Introvertendo 162 – Animais de Estimação

Ter animais de estimação é algo que marca a vida de qualquer pessoa, seja nas situações boas ou ruins. Neste episódio, decidimos ter uma conversa menos centrada nas questões do autismo, ao focar em histórias e vivências com muitos bichos. Participam: Mariana Sousa, Paulo Alarcón e Thaís Mösken. Arte: Vin Lima.

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Transcrição do episódio

Thaís: Um olá pra você que é ouvinte do Introvertendo, este podcast feito por autistas para toda a comunidade. Meu nome é Thais Mösken, eu sou autista, tenho 29 anos e fui diagnosticada em 2018. E hoje eu vou ser host deste episódio.

Mariana: Meu nome é Mariana Sousa, eu fui diagnosticada em 2019 e eu tenho só dez animais, no caso. Eu acho que sou a pessoa ideal pra participar desse episódio hoje.

Paulo: Oi, pessoal. Sou o Paulo Alarcón, diagnosticado com autismo em 2018 e eu tenho praticamente um zoológico em casa com 12 cães, oito gatos e uma calopsita.

Mariana: Meu Deus!

Thaís: É muita coisa (risos). Bom, e eu tenho hoje em dia só um gato em casa, já tive bem mais do que isso, mas aqui em casa aparecem muitas coisas que não são os meus animais de estimação. O Introvertendo é um podcast feito por autistas com produção da Superplayer & Co e hoje a gente vai falar um pouco sobre animais de estimação.

Bloco geral de discussão

Mariana: Agora tem dez cães e um gato. E eu tenho aqui o Zeus, que é um cachorro gigantesco, violento e muito temperamental, tenho a Menina, que ela já tem quase dez anos e é a mãe dos cachorrinhos, tem o Nick, tudo ou também extremamente temperamental, tem o Lunga que é o filhote deles que eu simplesmente não não consegui doar, eu fiquei muito mal, achei ele muito fofo, fiquei com ele aqui pra ficar a pequena família aqui em casa. A minha gata, a gente chama ela carinhosamente de Didi, ela também é extremamente temperamental, então a minha mãe já até comentou que, no caso, eu acho que o problema somos nós que deixamos os animais extremamente temperamentais, todos têm o seu querer, a gente meio que vive numa ditadura de animais aqui em casa. Os outros cãezinhos, a gente não deu o nome ainda porque estamos tentando doar e se a gente não conseguir doar, vai ter que dar nome também, vai acabar ficando também.

Paulo: Começando pelos cães. O primeiro de todos foi o Hopkins, um salsichinha meio vira-lata, vamos ver, ou vira-lata meio salsichinha. Aí eu tenho o Brutus, um pinscher. O Sirius, vira-lata preto grandão com cara de labrador, tem a Pitty, uma salsichinha, e as filhas dela, a Paçoca, Adele e a Pink, chegou o Beethoven, outro vira-lata, que a história dele é interessante, porque a dona dele morreu e a família dele não conseguia alguém para ficar com ele, ele ia ter que ser despejado na rua e aí um colega de trabalho da minha esposa falou com ela e aí ele veio aqui pra casa. A Judite, que ela adotou a gente, a Whitney que a gente encontrou filhotinha na rua e acabou vindo pra casa. O RuPaul, que é um shihtzu e a Joana que a gente acolheu ela como lar temporário quando ela tava grávida e ela teve os filhotinhos no final do ano passado, eles já foram todos adotados e ela acabou aqui. Dos gatos, temos o Harry e Hermione, dois gatos pretos, que a gente adotou primeiro, a Mel, que é uma gata amarela que adotou a gente e ela se convidou a morar com a gente e juntou os três dela. Depois, o Trico, foi um gato que eu salvei de uma árvore e ele seguiu até em casa. E o Simon que é o mais recente, apesar de ser mais velho a gente adotou na ONG. E finalmente a Rosalind que é a nossa calopsita que odeia a gente.

Mariana: (Risos)

Thaís: Como assim ela odeia vocês?

Paulo: Ah, ela não gosta que a gente toque nela, bica a gente.

Thaís: Bom, hoje em dia eu tenho só um gato que é o Emhyr. Foi um colega meu que foi pra Alemanha e precisava doar pra alguém e aí ele ficou comigo. Ah, e além disso tem doze gatos pretos selvagens no terreno onde eu vivo, selvagens porque eles não têm exatamente dono, aí a gente fala que eles são selvagens, mas eles comem aqui de vez em quando também e comem na mulher lá de cima também. Mas antes de eu vir para Florianópolis, quando eu morava com minha mãe, a gente tinha vários outros gatos. A gente teve uma gata chamada Brida, que viveu até os 18 anos e eu tive um gato chamado Fernando, que foi diagnosticado com autismo, inclusive, pelo veterinário (risos). Foi uma história bem bizarra. Mas ele, infelizmente, faleceu um pouco antes, um mês, aproximadamente, antes de eu vir pra Florianópolis. Dos que tão vivos ainda, que hoje moram com a minha mãe e eu vou visitar, a gente tem a Deise, que é a gata do meu avô, a Suzy, que é extremamente estressada e na maldade ela ataca as pessoas, a Pipoca que é o oposto, é extremamente boazinha, muito, muito humilde e sofre bullying porque todos os outros gatos batem nela, já que ela é muito boazinha. O Fred, que gosta muito mais de cachorro do que de gato, ele passa o dia com as cachorras, lambe as cachorras e etc. O Bayer e a Xica são um casal, ele é bem branquinho, ele é bem pretinha, eles ficam juntos pra todo canto. E a Alice que tem uma das patas atrofiadas, a gente pegou quando ela tava prenha e conseguimos cuidar dela depois, já que as pessoas não costumam gostar de gatos com deficiências físicas. Infelizmente temos vários preconceitos por aí. E vários desses aqui também foram essas histórias que o Paulo comentou de adoção, do gato aparecendo em casa, ou tinha uma caixa cheia de gatinho que a gente pegava pra encontrar pessoas que quisessem cuidar deles e aí ficavam alguns e a gente cuidava no final. Então, todos os meus são adotados também. Então, agora vamos falar de coisas mais sérias, depois a gente volta pras nossas histórias com os nossos animais. Queria que vocês comentassem, pessoal, sobre as terapias assistidas com animais no contexto do autismo, porque a gente sabe que existem algumas dessas e que, claro, depende muito de qual é o caso de cada pessoa. Mas, o que vocês podem comentar sobre isso?

Paulo: As terapias assistidas por animais, elas começaram já a bastante tempo, se eu não me engano na década de 80. A princípio, eram aplicadas para autistas severos e as primeiras terapias foram com cavalos, mas depois isso foi expandindo para vários outros animais, como cães, hoje já se fazem terapia com muitos tipos de animais diferentes em vários contextos. E mesmo que não seja um animal ou próprio para terapia, a maior parte deles são treinados para isso, é muito comum ter benefícios, como cães que aprenderam a impedir os donos de se autoagredir durante crises, por exemplo, entre outras questões.

Thaís: Não sei se vocês já conviveram também com cães guia. Eles são muito bem treinados e conseguem perceber situações de risco. Então, evitar que o seu dono, o seu companheiro, como preferirem, se coloque mesmo em uma situação ruim. Então, da mesma forma outros animais podem nos ajudar nisso. E eu acho que uma coisa bem interessante, pelo menos para mim, é a questão de aprender a linguagem não verbal com os animais. Pra mim, é mais fácil entender a linguagem não verbal com os animais, com as pessoas, inclusive.

Paulo: Ah, isso é verdade, hein? Eu entendo melhor, lembrei corporal dos cães do que das pessoas.

Thaís: É, então, dependendo de como meu gato mia, ou dependendo de como ele encosta em mim, eu sei o que ele quer ou como ele tá, se ele tá bem, ou se ele tá deprimido, coisas assim. E, pra mim, é mais fácil perceber isso neles do que nas pessoas (risos).

Mariana: Já eu não consigo entender. É uma coisa que me frustra muito, eu não consigo entender a linguagem dos animais. Eu fico sempre prestando muita atenção, porque a minha mãe é, realmente, muito boa nisso. Eu tô aprendendo aos poucos, mesmo convivendo com os bichos todos os dias, o dia inteiro, eu tenho muita dificuldade nisso e, às vezes, eu demoro a saber que aconteceu alguma coisa, que ele teve pesadelo, esse tipo de coisa, sabe? Sempre me frustra muito.

Paulo: Tem alguns padrões que você vai percebendo com o tempo, principalmente quando o cachorro tá agindo estranho.

Mariana: Sim, é verdade.

Paulo: Ou gato, quando está agindo estranho. Todos eles têm um padrão de ação. E aí você já consegue saber se tem algum problema.

Thaís: Entre os gatos, eu não sei quanto que os outros animais são assim também, mas gato costuma ser um animal muito de rotina. Então, fica bem mais claro pra perceber quando eles estão agindo de forma diferente e aí prestar atenção e tentar encontrar o motivo. E isso, pra mim, pelo menos, faz bastante diferença.

Paulo: Ah, todos os animais têm seus padrões. Eu aqui já tive outros tipo também, roedores, por exemplo.

Thaís: Bom, e sobre o tópico aqui de preferência na convivência com animais. Vocês têm momentos que preferem ficar só com seus animais ao invés de ficar com pessoas? Isso varia bastante? Como que é pra vocês?

Paulo: Eu, no geral, prefiro ficar com os animais do que com os humanos. É muito mais fácil a convivência com eles. Nesse período que tô trabalhando em casa recentemente me converti definitivamente pra trabalho em home office, o trabalho tem sido muito melhor tendo a convivência com os animais aqui.

Mariana: Sempre, sempre prefiro a convivência com os animais. Realmente, eu não gosto de conviver com pessoas, eu sou extremamente antissocial. Até pra gravar os episódios, eu fico bem nervosa. E eu prefiro muito a convivência com os animais, mesmo que os meus animais sejam muito temperamentais, eu prefiro a convivência com eles, eles me fazem mais feliz. Eu gosto bastante, tipo, de saber que é um ambiente livre de julgamentos e tal.

Thaís: Assim como o Paulo e a Mariana comentaram, eu também tô fazendo home office nessa época de pandemia, tenho convivido bem mais com o Emhyr e é muito tranquilo, é muita liberdade passar o dia na companhia dele, poder fazer as coisas do meu jeito e não não ter que ficar respondendo a muitas coisas, ele me chama quando ele precisa, mas ele é muito tranquilo, ele pode chegar do meu lado enquanto eu tô trabalhando e eu não preciso parar o que eu tô fazendo pra tentar descobrir nada sobre o que ele quer. Então, tem sido realmente bem agradável. Existem alguns momentos em que eu prefiro a companhia de algumas pouquíssimas, raríssimas pessoas. Na verdade, estou pensando em duas pessoas na minha vida, basicamente (risos). Mas, fora isso, eu também sinto muito mais tranquilidade quando eu tô com os meus gatos do que quando eu tenho que conviver socialmente com outras pessoas. O que vocês, Paulo e Mariana, acham que são as partes mais difíceis de se ter o animal, agora que a gente falou já de algumas coisas boas.

Paulo: A longo prazo, a pior coisa é a perda. Quando seu bichinho morre, é muito triste. A não ser que você tenha um jabuti…

Mariana: (Risos)

Paulo: …ou talvez um papagaio, provavelmente você vai ver se o bichinho morrer. Outra coisa complicada também são os custos de um bichinho. Se você quer dar uma boa vida pra ele, vai ter que preparar o orçamento.

Mariana: Pra mim, o único contra que eu eu tô tendo hoje em dia, é que eu adotei os meus cachorros todos na mesma época. E dois deles já eram adultos quando eu adotei. Então, eu não tenho ideia de qual a idade deles agora. A minha cadela, eu adotei, ela era pequena e ela já tá com o rostinho todo branco e ela tá ficando senil mesmo, às vezes ela me olha e ela não me reconhece. E os outros dois também. Ele, às vezes, me olha, não me reconhece e já resultou em ataque, já resultou em ataque muito violento. Sinceramente, eu nunca lidei com animais idosos e isso me deixa bastante insegura, mas o resto das outras coisas eu meio que aprendi com a convivência com eles que tudo tem um jeito.

Paulo: E os meus também já tão ficando velhinhos. O Hopkins está virando um velho rabugento. Ele fica rosnando à toa aí.

Mariana: Eu tenho um cachorro específico que é um poodle, o Chamanique, ele fica o dia inteiro latindo, aí tipo, a gente vai lá na casa dele ver o que tá acontecendo e ele só quer pra gente veja que ele tá comendo frutas.

Paulo: (Risos)

Mariana: Ele guarda uma fruta. E aí porque no meu quintal tem árvore, ele guarda a fruta e late o dia inteiro. Aí você vai lá: “o que foi?”. Aí ele vai lá e come a fruta na sua frente, na maior animação. Ou, às vezes, ele olha pra árvore e vê uma fruta madura lá na árvore…

Paulo: …que ele quer pegar.

Mariana: Grita, grita, até você ir pegar, sabe? Só que às vezes você não acha e ele continua gritando e, nossa, é muito assim. Às vezes, eu tenho mais medo por conta de vizinho, de alguém fazer alguma coisa, porque ele realmente late bastante alto. E eu fico meio preocupada, mas já tem quatro anos que a gente mora nessa casa e até hoje ninguém nunca reclamou.

Thaís: Outro aspecto que a gente colocou aqui como um ponto de dificuldade quando se tem um animal é a sujeira. Nem sempre o animal vai fazer sujeira de fato. Então se você tem uma casa com quintal possivelmente eles vão usar o banheiro no quintal e coisas do tipo, mas de qualquer forma é algo a se considerar quem vai adotar ou pegar um animal e cuidar dele, vai precisar muito provavelmente limpar a sujeira de um banheirinho, de um jornal, e também tem as sujeiras que trazem pra dentro de casa. Meus gatos às vezes caçam, o Emhyr outro dia caçou lagarto, passarinho, mosca e ele traz, às vezes deixa uns pedaços de bicho dentro de casa, que eu tenho que ir lá e limpar depois. Às vezes ele come também, varia um pouco. Às vezes eles trazem de presente, inclusive. Pelo menos eu já li isso e já passei por coisas assim de o gato trazer, sei lá, um rato e deixar nas na cama do lado da sua, sei lá, do seu lado e olhar pra você como se tivesse te dando alguma coisa muito legal.

Paulo: A primeira coisa que se tem quando se fala de bicho é o amor que eles têm. A devoção, principalmente, de cachorros que a qualquer momento, você, de alguma forma, eles percebem quando você não está bem, quando você precisa de algum apoio, ou eles também só tentam o tempo todo querendo conseguir sua atenção e às vezes bem na hora certa.

Mariana: Eu vejo muito as pessoas falando sobre isso com cães, assim, mas eu vejo a minha gata, meu Deus, ela é assim, a minha gata, ela não é muito apegada a mim, ela não gosta muito, nem nada desse tipo de coisa. Mas eu não posso levantar a voz, nem um momento aqui em casa, nem por brincadeira, nem por nada, porque ela morde quem tiver perto de mim. Se eu levantar a voz ou às vezes eu peço minha mãe pra fazer uma massagem em mim, ela quando vê a minha mãe em cima de mim, ela fica muito nervosa, eu também não posso cantar que ela também fica muito nervosa e começa a me morder muito forte (risos). Esses dias também eu estava saindo com o meu cachorro, ele é bem grande e forte. E dois cães atacaram ele. No momento que eles começaram a atacar o meu cachorro, eu e minha mãe, a gente se jogou em cima do nosso cachorro e eu fui mordida, fui atacada por um cachorro, fiquei sem andar muitos dias e não me arrependi de nada, meu cachorro também ficou muito machucado, mas assim, a gente não pensou nem meio segundo pra proteger ele, em nenhum momento assim e eu achei isso muito forte.

Paulo: Uma coisa que foi bem importante na questão da companhia foi em 2016. Eu fiz a compra da minha casa no final de 2015, então em janeiro de 2016 eu vim morar aqui, eu encontrei lá no bairro onde meus pais moram, que tinha ido passar o ano novo com eles, o Hopkins na rua. Ele estava lá abandonado. Então, no final trouxe ele pra casa junto comigo. E foi uma das melhores decisões que tomei porque por cerca de três meses eu morei completamente sozinho em casa e a companhia dele foi muito importante pra não perder a sanidade mental.

Thaís: Logo que começou a pandemia eu tinha pego o Emhyr em poucos meses antes, eu acho que um mês e meio, antes, aproximadamente, e foi bem importante também ele estar comigo, apesar de que a casa quase explodiu por causa dele, bem literalmente, porque ele conseguiu abrir duas bocas do fogão enquanto eu dormia e aí soltou gás na casa inteira, mas…

Mariana: Meu Deus! (risos)

Thaís: (Risos) Estamos vivos e deu certo, estamos bem. Então, Paulo, você tava comentando que você teve alguns animais de estimação meio diferentes, então, conta um pouquinho como é ter algo não convencional.

Paulo: É uma experiência completamente diferente do cão e gato, que todo mundo sabe mais ou menos como lidar, mas quando você vai ver outros tipos de animais, cada um tem uma característica específica. Eu tive experiência com roedores e mais recentemente com aves. Com roedores os gerbilos, apesar de serem bichinhos muito engraçadinhos, eles não são muito sociáveis com as pessoas. Apesar de ter gente que consegue ensinar truques pra eles, eles são às vezes um pouco difíceis de lidar. Também a forma como você vai brincar com eles é diferente. Você não pode aplicar força com eles. Você tem que manusear eles com bastante cuidado. É legal com os roedores você criar circuitos para eles, labirintos pra eles conseguirem atravessar. É uma brincadeira que já não é comum fazer com cães. Com o hamster já é mais fácil manusear ele, eles são bem sociáveis com humanos. Mas também cada tipo de animal tem uma característica, a calopsita que eu tenho atualmente ela exige adaptações específicas, por exemplo, eu gosto de deixar a gaiola dela aberta, porém eu tenho que tomar cuidado para não manter o ventilador ligado enquanto não tem ninguém no quarto e a gaiola dela tá aberta, senão se ela voa e bate na hélice do ventilador, faz um um estrago. Calopsitas gostam de bicar tudo. Assim como no caso do também eles gostam de roer tudo, então você não pode deixar coisas que você não quer que ele, no caso, sejam roídas e que no caso a calopsita seja bicada perto dele. E o bico da calopsita arregaça muita coisa. Tem diversos tipos de outros animais aí, por exemplo, répteis e uma recomendação que eu tenho pra quem deseja pegar um animal que não é convencional, primeiramente, pesquise tudo que você puder sobre o animal, alimentação, os hábitos dele antes de comprar. Além disso, faça uma pesquisa séria sobre como identificar se o seu animal tá bem ou tá mal. E tente ver a questão de veterinário por perto. E veterinários bons que atendam o tipo de animal que você precisa ter. Em geral é um veterinário especializado em animais exóticos, porque eu tive problema com o veterinário aqui na minha cidade que só tem um que atende animais exóticos e ele não é dos melhores.

Thaís: Eu já tinha pensado nisso uma vez também da dificuldade de encontrar um veterinário, sabe? E que se você tem poucas opções, provavelmente vai te dar trabalho depois. Então, pra gente encerrar, a gente vai falar sobre como obter um animal de estimação, que existem duas formas principais. A compra e a adoção, considerando que dentro da adoção pode estar também ganhar de presente. Ou então você adota um animal e você descobre que ela está prenha e ganha outros. Junto. Vem vem combo. Então, Mariana, já que você fala um pouquinho menos, o que você acha sobre a compra versus a adoção de animais?

Mariana: Cara, adoção, adoção, adoção, adoção, adoção! Eu acho a compra de animais uma coisa absurda que nem consegue entrar na minha mente em nenhum momento, sabe? Não, não consigo conceber que pra você amar um animal, você tem que dar mil e quinhentos reais nele, sustentar uma cultura, um negócio absurdo, uma coisa que é absurda em todos os parâmetros, em todos os detalhes, assim, desde o momento do nascimento daquele cachorro, a mãe dele já foi torturada, o pai dele já foi torturado para que ele pudesse nascer e isso vai continuando infinitamente. Adoção é essencial pra mim, a única forma de você ter um animal de maneira correta, eu não considero a compra em nenhum momento. Eu vejo o Instagram de protetores de animais, até protetores locais. O quão as pessoas segregam aos bichos, é impressionante, um animal que as pessoas simplesmente recusam porque está faltando uma orelha, ah, porque ele tá muito velho. Ah, porque é macho, porque é preto. Eu tô sofrendo isso agora com os meus cachorros, porque eu tô conseguindo adoção para todos, menos pro marrom. Todos os outros são branquinhos e consegui adoção muito rápido, mas há uma cadelinha que é a mais inteligente, que ela é a mais carinhosa, mas aconteceu que ela nasceu marrom e as pessoas simplesmente não querem, elas não levam em consideração se o cachorro é inteligente, se o cachorro é educado, se o cachorro é engraçado, se ele gosta de brincar e isso é um absurdo. É geralmente um absurdo pra mim, é uma das maiores violências que existem você considerar comprar um animal pra ele te fazer companhia.

Paulo: Eu tenho uma opinião assim mais moderada sobre a questão da adoção versus compra. Tudo depende do que você deseja e o que é mais importante pra você. Por exemplo, se você é uma pessoa cega e precisa de um cachorro que vai ser depois treinado para virar um cão-guia, aí você não tem como fugir da compra, porque linhagem de cães-guias são próprias pra isso. Normalmente são de duas raças específicas, o labrador ou o Golden Retriever e eles são treinados, eles já nascem com instinto para isso, mas são treinados. Esse treinamento leva cerca de um ano, mas eles precisam aprender o máximo. Se você quer ter um animal pra companhia, e principalmente você não tem muita restrição de espaço, é melhor você adotar, com certeza.

Thaís: E eu sempre penso que tem muito animal por aí precisando de um companheiro, um dono, precisando de cuidados, de carinho pra gente ter que ficar forçando outros a se reproduzirem. Então, a não ser que a pessoa tenha uma necessidade específica e como o Paulo comentou, cães-guias são bem específicos, mas se é uma questão de companhia mesmo, é melhor pegar um bicho que tá precisando do que dar dinheiro pra alguém que talvez não esteja se preocupando de verdade com aquele animal.

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