O primeiro livro sobre neurodiversidade do Brasil é de um integrante do Introvertendo! Carol Cardoso e Luca Nolasco recebem Tiago Abreu para um papo sobre o livro “O que é neurodiversidade?”. Como surgiu a ideia, a estrutura do livro, as escolhas teóricas e como comprar… tudo em um só episódio. Foto: Bruno Soares. Arte: Vin Lima.
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Transcrição do episódio
Luca: Sejam bem-vindos ao podcast Introvertendo, um podcast sobre autismo. E hoje sou eu, Luca Nolasco, que vou apresentar. Hoje nós vamos falar sobre o livro “O que é neurodiversidade?”, escrito pelo Tiago Abreu, aqui do podcast.
Carol: Eu sou a Carol Cardoso, eu sou autista e eu já li “O que é neurodiversidade?” duas vezes e pretendo ler mais algumas outras.
Luca: E temos também a participação do ilustríssimo, o grande Tiago Abreu.
Tiago: Então, né… Eu geralmente estou aqui na função de apresentação e agora apareço como convidado. Mas pra quem não me conhece, meu nome é Tiago Abreu. Eu sou jornalista, estou na comunidade do autismo já tem aí uns 9 anos, trabalhando em vários aspectos, seja na produção jornalística, mas também aqui no próprio Introvertendo. E eu escrevi o livro “O que é neurodiversidade?”. É o meu segundo livro, na verdade. Vai ser um prazer falar um pouco sobre essa produção aí.
Luca: O Introvertendo é um podcast feito por autistas e produzido pela Superplayer & Co.
Bloco geral de discussão
Luca: Como surgiu a ideia do livro, Tiago?
Tiago: A história desse livro é um pouco engraçada, na verdade. Porque era 3 de janeiro de 2021. Eu estava conversando com o Willian aqui do podcast no Discord sobre planos pra vida. A gente estava ali naquele mês de janeiro, naquele clima bem bem estranho da pandemia rolando e com aquela sensação de que ia durar mais tempo. E aí eu estava falando pra ele de algumas ideias de livros e produções literárias. E aí ele chegou pra mim e perguntou: “ah, por que que você não escreve um livro sobre neurodiversidade pra iniciantes?”. Ele deu essa sugestão pensando muito no quanto que eu leio sobre o assunto já tem muitos anos. E eu parei pra pensar e fiquei assim: por que não? Por que não escrever isso?
Então nasceu meio que com essa luz que ele me deu. E cerca de uma semana eu tinha um rascunho já prévio do livro. Porque era algo que eu lia muito, então eu tinha as referências na cabeça. E depois foi um trabalho de revisão, de ajustes, de expansão em alguns trechos ou outros. Mas resumidamente “O que é neurodiversidade?” nasceu por sugestão. E foi uma ótima sugestão, na verdade. Porque eu acho que é um livro que que tem uma função bem específica e chegou em uma ótima hora.
Carol: Realmente eu acho que o livro cumpre essa função de ser o que é a neurodiversidade para iniciantes. E uma das coisas que eu percebi na leitura do livro é que ele faz referência a muitos outros textos. Então justamente é por isso que eu acredito que eles sejam uma boa introdução ao tema. E eu queria te perguntar quais foram as leituras, os materiais que te inspiraram na escrita do livro, as coisas assim que que tu acha que mais te influenciaram na durante o seu processo.
Tiago: Acho que a primeira coisa mais óbvia sobre referências e inspirações sobre o livro é a coleção Primeiros Passos da editora Brasiliense que é uma uma série de livros, geralmente livros de bolso, pequenos e que apresentam um tema de forma bem introdutória mesmo pras pessoas. Por exemplo, a gente tem O que é arte, O que é cultura, tem O que é deficiência da Débora Diniz, que é um excelente livro introdutório sobre deficiência. E eu pensei em fazer “O que é neurodiversidade?” meio que seguindo essa linha da Primeiros Passos só que com uma diferença, uma diferença que cabia mais no meu estilo de escrita. Porque os autores que escreviam na Primeiros Passos, por exemplo, muitas vezes eram apenas teóricos ou pessoas que eram muitos ultraespecializadas naquele tema. Bom, eu tenho a minha carga acadêmica da universidade, dentro do ambiente da pesquisa, mas eu também sou um jornalista.
Então eu queria fazer um meio termo entre as duas coisas: ser um livro bem rigoroso, mas ao mesmo tempo apresentasse a comunidade do autismo de um ponto de vista mais cultural. Então eu poderia dizer que essas foram as inspirações básicas do ponto de vista da estrutura do livro.
Eu levei muito em consideração vários livros sobre autismo que eu já tinha lido, artigos, publicações antigas de redes sociais… porque algumas coisas ficaram muito ligadas ao ambiente sociocultural da internet. E o livro é uma forma de “eternizar” isso. Porque na internet muito se perde.
Carol: Como tu disse que o livro é o resultado de pesquisas e leituras que tu já faz há bastante tempo e que também é uma forma de imortalizar publicações antigas e conteúdos nas mídias sociais que uma forma acabam sendo esquecidas com o passar do tempo. Me veio a pergunta de quanto tempo tu levou pra pesquisar e investigar o material do livro?
Tiago: Quando eu escrevi o livro de fato em janeiro de 2021, eu já tinha uma visão mais madura de neurodiversidade. Então eu posso dizer que eu comecei a ler mais rigorosamente sobre neurodiversidade em meados de 2016 pra 2017. Em 2020 a gente aqui no Introvertendo publicou uma reportagem de quatro episódios sobre neurodiversidade que eu entrevistei alguns ativistas. E nesse período ainda estava nas minhas leituras, li muita coisa, principalmente entre 2019 e 2020, era praticamente um livro por mês, muitos artigos e conversando com muitos ativistas.
Então, quando eu comecei a escrever em janeiro de 2021, eu escrevi o livro muito rápido, mas eu tinha já as referências quase na ponta da língua, porque já vinha produzindo artigos, escrevendo ensaios, coisas do tipo. E eu acho que o desafio posterior nesse momento que eu escrevi em janeiro de 2021 foi de fazer revisões e analisar a consistência das coisas que eu escrevi. Mas depois dessa escrita em janeiro, eu submeti o livro para a editora. Aí ou menos em março eles demonstraram interesse em publicar.
Eles passaram por uma revisão, ajustei o livro ainda durante um mês, devolvi pra eles, eles me devolveram, revisei de novo em julho, entreguei pra eles, eles me entregaram de novo… Enfim, eu passei 2021 inteiro trabalhando no livro em vários aspectos e em alguns temas mais polêmicos da parte das críticas. Por exemplo, na parte das críticas eu também falo um pouco da comunicação facilitada, que é um tema que a gente trabalhou no episódio 192 em 2021. Mas muitas dessas coisas ficaram como uma pincelada, uma introdução pras pessoas. Então se as pessoas realmente quiserem se aprofundar e entender mais profundamente as críticas, na sessão de referências tem ali todo o corpo teórico pras pessoas fazerem essa leitura independente.
Luca: Eu acompanhei de perto a produção do outro livro, o primeiro que você fez. Mas esse nem tanto. Algumas coisas eu vou acabar vendo só por conta desse episódio que a gente está gravando agora. Uma delas é: quais foram as maiores dificuldades que você teve durante a criação do livro?
Tiago: É legal você falar do primeiro livro. Ele já foi citado aqui outras vezes no Introvertendo, mas só para as pessoas saberem, o Histórias de Paratinga foi um livro-reportagem sobre uma cidade no interior da Bahia, não tinha nada a ver com autismo. E ele tinha uma estrutura totalmente diferente. Aquele outro livro a maior dificuldade que eu tive foi o impacto financeiro, porque eu investi muito tempo e muito dinheiro pra fazer aquele livro. Mas no caso do “O que é o neurodiversidade” já foi um processo totalmente diferente, porque era um livro mais curto, mais prático, já vinha de uma leitura há muito tempo que eu tinha sobre os temas e a maior dificuldade na verdade era mais alinhar o discurso e a argumentação do livro pra que ele soasse o mais consistente e o mais correto possível.
Porque a neurodiversidade é um tema que pode ser considerado em alguns níveis controverso. Tem gente que vai falar sobre neurodiversidade como conceito, tem gente que vai falar de neurodiversidade como movimento, tem gente que vai falar das duas coisas misturadas, tem gente que vai falar de neurodiversidade de forma pejorativa como somente um estilo de vida, tem gente que vai pensar teoricamente. Então o meu desafio era trazer todas essas perspectivas e dar uma direção: Olha, se você está sendo introduzido pelo tema, vá por esse caminho que é uma leitura mais correta, mais acurada de acordo com o que eu estudo já há muitos anos sobre o assunto.
Carol: Certamente a neurodiversidade é um tema muito controverso. Tanto que a gente até lançou um episódio sobre as pessoas anti-neurodiversidade. E eu percebo que os argumentos anti-neurodiversidade são importantes pra também a gente entender o que é neurodiversidade. Então eu queria saber como foi o teu argumento, como foi que a estrutura do livro foi organizada para apresentar esse conceito e todas as suas vertentes atuais.
Tiago: Certo. A primeira coisa que eu fiz no livro foi um contexto histórico. Por quê? Eu noto que as pessoas muitas vezes pegam conceitos históricos, sociológicos, seja lá o que for e não colocam isso dentro do período da história em que ele está inserido. E isso é um grande risco porque a gente acaba fazendo análises anacrônicas sobre um fenômeno. A gente olha sobre uma coisa lá da década de 1960 com a nossa percepção da década de 2020. É óbvio que muita coisa vai envelhecer mal. Então pras pessoas entenderem neurodiversidade, elas precisam entender o que que era pensado e o que era visto sobre autismo não só na comunidade como também na internet em todos os espaços.
Então a primeira tarefa que eu fiz foi fazer esse contexto histórico para apresentar o que era o autismo, quais foram as mudanças e quais foram as noções flexibilizadas sobre autismo; chegar na neurodiversidade propriamente dita, como ela surgiu lá na década de noventa; a repercussão; as críticas e depois trazer as discussões mais atuais sobre neurodiversidade que tem atualizado inclusive o próprio conceito.
E aí se vocês me permitirem, eu quero também fazer uma uma questão do livro, que eu fiz uma escolha e essa escolha foi totalmente proposital. Eu segui uma uma linha mais próxima da principal autora sobre neurodiversidade que é a Judy Singer. Porque várias pessoas entraram na disputa pelo protagonismo da discussão teórica sobre neurodiversidade. E eu entendo que de várias linhas e de vários aqueles que têm uma maior síntese sobre o tema, são os textos da Judy. Mas também tem outras razões que eu posso falar nesse episódio depois.
Luca: Já na na linha do que você estava comentando agora, quais aspectos da neurodiversidade você abordou no material?
Tiago: Eu quis fazer uma escolha bem detalhada e quem ouve o Introvertendo há muito tempo já já vai imaginar. Eu expliquei neurodiversidade enquanto conceito, movimento e modelo. Porque quando a gente fala sobre neurodiversidade, a gente pode estar falando de três coisas totalmente distintas. E aí você precisa especificar de qual neurodiversidade você está falando. Então quis falar sobre esses três aspectos porque esses três aspectos têm implicações diferentes, eles têm momentos específicos que aparecem na comunidade do autismo e tem críticas relacionadas a neurodiversidade que tem mais a ver com uma coisa do que a outra.
Então às vezes tem uma crítica que é mais centrada ao movimento da neurodiversidade, às vezes vai ter uma crítica mais ao modelo ou ao conceito, então eu quis fazer esses três caminhos. Sobre esses três aspectos da neurodiversidade, como eu falei um pouco antes, eu fui mais na linha da Judy Singer. E aqui eu posso até já explicar um pouco porque eu escolhi a Judy também além da questão da síntese.
A Judy é uma autora australiana. Além dela ter sido a pessoa que cunhou a expressão neurodiversidade, ela saiu na frente com uma coisa raramente vista na história do autismo porque ela não é norte-americana e ela não é britânica. Aí você imagina uma pessoa que está fora desses dois países, que cunha um termo que vai ser tão incorporado na comunidade do autismo e que tem essa esse poder, essa força tão grande.
Acontece que de lá pra cá muitas pessoas, principalmente dos Estados Unidos e Reino Unido, tem tentado apagar a participação e a relevância dela como autora sobre o tema. Porque os norte-americanos e os britânicos, enfim, dominam a discussão sobre o autismo. Muitas das coisas mais “avançadas” vem de fato desses países, mas existe um apagamento da discussão sobre o autismo vinda de outros países. Então, é uma decisão quase política minha também nessa discussão mais teórica sobre a neurodiversidade de botar Judy no centro. Porque eu acho que ela é uma figura muito relevante e muitos ativistas, inclusive alguns teóricos, têm tentado apagá-la pensando a neurodiversidade num contexto mais estadunidense ou britânico.
E aí a explicação sobre conceito de neurodiversidade e movimento da neurodiversidade que eu trago no livro são explicações mais da própria Judy também porque a explicação dela me parece mais sofisticada em relação a outros autores. A ideia de modelo da neurodiversidade é de uma pessoa chamada Nick Walker. É uma figura que de certa forma também faz referência a própria Judy embora também tenha outros caminhos e que vai pensar em um terceiro ponto da neurodiversidade, que a gente chama de modelo. O modelo seria uma compreensão da neurodiversidade mais filosófica e daria base da neurodiversidade. Mas para as pessoas entenderem esses pontos, é lendo o livro. Mas eu garanto que as pessoas vão me entender quando lerem.
Carol: Eu tenho percebido que o termo neurodiversidade tem sido cada vez mais mencionado em vários espaços. Eu já percebo que existem vários eventos que já tem como título principal e tema principal de discussão a neurodiversidade. Então, apesar de ser um termo cunhado por uma autora australiana e apesar da discussão sobre esse termo estar majoritariamente em países que falam inglês, eu queria saber de ti qual a importância de discutir hoje a neurodiversidade no Brasil.
Tiago: Antes de falar sobre neurodiversidade no Brasil, eu acho que é importante destacar que a neurodiversidade se tornou também um termo muito estratégico para pensar talvez o sentido do autismo como um dos diagnósticos que mais representam a nossa geração. Quando eu falo a nossa geração, é principalmente essa geração nascida na década de 1990. E isso envolve vários aspectos. Envolve o próprio sentido da ressignificação, por exemplo, da figura do nerd, que poderiam ser lidas como tímidas, estudiosas, retraídas e que às vezes é um estereótipo muito ligado ao autismo dito leve.
A neurodiversidade surgiu no momento certo e perfeito na eclosão da internet e também de reconhecimento dessa minoria que era excluída e que ao mesmo tempo tem um ponto de virada. Então a neurodiversidade é um termo que se encaixou muito bem no próprio modo de vida da sociedade das últimas décadas. E é claro que isso tem impactos em várias escalas. No Brasil, especificamente, eu acho que falar sobre neurodiversidade como a gente está falando sobre um conceito que está muito ligado ao autismo, querendo ou não (embora tenha o uso muito mais amplo).
Mas aquilo que a gente chama de movimento da neurodiversidade no Brasil está muito intricado aos próprios autistas e ao surgimento de um ativismo autista na década de 2010 que é pouco documentado ainda na literatura. O Introvertendo faz parte disso, eu faço parte disso, todos nós fazemos parte e eu acompanhei o crescimento disso, eu entrei na comunidade do autismo em 2013. Então eu vi os primeiros autistas ativistas produzindo conteúdo na internet, no YouTube, em redes sociais, escrevendo em blogs, participando em eventos, participando de construção de políticas públicas.
Então não tem como você discutir o crescimento do ativismo autista no Brasil descolado da discussão sobre neurodiversidade. Porque são coisas muito intimamente ligadas. E se as pessoas realmente querem pensar o futuro do autismo no Brasil, tem que pensar junto com os autistas. Porque essa parte da comunidade vai só crescer daqui pra frente. Então acho que são esses e outros pontos muito importantes pra gente pensar.
Luca: Lendo o livro, eu percebi que você fala muito sobre o desenvolvimento da ideia de que o que é uma pessoa com deficiência e o que é uma pessoa autista. Só que nas datas que você trouxe eu vi que existe um vácuo muito grande no Brasil dessa discussão antes dos anos 2010. Todas as datas que você traz são de discussões do exterior. Você pode dizer o porquê desse vácuo?
Tiago: Tem vários fatores, Luca. Eu acho que talvez um primeiro grande fator é que o ativismo do autismo de uma forma geral no Brasil é muito mais tardio do que no exterior. As primeiras associações de pais nos Estados Unidos e no Reino Unido são do início da década de 1960. Se a gente pensar por exemplo na National Autistic Society, no Reino Unido, por exemplo, é mais ou menos nesse período. No Brasil, a primeira organização de autismo surge na década de 1980, que é a AMA, em 1983. Então a gente tem um vácuo de 20 anos entre o surgimento de uma comunidade e outra.
No Brasil, essa discussão demorou pra chegar por barreira linguística porque grande parte do material que a gente tinha sobre o autismo era tradução. E também teve essa barreira no Brasil por um discurso psicanalítico sobre o autismo que acabou atrasando uma parte da discussão que a gente teve. E isso acaba se entrelaçando também com barreiras tecnológicas. Então vamos lembrar, o Brasil na década de 1980 era um país que ali no contexto do regime militar, da ditadura, a gente sempre teve algumas questões tecnológicas muito específicas do nosso país.
A primeira comunidade virtual sobre autismo que surge é no final da década de 1990, que é uma lista no Yahoo. Lá no exterior, nesse período aí da década de 1990, já tinha fóruns e grupos de autistas. Aqui no Brasil estavam surgindo as primeiras comunidades de pais. Muita coisa foi acontecendo tardiamente no Brasil porque basicamente não tinha autista diagnosticado na vida adulta pra discutir esses temas.
Apesar de todos nós estarmos sobre a égide do CID-10 que entrou em vigor em 1992, aqui no Brasil os profissionais só começaram a aprender sobre o que era Síndrome de Asperger a partir de 2013 pra cá quando o DSM publicou o DSM-V. Porque antes Síndrome de Asperger era só um código que estava ali no manual médico e ninguém sabia direito o que que era. Era uma coisa muito rara e muito restrita. Se a gente pegar aqui no caso do Introvertendo sobre quem teve o diagnóstico de autismo mais precoce, foi o Michael em 2012. E olha que o Michael é um contexto bem específico. Então basicamente houve um atraso nesse sentido.
E pra só pra complementar, há uma cena de autistas na década de 2010 e isso acaba também combinando com vários outros aspectos para além do DSM-V. É na década de 2010 que há mais uso de smartphones e WhatsApp. As redes sociais acabam chegando de uma forma mais massiva para uma parte da população que antes não era incluída digitalmente. E isso a gente pode inserir também com relação à própria comunidade do autismo. A produção cultural sobre o autismo acaba ficando mais forte. A gente tem séries como Atypical, no Brasil teve aquela temporada de Malhação que trouxe uma personagem autista. Então começou-se a falar muito mais sobre autismo publicamente. E isso acabou caminhando muito com essa primeira geração do ativismo autista que começou na década de 2010. Tem muita água pra rolar porque ainda é uma cena muito recente.
Carol: Como tu falou em algum momento na tua resposta, eu não lembro exatamente em qual pergunta, o livro deu pra perceber que é um resultado de muitos debates e muitas demandas levantadas pelo ativismo dos autistas. Então isso ficou muito marcante pra mim durante a leitura. Por isso que eu acredito que é uma grande contribuição pro ativismo dos autistas, até por ali ser uma introdução a esse conceito a esse termo. Mas também porque é uma forma de sintetizar nossa atuação. E eu acho que também é uma oportunidade da gente conseguir se articular mais como um movimento, como um coletivo em prol dos nossos direitos.
E tem uma parte do livro que é mencionado que a neurodiversidade, pela forma como ela foi encaminhada ao longo do tempo, ela é um movimento descentralizado que não existe uma liderança específica. Mas eu acho que isso não inviabiliza que a gente possa se articular em torno dessa definição. E eu acho que também a neurodiversidade é um tema que tem o potencial de levar a discussão sobre o autismo e deficiência pro senso comum. Apesar de ser um um termo que ainda é muito confuso pras pessoas, a partir do momento em que esse termo for mais de conhecimento geral, as pessoas entendam o que significa realmente a neurodiversidade e que é um processo almejado pelo próprio livro eu acho, talvez seja muito mais palpável para população em geral de uma forma que a gente entenda a deficiência como uma expressão da diversidade humana e da mesma forma o próprio movimento PCD de se aprofundar mais sobre deficiências não visíveis.
Então é é muito importante a gente entender também a dimensão política da neurodiversidade e os nossos planos como sociedade. Então eu gostaria de fazer o convite das pessoas para leitura. Como eu disse no começo, eu li duas vezes e pretendo ler mais vezes também justamente pela quantidade de referências que o livro traz. Então no mínimo é um livro de consulta que a gente pode abrir de vez em quando e ver como tal autor fala tal coisa em tal período. Então eu posso ir atrás da minha pesquisa pessoal e pesquisar sobre esse autor e o que ele disse, como que ele se enquadra dentro desse contexto geral, tanto do autismo quanto da neurodiversidade.
Tiago: Bom, eu fico honrado pelos comentários da Carol. A Carol tem um crivo crítico excelente e bom, se ela falou, está falado aí, galera (risos). Ajuda aí que que esse livro deu trabalho pra fazer.
Carol: Eu tenho a honra de dizer que eu li o livro no prelo, então agora é uma alegria muito grande ver que foi realmente concretizado.
Luca: E Tiago, pra quem se interessou no episódio e quer ir atrás do livro onde a pessoa consegue comprar?
Tiago: Então, o livro foi lançado dia 4 de fevereiro. Mas eu comecei a pré-venda do livro dia 17 de janeiro. E aí só pra explicar pro pessoal. Esse livro foi uma produção semi-indedependente. Teve uma editora por trás, mas o investimento de produção do livro foi meu sem auxílio de ninguém. E aí na etapa de venda, teve um outro problema. O pessoal da editora pegou Covid. E aí eles não puderam me auxiliar muito no processo de venda do livro. Então eu acabei assumindo essa função e as vendas do livro foram no Instagram do Introvertendo e no meu Twitter pessoal, que é @otiagoabreu. As pessoas entravam em contato, eu passava o PIX. E foi dessa forma.
Sim, foi um processo bem artesanal, mas foi bem legal, conheci muita gente, fiquei impressionado pelo impacto que o livro teve de quanta gente mandando mensagem. Nossa, eu realmente estou muito feliz… Eu queria agradecer muito quem ouve o Introvertendo e se engajou ali, se interessou pelo livro. Eu realmente não imaginava que tinha tanta gente que gostava do podcast e tanta gente interessada no tema.
E agora que o livro já foi lançado, a editora pôde auxiliar nesse processo e se tornou menos artesanal, o livro está disponível para ser comprado em versão física e digital nas lojas de uma forma geral. Então tem o site da editora, tem o livro disponível na Amazon e nessas plataformas. Mas pra quem quiser comprar o livro e ter alguma dedicatória ou quiser comprar o livro diretamente comigo, pode mandar mensagem ali no Instagram do Introvertendo, no meu Twitter pessoal ou até mesmo no WhatsApp do Introvertendo. Algumas pessoas fizeram isso. E aí todos esses trâmites de pagamento e envio pelos Correios vão ser feitos diretamente comigo.
Ah, pessoal. Posso contar uma coisa muito legal sobre o livro que eu acabei de lembrar agora?
Luca: Vai lá.
Carol: Pode.
Tiago: Uma semana antes de iniciar a pré-venda, eu conversei com a Judy Singer, a mãe do termo neurodiversidade. E foi uma conversa muito legal que eu tive com ela. Eu falei rapidamente pra ela sobre a questão da neurodiversidade no Brasil, a dificuldade das barreiras linguísticas, ela inclusive me disse que tem planos de traduzir o livro dela pra outras línguas e isso já está em processo, então talvez pode rolar.
Enfim, eu fico muito feliz de que muitas coisas têm avançado na comunidade do autismo e principalmente por parte das próprias pessoas dentro do espectro do autismo e o que a gente está conseguindo fazer em pouquíssimo tempo. 10 anos. Então só queria dividir essa felicidade com vocês. 2022 começou sensacional pra mim, sabe? Eu jamais imaginava que ia ter esse impacto, que ia chegar dessa forma e eu acho que nós aqui não temos nem a dimensão do que virá depois também.
Então, esse livro tá rendendo muitos frutos… nossa, e só tenho mesmo a agradecer a todo mundo pelo carinho, pela disposição, sabe? Fazer livro no Brasil é uma coisa difícil. E produzir de forma independente, bancar do próprio bolso, usando dinheiro que muitas vezes quase não se tem. E eu queria só terminar agradecendo e quem se interessar tem links aí na descrição do episódio e entre em contato aí com a gente, beleza?
Luca: E agora nós vamos escutar um áudio mandado pra nós por meio do WhatsApp do podcast.
Fernando: Boa noite, tudo bom com vocês? Me chamo Fernando Rossini de Moura, tenho 35 anos e fui diagnosticado com autismo aos 33. Sou professor de história e amo o podcast realizado por todos vocês, me ensina muito sobre esse mundo que eu estou entrando agora e vários episódios seus eu passo pra minha mãe também que também está nesse mundo agora também. E primeiramente gostaria de agradecer e elogiar o trabalho de vocês.
Nesse segundo áudio eu gostaria de duas coisas. Primeira coisa. Eu gostaria que vocês fizessem um episódio sobre banca biopsicossocial e concurso público para autistas. Porque eu acabei de passar por uma banca biopsicossocial onde eu tive o meu direito negado. E agora estou tendo que entrar com recurso contra a banca e esperando resposta.
E o segundo pedido é que vocês façam mais episódios sobre sexualidade no autismo. Pois eu estou tendo muita dificuldade com isso e adorei esse esse último episódio que vocês fizeram. E achei que foi muito bom. Está bom? Obrigado.
Carol: E aí, quem vai responder?
Tiago: Eu respondo. Então, Fernando, muito obrigado pela mensagem que você mandou aqui pra gente. É bom você ter feito esses dois pedidos, porque a gente pode até divulgar algumas coisas aqui, tá? A gente tem uma série aqui no podcast que é de profissões que a gente começou em 2019, se não me engano, a gente já falou sobre alguns autistas em algumas profissões e esse ano a gente quer encerrar essa série.
A gente ainda vai falar de mais uma profissão e depois fazer um episódio sobre autismo e as questões de empregabilidade. Então a gente quer falar de desemprego, a gente quer falar de concurso público, banca biopsicossocial de avaliação e as questões dentro do ambiente de trabalho que podem dificultar.
A gente já fez episódio sobre mercado de trabalho, mas naquele episódio a gente falou mais sobre condições pra entrar e pra permanecer são outras questões. Então a gente vai fazer esse episódio com certeza. Não vai ser um episódio sobre banca biopsicossocial, mas a gente vai falar sobre isso nesse episódio de autismo e empregabilidade, até porque já teve outras pessoas que mensagem pra gente pedindo pra gente falar sobre essa questão.
Sobre a questão da sexualidade, a gente já fez vários episódios, não sei se você já ouviu o sobre homossexualidade, bissexualidade, sobre abuso, teve agora esse de sexualidade mais amplo. Nós temos planos futuros de fazer um episódio sobre autistas e a população trans. Tem muitos autistas trans na comunidade, muita gente produzindo conteúdo e a gente pensa em algum momento fazer isso. Não este ano porque este ano a gente está lançando poucos episódios. Mas ano que vem provavelmente com certeza. Então se eu puder prometer aí a gente vai fazer esses dois conteúdos tá? Então é isso Luca, agora é com você aí.
Luca: E é isto pessoal. Vamos lembrar aqui que os episódios agora vão ser a cada duas semanas, então vejo vocês em uma quinzena ou 14 para ser mais exato. E foi isso. Muitíssimo obrigado e até a próxima.