Além de sermos aspies, temos em comum o fato de sermos universitários. E em uma manhã de quinta-feira, na Praça Universitária (Goiânia), nos reunimos para discutir o processo de inclusão de pessoas com deficiência no meio acadêmico. Assim, falamos do programa Saudavelmente, desenvolvido pela UFG há mais de 15 anos, e sobre o Núcleo de Acessibilidade, além das nossas relações com professores e colegas de turma.
A foto utilizada neste post é do ano de 2016 e da autoria de Luca Nolasco, um dos membros do Introvertendo. A praça, próxima ao local de gravação do episódio, foi fotografada a partir de um dos prédios da universidade. O tema foi escolhido por Tiago Abreu.
Participam desse episódio Abner Mattheus, Guilherme Pires, Letícia Lyns e Tiago Abreu.
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Transcrição do episódio
Tiago: Olá pra você que escuta o podcast Introvertendo, mais uma vez, mais um dia, mais uma semana. Meu nome é Tiago Abreu, estou dentro do espectro, estou com uma galerinha aqui dentro do espectro também e hoje a gente tá fazendo um conteúdo especial ao ar livre, celebrando o sol, celebrando a vida e odiando tudo, o calor e tudo mais (risos).
Guilherme: Segurando pra não surtar.
Tiago: É (risos).
Leticia: Estou odiando é essa luz na minha cara.
Tiago: Hoje a gente vai falar especialmente com o Guilherme e o Abner, que vão falar um pouco da experiência deles dentro da universidade. Esse episódio, inclusive, eu quero que eles ganhem mais protagonismo nesse negócio e também a gente tá com a Leticia Lyns, que agora é membro fixa desse podcast. É a nossa primeira aspie do sexo feminino, então pra gente falar mais ou menos como é que é a relação dos aspies com a universidade. Então, fique ligado. Está no ar o Introvertendo.
Bloco geral de discussão
Tiago: Para começar com o Abner, como ele não estava no episódio de diagnóstico, eu acho que é interessante a gente saber um pouco da história do Abner, como é que ele foi diagnosticado e ele contar isso pra nós.
Abner: Um bom dia a todos. Meu caso, basicamente teve uma constatação dos meus pais, mas especificamente da minha mãe, porque ela tem uma formação em pedagogia, fez também neuropsicologia e essa formação ajudou a ter o embasamento melhor das suspeitas que ela tinha sobre mim, pelo fato às vezes de, por exemplo, eu não tenho uma certa concentração nos estudos, eu não consegui me expressar bem ao conversar com as pessoas, socialmente, e com o tempo ela foi observando isso em mim até que chegou o momento que ela teve a suspeita de que eu poderia ser portador da Síndrome de Asperger. Ano passado procurei informações melhor, mais a fundo, chegou o momento que eu precisava, eu achei que precisava procurar um especialista pra ir atrás de um diagnóstico e consegui através do programa Saudavelmente da UFG. Através de diagnóstico realmente foi constatado que eu sou portador. A partir daí fui acolhido pelo programa e tenho participado das reuniões em grupo com o apoio da psicóloga Tatiana.
Tiago: E como que o diagnóstico ajudou (ou se ele ajudou) de uma forma no desempenho acadêmico de vocês desde então?
Guilherme: Bom, no meu caso trouxe respostas para diversas questões. Diversas incógnitas que perturbavam a minha mente. O porquê de tudo ser tão diferente, tão difícil, tão complicado pra fazer. E de certa forma foi libertador, porque pra me desenvolver melhor, eu precisava me conhecer melhor. Então, dentro da universidade, eu pude ver isso, só que, infelizmente, eu pude constar que as pessoas não entendem. Um exemplo foi que dentro da minha sala de aula, do meu curso de computação, um colega quis comparar a minha situação com a situação de um colega que é deficiente visual. E eu achei isso bastante ofensivo. Porque você não pode comparar duas pessoas com características distintas e com suas particularidades. Eu ainda vejo ainda que precisa muito de melhorar, principalmente na questão da empatia das pessoas, pessoas poderem entender cada vez mais a situação do Asperger.
Abner: No meu caso, teve a parte positiva também de eu me entender melhor comigo mesmo, de eu saber dos meus problemas ter um embasamento melhor sobre aquilo que eu tenho dos problemas que eu tenho e também de como demonstrar pras pessoas como eu sou. De como me esclarecer aos meus amigos, o meu jeito de me expressar, enfim, o meu jeito de ser também, de uma forma geral. Agora, eu também noto essa relutância por parte de alguns amigos da faculdade, por achar, assim, uma coisa atípica. Ver como atípico demais pra lidar com esse meu jeito. Então assim, eu tenho certas dificuldades no meio acadêmico, eu acho que tem muita coisa a melhorar ainda na faculdade em relação a isso.
Leticia: Puxando um pouquinho do que os meninos falaram, eu também tive muitas dificuldades sempre, assim. E depois do diagnóstico, parece que tirou um peso das minhas costas, assim, eu conversei com vários professores, teve uma professora que falou assim: “ah, você não precisava explicar”. Mas, alguma coisa dentro de mim falava que eu assim, porque eu me sentia incomodada com algumas coisas que eu achava que poderiam incomodar os professores também, como, sair da sala toda hora, porque eu não conseguia prestar atenção. E eu reparei uma coisa, nesses últimos semanas, que eu sinto a falta de preparo dos professores para receber pessoas com condições assim. E não só na questão do espectro autista, mas em relação a todas as outras dificuldades, intelectuais, as outras deficiências, e calma, no meu curso de artes cênicas, a gente tem pessoas com dislexia, a gente tem pessoas com TDAH severo, a gente tem surdo e os professores não estão preparados pra isso, tem uma professora em específico que a gente tá tendo muito problema com ela, porque ela leva esses nossos “problemas” a sério, leva muito, assim, como uma desculpa. Tanto é que teve um, um amigo, esse que eu falei que tem TDAH mais severo, ele foi que tentar conversar com ela e quis comparar ele com o amigo dela, que tem 37 anos, que tem não sei quantos problemas de aprendizado e tal, e que conseguiu alcançar tudo que, sabe? E aí, quis comparar ele que é um um adolescente de 18 anos com um de 37, falando que que ele tava usando isso como desculpa, que que ele tinha era que estudar mais, ele tinha que focar mais e ela queria que ele resolvesse por conta própria, tipo assim, como é que você vira pra uma pessoa que tem déficit de atenção e fala: “foque mais”?
Tiago: Tipo “se fode aí”.
Leticia: Tava falando pro cara se lascar. Então, assim, eu acho um absurdo. Outra coisa é que eu me senti mais livre pra certas coisas, porque eu me podava muito em algumas questões pelo meu jeito de ser e tal. E aí, eu comecei a tacar o foda-se, assim, eu falei assim: “sim, não vai ter como mudar isso”, porque antes eu recebi o diagnóstico, eu achava que eu era muito estranha, que eu tinha me adaptar, que eu tinha que ser igual aos outros, porque isso me afastava das pessoas ou me atraía pessoas que não me faziam bem. E aí, eu comecei atacar o foda-se falei: “não vai ter como mudar, porque eu sou assim, pronto, as pessoas tem que me aceitar do jeito que eu sou”. Então, eu tenho até uns amigos meus que falam assim: “nossa, quando cê recebeu o diagnóstico, parece que cê tá falando mais”, porque antes eu ficava calada pra não falar. Muita coisa, porque eu não consigo mentir. Então, assim, tinha certas coisas que eu tinha que ficar assim. Igual essa professora, se eu tivesse na frente dela, eu virava a prova e falava assim: “pois é, seu amigo tem 37 anos, consegue as coisas dele e tal. E você que tem 80 e até hoje tá cheio desses problema aí na cabeça e não se trata?”. Porque eu vou te falar, viu? Mas é isso, assim. Eu tô falando muito.
Tiago: Vocês falaram sobre a questão da posição dos professores, dessa relação entre aluno e professor, eu queria perguntar sobre a coordenação de curso, se a coordenação de curso intervém desse processo, como é ou eles são totalmente ausentes nisso?
Leticia: Ah, cara, no meu caso a professora que eu tô falando é a coordenadora do meu curso Então, assim, já dá pra você saber. Pois é, Fátima.
Guilherme: Dentro do meu curso, eu tive uma professora que se se dispôs no período que acabou a aula dela, antes da aula dela, ela pediu pra mim poder ficar na sala, pra conversar comigo. E aí, ela fez uma entrevista, queria saber como era a minha situação, quais eram os detalhes pra ela poder compreender melhor e ela me informou também que teve um caso na família de um sobrinho que foi diagnosticado, mas esse foi bem mais novo. Bem cedo. Mas em outro caso tive também o caso de um professor, que é meu professor de uma das matérias mais essenciais do meu curso de computação, que é programação que, por mais que eu tente explicar pra ele que eu não consiga me desenvolver na mesma velocidade que os demais colegas, ele não entende.
Abner: No caso do meu curso, não tem só eu, tem outras pessoas, também, como uma colega que tem transtorno de bipolaridade. Eu também não cheguei a conversar sobre a minha com os meus professores, mas não dá pra perceber, assim, um tratamento específico que nenhum deles nem nem o coordenador com todos os estudantes que tenham alguma, alguma diferença por conta de alguma síndrome, que não seja pelo menos neurotípico.
Tiago: Uma coisa, uma observação que eu faço, assim, é que vocês tavam falando sobre questões de outras deficiências, deficiência visual e tudo mais. Se a gente for pensar nas especificidades e nas necessidades dessas pessoas com relação à inclusão dentro da universidade, você não vê uma uniformidade total, mas você uma uniformidade parcial. Então, por exemplo, você tem um estudante com baixa visão. Os estudantes que têm baixa visão vão precisar, principalmente, de material adaptado e tudo mais. Agora, no caso do Asperger são pessoas muito distintas com o mesmo diagnóstico, então, por exemplo, você tem, por exemplo, a Leticia, que era mal vista pelos professores, que os professores tinham impressão negativa, tem eu, por exemplo, que eu nunca tive problema, assim, acadêmico, no geral, pelo menos aqui na universidade, e você tem, por exemplo, o Michael, que teve que entrar num regime especial, porque o ambiente da sala de aula tava deixando ele doente, sabe? Então, eu queria saber de vocês, se vocês, diante desse processo, como é que vocês enxergam a complexidade dessa inclusão e se o núcleo de acessibilidade tem alguma relação com vocês?
Guilherme: Bom, eu vou falar porque eu acho que dos três eu sou dos quatro na verdade. Eu sou o que mais tem contato, assim, direto com o núcleo de acessibilidade. Eu vejo, assim, que realmente são pessoas que estão empenhadas em querer ajudar dentro dos recursos disponíveis, que não são tantos. Você tem recursos para atender toda a demanda de todos os alunos, sejam eles deficientes visuais, surdos, astros, autistas, etc? Eu acho que a função principal é essa, porque boa vontade você vê que esses profissionais têm, você vê que querem te ajudar, mas assim, aquela questão. Às vezes por questões de administração mal resolvida dentro da própria faculdade, eles ficam de mãos e pés atados, esperando o prazo certo para poder atender a sua necessidade em si.
Tiago: O núcleo de acessibilidade fez alguma ponte entre você e o seu curso para atender alguma demanda sua?
Guilherme: Bom, assim, eles me falaram essa semana. Tentaram fazer essa ponte da seguinte forma, tentando me motivar, justamente, fazer o contrário. Tentar interagir mais socialmente, que é uma das principais barreiras que eu vejo, que eu tenho que enfrentar. Um exemplo é buscar monitoria, tentar conversar com o professor, tentar entrar em acordo com algum professor, só que assim, dentro das minhas possibilidades e tudo mais. Eu até tento, mas o núcleo tenta fazer a parte dele, realmente ele tenta fazer essa ponte. Eu acho, assim, que isso vai depender também da boa vontade dos professores, em querer compreender a situação, em querer. A forma com a qual eles vão lidar com essa situação em si. E aí diante disso.
Tiago: Uma das formas de assistência a aspies na universidade, há o Saudavelmente, principalmente pela iniciativa da Tatiana. Eu queria que vocês falassem um pouco da relação de vocês com com o grupo. Como é que nesse processo?
Leticia: Eu vou começar hoje o grupo, mas eu já senti um alívio nessa questão de saber que a universidade oferece esse tipo de assistência, porque hoje em dia, essas coisas são muito elitizadas. Então, eu mesma não teria dinheiro pra ir atrás de psiquiatra que seja especializada nisso, uma psicóloga que seja especializada nisso, que tenha esse tipo de atendimento, principalmente se você não tiver um plano de saúde que que cobre, complica mais ainda. Eu encontrei essa, esse meu apoio dentro UFG, eu estou me sentindo abraçada como uma recém diagnosticada.
Guilherme: Bom, o que eu acho do grupo é como se fosse um, uma família. Por assim dizer, porque você encontra pessoas com parecidas entre si, que ao mesmo tempo você divide as complexidades, você acaba se sentindo mais confortável, porque você se sente membro de alguma coisa, você não se encontra mais perdido. Como se fosse um navio à deriva nesse oceano de pessoas que é a nossa sociedade em si. Então, eu acho, assim, bastante libertador. Poder viver com essas pessoas, mesmo que seja apenas um encontro semanal. Eu acho, assim, que dentro, dentro disso, a gente podia até trabalhar mais isso, mais os encontros e tudo mais, pra melhorar essa convivência entre si.
Abner: Libertador estar ao lado de pessoas muito parecidas consigo próprio pela pela construção de vida por causa, por influência dessa síndrome e interessante também que tem diferenças entre cada um, mas mesmo nessas diferenças dá pra perceber cada semelhança na situação em que cada um passa, mesmo na na nas peculiaridades de cada situação. Então, é muito libertador ter pessoas parecidas nessa questão por causa da síndrome.
Tiago: Então, vocês falaram bastante da questão com os professores, eu queria perguntar sobre a relação de vocês com os colegas hoje, como é que é? Queria que vocês fizessem um panorama geral da relação de vocês com os colegas.
Leticia: Então, eu passei, eu passei por uma situação, eu acho que isso durou uns uns dois anos, talvez tenha durado até até agora mesmo, assim, que de pessoas chegarem em mim e falar que tinha gente falando mal de mim pelas costas, falando que que eu era metida e antissocial. Só que não tem nada a ver. É porque tem dias que eu simplesmente não quero conversar com ninguém, eu não quero ter contato com ninguém. Então, eu passo direto de propósito mesmo, assim. Às vezes, eu via a pessoa de longe, mas eu finjo que não vi, vou pra direto pra sala, ou eu vou direto pra pra algum lugar, simplesmente porque eu não estou afim de ter contato com ninguém no momento, mas não é questão de de ser mentira ou de de ser antissocial, não é nada disso, é porque às vezes eu não tenho nada pra falar, às vezes eu não sei como como chegar naquela pessoa. Então, assim, tem as questões já fora da faculdade que eu levo. Então, assim, às vezes eu já tô atolada de informação na minha cabeça e eu quero tá só eu e aquelas informações. Então, assim, às vezes tem uma pessoa que ela tá com problemas e aí ela quer chegar em mim contando esses problemas dela, eu não sei como eu vou poder ajudar essa pessoa. Então, às vezes eu prefiro ficar e aí, às vezes, eu posso ser taxada de metida, ou alguém que só pensa em si mesmo, mas não é, não é nem isso, é que às vezes eu não consigo nem resolver os meus próprios problemas, eu vou conseguir resolver o problema do outro. Então, é complicado. Eu tenho muitos amigos que até antes de receber o diagnóstico, eles aceitaram o meu jeito, começaram a entender, então, tem dias que eu não quero ser abraçada e aí eu falo, as pessoas têm mania de cumprimentar com beijo, com braço, essas coisas. Eu também tenho uma coisa que eu não gosto, que segura no meu braço, já teve várias vezes que eu fiquei irritada com com algumas pessoas, alguns colegas, porque eu faço artes cênicas. Então, a gente tem muitos exercícios que são de contato e tal. Então, assim, segura na minha mão, mas não segura no meu pulso. Brigada. Então, não façam isso, por favor. E aí, hoje em dia, já tem pessoas que já entendem melhor. E eu não contei pra todo assim, tem pouca gente que que sabe que eu recebi o diagnóstico, eu tô indo aos poucos, assim. O teatro me ajudou muito a criar um um desbloqueio, também, em relação a me socializar com as pessoas, assim, porque antes eu não conseguia chegar às pessoas de jeito nenhum, as pessoas que chegavam em mim por por eu cantar ou por alguma coisa do tipo. Hoje já é já tô assim um pouco mais de boa assim. Tem gente que não gosta, tem gente que não suporta quando eu começo a falar. Porque eu não paro de falar. E tem outros professores também que que não gostam, porque eu não falo nada. Então, assim, quando é um interesse específico, é uma coisa que eu gosto muito, que eu manjo muito, eu falo pra caralho, quando é uma coisa que eu entendo porra nenhuma, eu não falo, então, eu acho que esse é um dos meus maiores problemas na universidade, assim, ultimamente. E eu acho que eu falei sobre um monte ao mesmo tempo.
Abner: Bom, falando da minha experiência. Hoje eu já tenho bastante abertura pra com as pessoas, coisas que eu não conseguia ter a um certo tempo atrás, mas assim, a maior parte das vezes minha conversa, ela se baseia em eu falar pra pessoa e, muitas vezes, facilmente me acidentar no meu raciocínio. Como consequência me faz muitas vezes gaguejar ou até mesmo falar uma palavra toda embaralhada e eu acho que isso influencia de uma certa forma na relação com outras pessoas, eu acabo não conseguindo me expressar muito bem e muitas também acabam tendo um um certo asco assim do meu jeito, digamos assim. Eu acho que esse é um dos maiores problemas pra eu conseguir me socializar com as pessoas, mas hoje em dia eu já tenho uma facilidade muito maior, uma abertura, porque eu também tive muito apoio de outras pessoas pra eu me desenvolver melhor. Não, nem só minha família, né. Mas pelo acolhimento do programa Saudavelmente e de outros especialistas que eu que eu consegui assistência. Todos esses agentes me ajudaram bastante.
Guilherme: Dentro do meu curso, dentro da minha classe de amigos e tudo mais, colegas de turma, tem pessoas que compreendem minha situação, que já se aproximaram de mim pra querer saber da minha situação, do que que tá acontecendo comigo, como que acontece. Realmente demonstraram interesse, alguns me trataram bem, mantém a convivência normalmente, me cumprimentam de forma cordialmente, me tratam com respeito já, outros não.
Tiago: Pra fechar esse episódio, eu queria que vocês falassem isso no aspecto objetivo e exemplificado, quais ações a universidade como um todo poderia fazer para que os aspies se sentissem mais acolhidos pela instituição? O que poderia ser promovido?
Leticia: Eu acho que deveria ter mais, mais conversas sobre o assunto, primeiramente, para manter as pessoas informadas, porque eu acho que o que afasta muito as pessoas das ditas “normais” das pessoas com espectro é a falta de informação. As pessoas tem muito uma imagem estereotipada dos autistas. Então, eu acho que poderia ter mais conversas, mais palestras, não só o grupo do Saudavelmente, mas eu acho, assim, se cada curso tivesse seu núcleo, eu acho que seria muito legal a gente expandir mais sobre sobre o assunto, assim, informações sobre isso pra pra atrair mais curiosidade, mais simpatia das pessoas, porque eu acho que a partir do momento que as pessoas compreenderem sobre, saberem do que se trata, entenderem que é um espectro, então do mais leve pro mais severo, então vai ter pessoas que que realmente não vai parecer que nem eu ia imaginar. Porque tem uma imagem estereotipada de que todo artista é lesado de uma certa forma. E eu acho que porque falar mais sobre o assunto pode sim incluir mais a gente. Eu acho que a gente vai se sentir bem mais confortável.
Guilherme: É que nem a que a Leth aqui falou. Essa questão da inclusão da expansão de abertura dessas informações sobre nós. Maior integração entre as pessoas, por exemplo, como ela mesmo falou, muita coisa aqui que eu já tinha em mente em retratar, mas tem que ser feito mesmo, com palestras, workshops, conferências dentro da própria instituição para só dentro da própria faculdade, expandir a noção de casos de outras pessoas, como nós, mas também na própria comunidade em si, pra gente melhorar essa recepção. E também assim, despertar o interesse em estar lidando mais fácil com essa nova informação, com esses novos casos que aparecem, que você for parar pra analisar aí, tem pessoas que passam a vida inteira sem o diagnóstico e só descobrem na fase adulta, quase chegando na terceira idade. E em muitos casos a pessoa passa a vida inteira sem saber disso.