O dorama Uma Advogada Extraordinária foi a série sobre autismo de maior sucesso em 2022, inclusive no Brasil. Por isso, Luca Nolasco recebe Alpin Montenegro e Wallace D’Lira para uma conversa sobre a representação do autismo na série, pontos positivos e negativos do enredo, além de reflexões em torno de questões como mercado de trabalho e redes de apoio para pessoas com deficiência.
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Transcrição do episódio
Luca: Sejam bem-vindos ao podcast Introvertendo, um podcast sobre autismo. E hoje, sou eu, Luca Nolasco, que vou apresentar novamente um tema um pouco mais descontraído e tranquilo. Nós vamos falar sobre a série Uma advogada extraordinária.
Alpin: Olá, eu sou Alpin Montenegro, sou autista, TDAH e tenho altas habilidades e superdotação. Eu sou produtora de conteúdo através do Instagram e do Twitter @BlackAutie.
Wallace: Olá a todos, eu sou Wallace D’ Lira, sou autista, estudante, crio conteúdo para o @wallacedelira, também sou escritor e é um prazer estar aqui com vocês.
Luca: O Introvertendo é um podcast feito por autistas e produzido pela Superplayer & Co.
Bloco geral de discussão
Luca: Eu já quero deixar um aviso a quem escuta que nós vamos abordar a série, mas também podemos trazer as minúcias de cada episódio. Fiquem avisados, provavelmente vai ter spoiler de toda a história e do que acontece com os personagens. Então, se vocês não assistiram, talvez seja melhor assistir antes de ouvir esse episódio. Eu quero abrir aqui o episódio perguntando para vocês dois sobre o gênero de dramas coreanos, os chamados k-dramas ou doramas. É uma coisa que ficou muito popular no Brasil nos últimos cinco anos, mais ou menos, e explodiu com essa série da advogada extraordinária. Vocês já conheciam esse gênero antes? Foi o primeiro contato de vocês? Como é que foi?
Alpin: Eu já conhecia, eu sou apaixonada por doramas, né? Foi através do meu primeiro dorama que eu acabei conhecendo a cultura sul-coreana. Então, quando saiu a série Uma advogada extraordinária, eu fiquei super empolgada e tal assim, porque é um gênero que eu adoro muito. Que eu gosto muito de consumir.
Wallace: Olha, eu tinha tido contato com o dorama antes, né? Eu escutava falar bastante, já tinha visto aquela série Round 6, porém, nunca tinha assistido. Mas eu me confesso que eu me surpreendi muito, mas já tinha ouvido falar bastante sobre dorama por causa daquela hype do dorama no Brasil.
Luca: E como é que foi quando vocês viram que tem um, óbvio, tem diversos outros, minha mãe inclusive é dorameira e eu já sabia de muitos deles. Mas como vocês ficaram quando viram que tem um dorama que trata sobre autismo, que aborda isso? Qual era a expectativa de vocês antes de chegar nisso?
Alpin: Tem outro dorama também chamado Tudo bem não ser normal, algo assim, que também aborda o autismo. Eles têm um personagem ali que não chega a ser o protagonista, mas ele também é autista. Então, eu fiquei super empolgada porque a gente é muito carente de representatividade. Qualquer coisinha que aparece, a gente já tá super feliz. Porém, eu confesso que fiquei um pouco frustrada, mas não surpresa em saber que era um cripface. A atriz não é realmente autista. Mas eu fiquei feliz que, de alguma forma, é uma representatividade e acredito que trouxe conscientização e tudo mais.
Eu não consegui assistir a série toda porque eu fiquei bem engatilhada assim com as situações ali do cotidiano. Porque eram muito reais sobre o que uma pessoa autista vivencia no dia a dia e tal. Então, eu vi até o sexto episódio e daí eu custei assistir o restante. Até pensei em ver quando eu recebi o convite para participar da gravação. Só que eu pensei: “cara, eu não vou me forçar isso”, porque realmente foi dolorido para mim. E é importante também, eu acredito, trazer esse relato.
Luca: Sim, a experiência pode ser ótima de assistir a um bom seriado, mas se é desgastante, infelizmente não vale a pena. Inclusive, só pontuando antes do Wallace, mas aquele seriado que você falou, Tudo Bem não Ser Normal, o ator também não é autista. Minha mãe comentou comigo animada: “Nossa, tem um ator aqui, não sei o quê”. Ela foi atrás do ator e achou a atuação dele muito boa. Eu não assisti, mas ela achou muito boa e foi ver que ele não era autista. Ela ficou até meio, “poxa, estava muito bom. Eu queria ver mais trabalho”.
Alpin: Sim, eu, inclusive, me identifiquei muito com ele, né? Eu também achei que ele fosse autista, mas ele não é.
Luca: E como foi a sua percepção, Wallace?
Wallace: Olha, eu me surpreendi, eu me surpreendi. Eu nunca tinha tido contato com o dorama antes, né, como eu falei. Eu só tinha assistido Round 6, né, que era muito famoso. Porém, como a Alpin falou, também fiquei um pouco frustrado por conta da atriz não ser autista e acredito que se deva ter mais pessoas autistas para quebrar os estigmas em cima da condição, mas eu me surpreendi, Assim que me falaram: “Olha, tem uma série, um dorama sobre autismo na Netflix”, eu prontamente tratei de assistir e em um país como a Coreia do Sul, eu realmente fiquei surpreso, né? E aí eu deixo os detalhes para depois.
Luca: Sim, é agora uma pequena tangente só para apontar mais ou menos o que vocês dois disseram. Que cada país do mundo tem sua discussão interna sobre autismo, alguns são um pouco mais amplos como o Brasil, né? E outros são um pouco mais fechados, como a França. A percepção de autismo na França é um pouco mais retrógrada por parte dos médicos. Na Coreia do Sul, a sociedade acaba sendo um pouco mais difícil para a pessoa autista do que acessível. Tendo em vista isso, eu fiquei bastante surpreso quando vi a representação dessa personagem, porque parece muito real as experiências que ela retrata, a maneira que ela se porta. Eu achei muito, muito interessante a produção da série. Eu gostei dos detalhes que trouxeram. Eu vi algumas pessoas não autistas comentando sobre os hiperfocos dela com baleia, falando que eram chatos, que eram “ai, que coisa chata”. E o que vocês acharam das estereotipias dela, dos hiperfocos?
Alpin: Eu me identifiquei muito porque eu também já tive hiperfoco em baleias, então assim (risos), eu acho que eles fizeram uma boa pesquisa e eu conheço vários autistas que também têm hiperfoco em baleias e tal. Então assim, achei a personagem bem estereotipada, mas realmente existem muitos autistas que estão mais próximos desse estereótipo. Mas a grande questão é que o imaginário coletivo acaba ficando preso a esses padrões, né? Então, todo autista que foge desse estereótipo é automaticamente questionado, como o autista que não é um gênio. No caso da personagem principal, ela também tem altas habilidades e superdotação.
Por mais que tenha críticas negativas a respeito, eu achei super válido assim, uma grande característica das produções coreanas é realmente, eu acho que eles fazem uma pesquisa muito forte, que eles fazem muito bem. Já assisti três doramas com personagens autistas, tem outros também, acho que é A Caminho do Céu e todas as atuações foram impecáveis assim.
Wallace: Eu acho que a produção da série, ela tentou pegar ali um pouquinho do Sam de Atypical e do doutor Shaun Murphy de The Good Doctor. Na questão do hiperfoco, por exemplo, há uma semelhança muito visível com o hiperfoco do Sam de Atypical, que é completamente diferente, mas há semelhanças entre as abordagens, né? Porém, eu achei que eles abordaram de uma forma muito realística.
Na questão da comparação que eu fiz com The Good Doctor é por conta de, em algumas situações, onde ela demonstra as habilidades dela ter algumas semelhanças em como o doutor Shaun Murphy também demonstra as habilidades dele. No geral, eu gostei bastante da série e acho que, assim como a Alpin disse, há um estigma, é uma personagem estereotipada, então depois fica muito difícil de quebrar paradigmas, mas também há autistas com esses estereótipos, então eu gostei muito da série de um modo geral assim. A atriz foi impecável. Eu também não cheguei a terminar de assistir toda a série, todos os episódios, mas assim, quase tudo, né? Porém, no geral, posso dizer que gostei demais.
Luca: Falando sobre The Good Doctor, a produção americana que a gente conhece, que a gente vê muito e passa na TV Globo, ela é uma adaptação de um original coreano. E sobre esse original, ele tem algumas coisinhas assim que você fica com um pouco de pé atrás quando vê, por exemplo, o personagem principal que também é autista em determinado momento com a colega dele, né? “Não, autismo é uma coisa muito problemática, muito difícil, mas eu já estou curado, eu estou bem disso, agora eu sou uma pessoa diferente.” Algo nessa linha.
A percepção do seriado é que autismo é uma coisa a ser curável, é um problema. Então, fico feliz de não ser tratado dessa maneira no seriado da advogada extraordinária. É muito mais cheio de nuances e é obviamente algo que ela enfrenta dificuldades, mas mostra o posicionamento de uma pessoa autista, não de um escritor que falou sobre alguém autista que ouviu falar um dia.
Vocês não chegaram a terminar o seriado, mas há uma grande evolução do arco de personagem e dos personagens que convivem com ela. Que às vezes tinham dificuldades, às vezes tinham preconceitos, mas com o desenvolver da série, mudaram muito o posicionamento e a perspectiva. Wallace, como foi o convívio dos outros personagens, do pai dela e como ele trata o filho, e até mesmo como ela interage com os outros na família, na empresa e durante os casos de julgamento? Percebeu algo?
Wallace: Olha, acho que nessa questão a série foi muito realista. Vou usar um exemplo: trabalhei formalmente uma vez e sofri um pouco de preconceito dentro do trabalho. Ainda que não sabia que era autista, mas eu sofria. A série trouxe diversos assuntos também muito realísticos, por exemplo, trouxe a paternidade atípica, que é um assunto pouco falado, e sabemos os motivos. Mas não vou entrar no mérito aqui. O pai dela é um grande suporte pra ela. E também acredito que a série trouxe uma visão bem bacana sobre como as pessoas leigas lidam com pessoas autistas em um primeiro momento, e como elas podem evoluir. Uma vez eu trouxe na minha página uma abordagem muito interessante sobre qual era o nível de suporte da advogada Woo, que é a personagem principal. Acredito que ela tem uma ampla rede de apoio e suporte, e acho que essa questão foi muito bem abordada na série.
Luca: Sim. E tem coisas até que acho bastante tristes, mas acabam não sendo muito o foco do seriado, como por exemplo, ela era uma aluna excelente na faculdade, a melhor aluna, sabe tudo, resolve tudo, fez a melhor faculdade possível. Ela não tinha nenhuma perspectiva de emprego por ser autista, porque simplesmente ninguém queria contratá-la nessa sociedade, mesmo sendo a melhor.
Mas ela só teve uma perspectiva de emprego porque o pai dela tinha conexões com pessoas de escritórios de advocacia e ainda sim tratava ela mal. É um pouco triste perceber isso, mas eu fico feliz que as pessoas que puderam conviver com essa personagem perceberam que não era o que eles pensavam, perceberam que ela é uma pessoa agradabilíssima e que além de tudo consegue trabalhar em conjunto.
Alpin: Eu estava lendo uma matéria no The New York Times e é muito difícil para pessoas com deficiência conseguir trabalho na Coreia do Sul, assim como é no nosso país e no mundo todo. Então, assim, eles recebem em torno de 800 wons, eu acho, que é um terço do salário médio na Coreia do Sul, quando conseguem emprego, né? Então eles conseguem trabalho, mas ganham muito menos também. Essa personagem, da série, tem um certo privilégio, né? E por sorte, por ter o pai ali que tem contatos e tudo mais, mas não é algo comum. Eu sou uma autista adulta, por exemplo, e para mim foi bem difícil nas vezes que tentei trabalhar em empresas e tal, no qual todo o capacitismo das minhas hipersensibilidades e tudo mais. Eu não tinha sido diagnosticada também, faz três anos que eu recebi diagnóstico. Então eu tinha todas essas questões que acabavam me fazendo perder o emprego.
Luca: Sim, ela tem uma rede de apoio. E até numa perspectiva de metanálise, esse seriado mostra como ela é uma pessoa que trabalha bem, uma pessoa que consegue conviver bem, tudo isso eu acho que é bastante produtivo para mostrar à nossa sociedade como pessoas autistas não são estereótipos que muitas vezes são projetados.
Alpin: Eu acredito que ela só estava conseguindo, eu acho que se eu não me engano tem um episódio que ela pensa em desistir do trabalho por conta do capacitismo e tal, então acredito que ela só continuou porque ela tinha suporte, ela tinha uma rede de apoio, ela tem uma amizade que é muito importante, a permanência dela no trabalho pra ajudar ela realmente a não deixar as coisas.
Eu lembro que na época que eu assisti, no ano passado, eu não tinha terminado um relacionamento e eu estava completamente sozinha aqui no Rio Grande do Sul, que é onde eu moro atualmente. Eu lembro que eu assisti, eu pensei: “nossa, tudo que eu queria era uma amizade como essa que ela tem”, sabe? E hoje eu tenho e percebo o quão importante é, o quanto isso está me dando suporte pra conseguir lidar com as coisas do dia a dia e tudo mais. Então eu amei muito essa parte dela ter uma grande amizade e do pai dela ser presente também ali. Achei super importante.
Luca: Esse seriado é produzido e distribuído pela Netflix, podendo ser consumido em qualquer lugar do mundo. Porém, por algum motivo, ele fez um sucesso estrondoso no Brasil, alcançando pessoas que normalmente não consumiriam esse tipo de conteúdo, tanto de coreano quanto de pessoas autistas. Por que vocês acham que o brasileiro gostou tanto disso e foi atrás de mais doramas e informações sobre pessoas autistas a partir desse seriado?
Alpin: O que percebi foi que as pessoas ao meu redor, que assistiram à série, acharam a série muito fofa, prendendo-se a esse aspecto de achar a personagem infantil. Eu achei problemático. Mas acredito que tenha servido para conscientizar as pessoas, que foram pesquisar e se informar mais a respeito. Inclusive, uma pessoa com quem eu estava fazendo amizade na época em que a série foi lançada assistiu para entender um pouco sobre mim. Ela disse: “Ah, eu vou assistir essa série. Ela é sobre uma personagem autista, né?”. Eu confirmei, e ela assistiu a série dizendo que queria entender um pouco mais do meu universo.
Wallace: Preciso reiterar novamente aqui que, assim como a Alpin, muitas pessoas vieram até mim e disseram: “Olha, saiu uma série sobre autismo, você é autista, né? Eu vou assistir, tá?”. Então teve esse prisma em relação a mim, fiquei até espantado. E quanto ao sucesso da série no Brasil, eu acredito que seja muito por conta da popularidade dos doramas, não só no Brasil, mas no mundo todo. Eu não tenho muito contato com doramas, então não quero fazer críticas, mas em todo lugar que eu vou, vejo que as pessoas gostam muito desse tipo de conteúdo.
Então, eu acredito que muito pela hype do dorama, o brasileiro assistiu à série, né? Mas eu também faço um adendo aqui. O título da própria série já chama muita atenção, né? “Uma advogada extraordinária”, um tema tão diferente falando sobre autismo. Então acredito que, olhando por esses dois fatores, o brasileiro consumiu muito essa série e ela explodiu aqui no Brasil. Acredito que foi por conta desses dois olhares.
Luca: Eu concordo bastante. Inclusive, tem uma anedota engraçadinha meio esquisita, porque eu tenho uma vizinha bastante próxima, é uma senhora já, que o neto dela de 5, 6 anos acabou de ser diagnosticado com autismo. Ela ficou devastada, perdeu completamente a esperança da vida, ficou muito triste. Eu tentei explicar o máximo possível sobre como muitas vezes não era o que ela estava pensando, o que era ser autista, falar tudo que a gente já sabe para ela.
Mas o que a animou mesmo foi esse seriado que saiu na mesma época. Ela via o seriado e viu: “Nossa, essa menina é inteligentíssima. Ela é extraordinária e é a melhor advogada que tem. Meu marido é advogado, então com certeza o meu neto vai ser o melhor advogado do mundo também, com base nessa série que eu vi”. Eu fiquei um pouco triste, mas eu acho que foi a maneira dela de tentar compreender melhor a situação.
Óbvio, depois, eu tentei conversar um pouco mais e mostrar sobre como não é exatamente assim, a questão de altas habilidades e como é mais voltado para a realidade. Mas foi isso, essa foi a maneira dela de tentar contextualizar a própria família. E por fim, vocês recomendariam essa série para alguém? Dariam ressalvas ou evitariam que elas soubessem dessa série, como é que seria?
Alpin: Eu recomendaria sim, com certeza. Até me lembrei aqui de uma pessoa que eu fui muito próxima e que era super capacitista e que eu fiquei sabendo que depois que assistiu a série mudou muito a opinião e tal a respeito de uma pessoa autista. Então acredito que, por mais que tenha algumas coisas que a gente deve realmente problematizar e tudo mais, é algo assim que conscientiza também.
Wallace: Olha, eu acho que eu recomendaria sim com toda certeza, na verdade eu recomendaria porque a gente carece de produções relacionadas ao autismo, né? Estão surgindo novas produções, mas ainda sim é pouco. Então a gente carece de produções relacionadas ao autismo. Apesar da personagem ser estereotipada, lembrando que existem autistas assim, eu acho que a série traz pontos muito positivos e importantíssimos, como por exemplo, a história do autismo no terceiro episódio, onde a protagonista interage com um autista nível 3 de suporte, ela conta a história de Hans Asperger, né? Então, eu acho que a série aborda muito bem também a história do autismo.
Então assim, eu recomendaria sim a série, eu só faria um adendo para a pessoa para ela ficar muito atenta à etimologia da palavra espectro, porque autistas como aquela personagem, mas há autistas completamente diferentes, né? Então, para a pessoa não ficar presa somente àquela personagem em si e estigmatizar todo o espectro autista, lembrando que estamos no espectro, eu acho válido salientar isso, né? Mas no geral, eu recomendaria sim a série, acho que a produção se esforçou muito para trazer informações e eu recomendaria sim, a série é muito boa.
Luca: Sim, minha mãe, quando foi ver, comentou comigo. Viu o primeiro episódio e achou horrível. Falou: “Ah, eu não gostei não. Essa personagem é muito diferente da realidade, ela é esquisita, genial demais. Nossa, não gostei. Pessoas autistas não são assim”. Ela só convive comigo e com meu irmão (risos). Aí, depois, no decorrer dos episódios, são mostrados outros personagens com transtorno do espectro autista em diferentes graus, e foi aí que ela se tocou. “Nossa, ela é uma pessoa. Ela é uma pessoa que tem essas características. Tem outros personagens na série que não são da mesma maneira.” Aí que ela aceitou melhor.
Mas eu acho que é essencialmente isso que vocês dois pontuaram. A sociedade que a gente vive, querendo ou não, já tem concepções bastante ruins sobre o transtorno do espectro autista. Então, se é para alguém ser introduzido, a isso, que seja num seriado que faz isso bem, né? Melhor do que em outro que dizem que é curável. Enfim, foi um prazer enorme ter os dois aqui no programa. Eu fico bastante contente de ter gravado isso aqui, e aos ouvintes, vou deixar vocês se despedirem e falarem para onde acham que vocês estão.
Alpin: Ok, foi um prazer participar dessa gravação. Muito obrigado pelo convite. Muito obrigada. Para me encontrar nas redes sociais, tanto no Instagram quanto no Twitter e TikTok é @BlackAutie. A gente lê “blackout”, mas na hora de escrever é blackautie. Eu espero que vocês tenham gostado e até mais.
Wallace: Eu gostaria de agradecer, foi muito bom poder participar com todos vocês aqui, acredito que podemos extrair muitas informações e passar para as pessoas. Eu acho isso muito bacana. Para quem quiser me achar nas redes sociais, eu crio conteúdo no @wallacedelira e também sou subdiretor do movimento de inclusão social Autistas Alvinegros. Então, quem quiser me achar por lá, também estou por lá. E é isso, pessoal. Foi muito bom participar com vocês, muito obrigado pelo convite. Viu?
Luca: Bom, muitíssimo obrigado por ter escutado o podcast e até a próxima.