Introvertendo 223 – Hiperfocos Estranhos e Bizarros 2

Uma das formas mais eficazes de autistas passarem vergonha em público é falar de um interesse extremamente restrito. Isso pode gerar sofrimento, mas também situações engraçadas. Nossos podcasters relembram hiperfocos bizarros como piadas de Chuck Norris, catalogação de objetos astronômicos, teorias da conspiração e até mesmo a discografia da banda Aviões do Forró. Participam: Michael Ulian, Paulo Alarcón, Otávio Crosara, Thaís Mösken e Tiago Abreu. Arte: Vin Lima.

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Transcrição do episódio

Tiago: Olá pra você que ouve o podcast Introvertendo, que é o principal podcast sobre autismo do Brasil, e que frequentemente traz os assuntos mais aleatórios e esquisitos pra vocês. Meu nome é Tiago Abreu, sou jornalista, um dos integrantes aqui desse projeto que aborda principalmente autismo na vida adulta e particularmente vou passar muita vergonha nesse episódio hoje.

Otávio: Olá, eu sou o Otávio, eu também vou passar um pouco de vergonha.

Michael: Sou Michael, o Gaivota, e se eu tivesse alguma vergonha na cara eu provavelmente não me chamaria de Gaivota a todo momento. Então vou deixar esse papel de vergonha com vocês.

Paulo: Olá pessoal, sou Paulo Alarcón e por alguns dias esse episódio foi meu hiperfoco.

Thaís: Olá pessoal, aqui é a Thaís Mösken e assim, se eu tivesse vergonha provavelmente não estaria nem gravando podcast pra início de conversa.

Tiago: E como vocês viram, o episódio de hoje é pra falar sobre os hiperfocos estranhos e bizarros. É uma continuação e daqui a pouco a gente explica um pouco mais sobre isso. Vale lembrar que o Introvertendo é um podcast feito por autistas com produção da Superplayer & Co.

Bloco geral de discussão

Tiago: Aqui no Introvertendo nós já fizemos vários episódios relacionando o hiperfoco, episódio 54 – Conhecimento inútil, episódio 170 sobre hiperfoco no sentido mais conceitual. E por último nós fizemos o 193, chamado Hiperfocos Estranhos e Bizarros. A recepção de vocês foi sensacional, muita gente se identificou e a nossa discussão sobre aquilo que é considerado estranho e esquisito certamente motivou muita gente. Então a gente decidiu fazer uma continuação com uma nova formação. O Michael ainda tá aqui que estava no episódio anterior, mas todos nós aqui, Thaís, Paulo, eu e o Otávio não estivemos no episódio anterior. Então também a gente vai contar as nossas histórias.

Paulo: Eu na adolescência tive um hiperfoco que eu considero hoje bastante estranho. Era um hiperfoco que não é socialmente aceito igual aviões, dinossauros, que era em teorias conspiratórias. Eu gostava de estudar isso e pesquisar essas histórias que inclusive são excelentes motes para você criar livros, pra você criar aventuras de RPG e por aí vai. Na época eu peguei alguns padrões sobre a maioria das teorias da conspiração que eram uma forma de encobrir alguma merda que alguém tava fazendo, geralmente algum governo e criava uma história ainda mais bizarra só pra desacreditar quem quiser, estilo área 51, por exemplo, que falava muito de aliens tal, mas era uma base de testes de aeronaves.

Tiago: Socialmente você comentava isso com as pessoas? E as pessoas reagiam de uma forma a rejeitar, achar esquisito?

Paulo: Eu comentei com algumas pessoas e sim, a maior parte achava esquisito, então eu parei de comentar e isso ficou só nos fóruns da internet dos anos 2000. Depois mais recentemente eu tive outros hiperfocos que não eram tão estranhos, mas extremamente específicos, tipo bioacústica de anuros brasileiros. E isso nasceu de uma ajuda que eu dei pra minha esposa do TCC dela. E aí eu comecei a estudar como é que os sapos fazem sons e como reconhecer esses sons. Até que saiu como resultado do trabalho dela o uso de uma rede neural que identifica sapos pelo som. Isso é até importante dentro da área da biologia porque dificilmente você encontra o sapo mesmo. Muito raro você ver ele fisicamente, mas sempre houve ele.

Michael: Você tinha até conversado comigo pouco tempo atrás sobre isso. Tipo, achei foda pra caramba justamente a ideia de usar o que a gente pra tentar identificar tentando até ver se conseguiria trabalhar o software pra identificar sapos que a gente não conhece ainda, não tem identificados. Tipo, achei muito hard isso aí porque isso está na natureza do método científico. A graça está nisso aí, você não só conseguir testar suas hipóteses, mas conseguir fazer previsões com base nelas.

Thaís: É um exemplo de quando o hiperfoco se torna algo útil.

Paulo: É, mas a maioria das pessoas pra quem eu falava isso ficavam meio entediadas.

Michael: Cara, é que no meu campo da paleontologia basicamente está num platô de experimentação. Tipo, tudo na paleontologia hoje é: “ah, faz uma análise filogenética”. Eu juro pra vocês! Eu vi um artigo que testava força de mordida em arcossauros através de análise filogenética. Tipo, caramba! Vocês estão com tanta preguiça assim de aprender um pouco de matemática básica pra fazer um modelo biomecânico? Dói tanto que vocês tem que fazer até isso com filogenética? Ahhh!

Paulo: (Risos)

Michael: Cara, toda vez que eu vejo uma ideia alternativa dentro de biologia para metodologia eu acho muito da hora.

Otávio: Não, eu entendo. Eu entendo e dou razão.

Paulo: Depois também, mais recentemente, comecei um hiperfoco que tem uma história um pouco emocionante aí. Queria saber minhas raízes, minhas origens, e eu tinha um gap na família que era a minha avó materna. Ela não tem contato com a família dela, com os irmãos dela, ela foi afastada da família quando tinha oito anos pra ir trabalhar pra uma outra família, depois vindo de Alagoas, chegou no Rio de Janeiro, começou a vida dela por conta própria e foi onde formou eventualmente a família dela.

E eu queria saber de onde ela veio. Eu sei que ela era filha de preto e índio. A avó dela chegou a ser escrava nos tempos do império. As histórias que ela tinha eram até os oito anos dela quando se separou da família. Resolvi ir atrás de uma análise genética minha para ver toda a minha composição. Também tinham algumas incógnitas do lado do meu pai, principalmente por parte do avô dele. E aí em cima dessas descobertas de todo o meu mosaico genético, eu comecei a ver todos os povos que formavam minha genética, o que inclui inclusive judeus, povos de iorubá, bantu, ibéricos que são grande parte, indígenas tupi também.

Sendo que então comecei a ver mitologia, as histórias de fato desses povos e eu comprei livros sobre os mitos, estou pesquisando sobre cada um desses povos aí, aos poucos.

Michael: Eu sei que iorubá tem uma mitologia bem interessante, tem um colega que a família ainda é de religião descendente de iorubá. Então, eu já ouvi uma ou outra história. E se tiver algum material interessante para compartilhar sobre tupis eu aceito porque tipo ultimamente por causa dos meus projetos de world building tipo estou muito focado em história pré-cabralina do Brasil. Inclusive falando aqui dos Guaranis, tu tem nas guerras guaraníticas missionários portugueses contra o governo português. Tipo, o negócio era muito free-for-all nessa época (risos).

Paulo: Sim, a mesma coisa também na história da questão da escravidão. Inclusive em algumas regiões, isso começa com a chegada do islã. Eles trouxeram também a ideia de escravos e vários povos se convertiam ao islã justamente pra não virar escravo, já que segundo o islã somente um infiel pode ser escravizado. Inclusive se você ver regiões hoje de onde vinham grande parte do dos povos que foram escravizados, principalmente a região da Nigéria, o culto aos orixás como existe aqui no Brasil, lá é uma religião super pequena, a maior parte da população é muçulmana. Aqui no Brasil existem mais pessoas cultuando orixás do que na Nigéria, por exemplo, tanto em percentual como em números absolutos.

Otávio: O primeiro hiperfoco da minha vida foi a revista Recreio. Eu lia a Recreio religiosamente de cabo a rabo, eu amava a colagem a edição, e meu pai comprou todo o material da Recreio na época dos Letronix. Vocês lembram o Letronix? Se vocês são novos demais pra lembrar do Letronix ,deixa eu explicar o que é. Há muito muitos anos atrás no Goiás de Meu Deus tem uma revista que fez uns bonequinho de letras. Cada letra era um boneco de ação. Era maravilhoso. Tinha uma tirinha também em que as letrinhas batalhavam contra monstros que bagunçavam a ortografia. Era a coisa mais politicamente correta possível. E era maravilhoso. E aí passou pra números, mas aí perdeu a graça.

Eu tinha um grande hiperfoco também na trama, na lore de certos videogames. Em Lore de Super Smash Bros, eu era viciado em Lore de Mario Party, eu era viciado em lore de Castle Rumble, que era um jogo muito pouco conhecido no Brasil. Eu tenho um conhecimento enciclopédico de One Piece, eu amo One Piece. Ele é basicamente o meu grande hiperfoco de agora. Meus hiperfocos sempre foram pequenos. Meu hiperfoco mais atual agora é Dungeons and Dragons. Esse está durando dois anos.

Michael: Mas Otávio, na tua época tinha alguém que achava esses hiperfocos que você tinha ou o nível de interesse que você tinha nessas coisas estranhas assim de te tratar de alguma forma diferente por isso?

Otávio: Nossa, várias vezes. Eu lembro quando eu comecei a assistir anime e assistir anime no Brasil nos anos 2000 era um pecado. E daí eu comecei a guardar mais pra mim.

Michael: Inclusive eu cheguei a pegar umas revistas Recreio na época quando elas estavam fazendo… surpresa, surpresa… uma edição especial de dinossauros. Inclusive eu tenho até o livretinho até hoje guardado tem algum canto das bagunça minha.

Otávio: Nossa, eu também.

Paulo: Nossa, eu tive essa dos dinossauros. Dos letronix eu me lembro mas quem era mais viciado eram meus irmãos, mas essa do dinossauro me pegou, teve outra da…

Thaís: Pra mim esse aí era do chocolate surpresa. Que teve o dinossauro e teve o do espaço e o do fundo do mar. Você também pegou esse daí, Paulo?

Paulo: Peguei!

Thaís: Você tem idade pra isso que nem eu (risos).

Paulo: Peguei, eu tinha coleção, tinha coleção, principalmente dos dinossauros.

Thaís: Eu também cheguei a gostar de anime por um tempo, mas eu não consideraria isso um hiperfoco e a gente conversou um pouquinho sobre coleções, eu já colecionei várias coisas, mas também não penso em uma coleção como um hiperfoco meu. O que eu me lembro e que eu gostava muito bom era que a gente tinha várias enciclopédias em casa, mas tinha uma em específico de só dois volumes. E aí eu imaginei, quando eu era criança, era que se um dia eu fosse ler uma enciclopédia, era melhor eu começar por uma que tinha dois volumes.

Só que eu nunca li aquela enciclopédia inteira, era uma enciclopédia ilustrada da Folha que tinha os símbolos do tema em cada um dos artigos dela, cada um dos verbetes. E eu resolvi em determinado momento ler todos os verbetes de astronomia. Eles eram marcados com um símbolo de Saturno. Então era muito fácil de ir folheando as páginas e encontrar todos os verbetes relacionados à astronomia.

E eu resolvi catalogar também quais eram esses verbetes. Eu não escrevi tudo o que havia ali na enciclopédia nessa parte, mas eu tinha escrito a mão mesmo na época eu não tinha computador, cada um dos títulos como se fosse uma lista mesmo para que se eu quisesse saber se alguma coisa estava ali nesse eu conseguiria ir procurar. Naquela época a enciclopédia era uma ótima fonte de informação. Não tinha internet pra gente pesquisar muito mais coisas, hoje em dia eu já não recomendo esse tipo de coisa pra ninguém.

Anotando as coisas pra esse episódio, notei como tem coisas relacionadas a astronomia que chegaram a ser hiperfocos meus de eu largar todas as outras e olhar só pra aquilo, prestar atenção e ficar falando sobre aquilo até incomodar as pessoas ou as pessoas não entenderem porque que eu estava tão interessada naquele assunto.

E uma das coisas ainda relacionadas a astronomia é que em determinado momento eu resolvi decorar os nomes das constelações. Só que a lista que eu tinha na enciclopédia que aí já não era mais a da Folha, era a Conhecer, tinha além de todas as constelações, tinha também o nome delas em latim e tinha o genitivo delas. É como se fosse o gentílico, vamos dizer assim quando você é de um país ou de um estado, mas no caso seria o “gentílico” da constelação. Então se você tem uma estrela naquela constelação, ela começa com esse nomezinho aqui, por exemplo.

Em determinado momento sabia de cabeça todas as constelações, seus nomes em português, em latim e seus genitivos e eu ficava escrevendo essa lista e reescrevendo essa lista. Às vezes eu tava na escola e eu listava tudo aquilo. Então, eu produzi muitas e muitas vezes essa mesma lista só que de cabeça. E eu me lembro que um dia uma professora me falou que isso nunca ia me levar a lugar nenhum. Aí sempre brinco que no final eu acabei indo pra Olimpíada de Astronomia na Índia. Então tudo bem que não foi aquela lista especificamente, mas acabou me levando a algum lugar.

Tiago: E quem quiser saber mais sobre a história dessa viagem da Thaís pra Índia é só ouvir o episódio 71 – Pé da Estrada, que ela conta lá em uma hora detalhes da viagem.

Paulo: (Risos)

Thaís: (Risos) E falando em catálogos, tem várias coisas relacionadas a catálogos também. Teve uma época que eu jogava alguns joguinhos simples de computador, computadores muito simples antigamente. Eu tinha um joguinho da Carmen Sandiego que cabia em um disquete.

Paulo: Eu lembro desse jogo, tinha no Mega Drive.

Thaís: Nossa, nem sabia que ele era de Mega Drive. Mas então nesse jogo da Carmen Sandiego você basicamente é um detetive que tem que encontrar ou a Carmen Sandiego ou um dos comparsas dela. Você começa em um local, acho que ele era aleatório, e começa a seguir pistas. Esse suspeito vai indo de país em país e você tem que ir no final descobrir não só onde ele está pra chamar a polícia, capturar ele, como também você precisa descobrir quem é esse suspeito. Cada um dos comparsas da Carmen Sandiego tem suas próprias características e se você fizer o mandado de busca pra pessoa errada você perde.

Então tinham várias coisas que eram catalogáveis. Então Thaís obviamente gostava de catalogar e eu tinha uma folha A4 mesmo pra cada cidade. Então eu desenhava a bandeira do país no cabeçalho, colocava o nome do país e colocava qual era aquele local na época. Inclusive na Europa não era tudo euro. Hoje em dia deve ser terrível jogar esse jogo. Era bem mais fácil você descobrir pra onde eles estavam indo, só indo no banco e perguntar que moeda eles estavam pegando. Fora desse cabeçalho, eu colocava outras informações daquele país que pudessem me ajudar ao longo do jogo.

Outro jogo que também eu cataloguei por um bom tempo foi stop. Eu jogava online e tinha pra cada letra uma série de temas em que eu tinha que colocar uma que começasse com aquela letra. Então eu tinha um catálogo para cada uma das letras. Quando era sorteada a letra do stop, eu puxava a minha página e aí o grande desafio era conseguir digitar rápido o suficiente. Na época, minha digitação era bastante lenta. Mas eu me diverti muito com isso também e tentar encontrar as palavras mais diferentes, que outras pessoas não usassem, porque valia mais pontos também.

Seguindo aqui na parte de catálogos, esse aqui eu já comentei também algum outro episódio, foi no episódio da Wikipédia. Teve uma época que eu comecei a copiar o catálogo chamado NGC. É um catálogo de astronomia, de vários objetos astronômicos. E ele é bem grande, eu não me lembro quantos mil objetos tem neste catálogo. Eu resolvi fazer uma planilha que ia ser colocado na Astropédia, uma wiki que estávamos montando no grupo de astronomia. Ela não foi pra frente, mas na época eu não sabia que ela não iria pra frente e eu estava muito empolgada em fazer o catálogo NGC inteirinho colocando ali nome dos objetos, as várias características dele, em qual constelação estava, distância e por aí vai.

Então era um catálogo bem grande e eu ficava basicamente horas e horas digitando informações, digitando numerozinhos, conferindo se eu não tinha ditado nada errado e eu me divertia muito fazendo isso. Não faço ideia de quantos dias no total eu usei pra isso e tudo se perdeu. Acho que não tem mais nada em nenhum local da internet atualmente. Mas tudo bem, eu me diverti na época, acho que valeu.

Michael: Eu vou te falar que pra mim nunca passou na minha mente tratar esse ato de catalogar as coisas como hiperfoco em si. Pra mim sempre foi uma consequência da natureza do hiperfoco. Tipo beleza, você hiperfoca numa coisa ou no momento você juntou tanta informação dessas coisas que se você não começar a anotar, tem um limite físico de quando você consegue guardar na cabeça.

Eu tenho quase 1 GB na minha pasta do meu projeto. A maior parte do material são arquivos de texto. Eu fico anotando essas coisas pra não esquecer, pra não esquecer, pra não esquecer, e agora eu estou tanto lixo de texto pra limpar que eu estou começando a passar tudo pro Google Drive do Google Docs pra tentar fazer um assassment que eu tenho que agora catalogar os meus catálogos porque é muita coisa.

Thaís: (Risos)

Paulo: (Risos)

Thaís: Catalogar os catálogos é muito engraçado (risos).

Tiago: Eu acho que no fundo no fundo todos os hiperfocos aqui envolvem essa questão da catalogação. Então também acho que foi muito legal a Thaís falar isso. Eu vou falar um pouco sobre isso também quando chegar a minha vez. Mas enfim, só queria comentar isso. A Thaís falou sobre a Wikipédia e a gente fez o episódio, o 51, sobre isso. E uma coisa que talvez a gente não falou naquela época é que a Thaís foi uma das primeiras wikipedistas brasileiras da Wikipédia em português. Entre mulheres com certeza foi uma das três primeiras. É uma coisa muito curiosa.

Thaís: Mas dessa parte de catálogo, eu nunca tinha pensado nisso. Eu sabia que eu gostava de catalogar coisas, mas eu também nunca tinha notado como isso estava relacionado aos meus hiperfocos. Foi só realmente anotando as coisas pra esse episódio que eu percebi. Eu também passei um bom tempo catalogando cartas de Magic, então eu comprava muitas cartas e eu ficava catalogando também com várias colunas ali no Excel, tanto corcos de mana, de quem que era a arte, qual que era a coleção, qual que era o ano da coleção, qual que era o ano em que eu tinha comprado, onde eu tinha comprado e por aí vai, tudo que eu consegui aí colocando em uma tabela eu colocava. Ainda tenho uma tabela gigantesca até hoje das minhas cartas de Magic.

E atualmente o meu hiperfoco, o Otávio falou que o dele é da Dungeons & Dragons, e o meu eu posso dizer que também é. Hoje em dia eu penso muito em RPG, eu mexo muito com isso, eu converso com quase todo mundo sobre isso. Quando eu menos percebo, eu estou falando sobre RPG com outras pessoas e eu preciso me controlar pra não fazer isso em tudo, porque eu sei que as pessoas se incomodam quando a gente começa a falar de um assunto que não interessa elas o tempo todo.

Tiago: Começando os meus exemplos de hiperfocos estranhos e bizarros, a Thaís falou uma coisa que me fez lembrar que eu sempre tive uma fixação por sistemas operacionais antigos e computadores velhos. E de uma forma assim que eu lembro que na época do meu ensino médio eu estava criando um interesse muito grande pelo Windows Enterprise 2003, Windows 2000, Windows 98 e o Millenium, principalmente. Porque o Millenium tinha toda aquela aura de sistema operacional horrível, bugado, tenso, etc, e eu ficava usando máquinas virtuais para tentar instalar ou montando e desmontando computadores antigos.

Eu montei um computador que está lá na casa da minha mãe que roda o Windows 2000 e as peças dele foram fabricadas nos anos noventa, sabe? E as pessoas sempre acharam muito esquisito, uma perda de tempo, um gasto de energia muito grande. Eu já vi muitos autistas tendo interesses em peças antigas em equipamentos antigos, essa coisa nostálgica, inclusive dos jogos antigos também. É uma coisa que eu vejo e hoje em dia há um sentido de utilidade em alguns desses campos, principalmente jogos, mas no meu caso é computador antigo, peça velha que não roda nada e eu tenho sim uma paixão muito grande, muito grande.

O Luca antes de eu ir embora de Goiânia para Porto Alegre me deu um DVD original do Windows Vista. Assim, um case super bonito que não tinha utilidade na casa dele e ele me deu esse DVD original. Vou conseguir instalar em alguma coisa? Não. Mas eu sempre achei muito legal.

Thaís: Por falar em Windows Vista, vou conseguir instalar em algum lugar? Não. Gostaria de instalar ou gostaria de usar? Também não.

Paulo: (Risos)

Tiago: (Risos)

Michael: (Risos) Ai ai.

Tiago: Muito bom, muito bom.

Paulo: Já esse comentário do Tiago mostra a idade dele, né?

Tiago: (Risos)

Paulo: Não pegou o Windows XP no auge dele, não pegou o Windows Millennium.

Michael: Eu concordo com essa noção do Tiago de que tipo, parece realmente que é muito comum o hiperfoco estar ligado com essas coisas mais nostálgicas. Talvez pelo fato de que tudo que eu vou gosto ser velho. Eu gosto de História. Velha. Eu gosto de engenharia militar. Velha. Eu gosto de world building. Literalmente pra um projeto retrofuturista e bem, meu hiperfoco principal que é a paleontologia é um pouquinho velho, só.

Paulo: (Risos)

Tiago: Eu já falei várias vezes aqui no introvertendo que o assunto, o tema, o tópico mais recorrente na minha vida é música. Isso assim, disparado. Música é o meu interesse restrito que mais durou até porque ele é muito mutável, está muito presente na sociedade de uma forma geral. Música é um negócio infinito, sempre tem coisa nova, então acabou se tornando um repertório inesgotável. Mas eu percebi ao longo dos anos que a minha forma de ouvir música é diferente. Ela tende a catalogar as coisas, a lembrar de números, datas, coisas que geralmente as pessoas não se interessam. Assim como o Otávio disse, eu também tenho uma forma enciclopédica de lidar com as coisas e eu acho que isso tem uma relação com algo ser visto como estranho ou bizarro, além do próprio tema.

E eu tenho uma história muito engraçada que ocorreu esse ano. Eu geralmente muitas vezes tenho interesse restrito por coisas que eu gosto bastante, que eu me empolgo muito. Mas a gente sabe que tem aquele conteúdo musical que acaba ficando na nossa cabeça quase que involuntariamente. E ocorreu isso comigo. Eu tenho um outro podcast que é o Espectros, é um podcast de entrevistas com pessoas da comunidade do autismo e aí em um dos episódios eu estava falando com o entrevistado. Perguntei pra ele qual gênero musical ele detesta e aí ele falou: “forró”. E aí eu brinquei com ele falando assim: “ah, então Xand Avião não toca no seu churrasco”. E aí ele riu e falou assim: “não sei nem do que você está falando”. E naquele dia eu ouvi Chupa que é de Uva do Aviões do Forró, que era a banda do Xand Avião, umas oito vezes seguidas assim. E aí na minha cabeça não parava mais de ter Aviões do Forró.

Eu gosto da banda? Gosto da música? Não. Mas eu não conseguia parar de tirar da cabeça a ideia da banda Aviões do Forró, o trabalho deles e etc. Foi algo que se fez presente na minha infância em certo nível, porque eu lembro que nos anos 2000 muita gente ouvia Aviões do Forró, mas foi uma coisa bizarra assim. E não é um assunto que é fácil de você comentar com as pessoas. E era tão bizarro, mas tão bizarro que isso começou a interferir o meu sono. Eu lembro que uma vez eu acordei no meio da madrugada com insônia e de repente veio um burugudu askitiguirididou, que é uma das onomatopéias que o Xand Avião faz no show em referência ao Riquelme, que é o baterista da banda. Então chegou nesse nível de bizarrice.

Eu tenho uma forma também de lidar com música que tem a ver com conhecimento enciclopédico de que quando eu estou com interesse restrito muito grande sobre alguma coisa, eu escrevo sobre aquilo. Então eu comecei a pesquisar algumas coisas sobre Aviões do Forró, dissertações, teses, artigos, notícias e fui consolidando algumas coisas e montando meio que um quadro geral das coisas.

Otávio: Tiago, eu sei exatamente o que é isso. Houve uma vez na durante as férias, eu não lembro de qual ano, foi recente. Minha namorada estava dormindo aqui em casa e eu estava mexendo no computador. aí de repente eu me deparo com Buddy Holly. Fui lendo, ouvindo a discografia dele, eu ouvi toda a discografia dele. Eu passei oito horas daquela noite ouvindo música de Buddy Holly e lendo sobre Buddy Holly, lendo sobre o dia que ele morreu, que é considerado o dia em que a música nunca morreu. Como ele influenciou os Beatles, como ele definiu o formato atual de bandas de rock, como ele quase que é o avô do rock. E aí minha namorada acordou, eu fui apresentar Buddy Holly pra ela e eu tava tão eloquente aquela manhã que eu fiz minha namorada se sentir saudades do Body Holly.

Cara, o resto daquele dia foi péssimo, porque eu não tinha dormido naquela noite. Deu onze horas, você vê o quão imerso você tá naquilo e você fala: “eu não vou conseguir dormir essa noite”. Exaurido. Exausto. E cara, vale a pena, são muitos muito boas.

Tiago: Eu vejo isso como bom, mas ao mesmo tempo algo bem ruim. Porque isso prejudica às vezes até o desempenho profissional em outras coisas. Eu deixo de fazer outras atividades por causa de um interesse restrito, que foi algo que a gente até já falou no episódio 170 sobre hiperfoco. Mas eu me identifico muito com isso que você falou, principalmente sobre essa coisa de enfiar esse interesse restrito em todo tipo de contexto. Eu tive isso com Aviões do Forró. E aí eu tenho uma história muito engraçada com esse interesse por aviões.

Eu fui convidado pra ser celebrante de um casamento de dois amigos meus, o Saulo e a Cássia. Inclusive um abraço para eles se eles estiverem ouvindo. E eles me fizeram esse convite pra ser celebrante do casamento deles. E eu vi isso como enorme desafio porque basicamente é o dia mais importante da vida deles, é mais complexo do que uma palestra e eu nunca tinha feito isso. Então eu tive que estudar bastante, criar uma narrativa, entrevistar eles, mas na minha cabeça eu tava com uma vontade intensa e doida de enfiar Aviões do Forró no contexto do casamento deles.

Otávio: Puta que me pariu, sério?

Tiago: E é tão contraditório que, por exemplo, a Cássia entrou no altar ao som de Rammstein, então você já imagina o perfil do casal, entendeu? É uma coisa que não tinha nada a ver. Mas eu consegui. Eu descobri uma música do Aviões do Forró chamada Feito Capim que saiu no álbum Volume 7, que saiu em 2010. E Feito Capim é uma música cujos versos são assim: “o amor é feito capim / mas veja que absurdo / a gente planta, ele cresce / aí vem uma vaca e acaba tudo”. E aí eu consegui usar os versos dessa música pra fazer exatamente uma crítica no sentido de que o amor deles não é feito capim.

E as pessoas se divertiram, foi um negócio muito bom. Tinha tudo pra dar errado, mas deu certo. E eu acho engraçado quando a gente consegue colocar esses hiperfocos estranhos e bizarros de uma forma que a gente consegue se beneficiar. É claro que isso não ocorre sempre, mas naquele contexto, naquele momento eu consegui. E aí Aviões do Forró começou a ser presente em tudo, inclusive na capa desse episódio.

Otávio: Lembrei de outro hiperfoco que eu tive isso e me causou muito constrangimento. Eu lembro que teve uma vez que eu estava viciado, mas eu digo assim, viciado, em fatos de Chuck Norris. Armas não matam pessoas, Chuck Norris mata pessoas. As pessoas brincam de ser Deus. Deus brinca de ser Chuck Norris. Teve uma época em que eu decorei eu acho que uns 80 desses. E cara eu fui falar isso numa festa que eu fui participar. Ali eu paguei mico. Mano, eu achava tanta graça daquilo. Foi ultra cringe. E eu não conseguia parar porque eu achava hilário. Nossa, agora eu estou com vergonha só de lembrar. Agora que eu consigo ver como os adultos estavam olhando estranho pra mim. Caralho mano, está ruim. Nossa, meu.

Paulo: Eu tive uma fase também de gostar das piadas do Chuck Norris, no caso eu fazia parte do grupo da comunidade no Orkut do Chuck Norris Facts. E eu ficava horas vendo esses fatos. Era engraçado mesmo, mas não saia contando pra todo mundo.

Tiago: Nesse caminho de música, eu já falei aqui no episódio 166 – Gafes Sociais da Vida Autista, que eu gostava quando era criança muito de uma banda chamada Trazendo a Arca, que era uma banda do cenário evangélico quando eu era religioso. E o Trazendo a Arca fez muito parte da minha infância. Eu acompanhava os lançamentos, mas daquela forma bem autística. Eu adquiri um conhecimento sobre a carreira deles, sobre contexto de produção das obras, créditos de compositores, isso mentalmente. Produção musical, nomes de faixas em ordem de álbuns. E aí eu mantive isso na cabeça e mesmo anos depois está armazenado no meu HD, digamos assim.

Eu lembro que no ano passado, em 2021, um dia eu estava comentando sobre isso com o Willian Chimura, que faz parte aqui do podcast, que é meu amigo pessoal também. E aí o Willian teve a ideia de fazer um desafio. Ele abriu o YouTube Music e colocou a discografia deles no aleatório. E ele criou um desafio que era tocar a música e eu tinha que identificar o nome da música. Naquele dia ele descobriu que eu tinha uma habilidade bizarra que tá relacionado ao hiperfoco que virou uma uma piada interna que a gente tem.

Ele tocava as músicas do Trazendo a Arca e tem algumas músicas deles que começam só com palmas. Não tem um instrumental. O instrumental começa em uns cinco segundos. E só pelo barulho da palma eu sabia identificar que música era. E o Willian achou isso maravilhosamente bizarro. Ele achou muito, muito bom. E aí ele fez esse mesmo desafio de novo comigo num churrasco entre amigos e todo mundo ficou impressionado. E pra mim tipo era uma coisa super normal identificar o padrão de palmas do início de uma música, sabe? Então isso acabou se tornando uma coisa muito engraçada.

E aí o Willian chegou a publicar o vídeo sobre isso no Instagram. Então se vocês tão ouvindo o episódio nesse momento, talvez já viram ou se não viram tem o link. E é ao mesmo tempo uma habilidade inútil que eu acho muito muito engraçada.

Thaís: Engraçado que pra mim essa parte de música às vezes acontece de eu ouvir alguma coisa e eu sinto muita vontade de ouvir de novo, de novo e de novo. Só que é um de novo, de novo, de novo da mesma música ouvida, digamos, 50, 60, 100 vezes seguidas. E aí quando eu percebo, eu estou há horas ouvindo a mesma faixa da música. Nem sempre ela inteira. Às vezes chega num pedaço e aí eu começo a repetir aquele pedaço várias vezes porque eu gosto de alguma coisa naquele pedaço, alguma coisa me interessou ali.

E isso de certa forma também me leva a conhecer pouquíssimas músicas, na verdade não pouquíssimas, mas muito menos do que a maior parte das pessoas que eu conheço. Porque quando ouço alguma coisa que me interessa, eu realmente ouço aquilo centenas de vezes.

Otávio: Nossa, eu também.

Thaís: E até eu ir atrás de alguma coisa diferente ou acontecer de alguma música diferente tocar e eu me interessar demora bastante.

Otávio: Quando a gente aprende a gostar realmente assim, a não ter vergonha dos nossos gostos, a gente fala com mais vivacidade. De forma que as pessoas param de ridicularizar e começam a admirar o jeito que você é apaixonado por aquilo. Eu tenho assuntos que eu consigo falar por horas e horas. Se a pessoa quiser ouvir também.

Tiago: E tu sabe geralmente a pessoa quer ouvir?

Otávio: Ah, eu com o tempo depois de muitos mal entendidos, aprendi a reconhecer o meu público.

Tiago: Agora que a gente já compartilhou nossos interesses restritos bizarros ou são considerados socialmente bizarros, eu fiquei com um grande que é um ponto que o Otávio já tocou e eu até já queria que você desenvolvesse isso um pouco, Otávio, que é o seguinte: o grande desafio para o hiperfoco bizarro ser socialmente aceito e não ser visto como hiperfoco bizarro é uma questão de contexto social? É de você conseguir fazer com que aquilo seja útil?

Otávio: Diria que é 30% contexto social, mas é 70% entrega, sabe? A forma como se entrega a informação. Dependendo da forma como você entrega a informação, qualquer contexto social pode aceitar ou repelir. Entendeu? A linguagem que você usa, a tonalidade de voz, número de piadas, sabe? O quanto de álcool está envolvido na conversa, são coisas assim, bem pequenas.

Paulo: Entra a questão do contexto da forma como se conta, mas também há coisas que são do interesse de poucas pessoas. Às vezes um fato aleatório pode ser importante, mas se você falar demais sobre isso cansa muita gente. Inclusive a minha esposa que me atura o dia inteiro, ela chega uma hora que se cansa de eu falando fatos aleatórios sobre algo que eu gosto muito. Inclusive até quando é um assunto de interesse dela, como anuros.

Thaís: Essa questão de medir ou perceber quando a pessoa está interessada ou quando a gente já falou demais, eu acho que é bem difícil pra mim. É muito mais na base do teste. E na dúvida eu tento lançar alguns comentários que eu acho interessantes e parar. Se a pessoa corresponde, vamos dizer assim, então se ela pergunta a respeito, se ela comenta a respeito, complementa o que eu tô dizendo, eu entendo que ela está interessada em continuar aquele assunto. E se ela não faz nada isso, se ela fala sobre outras coisas ou não fala nada, eu entendo que a pessoa não está interessada nisso. Mas não quer dizer que essa técnica dê 100% de garantia de que vai funcionar.

Michael: No meu caso, ainda tenho um pouquinho de sorte. Porque apesar dos assuntos que eu gosto geralmente serem nichados, eu tenho a sorte de conhecer bastante gente. O problema que daí me parece que minha capacidade de comunicação vai piorando duma forma que tipo… acaba que eu fico mais frustrado comigo. Porque chega um ponto que eu não consigo falar as coisas de forma concisa. Cara, é louco demais isso e eu perdi a capacidade de falar, muito legal!

Tiago: Eu acho que aqui a gente comentou vários aspectos. Tanto questão de contexto, a entrega que o Otávio mencionou, a questão também da pessoa em si ser receptiva ou até mesmo dos limites que as pessoas têm como o Paulo comentou. Então acho que tem vários fatores que a gente deve levar em consideração e que me fizeram lembrar inclusive de uma história pessoal.

Eu estava num aniversário de um amigo meu nesse final de semana e por algum motivo em algum momento a gente estava comentando que o Celso Portiolli teve lançamentos por causa daquela música Amizades Virtuais, que virou até um meme na internet. E aí do nada eu soltei: “é, o Celso Portiolli realmente chegou a gravar um disco chamado É Tempo de Alegria, que saiu em 1998”. E aí, todo mundo me olhou de um jeito estranho, assim, tipo, como é que você guarda na sua cabeça mentalmente sobre a discografia solo do Celso Portiolli, o título do álbum e ano de lançamento?

Nessa situação social eu consegui divertir as pessoas por causa simplesmente que eu achei o momento certo pra falar sobre isso e enfim, o autismo tem dessas. O autismo é uma coisa curiosa por si só.

Otávio: É verdade, é igual aquele ditado, até um relógio quebrado está certo duas vezes ao dia.

(Fim do episódio)

Xand Avião: Bora Riquelme!

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Equipe Introvertendo Escrito por: