Responsável pela ideia de espectro do autismo, Lorna Wing é considerada uma das pioneiras nos estudos do autismo, uma das principais figuras do ativismo no Reino Unido e, sobretudo, uma figura central na história do diagnóstico. A história de vida é contada por Thaís Mösken, em texto de Tiago Abreu. Arte: Vin Lima.
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Notícias, artigos e materiais citados e relacionados a este episódio:
- Lorna Wing – The Lancet
- Outra sintonia: A história do autismo
- It’s time we dispelled these myths about autism
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Transcrição do episódio
Uma pessoa que consegue mudar todo um pensamento sobre autismo, levantar figuras abandonadas e sepultar conceitos equivocados não pode ser considerada menos que uma das peças centrais da história do autismo. E inclui-se o fato de estarmos falando da mulher certamente mais importante neste cenário. Hoje é a vez de Lorna Wing.
Lorna Wing nasceu em outubro de 1928 na cidade de Gillingham, localizada no sudoeste da Inglaterra. Ela teve uma criação relativamente estável e, na década de 1940, já estava estudando Medicina. Ela se graduou na área com foco em Psiquiatria e atuou como residente até meados de 1952.
Foi na década de 1950 que Wing viveu uma mudança significativa em seu trabalho. E isso tinha tudo a ver com o nascimento de sua primeira filha em 1956, Susie, fruto de seu casamento com o também psiquiatra John Wing. Perto do final da década, a menina foi diagnosticada com autismo e o casal tinha uma nova perspectiva para desbravar.
Logo no início da década de 1960, Lorna foi uma das fundadoras da National Autistic Society, a mais importante associação de autismo do Reino Unido até hoje. Em seu trabalho diário como psiquiatra, conheceu uma jovem chamada Judith Gould e, juntas, criaram uma duradoura parceria na pesquisa acadêmica.
As duas se incomodavam muito com a falta de precisão sobre os critérios diagnósticos do autismo. O autismo de Kanner era muito restrito, raro e incapacitante. A ideia de mãe geladeira, popularizada por Bruno Bettelheim, atrapalhava ainda mais. E foi por isso que ela publicou em 1970 um guia para pais identificarem os sinais de autismo em seus filhos, algo que Bernard Rimland tinha feito de forma parecida tempos antes.
Mas Lorna era conhecida como uma mulher incansável. Ela continuou estudando e propôs com Judith uma tríade de dificuldades do autismo. Isso evoluiria, tempos depois, para a ideia inédita de espectro do autismo. E um dos argumentos residia no trabalho de um pesquisador irrelevante, à margem, chamado Hans Asperger, do qual ela se apropriou e, em sua homenagem, chamou de Síndrome de Asperger.
Apesar do prestígio de que Wing gozava e de sua plena participação na elaboração de critérios do DSM, emplacar a ideia de espectro do autismo não era fácil. Ela teve, então, uma postura mais moderada. Primeiro, por exemplo, popularizou a Síndrome de Asperger, até que a ideia de espectro do autismo realmente começasse a ganhar ainda mais força nos anos 2000 – até ser publicada no DSM-5, de 2013.
O impacto da ideia de espectro do autismo é difícil de mensurar, afinal são menos de 10 anos e o CID-11, que caminha numa direção parecida, só vai entrar em vigor em 2022. Mas esta nova concepção de autismo colocou o diagnóstico na esfera pública e trouxe visibilidade para uma comunidade outrora muito restrita.
A filha de Lorna Wing morreu em 2005. Seu marido, em 2010. Judith, sua colega e amiga, continuou se destacando e escreveu um importante trabalho sobre autismo em mulheres em 2011. Já Lorna seguiu estudando e atuante, embora aposentada. Ela morreu em 2014, aos 85 anos, recebendo largos elogios da comunidade.
No mês que vem, já em janeiro de 2021, vamos falar de outra pesquisadora, contemporânea de Lorna Wing, que ajudou a expandir a visão popular que tínhamos sobre autismo. Mais detalhes no próximo episódio, aguardem.