delimitar um pouco a questão dos relacionamentos. 

Marcos: Isso aí Tiago, valeu por jogar na cara. Mas é, como um aspie, minha vida, assim, em termos de relacionamento, é um desastre. Eu diria que todo aspie que eu conheço é um desastre também em relacionamentos. A gente lida com muita frustração com as outras pessoas, por ter dificuldade em relacionamentos, então criar relacionamentos é difícil, o círculo social do aspie é pequeno. Então, vamos já falar que o nosso círculo social é pequeno, a gente tem poucos amigos, poucos amigos de amigos. Então, a gente não é introduzido a novas pessoas constantemente. Na verdade a gente tem muito poucos amigos, então, a gente não chega a conhecer pessoas novas constantemente, que é uma das coisas essenciais pra construir relacionamento. Você precisa conhecer pessoas e é melhor conhecer pessoalmente, porque, sinceramente, apps de relacionamentos só levam a desastre, 90% dos casos, não tem como nem falar, a maioria é um desastre. 

É bom conhecer pessoas novas pessoalmente, mas isso é muito mais difícil pra um aspie, porque a gente tem um círculo social pequeno, muitas vezes a gente tem três, quatro amigos mais próximos, que a gente passa a maior parte do tempo com esses amigos, a gente não se conecta com os amigos dos amigos, geralmente. Então a introdução a pessoas novas é difícil, então conhecer pessoas novas é um problema, e a nossa inabilidade social de flertar é mais difícil, saber quando as pessoas estão flertando com a gente. Eu diria que se você tiver uma boa aparência acima do normal, é mais fácil, porque as pessoas são mais óbvias, mas pra maioria dos normais, a gente pena em ler os códigos sociais. A gente já acha difícil ver as pessoas normalmente, flertando então é impossível. Então foi a etapa pra gente é muito mais complicada. Geralmente a gente constrói relacionamentos com pessoas que são bem diretas e óbvias. Acho que é uma característica bem aspie, existem pessoas óbvias, elas só são a minoria, então isso dificulta. Ou seja, relacionamentos para aspies são problemáticos, não vão negar o fato de que é problemático. Provavelmente você é aspie e tá ouvindo isso, você tem problemas de relacionamento, quase certamente. E tem que continuar tentando, mas é uma vida desastrosa, não é fácil. Relacionamentos, eu diria, já são difíceis pra comunidade em geral, e pode ter certeza que pros aspies o que já é difícil é três mil vezes mais complicado. 

É bem complicado, e o fato de ser aspie não necessariamente significa que a pessoa é atraída por outros aspies, muitas vezes. Nem todos os aspies só procuram pessoas aspies, isso varia bastante de pessoa pra pessoa, um gosto individual. Até porque cada aspie é um indivíduo, você não pode dizer “ah ele é um aspie”, como sendo uma categoria só, cada aspie é um aspie diferente. Se você conheceu um aspie, você conheceu UM aspie, você não conheceu a comunidade inteira. Então, só o fato de um aspie estar no meio de outro aspie não significa que ele vai ter chances maiores de relacionamentos bem sucedidos. Então nem venha com a ideia de que” ah você tem que encontrar um outro aspie”,não necessariamente isso vai levar a resultados positivos, não vai dar certo. 

Tiago: Às vezes um só vai desgraçar a cabeça do outro. 

Marcos: Um aspie vai despirocar o outro, geralmente. (Risos)

Então, é difícil achar alguma pessoa neurotípica que entenda aspies de verdade, é difícil se conectar, e a gente tem problemas de relacionamento, de se conectar com as pessoas então sexo casual muitas vezes é mais difícil pra maioria, apesar de que em alguns casos, às vezes o sexo pode se tornar uma das obsessões aspies, que é uma das obsessões, e se esse for o caso, às vezes o asperger pode levar a pessoa pra promiscuidade. 

Eu diria, como sendo homossexual, é muito mais fácil você ser promíscuo do que sendo heterossexual, principalmente aqui no Brasil. Então, se sexo virar uma das obsessões, é fácil acabar se tornando promíscuo. O que não é um problema, se é o que te satisfaz, adoro  um promíscuo também (risos). Eu acho que na comunidade aspie nem é tabu, assim, porque a gente já pensa diferente mesmo. Então, não seria um problema, mas pra maioria da gente, eu diria que por causa do nosso problema de fobia social, a gente tem dificuldade de se sentir confortável com estranhos, a gente gosta de pessoas que a gente consegue sentir mais confortável, né? Então, ser promíscuo pra um aspie é mais difícil, mesmo porque a maioria da gente não se sente muito confortável com pessoas estranhas, com encontros casuais, então isso complica também a vida sexual de um aspie. Então, às vezes o sexo casual pra um aspie é mais difícil, mas como eu disse, por ser um aspie, a gente aprende a se adaptar, né? Então eu acho que também é uma área que dá pra se adaptar. O problema que eu acho que vem com o Aspergers que atrapalha mais a sexualidade são os transtornos mentais que vêm com os aspies, que são a depressão, a ansiedade e a fobia social. Na verdade, são os que mais atrapalham nos relacionamentos aspies. Não é nem o autismo em si, porque muitas vezes a gente aprende a contornar as nossas características, nossos jeitos e acaba se adaptando bem, e algumas pessoas acabam se acostumando, até gostando do nosso jeito, então o autismo em si não é o problema pro relacionamento. 

Eu diria que o que mais complica os relacionamentos são os transtornos que vêm com autismo. A fobia social e a depressão, eu diria que são os piores dos dois. Uma pessoa deprimida, uma pessoa com fobia social, têm sérias dificuldades de relacionamento. E a maioria dos aspies acaba desenvolvendo isso ou passam a vida inteira com a situação. Então é o que mais complica os relacionamentos aspies, homossexuais ou não, mas homossexuais também, porque não tem diferença na sexualidade em si, esses transtornos a complicam a nossa vida. Então, pra todos os sofrêncios por aí, saibam que cês não tão sozinho, que nós somos todos um bando de fodidos mesmo. Eu acho que isso é um fato que a gente tem que aceitar e tentar melhorando, né? Ah, só acreditem, relacionamentos são complicados pra todo mundo, e pra aspies mais ainda. Então a gente tem que ter um pouco de paciência, sorte e tentando na vida, simplesmente isso e aspies homossexuais saibam que vocês não tão sozinhos, assistam Drag Race, ouçam Lady Gaga… (risos) ou não, porque vocês não necessariamente necessitam se encaixar nos estereótipos LGBTs. Ah, o que é bem importante discutir, né? Que essa questão de se enquadrar nos estereótipos LGBTs aspies, eu sei que os aspies homossexuais não se enquadram exatamente nos estereótipos homossexuais, então não se sinta excluído só por por você não se enquadrar nos padrões ou estereótipos da comunidade que o pessoal projeta, porque mesmo dentro da comunidade LGBT geral, sem ser aspie, já tem variações consideráveis, então não se sentir mal por não se enquadrar nos estereótipos, ou se enquadrar no estereótipos, isso é normal, ter questões individuais

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