Introvertendo 134 – Hans Asperger

Luca Nolasco conta para nós, de forma resumida, a história de vida e as controvérsias em torno de Hans Asperger, uma das figuras mais importantes na história do autismo, por meio de texto escrito por Tiago Abreu. Arte: Vin Lima.

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Transcrição do episódio

Quantas vezes, na história da humanidade, figuras importantes se tornaram nomes de ruas? E quando essas pessoas escondem um passado controverso? E quando essas mesmas pessoas definem uma comunidade enorme de pessoas com deficiência? No nosso segundo episódio de figuras históricas do autismo, lidamos com estes e outros dilemas. Com vocês, Hans Asperger.

Hans Asperger nasceu num vilarejo, perto de Viena, na Áustria, em 1906. Seu pai era filho de fazendeiros e trabalhava como guarda-livros. Asperger teve mais dois irmãos. Um morreu no parto, e outro foi morto durante a Segunda Guerra Mundial. Ele era descrito como um jovem amante de livros e profundamente católico.

Foi no ano de 1925, aos 19 anos, que o jovem Asperger foi estudar Medicina na Universidade de Viena, numa cidade em plena transição pós-Primeira Guerra e que, anos depois, embarcaria na Segunda Guerra. Até a década seguinte, ele se formaria, casaria e teria cerca de 5 filhos.

Na vida profissional, Asperger progrediu mesmo em meio ao cenário político e cultural tenso da época. Ele conseguiu crescer profissionalmente no Hospital Infantil da Universidade de Viena, onde chegou a ser diretor. Diferentemente de vários de seus contemporâneos, ele não se filiou ao Partido Nazista.

Em 1944, Asperger realizaria o feito que mais lhe garantiria notoriedade no futuro – uma definição chamada “psicopatia autista” – que envolvia dificuldade de construir amizades, hiperfoco, falta de empatia e coordenação motora desajeitada. Ele defendia que, em geral, eram casos que poderiam ter sucesso em carreiras acadêmicas, por exemplo.

Até sua morte, em 1980, a carreira de Asperger não foi muito prolífica. Ele escreveu alguns trabalhos com teor religioso e nunca desenvolveu profundamente sua visão de “psicopatia autista”. Ao mesmo tempo, seu trabalho não ganhou reconhecimento internacional e ele quase passou despercebido na história do autismo.

Mas aí, no final da década de 70, uma psiquiatra britânica chamada Lorna Wing traria o trabalho de Asperger para o mundo. Depois da morte de Asperger, ele foi homenageado em diferentes ocasiões, e o diagnóstico de Síndrome de Asperger ganhou os manuais médicos na década de 90. Aliás, muitos autistas reivindicaram o termo “aspie” como uma identidade.

Uma figura como essa num cenário tenso como o nazismo era vista com desconfiança. Mas Asperger era normalmente descrito como um opositor do nazismo, protetor de crianças com deficiência e uma figura admirável. O jornalista Steve Silberman, em seu livro de 2015 Neurotribes, sobre a história do autismo, ousou dizer que Asperger foi o pioneiro da ideia de “neurodiversidade”.

As suspeitas de que Asperger não era tudo isso ganharam terreno a partir da década de 2010, com o trabalho do historiador Herwig Czech. Em 2018, um artigo seu foi o estopim: nele, mostrou que Asperger colaborou com o regime nazista e enviou crianças com deficiência para campos de concentração.

Em 2019, a historiadora Edith Scheffer publicou o livro Crianças de Asperger. Nele, Edith questiona a originalidade da ideia de “psicopatia autista” e levanta hipóteses do quanto um diagnóstico como este era influenciado pelas ideias nazistas da época. Em 2022, o diagnóstico de Síndrome de Asperger vai desaparecer por completo da Classificação Internacional de Doenças, a CID.

Esta é uma parceria entre o portal “O Mundo Autista” e o podcast “Introvertendo”. O texto é de Tiago Abreu. A locução é de Luca Nolasco. E a edição é de Glauco Minossi. O Introvertendo é uma produção da Superplayer & Co.

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