Perdemos o controle de tudo. Para alguns, tem sido mais saudável começar a sair de casa para preservar a saúde mental. Pessoas continuam morrendo e a vida vai voltando ao “normal”. Com base nesse desespero e cansaço, nossos podcasters desabafam sobre questões que sobram angústias e faltam palavras. Participam: Otavio Crosara e Tiago Abreu. Arte: Vin Lima.
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Notícias, artigos e materiais citados e relacionados a este episódio:
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Transcrição do episódio
Tiago: Um olá pra você que escuta o podcast Introvertendo, que é o principal podcast sobre autismo do Brasil. Meu nome é Tiago Abreu, sou jornalista, host deste podcast, autista diagnosticado em 2015 e hoje nós vamos desabafar bastante aqui neste episódio.
Otávio: Olá, meu nome é Otávio Augusto, eu fui diagnosticado faz seis anos e até fevereiro de 2020 eu não sabia que meu estilo de vida era chamado de quarentena.
Tiago: Todo início de mês nós lançamos um episódio bônus relacionado a questão da COVID-19. E agora, em agosto, nós resolvemos desabafar um pouco sobre coisas que tem afetado o nosso psicológico e que também tem nos irritado durante esse processo de isolamento. Vale lembrar que o Introvertendo é um podcast feito por autistas, cuja produção é da Superplayer & Co.
Bloco geral de discussão
Tiago: Então, Otávio, todo mês aqui no Introvertendo, pelo menos desde março, temos feito um episódio por mês para falar sobre a Covid, pra falar sobre a pandemia de uma forma geral e relacionar com a comunidade do autismo. Mas fora a comunidade do autismo há um fenômeno que todos estão sentindo e todos estão sendo afetados, que é o fato de que até as pessoas que defendiam o isolamento estão jogando tudo pro alto e resolvendo sair porque não aguentam mais. A gente também tem um processo de negacionismo muito forte que continua e que provavelmente vai nos acompanhar até sair uma vacina. Lembrando que há um mês, quando nós gravávamos o episódio 115, o Brasil estava próximo de um milhão de casos, um pouco mais do que isso. E no momento que nós estamos gravando, o Brasil já tem mais de dois milhões de casos. Ou seja, em um mês a nossa quantidade de pessoas confirmadas dobrou. Isso é bastante preocupante e a sensação que eu tenho é indescritível.
Otávio: Você tem se sentido afetado pelo isolamento, Tiago?
Tiago: Eu me sinto até injusto se eu falar que sinto afetado, porque a minha situação é melhor do que provavelmente mais de 90% da população. Eu já trabalho remoto há anos, então, nesse sentido de trabalho eu não fui afetado, a empresa que eu trabalho tá muito bem, porque ela já tem um plano de trabalho remoto estabelecido, nós nos preparamos pra esse processo e eu moro numa casa que há espaço, que eu consigo manter um isolamento até dos meus próprios parentes e eu consigo ter essa organização. Mas, obviamente, do ponto de vista, por exemplo, de relacionamentos, isso tem me afetado bastante e também chega a um momento que esse clima de incerteza e nós que somos autistas gostamos muito de previsibilidade, de ter, pelo menos uma segurança coisas, isso me incomoda muito. E você?
Otavio: Eu sou bastante caseiro. Então, eu não posso falar que nesse sentido a pandemia me afetou negativamente. Ela não mudou muita coisa. O nível de adaptação pra mim não foi grande. E o meu estágio é na área da saúde, eu voltei a estagiar semanas atrás em pandemia. Estou trabalhando com pacientes em suspeita de Covid, tá sendo um bom experimento pra mim.
Tiago: Mas considerando que você ficou um longo tempo tendo todos os cuidados e etc, você viu entre as pessoas que você conhece, até entre você, chegou um momento que você não aguentava mais esse processo e você começou a fazer certas concessões? Pensando assim: “Ah, eu vou visitar tal pessoa, mas a tal pessoa tá isolada e eu também estou, então não vai ter problema nenhum”. Você teve alguma coisa nessa linha de raciocínio como muita gente tá relatando?
Otávio: Eu vou parecer meio hipócrita, Tiago. Mas eu tinha visto minha namorada quase todo fim de semana.
Tiago: Olha só (risos).
Otávio: Exato. Eu falhei nesse ponto, porque ela estava em isolamento e eu estava em isolamento. E nós acabamos indo um pra casa do outro. Isso aconteceu e nunca parou em nenhum momento, foi constante isso. Eu parei de vê-la agora porque eu estou indo pro hospital, estou numa área de alto risco. Então, eu parei de vê-la até que a pandemia se resolva para que ela não corra riscos desnecessários. Agora, eu estou realmente fazendo a concessão, só que quando nós íamos um pra casa do outro (é preciso deixar claro) nós usávamos máscara fora da casa 100% do tempo. Quando nós íamos pra casa um do outro, levávamos uma muda de roupa e tomávamos banho, não importa o quão limpo estivéssemos, e nós limparmos todos os nossos pertences, fossem mochilas, fossem carteiras, fossem celulares, tudo com álcool. Fomos descuidados indo pra casa um do outro? Fomos. Mas nós tomamos todos os outros cuidados possíveis e eu tinha certeza que ela estava na casa dela cumprindo a quarentena como ela tinha certeza que eu estava na minha.
Tiago: Saquei. Isso me faz lembrar duas pessoas aqui do podcast que namoram, que é o Luca e a Mariana, e eles ficaram cerca de quatro meses sem se verem. O Luca entre todos nós está numa situação de maior delicadeza, porque o Luca é asmático. Ele tem sérios problemas respiratórios e ele mora num bairro que está entre os bairros mais ricos de Goiânia, que tem uma grande quantidade de casos. Então, ele sempre teve muito medo dessa pandemia e ficou quatro meses em completo isolamento. Mas chegou o momento que ele e a Mariana não aguentaram ficar quatro meses sem se verem. Eles se prepararam e foram pra casa da Mariana. Eu não sei mais ou menos como é que foi esse processo do Luca se preparar, se organizar para evitar esse contato, mas tem um certo perigo. Então, eu fico pensando assim: chega um momento que o descaso, principalmente por parte do Governo Federal, que acaba desalinhando todas as ações em todos os níveis, tanto estadual quanto municipal, se torna tão grande que as pessoas, para sua própria sobrevivência, avaliam os riscos. Porque se elas manterem o isolamento rígido, como muitos de nós tem feito a quatro, cinco, seis meses, isso significa que a gente vai ter sérios problemas com depressão e ansiedade. Eu, particularmente, estou cumprindo rigidamente há muitos meses. Eu só saí duas vezes, uma pra procurar um médico urgente porque eu tive crises de tendinite e não tava conseguindo fazer absolutamente nada com as mãos e uma outra vez que eu tive que buscar um produto e acabei me arrependendo porque as pessoas na rua estavam extremamente agressivas e negacionistas. E eu parei de ver qualquer pessoa. Eu costumava sair muito pra jogar Pokémon, e parei de fazer isso. O Vini, que é o designer do nosso podcast, eu sempre via ele todo final de semana e a gente parou de se ver há muitos meses, a gente só conversa pela internet. Então, pra mim, agora, nesse estado, considerando que eu estou desde março realmente num isolamento rígido, isso tá afetando o meu psicológico de uma forma muito significativa. Eu tenho ficado mais irritado, eu tenho ficado menos tolerante, ainda mais agora que eu sinto dores nas mãos todos os dias, eu preciso regular o meu tempo de trabalho e meu tempo de lazer também com o computador. Então, eu fico pensando: imagina as pessoas que tem filhos em casa com síndrome raras? Imagina as pessoas que estão em condições socioeconômicas muito piores e essas pessoas precisam lutar pela sua vida todos os dias dentro de casa com medo de pegar esse vírus e ter grandes chances de morrer? Como é que está o psicológico dessas pessoas? Então, a gente tá numa situação extremamente delicada. E o contexto do vírus mostra que isso não vai passar tão cedo. Há um processo de interiorização dessa doença, eu conheço muitos parentes no interior que estão em um extremo contexto de negação e parece que o caos é anunciado, sabe? Otávio, não sei como é que é com seus parentes, mas eu tenho muitos conhecidos assim, que eu chego para a minha mãe e falo: “Por favor, não se estressa, porque essas pessoas não vão aquietar, nem se algum parente morrer”. Tem gente que tem parente em UTI e continua saindo, sabe? Tem essa situação. Tem as pessoas que cumprem corretamente, mas que chegaram no momento que elas cansaram, e tem aquelas pessoas que estão desde o início ligando o dane-se pra tudo e continuam saindo. Como é que você se sente em relação a isso?
Otávio: É frustrante, sabe? Uma coisa é você ir na casa de uma pessoa tomando todas as precauções devidas, outra é você encontrar com doze pessoas.
Tiago: Doze pessoas?
Otávio: Exato. Eu já vi assim, eu…
Tiago: Ah, sim, saiu uma notícia recente, que teve gente que até foi presa, que foi fazer um evento dentro de um motel.
Otávio: Não, Tiago, eu tô falando, eu tô falando puramente de forma hipotética, depois você fala disso.
Tiago: (Risos) Ah, sim, tá, desculpa.
Otávio: É o seguinte, aqui eu moro em casa e pra caminhar eu saio de máscara, mas eu saio pra caminhar. E eu tenho visto que vários dos meus vizinhos tem feito festas, você vê vários carros estacionados na rua.
Tiago: E vale mencionar que você mora num condomínio de alto padrão, né? Então, você não tá nos extratos mais pobres da população.
Otávio: Exatamente. Então, assim, é um pouco frustrante, vai parecer de novo hipócrita, só que eu já participei, durante a pandemia, de festividade desse tipo, mas eu participei de uma, que foi o aniversário do meu irmão. Todos nós viemos pra casa da minha tia, ironicamente juntaram doze pessoas, quando eu cheguei lá e vê aquele tanto de gente eu falei: “Agora eu não posso criticar mais ninguém”. Na verdade eu posso. Vai aparecer hipocrisia? Vai. Só que… não tem só que, o correto seria eu sair de lá. Eu não ia fazer essa desfeita.
Tiago: E você ia pra onde? Nem tinha, de certa forma, como.
Otávio: Eu poderia ir pra casa. Era aqui dentro do condomínio, quatrocentos metros da minha casa. Eu podia ter feito isso, certo?
Tiago: Sim, mas o pior da pandemia é que você precisa fazer um pacto com as pessoas, porque não adianta de nada você estar dentro da sua casa, cumprindo direitinho, aí você tem uma irmã, um irmão, algum parente que não tá nem aí, se expõe e contamina todo mundo dentro de casa. Você depende muito do outro e nós temos uma dificuldade de interação social, ainda mais confiar nos outros. Eu, particularmente, desde o início da pandemia, eu sabia que isso não ia dar certo. Não tem como você confiar na população humana, entendeu? Basta ver o tipo de discurso que se tinha no início da pandemia quando a gente via que a situação era grave mesmo. A única forma de você realmente se proteger da pandemia sem que você pense em depender dos outros, é morando sozinho, fazendo a sua própria comida, conseguindo pagar tudo que você tem que pagar ainda dentro de casa, o que é uma situação extremamente rara.
Otávio: É verdade. O problema é que o nosso o contexto social não permite isso. Brasileiro não vive, brasileiro sobrevive. O Brasil e os Estados Unidos não estão dando apoio suficiente pra população. 600 reais para cinco meses não é nada.
Tiago: Partindo do pressuposto, vamos pegar uma pessoa que tá numa situação agradável, certo? Uma pessoa que, por exemplo, é um universitário e mora perto da universidade, precisa se manter ali. Só um aluguel de uma casa universitária é esse valor, imagina pra alguém que tem três filhos? Como é que a pessoa vai sustentar três filhos com 600 reais? Então é é completamente impensável, né?
Otávio: É completamente impensável. Eu não acho que o governo tem feito um mau trabalho com os isolamentos, preparação de leitos, teve faltas? Teve. Mas eu acho que nós, o Brasil tem…
Tiago: Mas você tá se referindo ao governo estadual ou federal? Porque assim, o nosso estimadíssimo Presidente da República queria impedir o uso de máscaras em alguns lugares.
Otávio: Agradeço porque eu deveria ter feito essa distinção. Estadualmente, Ronaldo Caiado, que é médico, tomou posições pró isolamento. Inclusive ele foi de cara algumas vezes com o Bolsonaro.
Tiago: Mas depois ele desistiu.
Otávio: Ele desistiu, porque houve muita pressão.
Tiago: É, a galera começou a chamar ele de comunista, não respeitavam o isolamento, então ele lavou as mãos. Eu acho que todos os governadores chegaram uma hora que eles cansaram, porque você gasta capital político, você gasta um esforço muito grande e o Governo Federal coloca toda a população contra os governos estaduais, contra o STF, chegou o momento que eles viram que não tinha pra onde correr. Mas assim, Otávio, você que já tem contato com muitos médicos, já tá aí nesse processo, você tem visto uma alteração emocional da saúde mental dos médicos que estão na linha de frente da luta contra a Covid?
Otávio: Tiago, eu voltei a duas semanas pro estágio, eu venho passado uma semana em cada especialidade, passei primeiro na cardiologia, passei a segunda na clínica eu tô na clínica cirúrgica agora. Pra explicar minha situação lá, primeira coisa: os internos estão proibidos de entrar em contato com pacientes confirmados de Covid e segundo, nós não entramos nem no estacionamento sem máscara e nós não saímos do estacionamento sem máscara. Porque mesmo que nós não lidemos com pacientes confirmados, nós lidamos com pacientes suspeitos. Que que acontece? Meu estágio tem sido no Hugol, é o Hospital de Urgências Governador Otávio Lage. É um hospital muito bom de urgência e emergências. Com a pandemia, diminuiu a demanda pelo serviço de urgência e emergências em geral. Tem médicos que não veem mais os pais, tem médicos afastados porque manifestaram sintomas, tem os que sobreviveram e voltaram pra linha de frente, mas eu não posso dizer que eu tenho lidado com o pessoal da linha de frente, justamente porque eu não estou permitido a entrar nessa área. O que eu posso dizer é: estão todos muito tensos, porque mesmo que eles não estejam lidando com as alas específicas pra Covid, chegam pacientes todo dia e todos eles tem uma chance em potencial de ter Covid, certo? E isso é um problema. O número de médicos disponíveis só diminui, porque eles estão contraindo Covid. A gente já chegou no ponto crítico, que a gente tá tentando agora é não só passar dele. Existe uma certa compensação, e quando eu falo Tiago, eu não quero falar que tá morrendo menos gente, tá morrendo o mesmo tanto de gente, só que a população tá morrendo em casa. Não tá diminuindo o número de paradas cardiorrespiratórias. O que acontece é que as pessoas estão indo menos ao serviço de emergência, isso não é bom também. A situação não é boa para os profissionais de saúde. Pra dar uma última impressão do que eu tô vendo é: não tá tendo fila de pacientes com Covid, mas há pacientes com Covid. E todo paciente com Covid é uma fonte potencial de infecção. Todos os médicos que eu vejo usam máscara. Se a gente vai no banheiro, a gente lava a mão antes de entrar, a gente lava a mão antes de sair, quando a gente volta a gente limpa a cadeira, mesmo que seja a cadeira que a gente sentou a gente limpa pra garantir que ninguém mais sentou, a gente vai tocar alguma coisa depois que a gente toca, a gente limpa com álcool, quando a gente vai pegar uma coisa a gente limpa com álcool de novo, você não pode momento nenhum encostar no rosto, todo mundo é vigilante com todo mundo. Então, assim, é uma…
Tiago: É um estado de alerta generalizado.
Otávio: Isso. Eu tô passando doze horas por dia com máscara. Eu vejo a marca da máscara no meu rosto, inclusive eu machuquei levemente meu nariz por causa disso. Eu fico imaginando médicos que ficam em plantão, que dormem com essas máscaras, entendeu? Tem médico que tá usando duas máscaras. Uma N-95 e outra por cima para diminuir o desgaste. Então, como você falou, o estado de alerta é generalizado. Isso não é bom pra saúde.
Tiago: Aqui em casa, nós fazemos compras no supermercado, mais ou menos uma vez por semana, no máximo. E toda vez que a gente sai, sou eu e a minha mãe, minha mãe não dirige, então eu só fico dentro do carro, não desço, e eu fico observando as pessoas na rua, porque eu moro na região norte aqui da cidade, não é a região nobre da cidade. E as pessoas andam num descaso tão grande, que eu fico observando de dentro do carro, olhando as pessoas andarem e pensando assim: “Caramba, quantas pessoas que estão andando aqui agora vão estar mortas daqui a alguns meses? Quantas pessoas vão perder parentes e depois vão chorar pelo leite derramado?”. Eu vejo gente com máscara no pescoço. Eu vejo gente sem máscara. Eu vejo mães levando crianças nas ruas sem qualquer necessidade, a criança brincando ali, andando de bicicleta. Inclusive um colega de escola do meu irmão (meu irmão tem dez anos) pegou Covid. Minha mãe viu ele esses dias nas ruas, enquanto ela tava fazendo compras no supermercado. Você sente essa angústia quando você tem que sair, por exemplo, pra ir pro supermercado e você observa as pessoas tendo descaso com tudo?
Otávio: Tiago, eu cumpro minha dose de julgamento, mas se você ficar focando nisso, velho, cê não vai ter paz de espírito nunca. Sempre vai ter pessoas que seja por rebeldia, seja por dificuldade de aprender, de aprender um novo comportamento ou por déficit cognitivo, sempre vai ter a pessoa que não cumpre o que é bom pra ela e o que é bom pros outros. Você mencionou compras, eu tenho feito compras aqui pra casa uma vez a cada duas semanas, isso durante toda a pandemia, isso não tem como evitar. Quando eu saio, eu pego uma máscara limpa, eu seguro as mãos atrás das minhas costas pra não colocar no rosto. Quando eu chego em casa, eu limpo tudo que eu compro com álcool. Depois que eu faço tudo isso, eu pego o álcool, vou no carro e limpo o carro. Eu faço isso só pra evitar pegar Covid? Não, porque fazendo isso repetidamente, eu vou começar a fazer isso de forma automática. Se eu começar a fazer de forma automática, a capacidade de eu ser infectado ou infectar alguém, diminui. E se você quer ver as pessoas fazendo isso, primeiro, você tem que ser um pouco chato e segundo, você não pode se deixar frustrar. Se você fizer a sua parte, independente dos outros fazerem as outras, um momento você vai influenciar outras pessoas a fazer desse jeito e elas vão influenciar outras pessoas a fazer desse jeito. E o efeito de influência é exponencial.
Tiago: Sim, eu concordo com você se a gente não tivesse num fator em que não há tempo, é essa que é a minha angústia, entendeu? Não há tempo de convencer as pessoas do contrário. Não há tempo para dialogar, não há tempo, as pessoas estão sendo infectadas e estão morrendo. É essa que é a questão. A gente tá num momento da pandemia em que aí chega o ponto que eu concordo com você. A gente tá no no momento que as coisas já chegaram a um ponto tão incontrolável que a gente agora precisa cuidar de nós, cuidar da nossa saúde, não se estressar com os outros, que foi até a questão que eu falei com a minha mãe e tentar se proteger, cada um por si.
Otávio: Esse negócio de não se importar com os outros, eu não consegui fazer também. E eu já deixei passar muita coisa. Eu tenho membros da minha família que compraram e hidroxicloroquina e ivermectina.
Tiago: Nossa, que triste.
Otávio: E cê sabe qual que é o pior, Tiago? Você sabe qual que é o pior de tudo? Foi que um médico da minha família passou essa receita. É frustrante pra mim. Fazer esse episódio foi terapêutico. Eu tenho sentido um pouco de frustração? Tenho, mas nem tudo tem sido leite azedo, na falta de uma metáfora melhor. Muitas pessoas tem se engajando, inclusive pessoas que não entendem bem a situação, eu tenho inclusive sido mais otimista do que qualquer outra coisa, Tiago. Usem máscara, lavem as mãos e esperemos esse negócio acabar. Não tem garantias nessa vida, certo? A gente pode fazer o que a gente pode fazer.