Pesquisadora dos estudos da deficiência, Judy Singer cunhou o termo “neurodiversidade” após descobrir o autismo em sua família. Neste episódio, narrado por Thaís Mösken, contamos sua história de vida, obra e projetos atuais. Arte: Vin Lima.
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Transcrição do episódio
Existem acontecimentos na comunidade do autismo que parecem acidentes. Mas, na verdade, ocorrem na hora e no lugar certo quando alguém consegue, de alguma forma, observar novas ondas que estão surgindo. A neurodiversidade é um dos maiores exemplos. Com vocês, Judy Singer.
Judy Singer é uma figura enigmática. Ela é australiana, mas publicamente não se sabe quando ela nasceu. Sua mãe, nascida em 1926, era uma sobrevivente do holocausto, e seu pai era um homem comum que envelheceu com as dificuldades sociais enfrentadas pela esposa.
Já Judy cresceu com a sensação de não ser uma pessoa muito comum e observar traços de algo em sua mãe que ela não sabia definir. Durante as décadas de 1980 e 1990, depois de se tornar mãe solteira, estudando bastante e tendo contato com o livro “Um Antropólogo em Marte”, de Oliver Sacks, ela teria chegado a uma resposta que explicaria sua mãe, sua filha e a si mesma: o espectro do autismo.
O cenário da época era de muitas mudanças. Uma nova edição do DSM trazia a Síndrome de Asperger, o movimento das pessoas com deficiência começava a engatinhar no campo do autismo, e a própria Judy, como mãe e possível autista, se via entrelaçada em tantas diferentes visões sobre o autismo e o ativismo.
Com o declínio da psicoterapia, a emergência da neurociência como autoridade e as comunidades e fóruns na internet, Judy cunhou o termo “neurodiversidade”. Era a forma perfeita de legitimar uma nova visão sobre deficiências que permaneceram em larga invisibilidade no discurso social.
Mas nada foi muito fácil. Apesar do termo ter ganhado sua tese publicada em 1998 e todo um movimento de autistas ter se consolidado, Judy permaneceu quase irrelevante, especialmente na Austrália, onde desenvolveu algumas atividades sociais. Foi só com as obras Longe da Árvore, de Andrew Solomon, e mais especialmente Neurotribes, publicado por Steve Silberman em 2015, que a ideia de Judy voltou a ser discutida com maior força nos meios mainstream.
Diante disso, Judy se viu obrigada a compilar um livro sobre neurodiversidade, com a inclusão de sua tese original, chamado Neurodiversity: The Birth of an Idea, em 2016. Mesmo assim, ela não se manteve tanto nos holofotes. Por outro lado, Singer por vezes se queixou de não ter recebido o reconhecimento e até fez críticas significativas a interpretações em torno de sua ideia.
Nos últimos anos, Singer chegou a dizer em algumas ocasiões que o movimento social de autistas, por vezes também chamado de movimento pela neurodiversidade, teria passado dos limites. Ela também chegou a criticar posicionamentos que considera negação da ciência e da biologia dentro do movimento das pessoas com deficiência.
Apesar disso, o trabalho de Judy tem sido cada vez mais reconhecido e, ocasionalmente, ela palestra em eventos sobre autismo e neurodiversidade em vários países, como a própria Austrália e o Reino Unido. Sua mãe morreu em 2016. E sua filha, atualmente, é uma mulher adulta.
A série de figuras históricas do autismo é um conteúdo narrativo do podcast Introvertendo. O texto e a edição são de Tiago Abreu. A locução é de Thaís Mösken. O Introvertendo é uma produção da Superplayer & Co.